Os vários mundos de Roseli Ritzmann

Roseli Ritzmann é artista visual, graduada em História pela Universidade da Região de Joinville – Univille, também possui formação em história da arte e cerâmica pela Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior. Desenvolve trabalhos artísticos em diversas linguagens como pintura, desenho, colagem, gravura, instalação, livro de artista, entre outros. Inquieta e pesquisadora, está sempre se dedicando a aprender e aperfeiçoar sua técnica e pesquisas relacionadas as artes visuais, mas o que muitos não sabem, é que ela ainda encontra tempo para produzir e se dedicar a outra paixão: Os fantoches de bonecos.

A artista conta que começou a produzir seus primeiros fantoches a quatro anos atrás, inspirada na condição intelectual de seus alunos, quando ainda trabalhava em uma instituição educacional da cidade. “Trabalhei com inclusão de deficientes intelectuais, e os fantoches de material reciclado das oficinas de arteterapia sempre renderam boas histórias nas mãos deles. Então percebi que seria algo muito interessante e importante direcionar minha criatividade na elaboração de fantoches.”

Sua produção foi sendo aperfeiçoada aos poucos, das primeiras peças feitas com material reciclado, passou para os fantoches de feltro e logo depois para os de espuma, que tem aproximadamente 40 cm e que inicialmente eram tingidos com tinta spray ou acrílica. A colagem das partes era feita com cola de silicone, mas em suas pesquisas, Roseli descobriu que o ideal é a cola de sapateiro. A estrutura dos fantoches de espuma é sempre a mesma, o que vai mudar e torna-los únicos e especiais é a caracterização que ela dá para cada um. É como se cada um deles fosse seu “filho único”, sempre um detalhe especial, algo diferente que só aquele fantoche terá, por mais que todos se pareçam, sempre haverá uma marca de nascença escondida em algum lugar.

Todas as mudanças, pesquisas e aperfeiçoamentos, fizeram com que seus fantoches se tornassem cada vez mais resistentes, visualmente interessantes e lúdicos. Atualmente a artista conta com dois ateliês em sua casa, um para as artes e outro para os fantoches, que agora podem ser de bonecos, sapos, palhaços, bichinhos e outros seres frutos da imaginação daquela que lhes trás ao mundo.

No ano de 2014, os fantoches já faziam parte de sua vida tanto quanto a arte, e Ritzmann decide sair da sala de aula, para transformar a atividade em negócio. Abre a empresa Popilu, que além dos fantoches, desenvolve jogos didáticos e brinquedos educativos. Todos os produtos são confeccionados e vendidos em seu ateliê e também nas feiras em que participa. “Os fantoches de feltro costumam ser adquiridos para as crianças, já os fantoches de espuma (40cm) é um produto bastante procurado pelos professores e principalmente por educadores de igrejas”

Os fantoches podem ser um excelente recurso lúdico e pedagógico, para pais, psicólogos, educadores, professores e artistas quando se trata de tentar transmitir uma mensagem, além de auxiliar no desenvolvimento da expressividade, atenção, trabalho em equipe, coordenação entre outros benefícios. O teatro em si, mas especificamente os de fantoches, podem ser trabalhados com todas as idades, pois não exigem muitos movimentos do corpo, beneficiando crianças, jovens, adultos e idosos. É preciso apenas deixar a imaginação fluir e assim como Roseli, ter sensibilidade para perceber que são das necessidades e das adversidades de nossas vidas, que surgem os caminhos e as oportunidades, e a partir daí é só ir lapidando os diamantes.  Roseli Ritzmann é exemplo de artista que expande sua pesquisa, produção e conhecimentos para outros campos e não se dá por satisfeita, adquirir um dos produtos da Popilu é mais que comprar um brinquedo, ou um fantoche qualquer, é levar uma obra de arte para casa.

Fotos: Walmer Bittencourt Junior e Celiane Neitsch

Exposição de Rosi Costa traduz o feminino em paisagens

A artista visual Rosi Costa inaugura a exposição Durante o trajeto no Garten Shopping de Joinville no dia 13 de setembro, quinta-feira. A mostra pode ser vistada gratuitamente até o dia 17 de outubro e reúne onze telas com pinturas que representam a subida do Morro do Boa Vista em direção ao mirante.

Conhecida por suas pinturas de orientação figurativa, mas também por trabalhos de abordagem contemporânea com objetos, performances e instalações, a produção artística de Rosi Costa costuma propor reflexões a respeito do universo feminino e leituras críticas sobre o papel da mulher na sociedade. A ênfase em paisagens dada pela exposição Durante o trajeto é uma versão livre dessa mesma temática, inspirada por Winnie, personagem parcialmente enterrada na peça de teatro Dias felizes, escrita por Samuel Beckett. Das onze telas apresentadas no Garten, dez compõem cinco duplas que se aproximam formalmente com pinceladas, tonalidades e texturas semelhantes.

Além de artista filiada à Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ), Rosi Costa é professora de pintura, de desenho e de técnicas sobre tela. Graduada em Pedagogia e em Artes Visuais, tem pós-graduação em Metodologia do Ensino da Arte e atua desde 2001 no processo de orientação de trabalhos em arte no seu ateliê em Joinville. Suas primeiras participações em exposições coletivas datam de 2012, embora a artista também tenha feito pequenas mostras individuais em espaços não oficiais.

Por e-mail, a artista falou ao ARTE NA CUCA sobre seus temas, sobre sua trajetória e sobre a sua motivação para montar a exposição Durante o trajeto.

Foto: Gleber Pieniz

Durante o trajeto é tua primeira exposição individual. Por que escolheste este grupo de trabalhos para expor e uma sala de shopping center para fazer a tua estreia?

Embora nos últimos anos eu esteja participando de muitas exposições coletivas, há uns anos atrás já fiz exposições individuais na cidade: Câmara de Vereadores, shoppings, biblioteca pública municipal, Faculdade Cenecista de Joinville e Detran. Joinville carece de espaços para exposições e a AAPLAJ em parceria com o Garten Shopping vem valorizando e abrindo esse espaço para que os artistas da cidade tenham a oportunidade de apresentar suas produções. Penso que esse apoio à classe artística merece o retorno dos artistas, levar a arte para espaços públicos e apresentar à sociedade a arte que se produz aqui.

Tua poética ja é conhecida pelas formas figurativas, pelo tema da mulher e pela leitura crítica do universo feminino. Como estas paisagens dialogam com a tua produção habitual? Como esta exposição se encaixa na exploração da tua temática, no desenvolvimento da tua pesquisa?

Inspirada na peça de teatro Dias felizes de Samuel Beckett, onde uma mulher fica presa em um morro, comecei a fazer esse diálogo com minha poética pensando nas montanhas que impedem as mulheres de buscarem serem felizes. No final do ano passado realizei na subida do morro do mirante uma intervenção artística com interação das pessoas que circulavam ali. Como esse espaço me transmite uma meditação ativa e uma reflexão sobre a minha pesquisa, representei essas subidas, curvas e sensações em pinceladas, cores, luz e formas.

Foto: Gleber Pieniz

A pintura é tua forma expressiva mais familiar, embora você tenha se destacado em exposições coletivas com trabalhos híbridos de abordagem contemporânea. Como se dá esse trânsito entre um e outro enfoque na tua arte?

Gosto de me expressar em muitas linguagens. O universo feminino e as reflexões em torno dele me fazem ora querer me expressar de uma forma, ora de outra forma, fluindo de uma para outra abordagem sem conflitos, porque a base poética é sempre a mesma.

Ainda que representem um mesmo lugar e um mesmo ponto de vista, as telas desta exposição se agrupam em pequenos conjuntos que diferem entre si na forma, na cor e no gesto. Como isso acontece na tua pintura?

É interessante que quando se sobe o morro do Boa Vista em direção ao mirante, cada curva surpreende de maneira nova. Na verdade são vários pontos de vista, a próxima curva é diferente da anterior, e essa percepção está representada nas pinturas a partir de pinceladas e cores diferentes. Sou muito intuitiva e ágil no processo e no gesto pictórico, é uma característica pessoal e essa característica fez com eu tivesse que me conter e repensar. Quando me dedicava à pintura dessa série, pintava duas telas de cada vez e esse resultado se percebe claramente observando o conjunto dos trabalhos. Procurava dar esse tempo e me dedicar a outros processos da minha produção e depois retornar para conseguir essa expressividade.

