Existe arte na escola?

Durante esses seis anos atuando em escolas, posso afirmar que muito dos trabalhos em arte-educação que realizei foram movidos por minha determinação e interesse. Já não consigo contar mais nos dedos, quantas vezes gastei dinheiro do meu próprio bolso para comprar materiais que seriam utilizados pelos alunos em minhas aulas, ou quantas vezes peguei o ônibus  repleta de bolsas com livros, tintas, papéis e reproduções de imagens de obras de arte.

Ser arte-educadora é acreditar e ao mesmo tempo duvidar que o ensino de arte nas escolas como conhecemos, seja realmente capaz de atender as nossas expectativas e de nossos alunos. A escola tradicional repele a arte. Pergunto-me como é possível aprender qualquer coisa na vida sem se emocionar, principalmente arte, que fala aos sentidos.
Na escola há pouco tempo para se emocionar, é preciso aprender a racionalizar e se importar com os conteúdos que supostamente farão do aluno um profissional de sucesso.

Que professor de arte, nunca passou por situações que jamais pensaria em passar quando estava na universidade? Talvez em algum lugar por aí, exista a instituição quase perfeita que tanto buscamos, mas o fato é que o desrespeito e preconceito com o ensino da arte na escola, começa nas atitudes da direção e na sala dos professores. 


Tomara que você leitor- professor desconheça essas situações. A  minha experiência, faz parte do universo das escolas particulares em que por diversas vezes precisei dispensar alunos das minhas aulas por estarem realizando reposição de provas de outras disciplinas, além das crianças pequenas que ficavam sem aula de arte, porque os pais davam prioridade às aulas de inglês e na instituição em questão, havia choque de horários. Ou, o que é ainda pior: o professor é quem precisa deixar de lado os conteúdos e vivências programados para sua única aula da semana, e realizar as famosas lembrancinhas de dia das mães, páscoa, natal e etc.

Por último, mas não menos importante: quando o professor de outra disciplina pede para  dispensar os alunos 10 minutos mais cedo, com a desculpa de que assim eles podem aproveitar melhor o lanche. Sim, é nesse mundo que nós, profissionais que escolhemos trabalhar com o ensino da arte, vivemos.
E isso é porque eu nem mencionei a falta de material e as dificuldades em levar os alunos a eventos de arte, a maioria nunca foi ao teatro, exposições, saraus e etc. E é fazendo de conta que ensinamos e proporcionamos ricas experiências às crianças, que elas sairão da escola e aos poucos perderão o interesse pela arte pela cultura.

Muitas dessas crianças um dia serão administradores de empresas, diretores de escolas, professores, que sem ter conhecido a arte de maneira mais íntima e verdadeira, reproduzirão os velhos conceitos, o que faz com que o ciclo da negligência nunca tenha fim.
E por mais que nós professores, nos esforcemos tentado levar ao menos um pouquinho do que de fato deveríamos ensinar nos espaços escolares, o que nos acompanha é a frustração de saber que o papel craft pode até ser democrático, mas o ensino não.

Exposição de Miriam da Rocha discute vida e meio ambiente no Shopping Garten

Miriam da Rocha expõe ARBOREM HOMINUM, dezessete colagens em diferentes tamanhos, além de uma instalação repleta de poemas, que dialoga com outros trabalhos da mostra que acontece de 07 de março a 07 de abril na Galeria de Arte do Garten Shopping e conta com a curadoria de Luciano Itaqui.

Por meio de sua arte, Miriam reflete sobre a relação da árvore com a vida do planeta, Harborem Hominum – O Homem Árvore – é um projeto que surgiu em 2015, momento e que ela se recuperava de uma cirurgia e passou a receber revistas em casa. A artista comenta que “O volume de revistas tornou-se grande, então comecei a pensar nas imagens prontas que elas trazem com novos significados. Uni meu amor pelas árvores e minha reflexão sobre o que a humanidade está fazendo com o planeta para transformar em algo artístico e significativo.”

Miriam é apaixonada pelas árvores e por tudo o que elas nos trazem de bom, gosta de desenhá-las do seu jeito. “Árvore é abrigo, é alimento, é sombra, é cura, é frescor, é proteção, é livro, é caderno, é brinquedo, é arte. Árvores são famílias de diferentes etnias. Quando importadas se dão bem com as nativas. Suas conexões ajudam no equilíbrio do planeta. Assim deveria ser com os seres humanos”, reflete a autora.

Como referência de pesquisa e inspiração trás Frans Krajberg , artista, falecido em 2017 que buscava associar sua arte à defesa do meio ambiente; Henri Matisse, com suas colagens na fase final de sua carreira; além do colega e artista joinvilense Luciano da Costa Pereira.

#Fiquesabendo

AnC: Quando aborda a relação entre a árvore e a vida do (no) planeta, acredita que estamos esquecendo as nossas origens? Como isso te afeta?

