Salada Cultural: Cultivando Arte e Autenticidade

O Salada Cultural nasceu de uma inquietação, percebida diante do cenário de talentos sufocados pela falta de espaços adequados. A semente foi lançada em 2017, quando a primeira edição do Salada Cultural surgiu, unindo 10 artistas visuais, 2 grafiteiros e 4 talentos musicais. Mais que um evento, era uma celebração da criatividade em suas múltiplas formas.

Após os acontecimentos da pandemia em 2022, o Arraiarte marcou um novo momento. Sob sua atmosfera junina, o time do Salada Cultural se formou, reafirmando o compromisso com a arte autoral. Na segunda edição, 44 artistas visuais, 2 grafiteiros e 9 atrações musicais ocuparam o espaço.

Já em 2023, uma nova vertente ganhou vida com o Saladelas, dedicado exclusivamente às mulheres artistas. Com 30 artistas visuais, 9 talentos musicais no palco principal e 4 DJ’s no palco eletrônico, o evento ecoou os sons e cores da diversidade feminina, deixando sua marca na cena cultural.

Agora, em 2024, o Salada Autoral retorna com uma nova edição. No majestoso espaço do Museu de Arte de Joinville (MAJ), 60 artistas visuais, 12 atrações musicais e 8 DJ’s criam uma atmosfera vibrante no palco eletrônico. A feira também estará presente, oferecendo um universo de marcas autorais, completando essa experiência autoral e diversa que é o Salada Cultural.

Quando? 11 de maio às 13hs
Quanto? entrada gratuita
Onde? Museu de Arte de Joinville (MAJ), R. XV de Novembro, 1400 – América, Joinville – SC

Artista de Joinville fala sobre corpos com deficiência e a relação com a cidade em performance urbana

¡Resiste Corazón! será apresentada em ruas de cinco bairros de Joinville, nos meses de abril e maio 

Quem passar nas proximidades do Museu Sambaqui, no Centro, no próximo sábado (13/04), às 10 horas, poderá ver com certa admiração e talvez espanto um “esqueleto” feito de folhas de acetato de Raio X parado na calçada. Martín, El Periodista, é um avatar, um personagem da performance “¡Resiste Corazón!”, de autoria da atriz e pesquisadora Nathielle Wougles e realização do IMPAR (Instituto de Pesquisa Arte pelo Movimento). 

A artista poderá ser reconhecida pelo público devido ao uso de um capuz preto, que lhe cobre todo o rosto deixando apenas os olhos de fora, e um estetoscópio (aparelho médico para auscultar o coração) ao redor do pescoço. 

Por cerca de 1 hora, a performance percorrerá a rua Dona Francisca, entre os números 241 e 600 no Centro, abordando o tema de corpos com deficiência e a relação com a cidade. Unindo conteúdo teórico a vivências práticas, a atriz reflete sobre como o conceito médico de deficiência está ligado às ideias de capacidade e incapacidade, criando padrões excludentes, a partir dos quais a estrutura social, política e econômica se molda. 

“Um corpo não normativo é anulado nos espaços, inclusive nos artísticos, assim pertencer à cidade para as pessoas com deficiência é um meio de [re]existir. E para experienciar o cotidiano necessitamos de premissas básicas para ocupar os espaços; e direitos civis para exercer a potência no mundo, bem como contrapor a estrutura capacitista”, reflete a atriz. 

O público que for assistir à apresentação ou estiver apenas passando pela rua pode interagir com a performance, inclusive contando histórias. Pelo contato com as pessoas, Nathielle busca criar o que chama de “Corazón Central”, um território simbólico, um lugar de pertencimento, onde as pessoas possam ser elas mesmas e celebrar seus corpos e existências na cidade.

A performance finaliza com a colagem de posters de lambe-lambe, como uma forma de marcar a existência no espaço urbano. Além da apresentação de estreia, neste sábado, haverá outras quatro, em diferentes bairros de Joinville. Todas as apresentações terão audiodescrição aberta, feita pela atriz, e tradução em Libras. 

O trabalho é um desdobramento da pesquisa de mestrado de Nathielle em Artes da Cena e Mediação Cultural pela Escola Superior de Artes Célia Helena e Itaú Cultural. Além de artista e pessoa com deficiência, Nathielle é terapeuta ocupacional, professora, diretora de teatro e presidente do IMPAR. 

O projeto é uma realização do Instituto do IMPAR (Instituto de Pesquisa Arte pelo Movimento) e foi contemplado pelo edital de chamamento do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – FMIC) de 2022.

Agenda das apresentações 

Abaixo todas as datas e locais de apresentações de “¡Resiste Corazón!” em diferentes bairros de Joinville.
A performance será sempre aos sábados, às 10 horas. 

  • 13/04, às 10h. Proximidades do Museu do Sambaqui (Rua Dona Francisca, entre os números 241 e 600) – Centro. 
  • 20/04, às 10h. Praça Tiradentes (Rua Elly Soares, entre os números 270 até 190) – Floresta. 
  • 27/04, às 10h. Rua do Posto de Saúde (Rua Elisabeth Rech, entre os números 179 e 415) – Paranaguamirim. 
  • 11/05, às 10h. Rua da Associação (anexa à associação de moradores) – Morro do Meio. 
  • 18/05, às 10h. Proximidades da Escola Municipal Professor Sylvio Sniecikovski (Avenida Júpiter, entre os números 1876 e 1401) – Jardim Paraíso. 

Livro “Um barro lançado ao futuro” propõe reflexão sobre território e arte a partir do resgate da história da cerâmica em Joinville e região.

Lançamento da obra contará com a presença de especialista na área da arqueologia e lideranças indígenas para um bate-papo.

Na sexta-feira, 19 de abril, a partir das 19h no Anfiteatro da Biblioteca da Univille, em Joinville, acontece o lançamento do livro “Um barro lançado ao futuro”, idealizado pelas pesquisadoras e ceramistas Isadora Terranova e Paula Delai Riedi em colaboração com as lideranças indígenas Marilene Escobar e Wilson Moreira e os participantes do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral. O projeto foi realizado pelas profissionais em 2022 e tinha como pano de fundo a história da cerâmica produzida na região de Joinville com foco nos povos originários.