DIA: 13 de setembro
HORÁRIO: 20 horas
VISITAÇÃO: até 17 de outubro, de domingo a domingo, das 10 às 22 horas
CUSTO: entrada gratuita
LOCALIZAÇÃO: Garten Shopping – av. Rolf Wiest, 333, no Bom Retiro, em Joinville

Somaa lança seu primeiro álbum nas redes e em formato físico

O mundo quer te enganar é o primeiro álbum completo da banda Somaa e já pode ser acessado através de plataformas virtuais como Spotify, Deezer, Apple Music/iTunes, Amazon Music e Google Play. Lançado pela Monstro Discos também em formato físico com tiragem restrita, o CD do grupo formado por Rafael Zimath (voz e guitarra), Nedilo Xavier (baixo) e Tiago Pereira (bateria) marca o ponto mais alto de uma discografia composta por alguns singles e videoclipes, um DVD (Ao vivo para ninguém), três EPs (Primeiro, Colisão & outras histórias ordinárias e Pequenos poderes) e um CD compartilhado com a banda Sylverdale (Clube da distorção e quebradeira, vol. II).

O disco é o primeiro registro cheio na carreira do Somaa e surge como o resultado de uma pré-produção atenciosa, de um período de gravação em São Paulo e de um lançamento garantido, em grande parte, por uma campanha de financiamento coletivo. A composição das primeiras das onze canções que integram o álbum teve início em 2016 e se estendeu até o final de 2017, nas sessões imersivas gravadas por Gabriel Zander (que produziu Autoramas, Vivendo do Ócio e Menores Atos, entre outros artistas) no Estúdio Costella, em São Paulo. A partir de maio de 2018, o grupo joinvilense mobilizou apoiadores pelo Catarse e reuniu fundos para a finalização do disco que traz capa com a arte de Pedro Gonçalves. O mundo quer te enganar foi finalmente lançado para venda e audição via streaming nas plataformas virtuais no dia 17 de julho, seguido de uma prensagem limitada de CDs pelo mesmo selo Monstro Discos que, há vinte anos, lançava Blue beach monster, coletânea em vinil roxo de sete polegadas com as bandas Bendis, Skabide, E a Vaca Foi Pro Brejo e Butt Spencer (a primeira banda do guitarrista Zimath).

O mundo quer te enganar é um disco cheio de panoramas visuais, de construções roqueiras que emulam espaços, situações e ambientes sempre renovados a cada audição. A alternância de climas é tão grande quanto o número de colaborações de músicos convidados e constitui uma sonoridade áspera e concisa muitas vezes equilibrada por sutilezas de arranjos, timbres e andamentos mais sofisticados. Uma dessas modulações imagéticas mais empolgantes está justamente no miolo do disco, quando “Pressa, etc” acelera a máquina sônica do Somaa a níveis atmosféricos, alcança altura e velocidade de cruzeiro em “Profissão de urubu” e, depois, cai pesada, literalmente, em “Paraquedas – Para elefantes”, de onde sai rastejando, cautelosa, em “Meu querido lado esquerdo” para dar início a outro percurso sonoro-visual que se cumpre até o final do álbum.

Por e-mail, o guitarrista e vocalista Rafael Zimath e o baterista Tiago Pereira conversaram com o ARTE NA CUCA sobre o disco, sobre os detalhes de composição e gravação de O mundo quer te enganar e também sobre a cena cultural que o Somaa ajuda a construir e por onde faz sua música circular.

Como se deu o processo de composição e gravação de O mundo quer te enganar? Como funciona o Somaa por dentro quando se trata de construir a própria música?

Rafael Zimath: O Somaa surgiu em 2011 com o propósito de fazer música que fosse orgânica, não demasiadamente pensada e que pudesse ser amadurecida nos palcos, ao vivo. Assim, naquele momento, um álbum era a última das nossas prioridades. Em 2014 tive a oportunidade de trabalhar produzindo o segundo CD da banda Fevereiro da Silva e este trabalho reacendeu algo dentro de mim: me dei conta que eu sou um compositor de álbuns. Me encanta, como ouvinte, a maneira que um álbum pode apresentar uma experiência completa de um artista, o modo como as músicas podem se entrelaçar. Entendi que estou no meu melhor quando tenho esse input criativo, a tarefa de construir um painel completo. Então, depois de vencidos alguns projetos em andamento (o DVD Ao vivo para ninguém, outro EP), entrei em 2016 com esta meta do Somaa gravar o seu álbum – um disco que registrasse a nossa consolidada sonoridade e que também pudesse ser o melhor trabalho que conseguíssemos conceber. A primeira coisa que decidimos foi gravar em regime de imersão. Eu já sabia que algo acontece quando uma banda inteira se tranca em estúdio durante 12 ou 13 horas por dia e fica totalmente focada em gravar um disco. Todos participam, ideias fluem, há um melhor aproveitamento do esforço e, com sorte, aquele momento intangível de uma performance pode aparecer e ficar registrado para a eternidade em um pedaço de plástico ou qualquer outra plataforma virtual disponível. Também decidimos raspar as economias, apostar outro tanto do nosso próprio dinheiro e gravar em São Paulo, no estúdio Costella, com o Gabriel Zander. Eu conheço o Bil há mais de 20 anos e há pelo menos uns dez penso em gravar com o cara. Se demoramos este tempo todo para lançar um álbum, a gente queria que o troço todo ficasse foda. Então, tentamos gravar a banda ao vivo e sobrepomos detalhes posteriormente, algo que também não tínhamos feito. A gente queria uma gravação orgânica, na cara, com bastante ambiência ou espectro espacial. Posso dizer que acho que deu certo, sem soar muito bobão?

Tiago Pereira: Nós ficamos durante quase todo o ano passado nos encontrando semanalmente (às vezes até duas vezes por semana) pra arranjar e ensaiar as músicas do disco. O Rafael é a principal força criativa do Somaa. Quase tudo que tem nesse álbum em termos de harmonia, riffs e letra foi o Rafael que compôs e nos mostrou. Eu e o Ned contribuímos com detalhes de estrutura, dinâmicas e pouca coisa no texto. Tem bastante esforço de pré-produção no disco. Nós queríamos chegar no estúdio com as músicas tinindo. Valeu a pena o esforço.

Rafael Zimath: Eu escrevo uma quantidade razoável de música, semanalmente. Algumas letras também, mas em volume desproporcional ao que tenho de ideias musicais. Então, normalmente, eu levo o material para a banda, apresento e a gente monta os arranjos (Tiago ajuda muito com o texto, como fez em “Eu sou um terremoto” e “Desapego”). Este processo coletivo é fundamental porque a gente busca maneiras diferentes de representar/arranjar as composições que não sejam fáceis ou triviais, mas também sem nos alongarmos muito nisso. Neste aspecto, penso que o arranjo é algo que nos interessa muito, uma faceta da composição que pode oferecer caminhos muito diferentes do que a música inicialmente pode indicar. Quem tiver a oportunidade de ouvir as demos das músicas do disco, vai perceber que tem muita coisa que mudou ao longo do processo. Algumas canções tiveram cinco ou seis arranjos diferentes (ora arrastadas, ora diretas, etc).

Em que medida o novo trabalho se aproxima e em que medida ele se afasta dos discos que a banda lançou antes?

Tiago Pereira: Parece que ter ficado vários meses ensaiando e ouvindo as músicas enquanto elas foram sendo construídas contribuiu muito pra chegarmos às melhores versões possíveis. Nós pudemos fazer esse trabalho de depuração dos arranjos com bastante calma, ao contrário das gravações anteriores. Penso que temos belas músicas gravadas antes, mas é nesse álbum que está o melhor conjunto de canções que já fizemos. Outro diferencial do disco é que o Rafael está em seu melhor momento como intérprete das próprias músicas. A performance vocal dele cresceu muito.