Miriam: Acredito que isso nos afeta profundamente. Quando respeitamos nossas origens, acredito, seguimos por um caminho mais brando e com mais realizações. E estas realizações, também são pessoais, mas não apenas. Cada vez que realizamos alguma coisa, estamos realizando para um grupo. E a árvore realiza frutos, realiza sombra, realiza ninhos, realiza móveis, realiza papéis, realiza não só para ela, mas para que a vida no e do planeta se mantenha, não é mesmo? Outra coisa, pense comigo, fazemos mapa astral, mas quando pensamos sobre nossas “raízes” construímos uma “árvore genealógica”. Quem não valoriza as origens não consegue construir uma história verdadeira unida ou afastada dessas origens, depende de como ela vai se encaixar para o bem ou para o mal na sua vida. Poderia discursar mais, mas creio que está bom assim

AnC: O que te motivou a retomar um projeto de 2015 e agora apresentá-lo ao público?

Miriam: O que me motivou a retomar esse projeto primeiro foi o mestrado que estou cursando, depois veio um empurrãozinho do Luciano Itaqui, curador desta exposição, ex-aluno, amigo e uma pessoa muito querida. Mostrei para várias pessoas antes dele, mas quem me ajudou a levar a produção para fora das minhas quatro paredes foi o Luciano. O segundo motivo foi por ter passado por mais uma cirurgia em 2019. Esse trabalho me ajudou na recuperação e a me reconstruir, pois fui pesquisar sobre reciclagem de papel e acabei entendendo que é melhor partir do zero. Reciclar gasta literalmente muita energia. Não pensei em mim enquanto fazia, mas no significado que tudo isso poderá gerar em quem vê e consegue refletir a respeito.

AnC: Em muitas culturas a árvore é o símbolo da vida, imortalidade e do conhecimento. Essa simbologia também está presente em seus trabalhos?

Miriam: Talvez sim ou talvez tenha ainda outros significados. Vida, imortalidade e conhecimento são símbolos do inconsciente coletivo, mas não podemos nos esquecer do individual. E não falo de mim quanto ao individual, mas no que provocará em outros, pois não se trata de árvores reais, são extremamente simbólicas. Eu as pensei de uma maneira, mas como você a sentirá? Por que ir a uma exposição, seja ela qual for, mais do que ver você deve sentir!

AnC: Harborem Hominum, traz a colagem como linguagem artística, além de buscar como referência artistas e movimentos da história da arte. Na sua opinião, qual a importância do repertório e da construção de conceitos com propriedade antes, durante e depois do processo de criação?

Miriam: O repertório para a construção de conceitos é fundamental. Não estou inventando a roda. Muitos vieram antes de mim ou estão produzindo neste exato momento algo semelhante. Então, a produção, neste caso da colagem, não é somente se munir de papel, tesoura e cola e soltar a imaginação. Depois de se apropriar da ideia, de um conceito, de uma visão de mundo, com certeza se pode fazer isso. Uma pergunta que procuro fazer é: “o que quero com isso? No que essa produção me faz pensar? O que posso mostrar de diferente, para além da imagem que irei construir? Para tanto, é necessário estudar e, principalmente, se identificar com a própria produção e estar preparado, pois você nunca irá agradar a todos. E fazer o outro refletir a partir de uma imagem, não é uma tarefa muito fácil, não é mesmo?

Quando? 16 de março até 7 de abril
Horário? Coquetel para convidados no dia 16 de março às 19h30. Visitação até 7 de abril das 10 às 22hs
Quanto? gratuito
Onde? Galeria de Arte do Garten Shopping – Av. Rolf Wiest, 333 – Bom Retiro

SERmulher: A produção artística de Rosi Costa

Ter contato com arte é essencial para quem escolheu ser educadora, aliás, deveria ser para todas as profissões. Discutir sobre arte, processos de criação e materiais, com quem é artista, nos auxilia na criação de repertório para exercer nosso trabalho, seja em sala de aula ou em espaços de educação não formal.

Considero um privilégio ter contato com artistas de Joinville e região, e assim aprender, trocar ideias, evoluir. E por falar em arte joinvilense e troca de ideias, no dia 18 de fevereiro fui convidada para conhecer um pouco mais sobre as pesquisas e trabalhos da artista visual Rosi Costa, que desenvolve suas pesquisas e trabalhos abordando a mulher e seu papel na sociedade. Fiquei surpresa com a quantidade de projetos, estudos, trabalhos, materiais e principalmente, a determinação e brilho no olhar com que ela aposta na arte e seu poder de transformação social.

Rosi é daquelas mulheres com conhecimento de causa e que busca por meio de sua arte autobiográfica, instigar a sociedade a refletir sobre o modelo patriarcal ainda muito presente nos lares brasileiros. Embora cada vez mais as mulheres estejam mostrando sua força e conquistando novos espaços, ainda é preciso quebrar muitas barreiras. Há um longo caminho até conseguirmos o tão sonhado reconhecimento, seguidos pela igualdade de direitos e elaboração de políticas públicas que respeitem as nossas necessidades e escolhas.

E tem jeito melhor de propor questionamentos e reflexões, do que por meio da arte? É esse o papel da arte conceitual – foco da pesquisa e produção da artista. Em seu gabinete de curiosidades particular, ela apresenta trabalhos dos mais antigos aos mais recentes, que aguardam o momento mais oportuno para entrar em contato com o público. Produzidos a partir de diversas linguagens como fotografia, registro de performances e principalmente objetos, Rosi Costa apropria-se de peças de roupa, caixas de remédio, sapatos e bolsas, conferindo a eles a condição de arte.