O dia do lançamento vai contemplar dois momentos: uma oficina relacionada à cerâmica voltada a professores e o bate-papo: “Quem produzia cerâmica antes de nós na cidade de Joinville?”. O debate contará com a presença da professora e pesquisadora Dione da Rocha Bandeira e com as lideranças Marilene Escobar e Wilson Moreira, além das idealizadoras da obra.

Para as ceramistas, o livro não é apenas uma publicação, mas o início de um resgate e promoção dos saberes cerâmicos produzidos pelos povos que viviam no território que hoje é Joinville. “Buscamos celebrar suas simbologias e estabelecer conexões com discussões atuais do universo da arte, antropologia entre outras áreas do conhecimento”, afirmam Paula e Isadora. O livro é resultado de uma pesquisa singular e inédita, fruto de encontros colaborativos entre lideranças indígenas, artistas, pesquisadores, educadores e arqueólogos. A obra também conta com um Material Educativo elaborado pela pesquisadora e educadora Deise Aparecida de Oliveira, visando ser uma ferramenta para aqueles que desejam apropriar-se do processo e repeti-lo em espaços educativos.

A proposta cultural foi realizada com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), por meio do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023. O projeto contempla a impressão e distribuição do livro, a obra foi publicada no formato digital ainda em 2022. Uma parte dos exemplares será destinada gratuitamente à Fundação Catarinense de Cultura (FCC), bem como a bibliotecas, museus, instituições culturais e educacionais, visando a utilização por professores. Outra parte dos livros será entregue às lideranças indígenas da Aldeia Ka’aguy Mirim Porã, localizada na Terra Indígena Tarumã (Araquari, SC) para a comercialização da obra e retorno da verba à própria comunidade. Eles estarão no lançamento do livro com exemplares à venda.

Experiência registrada em livro.

A obra “Um barro lançado ao futuro” lançada agora em 2024 é a versão impressa do material divulgado em 2022 no formato digital. A publicação online era a última etapa do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral, promovido via Lei Aldir Blanc 2021, viabilizada pela Prefeitura de Joinville.

O livro conta com três capítulos que mostram o processo de elaboração do projeto, desde a concepção, com as referências acadêmicas e artísticas utilizadas, até a etapa de preparação e execução das peças de barro. Aparecem na obra as 15 pessoas selecionadas para participar do projeto. Há uma parte do livro dedicada a detalhar o aprendizado e aprimoramento do grupo na técnica do fazer cerâmico, e ainda a inspiração de cada um para compor a própria peça. A publicação ainda contempla um ensaio visual com as cerâmicas prontas, e um material educativo voltado a profissionais interessados em replicar o processo em contextos de educação formal e não-formal. 

Entre os destaques da obra está o texto “Ceramistas pré-coloniais da baía da babitonga” escrito pela arqueóloga e pesquisadora Dione Bandeira. A tese de doutorado da estudiosa foi uma das fontes de pesquisa e inspiração para o projeto. No livro a pesquisadora contextualiza o processo de identificação das cerâmicas produzidas há mais de mil anos no território que hoje é Joinville e traz ainda a experiência do trabalho realizado com esses artefatos no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. Dione é uma das convidadas para o bate-papo “Quem produzia cerâmica antes de nós na cidade de Joinville? e lançamento do livro impresso.

Oficinas.

Além da publicação da versão impressa do livro “Um barro lançado ao futuro”, o projeto contempla ainda uma série de quatro formações educativas. As atividades são voltadas para professores e para crianças. A iniciativa é gratuita para ambos os públicos mas as vagas são limitadas, por isso é necessário fazer inscrição previamente por meio do formulário online – https://linktr.ee/futuroancestral .

As oficinas são baseadas no conteúdo do livro “Um barro lançado ao futuro”, que aborda as relações entre cerâmica, território, arte e ensinamentos ancestrais dos povos originários. As atividades terão um espaço para reflexão sobre os temas abordados, e ainda para a mão na massa, com a produção de peças em argila. “Para nós era importante compartilhar com mais gente esses aprendizados que foram também construídos coletivamente na elaboração do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral, que precedeu o livro”, pontua uma das idealizadoras da iniciativa, a pesquisadora e ceramista, Isadora Terranova.

A intenção também tem a ver com a escolha do público-alvo das oficinas. “Queríamos focar nos educadores porque o livro conta com uma material educativo voltado justamente para ser trabalhado em sala de aula”, explica Isadora. As crianças, para quem são destinadas duas das quatro oficinas, também tiveram lugar garantido no projeto por serem habituadas à manualidade e abertas à experimentação. “Acreditamos ser importante elas pensarem conosco sobre território, o lugar a que pertencem, e depois ludicamente construir a partir da argila peças que representam isso”, afirma a organizadora do projeto.

As duas oficinas voltadas para professores são intituladas “Cerâmica, Ancestralidade e Território” e “Moldando a paisagem”. A primeira, que ocorre no dia 19/4, e faz parte do evento de lançamento oficial do livro, contará ainda com a presença da liderança indígena e ceramista Marilene Escobar, e também uma das colaboradoras do livro. A atividade inicia às 13h no Ateliê de Esculturas do Centro de Artes e Design (CAD), da Univille.

A segunda oficina para os educadores ocorre no dia 10/5 no CEU do Aventureiro e é preferencialmente voltada para professores de escolas e comunidade escolar da rede pública, com foco nas escolas indígenas e quilombolas de Joinville e região. A atividade inicia às 13h.

Para as crianças, a oficina “Moldando o nosso mundo: oficina de cerâmica para crianças de 06 a 12 anos” está marcada para o dia 20/4, às 09h, na Biblioteca Comunitária Lutador Dito, em Amorabi. 

Em maio, a oficina ocorrerá novamente, desta vez para a comunidade escolar da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Wera Puku, em Araquari, SC. As oficinas têm carga horária de cinco horas e todos os participantes vão receber certificado.

AGENDA

Cerâmica, Ancestralidade e Território: Oficina Teórico-Prática para Educadores da Rede Pública de Ensino

📅 Data: 19/04 🕒 Horário: Das 13h às 18h
📍Local: Ateliê de Esculturas do Centro de Artes e Design (CAD), da Univille. 

Moldando o nosso mundo: Oficina de cerâmica para crianças

📅 Data: 20/04 🕒 Horário: Das 09h às 14h
📍Local: Biblioteca Comunitária Lutador Dito – Rua dos Esportistas, 510, Bairro Itinga, Joinville/Sc.