Rafael Zimath: Em comparação com o que já gravamos antes, me parece que o aspecto central da sonoridade da banda está lá: o peso, os riffs, o gosto pelas harmonias não-ortodoxas, os arranjos acidentados entre bateria-baixo-guitarra, o lirismo ácido, reflexivo e existencialista. Os trabalhos anteriores também apresentavam estes elementos, afinal é quem somos como banda, como músicos. Isso não mudou. A grande diferença foi o processo de gravação, a imersão, o desejo de extrair o melhor resultado possível antes de gravar e enquanto gravávamos. Acho que outra diferença é também o fato de eu ter acionado o botão “Compor canções que formam um álbum”. Então, colaborei com músicas que, talvez, isoladamente, não tivessem sido criadas. Algumas foram escritas justamente para se contrapor àquelas já acumuladas em estoque para este álbum.

Que motivos ou temas (influências, referências, fatos…) interessam ao Somaa quando se trata de escrever letras e compor a parte instrumental das canções? De que modo esse conjunto de fatores também pode se transformar em uma ideia visual para a capa do disco e para os clipes?

Rafael Zimath: Quanto às letras, penso que o mundo como ele é ou como parece ser, interessa demais. A dinâmica das relações (interpessoais, sociais, etc), a interação com a tecnologia e seus múltiplos efeitos, as vidas de aparências, a comunicação, o papel da ciência, o desejo de encontrar a si mesmo nesta insanidade que é estar respirando o ar de 2018, no Brasil e neste planeta “Eu”. A vontade de ter uma vida abundante de arte, que não seja superficial, a busca pela reinvenção e a aceitação também de quem és, a manutenção das relações de verdade, a perseguição dos sonhos. Tento escrever sobre coisas diferentes ou de maneiras distintas, mas dizem que os autores/escritores acabam reproduzindo os mesmos dois ou três temas que os definem como artistas, então há, evidentemente, assuntos que voltam porque as coisas giram, mas às vezes param no mesmo lugar. Estes temas, esta maneira de ver as coisas, é o nosso ethos como artistas, então se relacionam diretamente a outras criações da banda como as artes, os vídeos, etc.

Tiago Pereira: O Rafael tem uma maneira muito peculiar de escrever. A poética dele carrega um certo ceticismo cortante, sem sentimentalismos e com uma certa agressividade. Eu nunca perguntei o que o motivou a escrever determinada música ou parte de música, mas suspeito que ele direcionou muitos versos a pessoas com as quais ele parece não ter tido boas experiências. Eu até brinquei que o disco poderia se chamar Música contra pessoas. Na parte instrumental essa agressividade comedida também aparece: há momentos de dissonância, distorção e ruídos, mas também há melodia e momentos mais solares. Creio que o Pedro, que fez a arte do CD, captou bem essa combinação (mas confesso que achei todo o projeto gráfico mais impactante e verborrágico do que a sonoridade do disco).

Na visão de vocês, como se estrutura o cenário rocker em 2018? Qual é o ambiente por onde a presença do Somaa circula?

Tiago Pereira: Eu percebo um aumento de eventos de música autoral em Joinville. Há o Quinta Independente (cinco edições até o fim do ano), o projeto Autorama (três edições ainda em 2018), a festa Autonom(a), shows periódicos no Garage, na Casa 97 e outros. É nesse circuito que pretendemos dar as caras periodicamente, além de tentarmos tocar ao menos nas principais cidades próximas e em algumas capitais (Curitiba, São Paulo). Não crio expectativas para além disso.

Rafael Zimath: Esta é, talvez, a pergunta mais difícil. Eu vejo que, desde sempre e como nunca, as cenas fortes (do metal, do rap, etc) são aquelas setorizadas. Na minha cabeça, o Somaa acaba sendo prejudicado por não estamos enquadrados dentro de um setor específico, nosso rock é um blend – diriam os gourmetizadores. Por outro lado, isso é um diferencial em um universo repleto de informação – na maioria, rasa. A cena em Joinville está bem movimentada, algumas casas abrindo espaços para a música autoral e a gente está dentro desta movimentação, mas ainda temos muitas perguntas para responder: como criar uma maneira eficiente de se comunicar? Como encontrar um canal eficiente para se comunicar com o público? Estamos tentando descobrir tudo isso. Você publica o cartaz do show no Facebook, mas quem não recebe a informação, não fica sabendo do evento e não vai.

Tiago, o teu trabalho como músico se espalha por bandas e projetos de diferentes sonoridades e propostas. Em que medida a música do Somaa se encaixa nesse panorama?

Tiago Pereira: O Somaa é a banda em que eu coloco minha identidade como baterista, minha assinatura. É onde eu posso criar à vontade, pensando em fazer arte mesmo. Isso me completa muito. Na maioria dos outros projetos não tenho essa mesma liberdade – nem caberia, creio. Não me vejo tocando apenas cover ou apenas gravando em estúdio pra outras bandas. O Somaa faz eu chegar muito próximo daquele desejo adolescente de ser músico e isso me faz muito bem.

Rafael, tua colaboração com a Monstro Discos já vem de longa data. Como você analisa o papel dos selos independentes no cenário de uma música que, quanto mais se massifica e se padroniza, menos se encontra encarnada nos formatos tradicionais?

Rafael Zimath: Pois é, na verdade essa parceria existe e não existe durante este tempo todo, já que se limita a um disco lançado em 1998 (com o Butt Spencer) e este último trabalho do Somaa, agora em 2018. Mas sempre continuei acompanhando os caras, curtindo os discos que lançam, mantendo contato eventual. Os selos continuam e continuarão existindo, apesar de terem perdido a força e o mercado. Então, as condições para lançar materiais por selos estão encolhendo ainda mais para as bandas e os artistas. Mas sempre haverá público que curte essa maluquice que é criar música nova, lançar álbuns – ou é só o meu lado otimista mandando o pessimista calar a boca.

Tiago, você desdobra a atuação do músico não só como artista, mas também como divulgador do circuito, ativista da cena, professor e promotor do trabalho de outros músicos. De que forma o lançamento de um disco apenas no formato virtual pode materializar esse trabalho e mapear lugares, ocupar canais, servir como conexão entre diferentes cenários?

Tiago Pereira: De fato, eu me esforço para contribuir com a “cena” da cidade. Desde que comecei a tocar eu ouço a lamúria de que “Joinville não tem nada”, que qualquer outra cidade é mais atraente e rica musicalmente. Enfim, isso pode ser parcialmente verdadeiro, mas eu não consigo me conformar pelo simples fato de que eu moro aqui e quero viver numa cidade com o máximo de produção musical possível. Reconheço que tenho uma queda por causas perdidas, já que os desafios pra se criar uma cena e um circuito por aqui são grandes. Mas eu sigo fazendo o que está ao alcance. E percebo avanços: existe uma infinidade de bandas compondo, músicos que só tocavam cover estão começando a divulgar seus trabalhos, casas que antes só tocavam cover (Didge, Porão da Liga, Bovary) já estão aceitando música independente, em alguns shows pode-se ver o público cantando as músicas das bandas e até em barzinhos já se pode ouvir cover de músicas de Joinville – o que é simbolicamente muito importante. Eu imagino ser possível criar um ambiente em que fazer música própria seja o caminho natural para os músicos e as bandas. Acredito ser possível construir esse ecossistema favorável à música independente, com lançamentos frequentes e de qualidade, com periodicidade de shows, atraindo artistas relevantes de outras cidades – o que leva à qualificação dos artistas daqui. Claro, tudo isso é a longo prazo. Nesse contexto, um lançamento em formato digital já pode ser considerado uma contribuição ao caldo, mas o Somaa também vai lançar o formato físico do álbum.

Rafael, tua música foi gravada e compartilhada em todas as últimas mídias contemporâneas (radiodifusão, fita cassete, vinil, CD, arquivo digital, streaming). Que tipo de sabedoria ou experiência essas mudanças todas te deram? Como essas tecnologias influenciam ou condicionam a tua música?

