O encontro da arte com a educação

Com curadoria pedagógica do Museu Bispo do Rosário (RJ) a mostra “O Grande Veleiro”, que está em exposição no Sesc Joinville até 27 de março, surpreende ao reorganizar a dinâmica das curadorias tradicionais, evidenciando o educativo que quase sempre, aparece em segundo plano no sistema da arte. Neste projeto a aposta está nos recursos pedagógicos, que recebem a condição de obras de arte, legitimadas pelo espaço expositivo.

É na experiência e interação do público, que o projeto curatorial faz todo sentido, sugerindo por meio de vídeos, imagens e objetos, novas conexões com a biografia e o trabalho do artista. Em destaque estão os jogos educativos como “A caixa dos escolhidos”, bordados e objetos propositalmente posicionados, que contribuem para a criação da atmosfera que nos aproxima do universo de Arthur Bispo do Rosário.

Intenção da curadoria ou não, as discussões presentes na mostra estão mais relacionadas a biografia do artista e a um conjunto de obras, do que aos conteúdos conceituais relacionados à elas. Mas “O Grande Veleiro” merece destaque pelas soluções interativas e convidativas que atraem leigos e iniciados, organizando um espaço democrático em que não é preciso ter conhecimentos prévios para poder aproveitar e aprender sobre arte, o mais importante é sentir e desfrutar da sua proximidade com a vida.

Libras: Intérpretes, educação e realidade nas escolas

A Lingua Brasileira de Sinais – LIBRAS, regulamentada pela lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão (e outros recursos à ela associados), das pessoas surdas do Brasil. Segundo a lei, a acessibilidade em língua de sinais (LIBRAS) deve ser garantida por parte do poder público,  às pessoas que dela necessitarem, principalmente os sistemas de saúde e o educacional, conforme artigo:

Art. 3º- As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4°- O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente.

Fonte: divulgação

Foi no cumprimento da lei, mas também percebendo o quanto ela tem o poder de aproximar as pessoas e tornar o mundo a nossa volta mais humano, que a pedagoga Camila Meier, se apaixonou pela Língua Brasileira de Sinais.  Logo na graduação, na disciplina de LIBRAS, Camila teve aulas com um professor surdo e percebendo a dificuldade dele em estabelecer uma comunicação com a turma, a então acadêmica começa a se dedicar ainda mais as aulas, no intuito de auxiliar professor e demais alunos na quebra de barreiras da comunicação e do preconceito que ainda existia naquele ambiente. 

A estudante concluiu o curso com um grande conhecimento na disciplina e logo depois vieram cursos, pós-graduação e interação com a comunidade surda. Atualmente, Camila é interprete da língua e faz parte do time de educadoras da primeira escola de alfabetização em Libras de Joinville. Ela é nossa entrevistada e por meio dessa conversa, vamos entrar um pouco nesse universo, que às vezes é tão explorado pelas mídias quando a pauta é inclusão, mas que ao mesmo tempo, parece tão esquecido quando o assunto são nossos direitos sociais.

ARTE NA CUCA: Como foi e tem sido sua experiência de trabalhar com pessoas que possuem necessidades especiais?

CAMILA M: No geral é muito bom! Na verdade meu público-alvo é a pessoa surda, mas tive um aluno com autismo, porém sempre trabalhei com os surdos. Tudo tem os dois lados têm o que é mais tranquilo e o lado que é mais trabalhoso, mas estou em constante aprendizado. A área de LIBRAS é algo muito bom e gosto muito, toda a comunicação e expressão, é uma troca e experiência de vida.

ARTE NA CUCA: Nos últimos dias, lemos em diversos veículos de comunicação, sobre o projeto de formação bilíngue da escola Monsenhor Sebastião Scarzello. Como está sendo para os alunos essa nova dinâmica?

CAMILA M: Nosso objetivo na escola não é ensinar apenas LIBRAS, e sim as disciplinas utilizando a língua. As crianças ouvintes está recebendo com muita vontade, tudo para eles é novo e interessante, então acabam aprendendo com mais facilidade. Sempre estão atentos aos sinais para poder aprender e conversar com os amigos.

ARTE NA CUCA: De um modo geral, como você percebe a realidade do aluno surdo nas escolas? Elas estão preparadas e adaptadas para as crianças com necessidades especiais?

CAMILA M: Em minha opinião, de modo geral as escolas não se encontram preparadas, pois muitos dos profissionais não estão habilitados quando o assunto é educação especial. A contratação do profissional às vezes atende apenas aos conhecimentos básicos e os especialistas não são admitidos para as vagas e quando são, no caso das intérpretes, acabam fazendo o papel da professora auxiliar da classe.  É preciso ter a formação de especialista, mas a remuneração acaba sendo de auxiliar.

ARTE NA CUCA: Que mensagem você como educadora e intérprete de LIBRAS, deseja transmitir aos nossos leitores e que contribua para que haja mais equidade e acessibilidade no mundo?
CAMILA M: Desejo que as pessoas respeitem e entendam que a LIBRAS é uma língua, que não se tratam de gestos ou mímicas e sim um idioma. É preciso respeitar sua complexidade, pois nela tudo tem um sentido e parâmetros. Falta a valorização e conhecimento, além do investimento em capacitação dos profissionais que trabalham com inclusão, e o mais importante: Que a comunidade surda existe e está no meio de nós. Só em Joinville residem mais de 30 mil surdos, pessoas que precisam ser valorizadas, de forma que consigam se comunicar, estudar, trabalhar e exercer seu direito de viver em sociedade.