Moldando a paisagem: Oficina teórico-prática para Educadores da Rede Pública de Ensino, com foco em Escolas Indígenas

📅 Data: 10/05 🕒 Horário: Das 13h às 18h
📍Local: CEU do Aventureiro. – R. Theonesto Westrupp, 627

Cultura como profissão e existência: conversa com a bailarina e artista visual Nicole Leite

Nicole Leite é natural de Santos (São Paulo) e desde criança por influência da mãe, sonhava em ser bailarina.
Estudou na Escola de Bailado (Santos) e dançou profissionalmente na Companhia de Dança da Cidade de Santos. Em 2020 ingressa no curso superior de bacharel em Artes Visuais pela Univille trabalha como mediadora cultural no Instituto Internacional Juarez Machado. No ano de 2022, é eleita conselheira municipal de cultura pela setorial de artes visuais. Em parceria com outros artistas, cria o coletivo Entremeios.
Atualmente, também participa do coletivo Projeto Labart como intérprete-criadora em dança contemporânea e da Associação de Artistas Plásticos de Joinville – AAPLAJ. Na arte-educação é educadora em uma ONG que desenvolve atividades de contraturno cultural no bairro Morro do Meio.

Hoje aos 23 anos ela já dançou profissionalmente em várias cidades e está em busca do tão sonhado diploma de Bacharel em Artes Visuais. Além da vida dedicada a dança e as artes, entendeu que para ser artista em um país marcado pela desigualdade social, é preciso atuar em várias frentes, como a arte-educação e a política cultural.

Aluna da Escola de Bailado de Santos

Arte na Cuca: Você comenta sobre a “Escola de Bailado Municipal de Santos” e a formação que considera mais profissional. Como foi essa época da sua vida?

Nicole Leite: A escola contribuiu muito para minha formação. Foi um grande incentivo, afinal estudei de forma gratuita graças a uma política pública de acesso a cultura. A instituição é administrada pela Secretária de Cultura de Santos e possui em sua estrutura a Companhia Balé da Cidade de Santos, um grupo profissional que também é fruto de politicas públicas, sendo composto por bailarinas mais experientes e que recebem um salário para trabalhar na Cia todos os dias, seis horas diárias. Fui convidada para ingressar nesse grupo aos 16 anos, e na época eu estava no sétimo ano da minha formação. Tanto a escola de bailado quanto a sede da companhia estão localizadas no Teatro Municipal Brás Cubas, um equipamento cultural que concentra vários outros equipamentos públicos administrados pela SECULT de Santos, como a cinemateca, cias de teatro, galeria de artes visuais, entre outros. Ou seja, meu cotidiano era extremamente cultural.

Foi a escola de balé que me oportunizou uma imersão enorme no universo da dança. Fiz grandes amizades, dancei em várias cidades, como a capital São Paulo/SP e também fora do estado, nas cidades de Florianópolis/SC e Joinville/SC. Não vou dizer que foi uma época perfeita, o balé é duro, e dançar profissionalmente é mais ainda, mas sou grata demais pelo privilégio de ter começado minha vida profissional já dentro do setor artístico. Os únicos empregos que eu tive até então foi de recepcionista de uma dentista e vendedora de jornal! (risos).

Arte na Cuca: Na sua opinião, quais foram as principais diferenças entre trabalhar com arte em grandes cidades como Santos e São Paulo, e seguir com a profissão em Santa Catarina?

Nicole Leite: Em nenhum lugar tem sido fácil e é sempre uma luta diária, mas percebo algumas diferenças sim. Acho que o estado de São Paulo possui políticas públicas mais estruturadas voltadas para o setor cultural. Também é um estado MUITO multicultural, pois agrega grupos diversos, que partiram, ou foram forçados a deixar seus países ou outros estados do Brasil, para se estabelecerem em SP, tanto na capital como no litoral. É muito comum ver pessoas cujo os familiares não são de São Paulo. Eu por exemplo, tenho minha família toda nordestina por parte de mãe, e a família por parte de pai é paulistana e espanhola, pois minha vó deixou a Espanha para morar em Santos aos 16 anos.

Digo tudo isso pois na minha concepção, essa diversidade toda deixa a região mais multicultural em todos os aspectos, e até certa medida, a população respeita isso (claro que temos muitas ressalvas aqui, a cultura nordestina ou afro-brasileira não é tão respeitada como as europeias, mas enfim). Já em Santa Catarina, parece existir uma questão histórica em que prevalece a cultura europeia, principalmente as culturas alemã, italiana, etc, em detrimento dos outros povos que aqui também habitavam (população afrodescendentes, indígena, etc.). Eu sinto que a tolerância com a cultural alheia é menor. E isso pode respingar em muitas coisas, que vão desde a qualidade de vida das pessoas imigrantes, até as políticas públicas para o atendimento e dignidade dessas pessoas.

Joinville/SC e Santos/SP são cidades com área territorial e número de habitantes bem aproximados, mas os incentivos voltados para o setor cultural são diferentes. Em Joinville a gente precisa lutar MUITO contra o conservadorismo, a censura, a marginalização da cultura como um todo. Como eu já disse, em Santos não é fácil também, mas é diferente. São Paulo tem uma realidade que não tem como comparar a nenhuma cidade do Brasil e até mesmo a poucas cidades no mundo. É uma cidade riquíssima, com muita gente, muito mais oportunidade mas também muita competitividade. Tá todo mundo lutando por um espaço, por contatos, por formação, por uma parede na galeria, por uma vaga em uma Cia. Tem, de fato, muita oportunidade, mas o cenário da desigualdade lá é tão explicito no nosso cotidiano, e isso me afetou muito.

Vivi coisas maravilhosas lá, as mais marcantes foram os trabalhos que eu fiz como dançarina para a O2, uma das maiores produtoras audiovisual do país, e um outro trabalho chamado Protesys, com direção de Afonso Poyart e participação do Cauã Reymond. Mas pra viver com o mínimo de dignidade lá é preciso já ter muito dinheiro e eu não tinha recursos para além do que eu ganhava trabalhando, isso que trabalhei com muita coisa sem ser artisticamente também. Certo dia, demorei 4 horas para sair de um trabalho na zona sul de São Paulo para chegar na casa do meu tio na zona leste. Nesse dia percebi que, se eu quisesse ter tempo e qualidade de vida naquele momento da minha juventude, eu precisaria deixar de lado o sonho de morar na capital, ao menos até me estruturar para quem sabe, voltar futuramente e assim vivenciar as melhores partes daquela cidade incrível e desafiadora.