Rafael Zimath: O que aprendi é que existem vários caminhos para a música, cada qual com o seu pró/contra a se anunciar para cada perfil de ouvinte. A música pode trafegar em todos estes formatos que, de outro lado, não se excluem. Pessoalmente, me atraem os formatos que envolvem a interface física da música. Embora seja um usuário frequente do streaming (convenhamos, a coisa toda é muito prática e pode ser utilizada em regime 247), a experiência de “segurar” a música que ouço ainda é muito importante. O conteúdo musical não encerra, por si só, a experiência. Eu sou este dinossauro que recebe injeções de serotonina ao segurar um disco bacana enquanto o escuta. Analiso a capa, encarte, letras, por isso sempre me interessei pela concepção da arte dos nossos discos. Quanto a esse ponto, acho que sou um cara do velho testamento, então estas novas tecnologias não influenciam ou condicionam a maneira como a minha música é concebida. Para mim, canções continuam sendo canções: pego a guitarra e o violão e um velho caderno repleto de anotações, memórias, ideias ou sequer as uso. Depois que a coisa se torna pronta, aí tenho um problema que é pensar na plataforma para veicular este produto acabado.

Para encontrar o Somaa nas plataformas virtuais, acesse:

Spotify: https://spoti.fi/2mmhPuF
Deezer: http://bit.ly/2ur18Ty
Apple Music/iTunes: https://apple.co/2uI6xET
Amazon Music: https://amzn.to/2Ju4UjF
Google Play: http://bit.ly/2L6hag0
Homepage: http://www.somaarock.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/somaarock/

Cobaia Cênica apresenta Benjamin – filho da felicidade na Ajote

A Cia. Cobaia Cênica de Rio do Sul apresenta a peça Benjamim – filho da felicidade no Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) no dia 25 de agosto, sábado. O espetáculo solo é escrito e interpretado pelo ator Thiago Becker, tem direção de Ricardo Rocha e direção musical de Rodrigo Fronza.

Com a participação da plateia, Becker encena a vida de Benjamim e a história de sua busca pela felicidade. A partir do texto original e das intervenções ao vivo do público, o espetáculo questiona a presença e a natureza desse sentimento e contextualiza essa busca constante pela satisfação no ambiente da cidade. De maneira interativa, Benjamim sugere a reflexão de que a felicidade talvez seja impossível em sua ilusão de plenitude, mas um estado de espírito que se concretiza na fugacidade do cotidiano.

Por e-mail, o ator Thiago Becker deu entrevista ao ARTE NA CUCA sobre os sentidos e os modos de criação do espetáculo. Confira:

Fale um pouco sobre Benjamim – filho da felicidade, peça onde o personagem conversa com o público sobre sonhos, objetivos e sentimentos.

O espetáculo Benjamim – filho da felicidade tem como principal objetivo fazer as pessoas se questionarem sobre o que realmente importa. A história do Benjamim na verdade é a história de muita gente. Várias pessoas foram perguntadas através de uma entrevista o que as faziam felizes. Então ela é baseada em muitas pessoas, em mim, em amigos e familiares, gente que eu não conheço e até matérias da internet. Todo mundo se reconhece nesse personagem porque ele é baseado em gente, em nós. A temática principal do espetáculo é sobre a incessante busca pela felicidade. Sobre o tempo que se gasta com essa procura e se realmente existe essa tal felicidade. Queremos causar uma reflexão de que a felicidade não se deve ser colocada como um objetivo de vida e, sim, como um sentimento que deve ser sentido e vivido diariamente, em todas as fases da vida, desde a infância até a velhice. Logo no início do espetáculo eu faço um pacto com a plateia, onde todos irão me ajudar a contar a história. Os personagens que rodeiam a vida do Benjamim são representados pelas pessoas que estão ali assistindo. É uma forma de incluir as pessoas na vida do personagem, de criar laços e também poder dar mais cor, desenhar essa história do Benjamim.

O ritmo do espetáculo é intenso. Como foi a criação da dramaturgia e a pesquisa da atuação?

A criação do espetáculo foi uma corrida contra o tempo. O diretor carioca Ricardo Rocha passou exatamente quatro semanas em Santa Catarina em processo de montagem. Já o espetáculo também é um jogo com o tempo. O desafio inicial era contar a história da vida do Benjamim do nascimento à morte em 60 minutos. Na verdade, esse jogo ainda está posto em cena, mas de outra forma. No dia-a-dia das pessoas, o tempo é quase um rival. O ser humano tem sempre questões negativas com o tempo, pode analisar. Quantas vezes usamos a desculpa que estamos sem tempo para fazer alguma coisa? Ou ficamos estressados por não ter mais tempo, ou quando esperamos por algo e dizemos que estamos perdendo tempo. E na verdade não é isso, a reflexão que usamos é oposta. O que importa é perceber que nunca perdemos tempo, que cada segundo de vida é um segundo a mais que ganhamos. Eu gosto muito de teatro físico, de ver o ator entregando toda sua energia para trazer vida à cena. Benjamim é um solo narrativo, uma espécie de monólogo, mas eu não gosto dessa palavra porque eu não estou ali sozinho. O público está sempre comigo, me ajudando. Prefiro o termo solo-narrativo pois eu, junto com o público, narro a história desse personagem com o auxílio do principal instrumento do ator que é o corpo.

DIA: 25 de agosto
HORÁRIO: 20 horas
CUSTO: R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia entrada)
LOCALIZAÇÃO: Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) – r. 15 de Novembro, 1383, no América

Um rio em aquarelas: entrevista com Silvana Pohl

A Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ) recebe a exposição A margem – um olhar sobre o rio até o dia 6 de setembro. A mostra coletiva conta com trabalhos em fotografia, vídeo, performance e instalação de 21 artistas que integram o grupo Parque da Bacia do Cachoeira. Em paralelo e utilizando como referência imagens fotográficas de A margem, acontece a mostra de aquarelas produzidas pela artista Silvana Pohl e também pelas alunas de seu ateliê Eugênia Lee, Solange Voos, Solange Prata, Sandra Lúcia Tanner, Tânia Mara Reis, Cristina Walter e Ingeborg Büchli.

Silvana Pohl conversou com o ARTE NA CUCA a respeito de seus primeiros contatos com a arte, sobre a persistência na profissão de artista e professora e sobre sua relação com a aquarela.

Qual é sua história com a arte? Em que momento percebeu que ela estava presente em sua vida?

Quando era criança meus pais não tinham condições de comprar materiais de arte. Eu ganhava o básico, lápis de cor e, no máximo, giz pastel mas nada de muitas folhas para treinar. Com aproximadamente 12 anos eles me matricularam na Casa da Cultura e lá tinha um ateliê livre de cerâmica com aulas ministradas pela professora Marli Swarowsky e quem nos auxiliava no manuseio do forno era o Mário Avancini. Fiz um ano de ateliê porque a ideia que minha família tinha era me matricular para aprender atividades funcionais e não artísticas. Eu queria fazer outras coisas diferentes. Enquanto meus colegas de turma aprendiam a modelar cabeças e vasos, eu tinha vontade de transformar o barro em bichos. Depois, aos 14 anos, fiz aulas particulares de pintura em porcelana com Lourdes Hardt. Nesse meio tempo casei, construí minha casa e iniciei um curso de desenho de perspectiva no Centro XV, onde permaneci por um ano. Já a pintura em tela eu aprendi observando o trabalho da minha irmã, mas foi muito autodidata, sempre fui intuitiva: para mim foi fácil aprender o tridimensional, o desenho era algo inato, mas sempre gostei de aprender. Também tive a fase de trabalhar muito e quase não conseguir me dedicar às atividades artísticas, pois fui funcionária pública durante 32 anos e lecionei para alunos de primeira a quarta série, além de exercer outras atividades dentro da escola.

Como você se descobriu como aquarelista?