Com diversas possibilidades de leituras, vem tentando desconstruir a ideia da mulher perfeita, que cuida do lar, precisa ter e ser responsável pela educação dos filhos, da mulher que sofre e aceita a violência física e psicológica de diferentes autores, submissa. Se tivermos que definir essa mulher, poderíamos supor que é quase sempre aquela que concorda com a premissa de que “menina veste rosa e menino veste azul”.

A bolsa é o objeto de destaque em sua poética – a ponto de se tornar quase uma obsessão – algo que para ela, possui um forte poder simbólico, como a sensação de segurança e conforto. Em muitos trabalhos é possível pensar na bolsa como extensão do corpo da mulher e a peça que mais sustenta a hipótese de se tratar de uma representação da própria artista. Outro ponto que merece atenção, é o uso das cores vermelho e preto, que tem presença constante em sua produção, funcionando como uma espécie de dualidade, realidades/personalidades opostas em uma quer chamar a atenção enquanto a outra se reprime no anonimato.

Em um desdobramento de seus estudos, a autora levou para exposição coletiva Além do 9×12, realizada na Associação de Artistas Plásticos de Joinville – AAPLAJ, a fotografia e a apropriação de objetos, que resultaram no trabalho intitulado “Domesticação”, de 2016. Em seu processo de criação, homenageia mulheres dos séculos XV e XVI proibidas de exercer a arte como profissão, além de discutir temas como as ditas “obrigações” femininas. Muitos séculos depois, as obrigações parecem continuar as mesmas, provocadas por situações que levam ao auto julgamento, enclausuramento emocional e a perpetuação dos paradigmas impostos às meninas e mulheres ocidentais desde a Grécia Antiga.


“Domesticação” é um grito de protesto e ao mesmo tempo um chamado que se estende as outras mulheres que de alguma forma, passam por momentos de dor, opressão, medo e tortura – seja ela física ou psicológica – e que anseiam por um olhar crítico, mas ao mesmo tempo, afetuoso, e que desperte a empatia acima do julgamento.

Rosi Costa também fala de um passado que traz consequências para o presente. Mesmo vivendo em tempos de internet, redes sociais, sororidade e feminismo, nossos desejos e sonhos ainda são ceifados por nosso pai, companheiro, filhos, amigos e tantas outras pessoas que desconhecem ou que são apenas mais um reprodutor de conceitos e valores ultrapassados.

Até mesmo as próprias mulheres, que por questões culturais, ajudam a perpetuar regras que colocam suas filhas em condição de ser indefeso, recatada, dotada de habilidades ditas exclusivas das mulheres dos anos 50.

Muitas pagam e outras ainda vão pagar pela lavagem cerebral da década de 50, momento em que cuidar das necessidades do marido era considerado cumprir com o seu papel. Estar sexualmente sempre disposta, manter a etiqueta, os bons costumes e se auto sabotar era sinônimo de felicidade no casamento. A tortura social psicológica calou e reprimiu quem já não tinha forças para gritar, fazendo com que mães solteiras, divorciadas, pioneiras e homossexuais fossem vistas com desprezo e preconceito.

A mulher contemporânea estuda, trabalha, é mãe solo, dirige, bebe e faz sexo no primeiro encontro, mas ainda assim precisa constantemente enfrentar os desafios e assumir as consequências de suas escolhas, o que torna a vida muito mais difícil e cansativa. Mas é no do dia a dia, na conquista do diploma e da profissão, donas de nosso próprio corpo e falando em alto e bom tom a palavra NÃO, que eu ainda me pergunto: Quanto nós temos das crenças de quem nos criou? Como isso afeta nossa vida, e a dos que estão a nossa volta? O Quanto reprimimos nossos desejos em nome da família, do trabalho e do julgamento de outras pessoas? Quanto de “Domesticação” habita em nós?

São algumas das reflexões que o trabalho da artista nos provoca e que convido você leitor ou leitora, a pensar e discutir com outras mulheres, parceiros, família e grupos sociais. Somente por meio do diálogo será possível desconstruir os padrões e amenizar o preconceito quando o tema é a mulher na sociedade.

O Carnaval joinvilense e a falta de investimento em cultura

Quando comecei a pensar sobre um texto de opinião a respeito do carnaval joinvilense, a primeira intenção foi procurar quem faz a festa acontecer, ou seja, organizadores, produtores culturais e grupos carnavalescos, além do desejo de despertar algumas boas memórias em quem sempre gostou de participar da folia.

Entretanto, para realizar a pesquisa era preciso entrar em contato com produtores ou pessoas que se destacam quando o assunto é carnaval em Joinville. Começo minha busca contatando alguns nomes, na esperança de que ao menos um deles contribuísse com falas e curiosidades, no que diz respeito à criação do(s) grupo(s) carnavalesco(s), preparação, organização do evento, e principalmente a pergunta de meu maior interesse: o que o carnaval representa para você?

Infelizmente ou felizmente, consegui contatar alguns produtores, integrante de escola de samba e até um pesquisador da área, porém todas as então “personalidades”, não sabiam ou não estavam dispostas para conversar naquele momento. E foi de conversa em conversa, que todos me encaminhavam a outro e outro e mais outro contato, sempre sem disponibilidade para responder com clareza minhas perguntas.