Em cidade menores como Joinville e Santos, em relação a São Paulo (capital) as oportunidades são menores, mas existe mais espaço para a inventividade e criação de novas proposições. Se a cidade tiver estrutura e políticas para incentivar esse crescimento, melhor ainda. Em Joinville a gente luta diariamente para conseguir incentivos e espaço, e acima de tudo respeito para com a nossa existência e nossas expressões .

Arte na Cuca: Foi também em Joinville que você iniciou o curso superior de bacharel em Artes Visuais e segue atuando profissionalmente, (artes visuais, dança e arte-educação). Alguns artistas encontram dificuldades para atuar em diferentes linguagens e perceber as artes em suas diversas possibilidades e conexões. Como as três atividades atravessam seus projetos pessoais e culturais?

Nicole Leite: Apesar da gente classificar nossas atuações em “caixinhas”, agrupando por suas características inerentes e especificidades (e até mesmo para melhor organizar as demandas de cada fazer), eu acredito que as coisas se misturam, se influenciam e se convergem até certo ponto. Claro que depende muito da pessoa que “encabeça” essas ocupações. No meu caso, eu gosto dessa transversalidade, da influência desses setores entre si, sinto que me potencializa. Por exemplo; sou da dança e quando iniciei minha produção no campo das artes visuais, fez muito sentido que a performance fosse uma linguagem que estivesse no meu radar, pois possuem semelhanças. Para mim é confortável e atraente, embora a performance seja uma coisa e dançar seja outra coisa.

O que quero dizer é que para mim faz sentido essa múltipla atuação, pois acho que existe uma potência nisso, e também é uma característica minha. Eu sempre fui bastante difusa, curiosa e com uma vontade absurda de experimentar e vivenciar muitas coisas. Agora, deixando o romantismo um pouco de lado, para ter uma gestão eficiente e organizada dessa quantidade de demanda eu tive que aprender muito, e errar muito também. E principalmente amadurecer, o que tem sido todos dias. As pessoas não lidam bem com a multiplicidade de demandas, somos ansiosos e nesse sistema precisamos trabalhar muito para sobreviver, temos pouco tempo (ou temos a sensação de que não temos tempo).
É preciso ter muita organização, e de fato ter uma relação afetiva com esses setores, acho que eles tem que nos empolgar minimamente para a gente seguir neles. Outro fator bem importante, para trazer mais os pés para o chão: algumas pessoas tem escolha, outras não.

No meu caso, eu preciso trabalhar, pagar aluguel, pagar faculdade, comprar comida, comprar o papel e a caneta que eu vou usar no meu desenho. Se envolver com mais setores da cultura foi também uma estratégia de sobrevivência, para sobreviver economicamente de arte, de cultura, do que mantem minha alma quente e por consequência, minha vida mais realizada. Sendo bem sincera, eu tenho sempre muito medo. Pois nesse país não estamos seguros vivendo de arte, ainda mais fora das capitais. Estamos a mercê de gestores que tratam a cultura com pouca ou nenhuma atenção, e se tratando de Joinville, simplesmente não existe um sistema da arte que estruture uma cena artística profissionalizada.

Temos uma única galeria comercial – com pouco acesso para artistas periféricos; temos uma única lei de incentivo municipal o SIMDEC (Sistema Municipal de Desenvolvimento Pela Cultura), sempre em risco, temos sempre que lidar com o conservadorismo, mesmo no próprio setor. Muitos desafios, SEMPRE. Felizmente, é compatível comigo essa postura dinâmica de ocupar muitos espaços. Graças a isso, conheço tanta gente especial, tanta gente profissional, mas que não recebe dinheiro para, e isso me dói o coração. Gente que fica sem referencia aqui, devido a todos esses problemas que comentei, e por isso se esquecem do gigantesco talento que possuem. Para minha sorte, estou com essas pessoas cotidianamente, as vezes sem nos vermos por um tempo, mas estamos sempre em contato.

A cena cultural alternativa da cidade é forte, é linda, e é poderosa. Eu acho que tudo isso tem transformado quem eu sou, e por consequência, a minha atuação nesses setores que você comentou, pois o que eu aprendo em um lugar parece sempre se complementar ao que eu faço em outros espaços.

Em exposição na AAPLAJ

Arte na Cuca: Você participa de muitos projetos coletivos, sempre atuando em várias pautas. Desde 2022 integra o Conselho Municipal de Políticas Culturais de Joinville pela setorial de Artes Visuais, como tem sido essa experiência? Acredita que os artistas devem se envolver com a política pública institucionalizada?

Nicole Leite: Desde quando entrei no CMPC (Conselho Municipal de Políticas Culturais) aprendi MUITO, muito mesmo. Antes eu era muito crua no que diz respeito a política institucional. Entendi muitas coisas nesse meio tempo. Sempre vai ser uma luta trazer dinheiro para o setor cultural, principalmente se a gestão pública tiver pouco entendimento sobre o nosso setor. Acredito que no governo de Jair Bolsonaro, nós artistas sofremos muito. Agora, felizmente, tivemos bons momentos com o retorno do Ministério da Cultura e da implementação de leis como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc.

Eu acho que no Brasil é importante que a gente se envolva com a política, mesmo que minimamente. Mas também não acho que a gente deva dizer no que as pessoas devem ou não se envolver, vai de cada um e cada um vê uma importância naquilo. Eu aconselho aos meus colegas e qualquer profissional da cultura, ou a qualquer cidadão mesmo sem vinculo profissional com o setor cultural (afinal cultura é cidadania!), que pesquise e entenda um pouco sobre os direitos culturais nesse país. É importante que a gente saiba a estrutura, o que é competência do executivo, do legislativo, do judiciário. Essas informações nos empoderam e faz com que a gente entenda melhor os caminhos para demandar o cumprimento desses direitos. Vejo a galera com um fazer cultural fortíssimo, que promove um desenvolvimento pela cultura de em sua comunidade, mas não sabe que existe fomento, leis de incentivo, editais que serve justamente para fortalecer esse fazer.