No final da década de 80, lembro que passava minhas férias na praia do Ervino, local onde não havia muita infraestrutura. Portanto, sempre que voltava para Joinville tinha que trazer tudo de volta com medo de que a casa fosse roubada porque ninguém morava lá. Eu já gostava muito de pintar, mas precisava de materiais que fossem funcionais, pois telas e cavaletes não eram muito viáveis nessa situação. Percebi que a aquarela possibilitava essa praticidade, mas não entendia a técnica e naquele momento o que fazia era basicamente colocar tinha em cima do papel. Só passei a realmente compreender a técnica e explorar as possibilidades da aquarela quando iniciei minhas aulas no ateliê da artista Asta dos Reis, de 2003 a 2007, e depois disso fui para a Casa da Cultura onde continuei tendo aulas de aquarela com a mesma professora.

Você se considera uma artista figurativa? Até que ponto se permite ousar em suas pinturas em aquarela?

Na verdade meu trabalho é figurativo porque é a linha que escolhi seguir, mas por mais que eu tente controlar a pintura em aquarela, ela sempre me desafia e surpreende.

Como surge a ideia para cada novo trabalho seu?

A maioria das imagens são fotografias minhas, procuro fazer esses registros no final do dia para aproveitar a luz, às vezes passeando com meu cachorro. Estou sempre atenta aos detalhes: folhas, céu, nuvens, flores, tudo vira inspiração.

A aquarela permite erros?

Ela permite pouquíssimos erros. Inclusive, depende muito do papel, pois com muita celulose não permite erro nenhum, pode rasgar e começar do zero. Agora, se o papel tem mais fibra de algodão, é possível recuperar mas depende muito do pigmento que você aplica. Sempre falo para minhas alunas no ateliê que precisamos estar em um espírito de laboratório pois o erro serve para nossa experiência.

Como foi o processo de criação e desenvolvimento dos trabalhos que estão em exposição na AAPLAJ?

As aquarelas foram feitas a partir das fotos tiradas pelo grupo Parque da Bacia do Cachoeira, e eu e minhas alunas pensamos todo o desenho, a luz, as paletas de cores para desenvolver as imagens que fazem parte da mostra. Para tal é preciso ter certo domínio da técnica pois utilizamos a mesma imagem, mas modificamos as cores e as sombras para conseguirmos novos efeitos. Foi um trabalho de muita pesquisa, gratificante para todas nós.

“Dançando na rua” quer agitar o calendário da dança em Joinville

Realizado nos últimos domingos de cada mês na Rua das Palmeiras, o projeto “Dançando na rua” promove neste dia 27 de maio a sua segunda etapa. A iniciativa pretende agitar a dança joinvilense ao longo de todo o ano e mobilizar um cenário que parece ganhar visibilidade apenas em julho, durante o festival. O Arte na Cuca conversou com o bailarino, professor e produtor Jailson Cordeiro, um dos organizadores deste projeto que tem o apoio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (SIMDEC).

Vamos começar falando sobre você. Quem é Jailson Cordeiro? Qual é a sua história?

Uma pessoa que encontrou seu propósito na arte, na cultura e na educação. Alguém que tenta mudar as pessoas usando como ferramenta a cultura e a arte, principalmente a dança. Comecei a dançar em 2008, com a dança de salão. Estudei bastante, fiz vários cursos e congressos fora de Joinville e fiz o curso de formação de professor em dança de salão. Em 2014, comecei a trabalhar na área de produção cultural. Desde aí me senti mais à vontade na área e finalizei a especialização em Gestão Cultural em 2016. Em 2015 comecei a lecionar no Colégio Elias Moreira para o curso de Jovem Aprendiz e foi quando minha vida passou a tomar um propósito com mais sentido ainda. Estar em sala de aula é uma das minhas paixões, assim como a dança. Em 2017 comecei a fazer parte da diretoria da Associação de Grupos de Dança de Joinville (Anacã) como secretário e neste ano renovei o mandato por mais dois anos. Temos uma evento magnífico, que é o “Dança Joinville”. Concomitantemente, estou finalizando a segunda especialização, que é em Neuroaprendizagem. Este ano, depois de muito tempo, consegui colocar em prática um dos sonhos mais antigos que é o “Dançando na rua”.

Qual o objetivo do “Dançando na Rua”?

Entendemos que a dança sofre um processo inverso hoje: a dança vem da rua, da cultura popular, dos anseios das pessoas. Hoje em dia, faz dança quem vai para as escolas fazer aula, para aprender o passo certo ou errado. Não condeno escolas de dança, muito pelo contrário: minha intenção é e sempre foi fomentar público às escolas, mas o “Dançando na rua” tem esse desejo de levar as pessoas a sentir o que é dança (naquilo que eu acredito), ser sua essência para todos. Além disso, queremos fazer valer o título de Cidade da Dança. Joinville tem o maior evento do mundo no gênero, mas as pessoas da cidade precisam dançar. Acreditamos que o projeto evidencia uma das maiores identificações da população com a cidade.

O projeto terá mais sete edições. Todas elas serão na Rua das Palmeiras?

Sim, todas as edições serão na Rua das Palmeiras. Escolhemos a Rua das Palmeiras como local principal, exatamente por ter um vínculo muito forte com a cidade. A identidade da cidade é intrínseca à Rua das Palmeiras e à dança.

Quem está por trás deste projeto?

A idealização foi minha. Penso nele desde 2014, mas conto com o apoio de outros dois professores que estão comigo desde o início, inclusive como proponentes junto ao SIMDEC, que são Fábio Simões (de dança de salão) e Jhon Helder (de danças urbanas). A produção cultural ficou por conta de minha empresa, a Mais Cultura Gestão Cultural. Temos também como apoiadores um designer que é o Marcelo Oliveira e uma parceria para alguns vídeos com a Dutra Filmes.

Como é a rotina de ensaios de quem trabalha com dança?

Temos vários perfis de profissionais de dança. Tem aqueles que são donos de escolas ou de grupos de dança, aqueles que lecionam em várias locais ou escolas diferentes, aqueles que não trabalham somente com dança, enfim, vários perfis. Creio que a maior dificuldade esteja na trajetória até você se tornar profissional de dança. Não existe regulamentação ideal para a área. Existe muito preconceito também com quem escolhe seguir na área, o que gera desconfiança e falta de credibilidade. Quem nunca teve de ouvir a frase, “você só trabalha com dança?”

Além do “Dançando na rua”, tens algum outro projeto, curso ou apresentações futuras para Joinville?

Tenho vários. Temos o “Dança Joinville”, que já é uma mostra consolidada, com quase dez anos de história, para quem estamos dando um novo rumo a partir deste ano. Temos também algumas ideias na gaveta, como o “Festival de danças urbanas Urban Cult”. Tenho projetos também em outras áreas além da dança, que são a “Biblioteca de muro” – que são bibliotecas abertas à população que ficam em muros de casas – e também o “Poemas em código”, que utiliza a tecnologia do QR Code para democratizar o acesso à poesia. Existem muitas outros projetos que as pessoas me procuram para dar uma ajuda ou orientação. Estou sempre aberto a conversas.

Deixe uma mensagem aos leitores do Arte na Cuca.

Quero agradecer a todos que fazem parte do Arte na Cuca e agradecer aos leitores porque tenho certeza que sem eles a ideia não existiria. Quero dizer que o trabalho com dança na cidade ainda é muito longo e está longe do ideal, mas tem pessoas que querem fazer de Joinville, de fato, a cidade da dança. Ao leitor que tem este desejo, venha fazer dança na cidade – seja no meu projeto ou com outros profissionais da área. A dança pode transformar as pessoas, pode alavancar o setor criativo, o econômico e muito mais. E, claro, esperamos todos na próxima edição do “Dançando na rua”, que acontece no último domingo de cada mês às 15 horas na Rua das Palmeiras. A próxima edição já é neste domingo, dia 27 de maio.

Arte na Cuca entrevista o cantor Jesus Luhcas

SHOW DE LANÇAMENTO DO CLIP PODE ME CHAMAR DE BIXA

ONDE: Galeria 33 (R. Bento Gonçalves, 33, Glória), em Joinville

QUANDO: Sábado (12 de maio), às 18 horas

QUANTO: R$ 15 antecipados e R$ 20 na hora. Ingressos disponíveis em sympla.com.br/sounina.