Após algumas tentativas, frustrada e com o carnaval da cidade batendo na porta, decidi abordar o tema em outra oportunidade. Mas que surpresa a minha, quando no dia seguinte, ao ler um dos jornais local, soube que a primeira noite (22/02) de apresentação e celebração de uma das manifestações culturais mais esperadas no Brasil, termina não com alegria e sentimento de dever cumprido, mas sim em pancadaria, bombas de efeito moral e tiros disparados pela polícia.

Falta de organização da festa? Despreparo da polícia? Uma fatalidade? Lugar certo, pessoas erradas? Acredito que os fatos ainda serão apurados, porém o prejuízo sempre vai ser da população. Triste mesmo é saber que não foi apenas um caso isolado, no segundo dia de comemoração (23), durante a apresentação do grupo de maracatu Morro do Ouro, na Rua das Palmeiras, centro de Joinville, presenciei a outra confusão, que foi motivo para pânico e correria. A acusação de que uma mulher havia roubado um grupo de foliões, causou o estopim da briga. Desta vez sem policiamento, puxões de cabelo, empurrões, socos, chutes e garrafas quebradas assustaram quem se divertia.

O clima era de indignação, muitos gritavam “BRIGA NÃO”, mas o resultado foi outra noite marcada pela brutalidade humana.
São esses episódios – não muito diferentes do que acontece em outros carnavais de rua pelo país afora – é que me fazem refletir sobre como estamos sedentos de cultura, seja no centro ou na periferia.

É preciso com urgência, sensibilizar as pessoas, ampliar o acesso às artes, à educação e passo a passo, ir construindo por meio dessas ferramentas, o pensamento crítico para uma cultura de paz. O que presenciamos ou a notícia que chegou até nós por meio dos jornais e comentários, é apenas o reflexo do quanto o país e o município vem sofrendo com o abandono, descaso e falta de respeito quando o assunto é cultura.

Quem vive da disseminação do sensível, precisa cada vez mais, buscar outras opções de trabalho que não o exercício da sua arte para poder sobreviver. A classe artística está desmotivada e cansada de viver só de esmolas. Cortes de verbas e um emaranhado de procedimentos burocráticos emperra a produção cultural, dificultando a participação e contemplação de projetos via leis de incentivos.

O desmonte, desmoronamento e fechamento de espaços culturais como a Cidadela Cultural Antarctica, só contribui com a violação dos nossos direitos garantidos pela constituição art. 125 “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Com apenas mais um dos tantos direitos da população negligenciados, não saber festejar com responsabilidade e empatia é só a ponta do iceberg. O investimento precário por parte do governo, em arte e cultura influencia no que faz do humano, SER humano. Garantir o exercício dos direitos culturais não se trata apenas da produção de eventos ou vivências artísticas que contemplem apenas quem pode pagar por eles.

Boas peças de teatro, exposições, concertos, leituras entre outras possibilidades, e principalmente excelentes mediadores, podem contribuir no processo de desenvolvimento social, moral e ético da população, visto que, sem a emoção, experiência, encantamento, afeto e contaminação pela arte, não há sociedade que resista ao caos e a própria destruição.

Aldeia Tekoa Tarumã: Resistência, força e Luta

“Dizem que os tempos da escravidão já acabaram, mas para o indígena continua o mesmo.”
Cacique Ademilson Moreira

Foto: Walmer Bitencourt Júnio. Na foto: Sr. Luiz (Rede Luz), Celiane Neitsch (Arte na Cuca), Cacique Ademilson e moradores da aldeia. Entrevista realizada em 2019 – antes da Pandemia Covid 19.

As margens da BR 101, adentrando por um caminho estreito e sem chamar muita atenção, no final de 2019 à equipe do Arte na Cuca, em conjunto com a fraternidade humanitária Rede Luz, visitou a aldeia indígena Guarani, Tekoa Tarumã, localizada na cidade de Araquari/SC. Ao todo 11 famílias habitam a região, lideradas pelo Cacique Ademilson Moreira, que de fala mansa e agradável nos recebe na casa de reza, local sagrado para a cultura Guaraní.
A impressão foi de que lá, a vida passa mais devagar, e de que existe o tempo certo para cada coisa. O tempo de falar, de ouvir, de orar e também o tempo de esperar. Algo quase inimaginável no mundo ansioso e doente em que nos submetemos a viver, do qual já nos alertava Zigmunt Bauman.

Durante mais de uma hora de conversa, o Cacique falou a nossa equipe sobre os problemas enfrentados pela comunidade, os estigmas sociais com os quais são obrigados a conviver e a luta constantemente para preservar suas terras e cultura. Mas a vida na aldeia não é feita apenas de dificuldades e sim de muita alegria, tradições, valores e conquistas, como a nova sede da escola, construída para facilitar o acesso das crianças e jovens aos estudos.

Arte na Cuca: Como a comunidade indígena se estabeleceu na região que hoje é a aldeia Tekoa Tarumã?