Não quero dizer que é culpa das pessoas não saber, muito da nossa falta de conhecimento vem do próprio sistema educacional do país, e todas as suas desigualdades. Eu nunca pisei em uma escola particular na vida, por causa disso consegui bolsa de estudos no primeiro ano de uma faculdade particular, mas se quando me formei no ensino médio eu soubesse para que servia o ENEM, e como as universidades públicas são importantes, acho que tentaria ter ingressado na universidade pública.

Tudo que estou aprendendo, estou aprendendo agora, vivendo. Vivo enquanto aprendo a viver. E quanto mais vivo de cultura mais eu entendo que o conhecimento e a articulação social coletiva, são uma das nossas melhores maneiras de contornar todas essas adversidades. Então eu aconselho sim que a gente se envolva mais com a política institucionalizada, embora seja natural que algumas pessoas fiquem na linha de frente, enquanto outras dão o suporte. Compartilhar informação pelas redes sociais, seguir e curtir o trabalho da galera que faz o babado acontecer, ler sobre o que tá acontecendo, ir nas reuniões (falando do CMPC), ou só compartilhar quando tem, enfim, qualquer coisa, ajuda muito o coletivo.

Arte na Cuca: Nesse teu processo de descoberta e aprendizado no que diz respeito política cultural do município de Joinville, acredita que o caminho seria menos árduo e mais assertivo, se houvesse uma formação política para conselheiros e conselheiras de cultura?

Nicole Leite: Eu acho o Sistema Municipal de Cultura (SMC) muito completo na teoria, mas ele não é operacionalizado em seu todo. Um dos elementos desse sistema é o Programa Municipal de Formação em cultura (Lei 6.705), o artigo VII fala sobre estimular e promover a formação e qualificação de pessoas em política e gestão culturais, incluindo a dos profissionais de ensino; o que que ainda não existe de forma sistematizada, e isso é um dos fatores que deixa a atuação dos conselheiros cheias de “furos”, principalmente a dos conselheiros iniciantes. Por exemplo: é super difícil para novos rostos ingressarem no CMPC (Conselho Municipal de Política Cultural) e participarem ativamente das discussões políticas, pois nesse contexto são utilizadas falas, termos e encaminhamentos que são desconhecidos por pessoas que não estão inseridas nessa institucionalização, e isso assusta, nos deixa à margem das discussões.

Durante a Conferência Municipal de Cultura de 2023

Atualmente não existe uma metodologia ou um conjunto de passos, quando uma nova gestão de conselheiros assume. Não existe a preparação para nos possibilitar condições de discutir temas como por exemplo: o Sistema Municipal de Cultura e suas instâncias, as funções de um conselheiro, ou até mesmo as questões técnicas para ajudar na construção dos editais de cultura, como por exemplo os editais do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura). Além das dificuldades de organização das setoriais e entre os conselheiros representantes da gestão e da sociedade civil, para que a gente saiba a quem recorrer quando necessário.

Enfim, o que acontece é que cada um se vira como pode e tudo fica muito desigual. A implementação do Programa Municipal de Formação em Cultura seria uma das saídas para amenizar essas desigualdades de acesso ao conhecimento técnico que é importante para ser conselheira. Nada mais justo e inteligente, que todas as pessoas tenham o mesmo entendimento das leis, decretos, e toda informação pertinente a esse meio, de forma pedagógica e acessível em termos de linguagem. A quem interessa um monte de conselheiros sem saber a quem recorrer? Sem ter os conhecimentos necessários para formalizar suas demandas? A quem interessa um conselho ineficiente? Eu penso que essa conjectura interessa muito para gestões que marginalizam a cultura por sua ignorância, ou ganância (ou ambos) e seu conservadorismo.

Durante audiência pública na Câmara de Vereadores de Joinville. Tema: Alterações na lei do Simdec. (Foto: Site da Câmara de Vereadores de Joinville).

Arte na Cuca: Para finalizar nossa conversa, queremos falar um pouco sobre a sua produção artística e poética nas artes visuais. O que você pesquisa e quais são suas principais linguagens nas artes?

Nicole Leite: Eu acho que esse monte de coisas influência meus interesses, o que torna tudo bem difícil de organizar! (Risos). Bem, como ponto de partida, me volto para dança, para o corpo, para o movimento, que são territórios familiares a mim. Com esses elementos em mente, exploro as linguagens das artes visuais, como a pintura, o desenho, a fotografia e a performance.

Basicamente, tenho experimentado muito no campo do desenho, da linha e do gesto, enquanto um movimento que produz visualidades. Existem objetos que me atraem também e trago eles para a pesquisa. Objetos como a cadeira vermelha de plástico, característica dos nossos botecos brasileiros, e que faz parte de um universo muito afetivo para mim. O carvão também é um elemento que me atrai desde 2019, utilizo ele nos desenhos, gosto de pensar sua materialidade e suas possíveis significações com base nas relações que podemos fazer. Recentemente comecei a pensar nele como “elemente” cênico em performances e foto-performances. A parte conceitual de tudo é um desafio, tanto quanto a materialidade desses tantos interesses, por vezes tão polifônicos.

Nos últimos meses, tenho investigado o rastro e o risco, com a indagação: o que fica no espaço depois que o corpo passa e depois que se mexe? Essas marcas (ou vestígios, ou provas de algo vivo que passou) além de compor a imagem, seja pelo desenho, pelos objetos, nas fotografias, vídeos, e nas “sobras” das performances, indicam também um corpo em estado de “mexeção”, (corpo em movimento) que passou, e que continua ocupando uma superfície, e assim mantem sua existência viva e disponível para ser investigada, disponível para ser encontrada. O que é deixado evoca presenças emocionais, através das associações e das lembranças que se acionam ao nosso corpo.

Acho linda a ideia de pensar o encontro entre pessoas, entre alguém e algo, seja algo vivo, seja um objeto, seja uma ideia. Sabe aqueles encontros que nos deixam nervosos, ansiosos? Aqueles que a gente sente toda essa emoção no corpo, através de sensações como arrepios, respiração alterada, fala e pernas bambas? Acho tudo isso muito interessante! Para mim, o desafio tem sido ver esses interesses nas propostas que executo. No entanto, acho chato e falho impor os conceitos já formatados para o que está nascendo poeticamente nas experimentações.
Essas materialidades falam por si também, e podem mudar o nosso rumo dentro de uma pesquisa. É preciso deixar essa conversa sempre de uma forma horizontal.