 

O cantor e compositor Jesus Luhcas, maranhense, 24 anos, deixou São Luís há seis anos para vir atrás de um amor que veio morar em  Joinville. Por aqui também encontrou sua maior paixão, a música. O artista estará lançando o novo clipe da canção “Pode me Chamar de Bixa” neste sábado na Galeria 33. O clipe foi gravado no Hotel Trocadero nos dias 9 e 10 de março e envolveu uma grande equipe de profissionais entre cinegrafistas, bailarinos, produtores e técnicos. A equipe foi encabeçada pelo diretor paulista Mário Águas e pelo diretor de arte Monteiro Monteiro, da produtora WTF. A maior parte da equipe, que incluía estudantes de Cinema da Unisociesc, trabalhou de forma colaborativa. Em breve, o clipe “Pode me Chamar de Bixa” será lançado em São Luis, cidade natal do cantor. Nesta entrevista Jesus Luhcas nos contou sobre como surgiu a ideia para seu novo trabalho, o que ele está curtindo no cenário atual da música e muito mais. Confira!

 

Quem é Jesus Luhcas?

A melhor definição é humano, porque o tempo todo a gente está mudando. Esse videoclipe que vou lançar agora é muito diferente do primeiro videoclipe que eu lancei da música “E eu” que eu fiz com o Xuxa Levy. Naquele primeiro clipe eu estava em uma fase de autoconhecimento, de percepção do mundo, do que realmente vale a pena e isso tudo vai mudando com o tempo. Eu cito sempre a música do Raul Seixas “Metamorfose Ambulante”:  “se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou, se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor, lhe tenho amor, lhe tenho horror, lhe faço amor, eu sou um ator”. O que mais me atrai dentro da arte é poder explorar essas diversas facetas. Comecei cantando em um coral da igreja, então as minhas raízes musicais de fora da igreja, são do rock brasileiro, Renato Russo, Cazuza, Cássia Eller e Raul Seixas. “Pode me chamar de Bixa” é pop, mas tem uma boa pegada rock ‘n’ roll. Uma coisa que eu não abro mão é deixar uma mensagem positiva, algo que some na vida das pessoas, e não simplesmente uma música que vai fazer as pessoas dançarem. Tem que trazer um tipo de pensamento, critica, transformação da mente mesmo. Essa é a minha definição.

 

De onde você veio e por que escolheu Joinville para seguir sua vida?

Quando eu fazia parte do coral, eu me apaixonei por uma menina de São Paulo que veio morar aqui em Joinville. Não demorou muito eu vim atrás dela, com esperança de termos um relacionamento amoroso, que nós temos, sempre tivemos, desde que nos conhecemos. Somos bastante amigos e eu digo que ela não foi o grande amor da minha vida, mas eu encontrei um grande amor aqui em Joinville, que é a grande paixão da minha vida, a paixão pela música. Fui bailarino dos nove aos 18 anos, quando eu vim pra Joinville, cidade da dança, eu achei que iria trabalhar com dança, mas descobri aqui a paixão pela música. Cheguei aqui em Joinville no dia 16 de maio de 2012.

 

Como foi seu início na música e quem te inspirou no início da carreira?

Eu iniciei cantando no coral, ainda na escola, mas antes disso eu ganhei um violão de um amigo e esse presente foi meu companheiro. Aprendi a tocar violão sozinho e quem me inspirou, musicalmente falando, é um cara chamado Marcos Almeida. Ele não é muito conhecido, mas eu amo muito o trabalho dele. Ele é um cantor gospel, mas com uma pegada completamente diferente desses cantores que a gente está acostumado a ouvir. A música tem um poder de tocar, geralmente o que me toca é a poesia, a letra, a ideia por trás, e esse cantor tem músicas com conteúdo de reflexão. As pessoas precisam escutar Marcos Almeida.

 

Quem te incentiva e qual é a sua inspiração para continuar na música?

A nova cena musical é maravilhosa, o Brasil está em uma de suas melhores fases musicais, nós temos nomes que ainda são pouco conhecidos, que eu acredito que são nomes que só tendem a crescer dentro do cenário musical. Começamos a descobrir nomes como Liniker, AnaVitória, Francisco El Hombre, Pablo Vittar, que é um artista verdadeiro, que está fazendo muito mais que música, ele está fazendo uma transformação de mentalidade, de posicionamento político, inclusive. E artistas de Joinville eu tenho escutado muito a banda Napkin, Fevereiro da Silva, Ana Paula da Silva, Mario Ghanna. Tem uma galera muito boa aqui em Joinville.

 

Qual é o seu objetivo na música?

Viver de música e ser rico! Já teve momentos que eu cheguei a pensar que ser rico seria uma coisa ruim, mas hoje eu quero ter dinheiro porque o meu objetivo com a música é futuramente abrir escolas de artes, porque a arte mudou a minha vida, a arte me trouxe para um posicionamento pessoal de me reconhecer como ser humano individual, que tem desejos, histórias e isso tudo foi permitido através da arte. Tudo o que eu sei de arte, ganhei gratuitamente, estudei em escolas de dança, teatro, canto, tudo de maneira gratuita, e o que eu mais quero é proporcionar uma história melhor do que a minha para outras pessoas, outras crianças, adolescentes. A arte tem o poder de transformar e abrir a mente, libertar as pessoas de prisões que estão dentro da nossa cabeça. Aqui em Joinville eu já estou apoiando um lugar incrível chamado Centro de Transformação Cultural Arte Para Todos – IMPAR. Este trabalho que eu estou fazendo lá no Arte Para Todos, já é o meu flerte com o meu grande sonho.

 

De onde surgiu a inspiração para “ Pode me Chamar de Bixa”?

Eu estava indo participar de um concurso chamado “Cidade que dança”, eu tenho um estilo próprio de me vestir, estilo que eu escolhi. Quando percebi um carro diminuiu a velocidade, baixou o vidro e um cara gritou “bixa!”, eu olhei pra ele e disse:  “Oi, sou eu tudo bem?”, ele ficou sem reação, pois a intenção dele foi me ofender. Eu não tenho preocupação com sexualidade, sou bicho solto, eu apoio a causa LGBT porque eu sou gay quando eu quero ser gay, sou bi quando eu quero ser bi e hétero quando quero ser hétero. Sexualidade não é da conta de ninguém, eu é que tenho que dar conta da minha sexualidade, ninguém tem que se incomodar com isso. Muitos meios de comunicação não quiseram entrar nesse projeto porque ainda existe o estereótipo de que a palavra “bixa”, é uma coisa ruim, eu vejo que é necessário falar desse assunto tanto pelo fato de o cara ter me parado no meio da rua e usado a palavra para tentar me ofender, quanto pelo fato de que depois eu comecei com o projeto, ter ouvido “nãos” por conta dessa palavra, e é nesse momento que eu sei que tenho que seguir com o projeto. E outra: pode me chamar de bixa, sim!

 

Quando será o lançamento do álbum?

Em 20 de julho lançarei o EP em um show que vai acontecer aqui em Joinville na Lime Club. Esse EP vai trazer seis músicas, todas com misturas de ritmos, vai ter reggae com rap, rap com rock e pop com reggae. Gosto muito dessa mistura de ritmos.

 

Fale uma palavra que tenha grande significado para você.

Amor. É uma palavra que é banalmente usada, mas que tem um significado enorme.

 

Deixe algum recado para quem ainda não conhece seu trabalho.

Eu acho que a gente é muito distraído, todos nós. As pessoas fazem um alvoroço e enquanto está todo mundo olhando para aquele lugar, está acontecendo outra coisa escondida e nem sempre o que está acontecendo escondido é uma coisa ruim. Às vezes é o que realmente precisa de atenção, como alguns desses artistas que eu citei, que não são muito conhecidos. Existem artistas na mídia que são conhecidos e que são maravilhosos como Anita, Pablo Vittar, Simone e Simaria, Maiara e Maraisa, Luan Santana, todos estes grandes artistas nacionais reconhecidos, fazem um trabalho lindo, mas as pessoas precisam se atentar que existem outros artistas muito bons, nossa cultura é linda, temos outras fontes de arte tão boas. O recado é: se esforcem para não ficar comendo apenas aquilo que estão te dando, vivendo aquilo que estão te oferecendo. Sejam protagonistas das suas vidas!