Ademilson: Eu sou natural do Rio Grande do Sul, e estou em Santa Catarina há mais de quinze anos. Quando cheguei nessa região com a minha família, a aldeia já existia, outras famílias já estavam aqui, isso é algo de muitas gerações. Nossa família está aqui há aproximadamente seis anos, porque é da nossa cultura mesmo, o povo Guarani se muda, as vezes porque em certos lugares já não havia mais a possibilidade de plantio, pois o solo precisa descansar e se recuperar. Algum tempo depois de chegar aqui, tive outros filhos e estou há aproximadamente dois anos exercendo o papel de liderança. Nesse período estamos construindo algumas estruturas necessárias para a aldeia, como a implantação da escola e outros meios para irmos sobrevivendo.

Arte na Cuca: Você falou a respeito de sobrevivência, atualmente qual é o principal meio de sustento da comunidade?

Ademilson: Nós temos quatro funcionários contratados pelo Estado, que tem o cargo de professor e lecionam para a própria comunidade da aldeia, mas infelizmente a maior parte de nós sobrevive de doações. E outra fonte de arrecadação de renda é o nosso coral, composto por crianças que se apresentam em escolas públicas e universidades, além de outros eventos, em troca de alimentos. Por último temos a venda de artesanatos.

Arte na Cuca: Em um momento em que o país é governado por lideranças que deixam claro a falta ou nenhuma preocupação em preservar as terras indígenas, disseminando ainda mais o preconceito e o ódio, quando menciona que “Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, quais são as maiores dificuldades enfrentadas por vocês como ancestrais dos legítimos habitantes do Brasil?

Ademilson: Não só hoje, mas desde muito tempo como povos indígenas, nós estamos sofrendo grandes dificuldades e muitas ameaças. Vivemos em estado constante de alerta e resistência, desde a época do descobrimento e da invasão dos não – indígenas.
A nossa cultura sempre foi ameaçada, inclusive nossa própria existência, então, nos tempos atuais, não faz diferença, pois continuamos vivendo esse mesmo processo de extermínio.
Nesse cenário, já aumentou a potência de sermos exterminados, somos atacados em forma de lei, com preconceitos, vivemos com muita dificuldade, principalmente por conta do processo de demarcação das terras indígenas.

Meses atrás nossa aldeia foi ameaçada, recebemos constantes ameaças até mesmo de morte, por conta da demarcação. Nossos direitos, previstos na constituição não estão sendo respeitados nem executados, vivemos um processo de invisibilidade social e na visão do governo, nos simplesmente não existimos. Essa é a pior coisa que pode nos acontecer. Nós somos seres humanos, temos a nossa cultura, língua, espiritualidade, mas mesmo assim não somos notados. Sobrevivemos no meio do fogo cruzado, pois o maior alvo está sempre em quem ocupa a liderança.

Arte na Cuca: Em um futuro próximo, como você deseja que as pessoas possam enxergar e entender a cultura indígena?

Ademilson: Sempre, desde a criação do mundo, nós sempre fomos seres humanos. Eu gostaria muito que a sociedade em geral nos enxergasse como seres humanos normais, como qualquer outra pessoa. Nós temos uma cultura diferenciada é claro, mas o sangue que corre nas veias de cada um de nós é o mesmo. Sempre tivemos capacidade, condições e possibilidades assim como os não-indígenas, de frequentar a universidade e exercer cargos de instituições renomadas. Não somos diferentes das outras pessoas.
Sonho com o dia em que a sociedade em geral, aprenda a nos enxergar como pessoas, sem preconceitos, mesmo que não conheçam ou não queiram conhecer a nossa cultura. Que apenas respeitem o nosso direito de também existir. Não é preciso acreditar em tudo o que nós acreditamos, mas o mínimo que pedimos e buscamos é o respeito.

Arte na Cuca: Durante nossa conversa, você menciona alguns grupos que chegam à aldeia para visitas de estudos, ainda com o pensamento retrógrado, e entendem o indígena como aquele ser que vive isolado no meio da floresta, ou aqueles que de alguma forma não chegam com boas intenções. Como é essa situação para vocês e de que forma gostariam de ser reconhecidos quando o assunto é a pesquisa da cultura indígena?

Ademilson: A sociedade não-indígena precisa aprender a identificar que tribo indígena vive em determinada região, pois existem vários povos e várias etnias. Nós somos da etnia Guaraní, e sempre habitamos o litoral brasileiro e na maioria das vezes, quando escutamos assuntos que tratam de uma etnia, nos tratam apenas como “índios”, não sabem se é Kaingang, Xokleng, Guaraní, ou outros. Sendo que somos muitos e cada etnia tem sua cultura e forma de conviver. Para nós, o mais interessante seria que as escolas e demais instituições obtivessem informações mais detalhadas e tentassem de alguma forma identificar quem são os povos indígenas, em que situações são distribuídos, quais as etnias existentes.

Arte na Cuca: Ao passar pelos grandes centros das cidades, é possível perceber mulheres indígenas vendendo seus artesanatos em calçadas. Muitas chegam até a serem confundida com moradoras de ruas, e que estão na situação de pedir esmolas. Como é para vocês este não-lugar na sociedade?