O principal instrumento do artista, na minha opinião, é a sensibilidade. Se ela não estiver ativa, nos ajudando, a gente fica muito perdido. É sempre uma conversa que se entende no silêncio, na pausa. Algo que tem sido difícil nesse nosso tempo atual. A gente não pausa. É “clichêzinho”, mas estou vendo que realmente, é na presença que a gente se organiza, se mune, apreende para si todas essas informações do mundo, para organizar em nós mesmos. Para a gente elaborar o que achamos disso tudo, de forma autônoma, de forma nossa, sem correr o risco de simplesmente andar por esse mundo sem entender o que entende dele.

Leitura para amenizar as dores do corpo e da alma 

Mediações de leitura – Experiências compartilhadas entre a Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin e o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

Por Celiane Neitsch

O ano novo se inicia e com ele surgem desejos renovados para 2024 e promessas sobre o que pretendemos fazer; além dos objetivos que queremos alcançar. Muitos de nós almejamos amor, prosperidade, alegria e trabalho. (Mais do que já trabalhamos?) Sim… E para trabalhar mais, precisamos de saúde para realizá-lo.

Mas o que é saúde na sua totalidade? Física, mental e emocional. E que faríamos se as interferências da vida nos tirassem a oportunidade de realizar nossos sonhos por causa de uma doença? Como podemos atender nossa perspectiva de manter ou melhorar nossa saúde durante os 366 dias de oportunidades e desafios que nos aguardam para este ano?

É sobre as inter-relações entre cultura e saúde que pretendemos falar neste breve artigo, e também sobre o trabalho atencioso e repleto de cuidados, realizado pelos servidores públicos da Biblioteca Pública Prefeito Rolf Colin em parceria com o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt desde 2019, por meio do projeto “Mediações de Leitura”. A iniciativa é uma parceria entre as duas instituições, com objetivo de proporcionar acolhimento, bem – estar e cultura, por meio de leituras curtas e leves, aos pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) Geral, Cardiológica e Pós Operatório. Com acompanhamento da Terapeuta Ocupacional Elaine Budal Arins (HRHDS) e coordenadoria de Luciano Alves (Biblioteca Pública Municipal).

As visitas acontecem quinzenalmente, quando a dupla de contadoras/mediadoras vai ao hospital, para ler e declamar poesias e narrar histórias de tradição oral aos pacientes. Para realização do trabalho, as mediadoras de leitura Carolina Spieker e Karina da Silva Felipe, recebem orientações sobre como agir e os cuidados que precisam ter com a higiene e assepsia das mãos, ao se aproximarem dos leitos. São avisadas, por exemplo, se há isolamento de contato, que neste caso a  leitura deve ser feita por meio de cópias em envelopes de plástico, para que sejam higienizados antes e depois das visitas. Não são permitidos os livros físicos, pois podem levar bactérias de um leito a outro.

Tomadas as devidas precauções, Karina e Carol são como as guardiãs das histórias, além de dedicar seu tempo e atenção para ouvir as mais diversas experiências de vida, tanto dos acompanhantes, quanto dos pacientes. É importante destacar que mesmo quando o paciente não deseja ouvir histórias, também se trata de um ponto positivo: A ‘autonomia’. Pois há pelo menos uma coisa que ele pode decidir não querer, já que para quem se encontra internado, tudo, da alimentação à medicação, é obrigatório.

“Ler histórias, podem proporcionar um ambiente mais leve, lúdico e descontraído para o paciente, pois não se trata de fugir da realidade. Nosso trabalho é bastante respeitoso com a dor e a situação de cada ser humano, pois muitos estão em uma situação de internação prolongada, mas ler têm o poder de amenizar o sofrimento e às vezes – mesmo que por alguns instantes – transportá-los para um lugar de paz e tranquilidade” – destaca Carol Spieker.

O exercício de ler para o outro, principalmente quando está em situação vulnerável, é um gesto de compaixão e carinho, algo que os pacientes reconhecem e agradecem à sua maneira. Nas próximas linhas, as mediadoras dividem conosco alguns momentos que ficaram marcados em suas memórias durante a realização do projeto:

Neste novo ano, muitos são os sonhos das equipes e profissionais envolvidos neste ato; Levar a mediação de leitura para aqueles que mais  precisam, contribuindo para amenizar as dores do corpo e da alma, em hospitais, lares de idosos e orfanatos. E até mesmo escrever um livro para compartilhar as mais ricas experiências de vida; já que se trata de um momento vulneral da vida, digno de registro e reflexão.
Esta é a emitente certeza que temos de quanto a cultura contribui para a integralidade da saúde, afastando a solidão, humanizando pessoas, unindo histórias dos dois lados, as que contam histórias e as que ouvem histórias, estas que são registradas em nossa psique, descontruindo velhos conceitos e construindo novos paradigmas. Afinal, um mundo sem cultura, é um mundo sem esperança!

Biblioteca Pública Prefeito Rolf Colin.
Endereço: R. Cmte. Eugênio Lepper, 60 – Centro, Joinville – SC.
Telefone: (47) 3422-7000

Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.
Endereço: R. Xavier Arp, s/n – Boa Vista, Joinville – SC.
Telefone: (47) 3461-5500

Harmonia-Lyra promove ópera para adultos e crianças com formação de plateia

Foto: Pablo Teixeira

Casa da ópera em Joinville, a Sociedade Harmonia-Lyra novamente presenteia os amantes do canto lírico com um grande evento em agosto, inclusive investindo na formação de plateia.

A tarde do dia 4 será reservada para crianças e jovens terem um contato mais próximo com o universo operístico, enquanto a noite do dia 5 levará ao palco grandes cantores líricos do país para interpretar peças do repertório italiano do século 19. Para esta segunda programação, os ingressos estão à venda no site da TicketCenter.


“Una Piccola Opera per Bambini” começará às 15 horas e terá entrada gratuita para crianças, adolescentes e famílias com crianças de colo. Será uma master class para os menores se familiarizarem com a ópera e a música erudita por meio de apresentações e também uma introdução aos compositores e a importância da música para a formação pessoal e a história da humanidade. O barítono Douglas Hahn e a soprano Masami Ganev estão entre os “professores” desta tarde didática, que irá encerrar com um lanche.


Douglas e Masami também são duas das estrelas de “Una Notte d’Opera”, no dia 5. O concerto de gala terá árias, duetos, trios e quartetos, numa seleção de peças do repertório italiano do século 19 assinadas por Mozart, Verdi, Rossini, Donizetti e Bizet, entre outros compositores notáveis. Completam o elenco de cantores a mezzo soprano Ariadne Oliveira, o tenor Anibal Mancini e o baixo Günther Connan Theilacker, acompanhados pelo pianista Matheus Alborghetti.