ANC entrevista: Cassio Correia

Cassio Correia, ator, diretor, dançarino popular e produtor cultural, formado pela FURB,
adotou Joinville como palco de seus trabalhos há 10 anos. O ator que também é presidente da AJOTE – Associação Joinvilense de Teatro, trás em seu currículo mais de 30 espetáculos teatrais, somente com a “Cia Essaé”, são 14 trabalhos, o 15º com estreia prevista para o segundo semestre deste ano, intitulado“ A Última Aventura de Gilganesh”, que conta com direção de Henrique Sitchin, da “Cia Truks” (São Paulo).
Influente produtor da área cultural, Cássio está sempre com um novo projeto, idealizador do “ANIMANECO”, o Festival de Teatro de Bonecos de Joinville – evento que está em sua 2ª edição – tem início no dia 27 de abril, data em que também se comemora o Dia Nacional do Teatro de Bonecos.

O ANC conversou com o ator para saber um pouco mais sobre sua trajetória e principalmente para que a galera que nos acompanha, entenda um pouco mais a respeito de como é fazer teatro na nossa Joinville de tantos contrastes. Confere aí:

ANC: Como iniciou sua trajetória no teatro?
CASSIO: Sou natural de Jaraguá do Sul e a minha história com a cultura começou com a dança folclórica, desde criança fiz parte de grupos de dança e também de teatro na escola. Tinha uma colega do grupo de dança folclórica que fazia faculdade de teatro na época e comentou sobre o curso para mim, e como eu já gostava de teatro, já atuava na escola, sempre chamou minha atenção, mas naquele momento não tive a possibilidade de fazer. Fui convidado para fazer parte de um grupo profissional em Jaraguá, e assim que eu entrei no grupo, já iniciei a faculdade de teatro, em meados dos anos 2000.

ANC: E seus primeiros trabalhos se tratando do teatro profissional?
CASSIO: O primeiro trabalho significativo que eu tive foi um espetáculo chamado “O Patinho Feio” de formas animadas. Na época, existia na cidade de Jaraguá do Sul um festival de formas animadas, que atualmente foi extinto. A nossa Cia na época, não trabalhava com teatro de animação, mas como nós estávamos sempre envolvidos com a organização do festival, fizemos uma oficina com o argentino Sérgio Mercúrio e nesta ocasião, surgiu um personagem de sacolas plásticas e com as mãos que era um pato, uma figura muito bonita e interessante, a partir dali, nosso diretor que achou o personagem muito bom, montou “O Patinho Feio”, foi um dos primeiros espetáculos que eu me destaquei, fiz mais de 200 apresentações, participando do Projeto: Sesc Encena Catarina e vários festivais pelo Brasil, ali começou a minha história com o teatro de bonecos e com o teatro de animação.

ANC: Quais as dificuldades encontradas no início da carreira?
CASSIO: A questão da sustentabilidade, de você se manter, quando eu montei a Cia e também quando fazia parte de outro grupo de teatro em Jaraguá do Sul, tinha outros afazeres, dava aulas, só a Cia não dá conta, por isso que a gente está sempre cheio de projetos. Estou sempre trabalhando pensando no amanhã, produzindo muito.

ANC: Quais as maiores dificuldades atualmente?
CASSIO: Vou citar o mecenato do Simdec ,que é a captação dos recursos feitos pela renúncia fiscal de até 30 % do pagamento de Imposto sobre Serviços e Imposto Territorial Urbano de empresas. É uma maneira do empresário local incentivar e ter o seu nome ligado a projetos culturais que vão circular pela cena joinvilense. Existem muitas empresas em Joinville que não querem destinar o ISS mas qualquer empresa pode fazer isso, não precisa ser uma grande empresa, o mercadinho da esquina pode destinar 30 % do ISS do mês para isso porém é algo que não acontece e isso está relacionado com a falta de conhecimento sobre esse mecanismo, isso é umas das maiores dificuldades que os artistas enfrentam hoje em dia.

ANC: Vamos falar sobre a “Cia Essaé”, há quantos tempo ela existe?
CASSIO: A Cia surgiu em 2010, do desejo de três amigos: Jackson Amorim, Leticia de Souza e eu, nós três somos formados em teatro e na época, trabalhávamos no SESC. Tínhamos vontade de voltar pra cena e nos reunimos pra montar um espetáculo que foi “O Werter, Tempestade e Ímpeto”. A partir desse trabalho surgiu a “Cia Essaé”. A proposta da Cia sempre foi trabalhar com diretores convidados, embora tenhamos a formação, convidamos diretores de fora para virem a Joinville e dirigir trabalhos específicos.

ANC: De quantos espetáculos você já participou?
CASSIO: Cerca de 30 espetáculos, com a “Cia Essaé”, são 14 trabalhos que continuam em
cartaz. 

ANC: Quais são os seus planos para o futuro em relação a carreira de ator?
CASSIO: Eu venho caminhando e pesquisando muito o teatro de bonecos, é uma bandeira que estou levantando, e a “Cia Essaé” por ser a única Cia em Joinville que trabalha produzindo teatro de animação, além do “ANIMANECO”, traz junto com essa força de querer fomentar a linguagem, não só para crianças mas para adultos também. Meu objetivo daqui para frente é ter um solo na área de bonecos, e já estou pensando em alguns diretores que desejo convidar para trabalhar nesse projeto.

ANC: Já que entramos no tema, cite um espetáculo de teatro de bonecos que assistiu e te marcou profundamente.
CASSIO: Sem dúvidas foi, “O Princípio do Espanto”, da Morpheus Teatro de São Paulo, que vai estar aqui em Joinville dia 19 de maio, no Galpão de Teatro da AJOTE. Espetáculo muito premiado que já viajou por todo o país

ANC: Em razão da sua carreira como ator e produtor cultural, percebe a necessidade de abrir mão de momentos importantes da vida pessoal?
CASSIO: A vida pessoal direta ou indiretamente de quem trabalha com cultura, acaba sendo um pouco afetada, o relacionamento familiar, o amoroso entre outros. Eu de um tempo para cá, estou tentando priorizar estes momentos, dentro da minha disponibilidade, ou seja, muitas vezes já deixei de ir em encontros familiares por conta do trabalho e ensaios, agora eu tento me agendar pra poder estar mais com a família, que amo e tenho muito respeito.

ANC: Qual conselho você daria para quem deseja seguir carreira como ator?
CASSIO: Fazendo um paralelo a minha vida, eu comecei a trabalhar em área administrativa, porque meus pais queriam, trabalhei quase 10 anos da minha vida fazendo algo que não me deixava feliz, até que chegou o momento em que decidi tentar, se não desse certo eu voltaria para a área da administração. Mas o que eu gosto é disso, me realizo fazendo arte, estou caminhando para os meus 20 anos de carreira, deu certo! O conselho que eu deixo é se você tem essa vontade de ser ator/atriz , pelo menos você tem que tentar. É trabalhoso? É! Mas você está fazendo um bem para você e para outras pessoas, as vezes com determinado espetáculo você coloca um tema em discussão, que talvez aquela pessoa, naquele momento em que está assistindo precisa muito escutar e refletir sobre o assunto. Teatro é troca de emoções e sentimentos.

ANC: Como você percebe a aceitação e frequência do público joinvilense nos espetáculos teatrais?
CASSIO: A minha Cia trabalha muito com teatro escola, estamos com o projeto: “Literatura com Sabor- O gosto pela leitura”. São 6 escolas que a gente está levando para o mesmo grupo de alunos, três propostas de três autores brasileiros – Machado de Assis, Lima Barreto e Caio Fernando Abreu. Conversamos com a direção das escolas que participam do projeto, para que as mesmas turmas, com os mesmos alunos, assistam os três trabalhos, e no final a gente encerra com um bate-papo sobre a literatura dos três autores e sobre a questão do consumo de cultura, é um trabalho que visa a formação de plateia. Esporadicamente também levamos as escolas até a AJOTE, e em horário diurno, propomos uma troca de ideias, uma conversa com os alunos, e durante esse momento questionamos sobre quem está entrando no teatro pela primeira vez e quem já conhece o local, sempre com a intenção de fazer uma investigação para formar públicos. Eu venho trabalhando também em outro projeto com outros artistas que chama-se “eufaçocultura.com”, que desde 2016 cadastra escolas, ONG’s e Instituições carentes, para que possam levar esses alunos, essas pessoas para o teatro, pagos com o ingresso do “Eu faço cultura”. O projeto nos dá um retorno muito positivo e funciona como uma outra ação de formação de plateia. O joinvilense está começando a ter o hábito de ir ao teatro e tanto eu quanto outros artistas estamos trabalhando cada vez mais para que isso aconteça.