Ademilson: É normal essa definição social, pois nós indígenas estamos nessa estatística de exclusão, assim como os moradores de rua. E é com essas condições que nós somos invisibilizados, realmente excluídos. Mas, eles não sabem que nós somos um povo diferente, somos indígenas, temos nossos valores, crenças e culturas. Estamos apenas comercializando nossos produtos, e o que as pessoas não observam é que quando um artesão indígena está ali vendendo suas produções ele está trabalhando. É triste termos que passar por isso, pois buscávamos nosso sustento na mata, com a destruição da natureza, precisamos partir para a mata de pedra, que são as cidades e então mendigar. Isso nos deixa profundamente tristes.

Arte na Cuca: Cacique, percebemos algumas construções na região da aldeia, vamos falar sobre os projetos que estão em andamento? Quais são eles e como as pessoas podem colaborar?

Ademilson: Estamos construindo a Casa das Mulheres, que é uma iniciativa em apoio com a Rede Luz, instituição que tem sido um grande braço direito da aldeia. É um espaço específico para o atendimento das mulheres e suas atividades, o projeto está no início, mas a comunidade e as mulheres da aldeia estão muito envolvidas no andamento da construção.
Também temos a extensão da escola estadual, que apesar de estar passando por um processo burocrático, estamos conseguindo trazê-la, sendo que a sala foi construída pela própria comunidade com materiais cedidos por parceiros. Temos aproximadamente 20 alunos, divididos em ensino fundamental, EJA Médio e o Pró-Jovem.

Quem quiser conhecer ou ajudar os projetos da aldeia Tekoa Tarumã, pode entrar em contato com Luiz, da ONG Rede Luz, através do número (47) 9 9923-4219.

Sem limites: acessibilidade e inclusão na arte joinvilense

O Arte na Cuca acredita e trabalha para que as produções artísticas realizadas na cidade de Joinville e região, consigam ultrapassar as barreiras da comunicação entre arte e público. Nosso maior desejo é possibilitar o acesso as artes para toda e qualquer pessoa, independente de sua cor, crença, gênero, opção sexual, limitações, deficiências e etc. 
Segundo o artigo 125 da constituição federal brasileira,  “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Apoiar e falar cada vez mais sobre representatividade, equidade e valorização das minorias, é um desejo que vai de encontro com uma data considerada por nós, marcante no mês de dezembro: o “Dia Internacional da pessoa com deficiência”, lembrada por suas lutas e conquistas em 03/12.
Para falar sobre os desafios, superações e conquistas da pessoa com deficiência no campo das artes, convidamos a atriz joinvilense Dayane Cristina Gomes, de 26 anos que integra o Grupo de Teatro Libração, projeto idealizado pela diretora Manoella Carolina Rego em parceria com Dayane, no ano de 2011. Durante a entrevista, a atriz fala sobre suas experiências e motivações, mas também sobre os obstáculos que enfrenta quando o assunto é acessibilidade e inclusão.

ANC: Qual foi seu primeiro contato com o teatro e as dificuldades enfrentadas envolvendo a deficiência auditiva?

DAYANE: Sou surda desde que nasci, está na genética familiar. Desde criança sonhava em ser atriz de televisão, mas meu primeiro contato com o teatro foi aos 18 anos, através do Curso Livre de Teatro da Dionísos, com a professora Clarice Steil Siewert, que contava com a tradução em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), da Manoella Rego. É Muito difícil encontrar oficinas e cursos que tenham intérprete de LIBRAS, pouco tempo atrás, eu estava procurando cursos para atores de TV, mas a resposta que ouvi foi de que não teriam como adaptar as aulas para mim, nem mesmo tentaram. Pensando nessa e em outras dificuldades, é que em 2011 eu e a Manoella criamos o Grupo de Teatro Libração.

ANC: Como é fazer parte do Grupo de Teatro Libração e a sua própria descoberta como atriz?

DAYANE: O Libração é um grupo de teatro bilíngue, nos ensaios para os surdos falamos apenas em LIBRAS. Nas apresentações atuamos na nossa língua materna, a LIBRAS e também fazemos uso da expressão facial e corporal. Ás vezes  contamos com a tradução da intérprete, para quem não é bilíngue.

ANC: Quais são seus planos para continuar aprendendo e atuando como atriz?

DAYANE: No início eu não acreditava que era uma boa atriz, me sentia muito insegura e tímida. Foram os professores que me incentivaram e acreditaram em mim. No momento, meus planos são continuar com as apresentação  da peça “Fala comigo!! Ou mundo invertido”, que retrata muito bem o universo dos surdos, e o mais recente projeto do Libração, inspirado no texto ” O Lixo ” do Luís Fernando Veríssimo. E para o futuro sonho em criar novos projeto para ensina arte, teatro e dança os surdos de todas as idades.

ANC: Em novembro você assumiu a diretoria administrativa do Instituto Ímpar, como é fazer parte da equipe de trabalho?

DAYANE: Estou aprendendo e conhecendo por dentro desse projeto que já participo e acompanho faz algum tempo. Os meus colegas do Ímpar são talentosos, e estão sempre realizando ações que tem como objetivo apoiar a inclusão.  Palestras, teatros e etc, principalmente sobre e com as pessoas com deficiência. O Impar é um grupo de artistas fortes, lutadores que estão sempre lutando pela a cultura e motivando as pessoas, com ou sem deficiência.

ANC: Você acredita que os espaços culturais de Joinville, estão preparados para receber o público com necessidades especiais?