“O grande repertório de ópera está calcado em cima destes compositores. Assim conseguimos aproveitar este quinteto de cantores, com duas vozes femininas, tenor, barítono, baixo, e fazer duetos, trios, quartetos, diversificando bastante o repertório”, reforça Douglas Hahn. “E sempre com o propósito de formação de plateia, para que as pessoas possam apreciar uma música nova, uma ópera nova, um compositor novo. Será um espetáculo bem diferente daquele que apresentamos em 31 de maio”.

Quando? 4 de agosto, às 15h. “Una Piccola Opera per Bambini”.
Quanto? Gratuito.
Onde? Sociedade Harmonia-Lyra, rua 15 de Novembro, 485, Centro.

Quando? Dia 5 de agosto, às 20h. “Una Notte d’Opera”.
Quanto? Ingressos a partir de R$ 30,00 (inteira), à venda no site www.ticketcenter.com.br e na secretaria da Lyra.
Onde? Sociedade Harmonia-Lyra, rua 15 de Novembro, 485, Centro.

“O Livro de Marco”

Já aconteceu com você de assistir a um filme, série ou peça de tearo e depois descobrir que a obra foi baseada em um livro?


No ano de 2007, a Cia Rústico Teatral de Joinville/SC, montou o espetáculo “Marco”, um solo de Vinicius da Cunha, dirigido por Samuel Khun.
Perdi as contas de quantas vezes assisti à peça e lembro de sempre ficar comovida com a história de Marco em busca de estrelas cadentes… suas estrelas meninas. Na época, soube que a montagem havia sido baseada em “O Livro de Marco”, de Flávio Carneiro, porém não achei o livro na minha cidade e acabei deixando pra lá.

Esse ano, finalmente adquiri a obra em um sebo (fica a dica de economia).


Escrito por Flávio Carneiro, ilustrado por Avelino Guedes, lançado pela Global Editora, em 2003, “O Livro de Marco” narra em 62 páginas a história de Marco, através de memórias das lembranças das conversas com o pai e de suas caçadas por estrelas cadentes, num simbólico rito de passagem para a vida adulta, através da descoberta do mundo, das pessoas, dele mesmo, do amor.


Quanto à minha experiência, ler o livro, foi como viajar novamente pelo percurso de Marco, que eu já conheci da cena, mas agora rememorava através da narrativa de Flávio Carneiro. O livro chegou em minha casa e, no dia seguinte, o trouxe para ler na Biblioteca Pública em que trabalho. E ela me acompanhou em um momento de tranquilidade ao final de um dia cinzento.

Uma colega passou pelo setor e disse: “Ah Carol, eu adoro esse teu jeito! Quem, hoje em dia, fica emocionado lendo um livro?” Eu!


Desejo que você também se entregue às aventuras das viagens de Marco em busca de estrelas cadentes e que se deixe envolver (e comover) pela sua história.


Boa leitura!
Boa viagem!

“O Príncipe e a Costureira”

Em 2022, resolvi me aventurar pelo mágico mundo das Histórias em Quadrinhos (H.Qs)e acabei me deparando com obras muito bacanas, tanto adaptadas da literatura, escrita na narrativa convencional, como histórias escritas exclusivamente em H.Q

Foi o caso de “O Príncipe e a Costureira”, de Jean Wand, lançado no Brasil em 2020 pela Editora Darkside.
Aqui, preciso fazer um à parte para falar da qualidade do material publicado pela editora.
No caso de “O Príncipe e a Costureira”, capa dura, lombada em forma de fita métrica, folha de guarda e inícios de capítulos com desenhos de moldes e o miolo da H.Q, 100% colorido. É mesmo uma obra de se comprar com os olhos, só pra ter na estante. Felizmente, o conteúdo condiz com o formato e o enredo é uma delícia!


Os pais do Príncipe Sebastian estão à procura de uma noiva para o filho, porém o próprio Príncipe está ocupado mesmo é com sua vida secreta: “à noite usa vestidos e conquista Paris como Lady Crystalia”
Lady Crystalia vira um ícone da capital mundial da moda e sua fama se dá pelo brilhante trabalho da costureira (e fiel confidente) France.

Porém, há aqui um conflito: France deseja ser uma estilista reconhecida no mundo da moda, mas não pode sair da sombra para não expor o segredo do Príncipe Sebastian e é à partir desse conflito que se desenrola uma trama divertida e ao mesmo tempo emocionante. O enredo se passa em Paris, no início da Era Moderna, o que torna o conflito da trama (e o segredo do protagonista) ainda mais “inaceitável” do que se ocorresse na atualidade.

Gostei do desfecho da trama, apesar de rápido, como talvez sugira uma obra escrita e ilustrada em quadrinhos.
Com 304 páginas, “O Príncipe e a Costureira” é daquele tipo de obra para ser lida “numa sentada”, mesmo por leitores pouco experientes no mundo dos quadrinhos, como é o meu caso.

Não sei quanto a você, mas eu, confesso que tinha um certo preconceito com Histórias em Quadrinhos. “O Príncipe e a Costureira”, não foi minha primeira experiência positiva com o gênero, mas foi uma das quais eu mais gostei de ler.
Espero que você dê uma chance ao gênero em geral e a essa obra em específico. Você pode se encantar, assim como eu.

Boa viagem à realeza parisiense!

“Outros Jeitos de Usar a Boca” e “O que o Sol faz com as Flores”

A indicação de leitura desse mês, são na verdade, duas, e vão para quem ama poesia ou para quem, como eu, gosta de “se aventurar” por diferentes gêneros.

“Outros Jeitos de Usar a Boca” e “O que o Sol faz com as Flores”, da indo-canadense Rupi Kaur, ambos lançados no Brasil pela Editora Planeta.

Rupi nasceu na Índia , mas vive desde criança no Canadá. Quando criança, tinha dificuldade em se comunicar em inglês, então desenhava – outro de seus talentos.
Seus textos ficaram conhecidos na internet e só depois, foram compilados e lançados em livros físicos, ilustrados pela própria autora. E o sucesso da internet, rapidamente se repetiu nos livros físicos. Suas obras já foram traduzidas para vários idiomas.