ANC: O que mais admira em um ator?
CASSIO: A capacidade que o ator tem de provocar discussões acerca de algum tema que as pessoas no cotidiano não param para pensar, e as vezes, se vê encenada naquela determinada peça, naquele espetáculo e de uma certa forma acabamos repensando em relação a algumas coisas, acho mágica a capacidade do ator poder falar e atingir um grande número de pessoas, isso sem dúvida é muito poderoso.

ANC: Em quais atores de teatro você considera fontes de inspiração?
CASSIO: Admiro muito o trabalho de Cias, temos um espetáculo de sombras, “ O carteiro” em que reconhecemos muito o trabalho da “Lumbra” Cia de Porto Alegre. A linha de objetos que estamos desenvolvendo foi inspirada no trabalho da “Cia Gente Falante”, também de Porto Alegre, O espetáculo “GilGamesh”, vai ser manipulação de bonecos de mesa, trabalho que respeito muito e que é desenvolvido pela “ Truks” de São Paulo. Falando de Joinville eu acho que o trabalho que a “Dionisos” vem desenvolvendo a tantos anos, é um trabalho muito significativo. Eu não tenho um ator especifico, me espelho muito no trabalho de Cias.

ANC: O que você mais gosta de fazer, atuar, dirigir ou produzir?
CASSIO:
Atualmente o mais forte é a produção, mas estar no palco atuando também é muito bom.

 

 

ANC: Você possui uma linha de trabalho? Ou procura diversificar?

CASSIO:Trabalhamos com três linhas: Teatro, palhaçaria e atuação, contação de histórias e bonecos, a linha da animação é a mais forte.

ANC: A maioria dos artistas em geral, mantém um segundo emprego ou fonte de renda, ou seja, fazem trabalhos paralelo a arte para poderem se sustentar, você acredita que talvez falte incentivo ao artista joinvilense?

CASSIO: Em Joinville a gente escuta as pessoas falando sempre “Não tem muita coisa de cultura pra fazer”, mas isso é um mito, porque sempre tem algo pra fazer na cidade, o que acontece é a falta de hábito do público em procurar, nessa semana eu fiz um trabalho para adolescentes do ensino médio em uma escola no bairro São Marcos, e sempre pergunto a eles o que eles costumam fazer, se vão ao teatro, em eventos culturais, a resposta é sempre a mesma “ a gente não fica sabendo”. Hoje tem diversas maneiras de você encontrar um programa que mais lhe agrade, basta você entrar no google e digitar “Teatro em Joinville” que vai encontrar as opções. Aqui na cidade, se formos pensar em nível de incentivo municipal para a classe artística, ainda é uma cidade que consegue manter um fundo interessante, agora falar sobre Santa Catarina, tem diversas cidades que não tem um fundo municipal de cultura que funcione. O Estado tem somente o edital Elisabeth Anderle, que na sua última edição disponibilizou o total de 5 milhões.

Temos um bom incentivo de arte na cidade, os projetos de fundos para cultura devem fomentar a arte, e o que acontece às vezes é que o poder público acaba se agarrando a esse orçamento e também tem a questão de que a população não tem o hábito de consumir cultura. Então os editais ajudam e trazem muitas opções de eventos gratuitos, e o gratuito acabou distanciando a população de consumir cultura, de saber que você precisa pagar aquele ingresso para valorizar o artista. Muitas vezes recebemos convite de escolas e empresas para ir “mostrar o nosso trabalho”, “divulgar”, mas será que um dentista me atende gratuitamente para “mostrar” o trabalho dele? Joinville poderia ser muito mais cultural.

ANC: Como você vê o teatro na educação brasileira?
CASSIO: Infelizmente um pouco esquecido, muitas vezes pela falta de interesse dos próprios professores, vejo pouquíssimos professores frequentando espetáculos de teatro, buscando saber onde tem as programações na cidade, eu sei que as pessoas tem o seus afazeres, mas ir ao teatro uma vez ao mês já é mudar um pouco o hábito e incentivar a arte na sua cidade. Por esse motivo que o trabalho de formação de plateia nas escolas é essencial.

ANC: Qual a situação da AJOTE na atualidade?
CASSIO: Estou no segundo mandato de presidência, e a AJOTE vem passando por um processo de resistência, desde 2001, quando entramos na Antarctica. O problema mais sério da Cidadela, é a questão do abandono do prédio público, o perigo que a gente vem passando lá. Tivemos uma reunião esta semana com a secretária de Cultura, onde eles trouxeram umas soluções que já deveriam ter sido feitas há muito tempo, como é a questão do projeto de contenção do morro, que já está aprovado e vai começar a ser feito logo.  Queremos muito que o público desfrute e se aproprie da cidadela, um espaço no centro da cidade, de resistência, que recebe espetáculos de todo o Brasil, com preços populares. Estamos mantendo a programação e fazendo bilheteria, somos uma classe fazendo teatro em Joinville. A maior questão da AJOTE neste momento, não é só em prol da AJOTE, mas para a Cidadela, queremos que o poder público olhe com carinho para a Antarctica, e não deixe o prédio cair.

ANC: Fale um pouco sobre o espetáculo Fadas
CASSIO: Fadas é o carro chefe da Cia, é o espetáculo que a gente mais viaja, ele quebra com toda essa normatividade da palavra fada, as crianças com suas famílias, chegam ao teatro esperando uma fadinha cor de rosa, ele é um espetáculo que acontece em uma marcenaria, são dois atores, trabalhando com ferramentas que se transformam nos personagens da história que vamos contar. Estamos conseguindo cativar e formar um público para essa linguagem de teatro.

Premiação com Fadas no Festivale Festival de Teatro do Vale do Paranhana, na cidade de Rolante RS, Melhor Espetáculo infantil, direção, para Paulo Martins Fontes, Ator Coadjuvante, para Jackson Amorim, Cenário, para Marcelo de Mello, Iluminação, para Flávio Andrade. O espetáculo participou do Projeto Emcena Catarina do SESC, onde a cia passou por 28 cidades do Estado.

ANC: Agora vamos falar sobre o “ANIMANECO”
CASSIO: O ANIMANECO nasceu no ano passado, de um desejo meu de ter um festival de teatro de bonecos aqui em Joinville.  E ele foi criado estrategicamente nesta época porque no dia 27 de abril é o Dia Nacional do Teatro de Bonecos. A recepção que a cidade vem mostrando para o festival, está sendo muito positiva. Nos dias 02,03 e 04 de maio, acontecerão apresentações de espetáculos para escolas, já está tudo agendado, não tem mais nenhum horário livre, todos lotados. Os espetáculos vão acontecer em escolas e também na AJOTE. Para adquirir seu ingresso e assistir ao festival ANIMANECO você pode acessar enjoyeventss.com.br, ou na Loja Linha Nutri Produtos Naturais no Shopping Mueller.

ANC: Um passo muito importante para o ANIMANECO
CASSIO: Junto ao Festival, nos dias 05 e 06 de maio estará acontecendo o 1º Seminário de Teatro de Animação de Joinville, realização da UDESC. Mesas redondas e debates sobre a produção e gestão de teatro de bonecos no Brasil, trazendo além de espetáculos, conversas com profissionais e alunos da Universidade.

Participação de Cias de teatro de São Paulo, Goiânia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Ingressos R$ 20 (inteira)  R$ 10 (meia)

Mais informações: essae.com.br/animaneco2018