DAYANE: Na maioria das vezes não. A falta de acessibilidade fica ainda mais evidente quando o assunto é a acessibilidade arquitetônica, para as pessoas com deficiência física que precisam do auxílio de muletas ou cadeira de rodas. Já para os surdos, o local precisa contratar intérprete, mas também precisa ver antes o local que a interprete vai ficar no palco para ninguém passar na frente e atrapalhar a tradução. Mas também é preciso falar sobre os espaços que vem fazendo um ótimo trabalho quando o tema é inclusão por exemplo, o Grupo Abismo, da AMORABI e a Dionísos sempre convidam quando há intérprete. Eu e outros surdos já vimos apresentações do Grupo Canto do Povo, na Casa Iririú e de grupos de fora da cidade, via , patrocínio federal. Nós do IMPAR, fazemos tudo com interprete.

Arte na Cuca realiza sessão de cinema para crianças no Residencial Trentino I

No sábado, 23 de novembro às 14h o Arte na Cuca em parceria com a Amorabi e a Escolinha de Artes do Trentino , realiza a 2º edição do “Cinema e mediação cultural: O olhar da criança”. A ação tem o objetivo de proporcionar o acesso ao cinema com animações aclamadas pelo público e pela crítica, o projeto de caráter itinerante é realizado gratuitamente em espaços culturais, escolas, associações e ONG’s situadas em bairros de Joinville estigmatizados e com altos índices de vulnerabilidade social. Para o ano de 2020, o projeto pretende atender os bairros Adhemar Garcia, Comasa, Fátima, Jardim Paraíso, João Costa, Parque Guarani e Paranaguamirim.

O primeiro contato com as crianças é feito por meio da apresentação da “claquete”, entendida pelos idealizadores da proposta, a arte-educadora Celiane Neitsch e o acadêmico de cinema Walmer B. Júnior, como um instrumento potencializador da mediação cultural. “Trazer o objeto é iniciar um processo de diálogo sobre cinema, educação e a reflexão a respeito do mesmo como linguagem artística, expressão politica, filosófica e cultural de seus autores e público”, destaca Celiane.

Sobre a sessão no Trentino     

A animação selecionada para experiência das crianças é “Tito e Os Pássaros”, filme brasileiro de 2018 com direção de Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg. Em parceria com a Amorabi e a Escolinha de Artes do Trentino, a sessão acontecerá no salão de festas do “Trentino I” e contará com a distribuição gratuita de pipoca e suco.
Ao término do filme, a equipe do Arte na Cuca realizará um momento de fala problematizando algumas questões que aparecem no filme, seguida da dinâmica “Qual é o seu maior medo?” Nesse momento, as crianças serão convidadas a falar ou escrever sobre eles, depositando-os em uma gaiola (objeto simbólico de aprisionamento).  Finalizamos com a produção de uma pintura coletiva sobre os medos e o significado do filme para cada participante.

Sinopse

Classificação Indicativa 14 anos.

Tito é um menino tímido de 10 anos que vive com sua mãe. De repente, uma estranha epidemia começa a se espalhar, fazendo com que pessoas fiquem doentes quando se assustam. Tito rapidamente descobre que a cura está relacionada à pesquisa feita por seu pai ausente sobre o canto dos pássaros. Ele embarca numa jornada com seus amigos para salvar o mundo da epidemia. A busca de Tito pelo antídoto se torna uma jornada para encontrar seu pai ausente e sua própria identidade.

Quando? 23 de novembro. Horário: 14h às 16h
Quanto? Gratuito. Evento fechado para moradores.
Onde? Residencial Trentino I. R.Juliano Busarelo, 750 – Boehmerwald, Joinville/SC

Arte na Cuca realiza oficina no dia nacional da consciência negra

Em celebração ao dia nacional da consciência negra, o Arte na Cuca realiza em parceria com a livraria O Sebo, no dia 20 de novembro das 16h às 17h30min a oficina “Bonecas Abayomi: alegria e resistência negra”. O projeto elaborado pela arte-educadora Celiane Neitsch, tem como objetivo atender a professores e comunidade quanto à apresentação da cultura africana e sugestão de propostas educativas no ambiente escolar e em espaços culturais.

Durante a oficina, o público aprenderá a confeccionar chaveiros com a boneca Abayomi, enquanto ouvem e dialogam sobre sua história. Referências de livros infantis e infanto-juvenis sobre cultura, história e período de colonização da África também serão apresentados como fonte de inspiração e sugestão de material de apoio pedagógico.

A participação é gratuita e não é necessário realizar inscrição prévia, basta comparecer a livraria no dia do evento.

Quando? 20 de novembro Horário: 16h às 17:30 min
Quanto? Gratuito
Onde? Livraria O Sebo. R. Dr. João Colin, 572 – Centro, Joinville. 

Arte na Cuca integra o Festival União das Culturas

No dia 20 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, para problematizar a questão e propor reflexão sobre o tema, a arte-educadora Celiane Neitsch, apresenta para escolas, Ong’s e espaços culturais, oficinas de arte que incluem roda de conversa pensando sobre os estereótipos da representação do negro e sua cultura nas aulas de arte.