Eu, por exemplo, conheci a potência dos textos de Rupi Kaur pela internet.
Desde o inicio da Pandemia COVID-19, o inspirador Antônio Fagundes, lê poemas em sua conta no Instagram, sempre aos domingos e foi através de uma dessas leituras que conheci Rupi. Seus textos são carregados de uma particularidade.

A autora não utiliza parágrafos, nem palavras em caixa alta, mesmo nos inícios de frases. No início a diagramação pode causar certo estranhamento aos leitores habituados a linearidade das narrativas “mais comuns”, mas rapidamente, o conteúdo se sobrepõe à forma, e a diagramação fica em segundo plano ou passa a fazer sentido. Os livros são ilustrados pela própria escritora com traços finos, pretos e brancos.


Em “Outros Jeitos de Usar a Boca”, o tema central são relacionamentos, inclusive o relacionamento consigo próprio.
Quando li o exemplar do acervo da Biblioteca Pública, lembrei de alguns amigos/amigas e fotografei alguns desses textos para encaminhar a eles ou publicar nos stories. Aliás, alguns desses texto parecem ter sido escritos com esse fim.
Em “O que o Sol Faz com as Flores”, Rupi passeia por questões mais “densas” como pertencimento, de si próprio, da terra, sobre ser (i)migrante na própria pele, sobre feminino e sororidade, sobre respeitar e respeitar-se.


Confesso que poesia não é minha zona de conforto, às vezes me pego pensando se estou compreendendo “o que o autor quis dizer”. Depois lembro que interpretação vai além disso e passa, sobretudo, pelo repertório de cada leitor e me desobrigo de saber se o que entendi é correto e penso que a obra simplesmente deve funcionar ou não para mim, naquele momento.

E ambas as obras de Rupi Kaur “funcionaram para mim”.
Espero que você, sendo ou não leitor habitual de poesias, também dê uma chance aos seus livros…e corra o risco de se surpreender!

Oficina “Letramento racial: um desafio cotidiano” acontecerá em maio no Arte na Cuca

Quando o racismo começou? Como saber se uma ação é racista? Somente a pessoa negra pode falar sobre racismo?

Estas e outras questões serão trabalhadas durante a oficina on-line “Letramento racial: um desafio cotidiano”, que será ministrada pela educadora e doutoranda em Patrimônio Cultural e sociedade Denísia Martins Borba, nos dias 08, 15, 22 e 29 de maio e têm como objetivo, servir como um guia prático e reflexivo, para todos que pretendem dar os primeiros passos rumo à uma educação sensível e antirracista.

“A oficina visa discutir as relações étnico-raciais a partir de uma abordagem histórica, social e cultural do racismo para que possamos romper com preconceitos sedimentados em nossa sociedade. A valorização de povos e culturas implica em reconhecimento, e reconhecer significa buscar compreender os valores e as lutas dos sujeitos”, explica a educadora.


Durante os encontros, vamos debater a conceituação de raça e cor, e também refletir sobre o significado das palavras do nosso vocabulário e entender que muitas vezes, mesmo que sem sem querer, reproduzimos expressões e termos racistas ou que reforçam estereótipos.

Sobre a educadora

Doutoranda em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville/SC (UNIVILLE). Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville/SC (UNIVILLE) – (2019). Graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995). Tem experiência na área de História, com ênfase em História, atuando principalmente nos seguintes temas: memória, manifestações tradicionais, identidade cultural, conhecimentos tradicionais e lei 10639.

Investimentos
Para participar, basta se inscrever via Sympla (aqui) ou enviar WhatsApp (47) 9 8860-6063 com Celiane Neitsch.
Oficina gravada e disponibilizada no e-mail dos inscritos. Com Certificado de Horas.

R$150,00 Inteira. Via Sympla.
R$130,00 à vista no PIX (47) 99695-3165 Celiane Neitsch.
Desconto! R$100,00 para os primeiros 05 inscritos até 10 de Abril.

Sobre os encontros

08 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

É fundamental que haja um comprometimento social com a a história e as culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas de forma orgânica e sistemática. As ações em datas específicas, como o 20 de novembro, são importantes, mas insuficientes. Essas temáticas precisam ser incluídas em todos os espaços de sociabilidade: escolas, centros
culturais, praças e outros.

Você já se perguntou sobre os efeitos provocados pelo fato de nossa história ser contada, quase exclusivamente a partir da perspectiva eurocêntrica? Que materiais você conhece e que abordam essas temáticas?


15 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Admitindo que o racismo é questão atual, devemos discutir a história e as perspectivas negras em evidência. É preciso conhecer autores que representem a perspectiva africana e afro-brasileira nas diferentes áreas de conhecimento. É urgente também ler sobre distribuição de renda, escolaridade, moradia da população negra.
Perceber que as identidades raciais são construídas e conhecer a História, são ações fundamentais para enfrentar o racismo e o preconceito contra africanos e seus descendentes.


22 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Como nós, cidadãs/cidadãos lidamos com as manifestações racistas que ocorrem em nosso cotidiano? Elas são debatidas com nossas famílias, amigos, colegas de trabalho, nos espaços escolares (educação básica/universidade)? Você avalia que as escolas investem na formação de seus docentes para a abordagem das relações étnico-raciais buscando possibilitar uma geração livre do racismo? Em um país em que a maioria é “preta ou parda”, de acordo com as categorias utilizadas pelo IBGE, onde estão os médicos, escritores, engenheiros, advogados negros?


29 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Você busca conhecer a diversidade não apenas de textos, de temas, mas também de concepções de mundo, de modos de fazer e dizer de outras culturas? Você já se perguntem a respeito da presença e da representatividade de autores e intelectuais negros nas bibliotecas, livrarias? Qual o lugar destinado às práticas de oralidade, tão importantes para os povos africanos e para nós, brasileiros? Quantos livros de autores/autoras negras você conhece? Quais são as oportunidades proporcionadas para o contato com as personagens negras criadas por esses escritores/escritoras?

O que? Oficina “Letramento racial: um desafio cotidiano”
Quando? 08, 15, 22 e 29 de maio.
Quanto? R$150,00 Inteira. Via Sympla. R$130,00 à vista no PIX (47) 99695-3165 Celiane Neitsch.
Desconto! R$100,00 para os primeiros 05 inscritos até 10 de Abril.
Onde? Via Google Meet.