A primeira ação acontece em parceria com o Festival União das Culturas, promovido pelo Museu Nacional de Imigração e Colonização de Joinville. Domingo, 20 de outubro às 11h a educadora do Arte na Cuca, trás ao público do festiva a oficina ““Bonecas Abayomi: alegria e resistência negra”.

“Todos os dias são da consciência  negra, indígena, da luta contra a homofobia, entre outras tantas bandeiras levantadas a favor da diversidade.” Celiane Neitsch

Sobre a oficina no Festival União das Culturas

A oficina trás a boneca “Abayomi”, feita de tecido e nós, com o intuito de propor um momento de conversa a respeito da resitência negra durante os mais de trezentos anos de escravidão no Brasil.  Os vestígios que ela deixou são catastróficos, principalmente tratando-se do preconceito de cor, religião e expressão cultural.

Abayomi

Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravos entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim. (shorturl.at/hjlqZ).

Quando? 20 de outubro. Horário: 11h
Quanto? Gratuito.
Onde? Festival União das Culturas. R. Das Palmeiras – Centro. Joinville/SC.

Libras: Intérpretes, educação e realidade nas escolas

A Lingua Brasileira de Sinais – LIBRAS, regulamentada pela lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão (e outros recursos à ela associados), das pessoas surdas do Brasil. Segundo a lei, a acessibilidade em língua de sinais (LIBRAS) deve ser garantida por parte do poder público,  às pessoas que dela necessitarem, principalmente os sistemas de saúde e o educacional, conforme artigo:

Art. 3º- As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4°- O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente.

Fonte: divulgação

Foi no cumprimento da lei, mas também percebendo o quanto ela tem o poder de aproximar as pessoas e tornar o mundo a nossa volta mais humano, que a pedagoga Camila Meier, se apaixonou pela Língua Brasileira de Sinais.  Logo na graduação, na disciplina de LIBRAS, Camila teve aulas com um professor surdo e percebendo a dificuldade dele em estabelecer uma comunicação com a turma, a então acadêmica começa a se dedicar ainda mais as aulas, no intuito de auxiliar professor e demais alunos na quebra de barreiras da comunicação e do preconceito que ainda existia naquele ambiente. 

A estudante concluiu o curso com um grande conhecimento na disciplina e logo depois vieram cursos, pós-graduação e interação com a comunidade surda. Atualmente, Camila é interprete da língua e faz parte do time de educadoras da primeira escola de alfabetização em Libras de Joinville. Ela é nossa entrevistada e por meio dessa conversa, vamos entrar um pouco nesse universo, que às vezes é tão explorado pelas mídias quando a pauta é inclusão, mas que ao mesmo tempo, parece tão esquecido quando o assunto são nossos direitos sociais.

ARTE NA CUCA: Como foi e tem sido sua experiência de trabalhar com pessoas que possuem necessidades especiais?

CAMILA M: No geral é muito bom! Na verdade meu público-alvo é a pessoa surda, mas tive um aluno com autismo, porém sempre trabalhei com os surdos. Tudo tem os dois lados têm o que é mais tranquilo e o lado que é mais trabalhoso, mas estou em constante aprendizado. A área de LIBRAS é algo muito bom e gosto muito, toda a comunicação e expressão, é uma troca e experiência de vida.

ARTE NA CUCA: Nos últimos dias, lemos em diversos veículos de comunicação, sobre o projeto de formação bilíngue da escola Monsenhor Sebastião Scarzello. Como está sendo para os alunos essa nova dinâmica?

CAMILA M: Nosso objetivo na escola não é ensinar apenas LIBRAS, e sim as disciplinas utilizando a língua. As crianças ouvintes está recebendo com muita vontade, tudo para eles é novo e interessante, então acabam aprendendo com mais facilidade. Sempre estão atentos aos sinais para poder aprender e conversar com os amigos.

ARTE NA CUCA: De um modo geral, como você percebe a realidade do aluno surdo nas escolas? Elas estão preparadas e adaptadas para as crianças com necessidades especiais?

CAMILA M: Em minha opinião, de modo geral as escolas não se encontram preparadas, pois muitos dos profissionais não estão habilitados quando o assunto é educação especial. A contratação do profissional às vezes atende apenas aos conhecimentos básicos e os especialistas não são admitidos para as vagas e quando são, no caso das intérpretes, acabam fazendo o papel da professora auxiliar da classe.  É preciso ter a formação de especialista, mas a remuneração acaba sendo de auxiliar.

ARTE NA CUCA: Que mensagem você como educadora e intérprete de LIBRAS, deseja transmitir aos nossos leitores e que contribua para que haja mais equidade e acessibilidade no mundo?
CAMILA M: Desejo que as pessoas respeitem e entendam que a LIBRAS é uma língua, que não se tratam de gestos ou mímicas e sim um idioma. É preciso respeitar sua complexidade, pois nela tudo tem um sentido e parâmetros. Falta a valorização e conhecimento, além do investimento em capacitação dos profissionais que trabalham com inclusão, e o mais importante: Que a comunidade surda existe e está no meio de nós. Só em Joinville residem mais de 30 mil surdos, pessoas que precisam ser valorizadas, de forma que consigam se comunicar, estudar, trabalhar e exercer seu direito de viver em sociedade.