Oficina “Letramento racial: um desafio cotidiano” acontecerá em maio no Arte na Cuca

Quando o racismo começou? Como saber se uma ação é racista? Somente a pessoa negra pode falar sobre racismo?

Estas e outras questões serão trabalhadas durante a oficina on-line “Letramento racial: um desafio cotidiano”, que será ministrada pela educadora e doutoranda em Patrimônio Cultural e sociedade Denísia Martins Borba, nos dias 08, 15, 22 e 29 de maio e têm como objetivo, servir como um guia prático e reflexivo, para todos que pretendem dar os primeiros passos rumo à uma educação sensível e antirracista.

“A oficina visa discutir as relações étnico-raciais a partir de uma abordagem histórica, social e cultural do racismo para que possamos romper com preconceitos sedimentados em nossa sociedade. A valorização de povos e culturas implica em reconhecimento, e reconhecer significa buscar compreender os valores e as lutas dos sujeitos”, explica a educadora.


Durante os encontros, vamos debater a conceituação de raça e cor, e também refletir sobre o significado das palavras do nosso vocabulário e entender que muitas vezes, mesmo que sem sem querer, reproduzimos expressões e termos racistas ou que reforçam estereótipos.

Sobre a educadora

Doutoranda em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville/SC (UNIVILLE). Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville/SC (UNIVILLE) – (2019). Graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995). Tem experiência na área de História, com ênfase em História, atuando principalmente nos seguintes temas: memória, manifestações tradicionais, identidade cultural, conhecimentos tradicionais e lei 10639.

Investimentos
Para participar, basta se inscrever via Sympla (aqui) ou enviar WhatsApp (47) 9 8860-6063 com Celiane Neitsch.
Oficina gravada e disponibilizada no e-mail dos inscritos. Com Certificado de Horas.

R$150,00 Inteira. Via Sympla.
R$130,00 à vista no PIX (47) 99695-3165 Celiane Neitsch.
Desconto! R$100,00 para os primeiros 05 inscritos até 10 de Abril.

Sobre os encontros

08 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

É fundamental que haja um comprometimento social com a a história e as culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas de forma orgânica e sistemática. As ações em datas específicas, como o 20 de novembro, são importantes, mas insuficientes. Essas temáticas precisam ser incluídas em todos os espaços de sociabilidade: escolas, centros
culturais, praças e outros.

Você já se perguntou sobre os efeitos provocados pelo fato de nossa história ser contada, quase exclusivamente a partir da perspectiva eurocêntrica? Que materiais você conhece e que abordam essas temáticas?


15 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Admitindo que o racismo é questão atual, devemos discutir a história e as perspectivas negras em evidência. É preciso conhecer autores que representem a perspectiva africana e afro-brasileira nas diferentes áreas de conhecimento. É urgente também ler sobre distribuição de renda, escolaridade, moradia da população negra.
Perceber que as identidades raciais são construídas e conhecer a História, são ações fundamentais para enfrentar o racismo e o preconceito contra africanos e seus descendentes.


22 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Como nós, cidadãs/cidadãos lidamos com as manifestações racistas que ocorrem em nosso cotidiano? Elas são debatidas com nossas famílias, amigos, colegas de trabalho, nos espaços escolares (educação básica/universidade)? Você avalia que as escolas investem na formação de seus docentes para a abordagem das relações étnico-raciais buscando possibilitar uma geração livre do racismo? Em um país em que a maioria é “preta ou parda”, de acordo com as categorias utilizadas pelo IBGE, onde estão os médicos, escritores, engenheiros, advogados negros?


29 de maio. 19h30 às 21h30
Via Google Meet

Você busca conhecer a diversidade não apenas de textos, de temas, mas também de concepções de mundo, de modos de fazer e dizer de outras culturas? Você já se perguntem a respeito da presença e da representatividade de autores e intelectuais negros nas bibliotecas, livrarias? Qual o lugar destinado às práticas de oralidade, tão importantes para os povos africanos e para nós, brasileiros? Quantos livros de autores/autoras negras você conhece? Quais são as oportunidades proporcionadas para o contato com as personagens negras criadas por esses escritores/escritoras?

O que? Oficina “Letramento racial: um desafio cotidiano”
Quando? 08, 15, 22 e 29 de maio.
Quanto? R$150,00 Inteira. Via Sympla. R$130,00 à vista no PIX (47) 99695-3165 Celiane Neitsch.
Desconto! R$100,00 para os primeiros 05 inscritos até 10 de Abril.
Onde? Via Google Meet.

Patrimônio cultural do Roteiro Nacional de Imigração, oferece programação educativa

Foto: Jane Fleith

Quem passa pela Estrada Dona Francisca em Pirabeiraba, se encanta com o conjunto de edificações e o charme da antiga casa construída em 1881. Além do imóvel, a paisagem cultural com o Morro da Tromba ao fundo, tira o fôlego de qualquer turista ou viajante por tamanha beleza e simplicidade. A propriedade está localizada na Dona Francisca após a estrada Mildau, do mesmo lado.

Tombado como patrimônio cultural , pelo Estado de Santa Catarina e pelo Município de Joinville, a casa é identificada pelos pesquisadores como “Antiga Casa João Gomes de Oliveira”, de propriedade da família Fleith desde 1935, integra o Roteiro Nacional de Imigração.

Em 2021 o representante comercial, Maurício Fleith –  terceira geração da família Fleith, que habita casa –  sensível às causas do patrimônio cultural, acredita que deve contribuir com a preservação do bem cultural, “Meu objetivo é restaurar o bem tombado para preservar a história, poder passar para a minha geração na melhor condição e com foco em restauração autossustentável”, Declara. Mas apesar do desejo, também  relata as dificuldades dos proprietários de imóveis tombados: “Acredito que é minha vez de manter a história. Mas o tempo é implacável, com tudo e com todos, sem exceção, sendo necessária uma intervenção muito grande para restaurar, distante do meu alcance para cumprir com todos os deveres e obrigações descritos no processo de tombamento”.

Determinado, Fleith, após orientação do arquiteto Raul Walter da Luz, decidiu buscar recursos econômicos junto ao edital do SIMDEC – Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura. O projeto de restauração da antiga casa e do antigo engenho de cana, o qual é proponente, foi aprovado no edital e segue aguardando  o parecer técnico e aprovação da Fundação Catarinense de Cultura.

Antigo engenho de cana

Sonho que se transforma em realidade

Por meio do  edital de fomento à cultura, foi possível dar início a realização do grande desejo de sua mãe, dona Alzira  Sierth Fleith, que aos 87 anos, quer ver o patrimônio restaurado, para que as próximas gerações da família e a comunidade, consigam manter e desfrutar do bem histórico. Um sonho começa a se tornar realidade: nos meses de outubro e novembro a residência centenária se transforma provisoriamente em espaço cultural. A programação conta com produção e apoio pedagógico do projeto cultural de formação em cultura “Arte na Cuca” e receberá ações de educação patrimonial para alunos, acadêmicos e comunidade em geral.

Dona Alzira Sierth Fleith, aos 87 anos, quer ver o patrimônio restaurado,

Sobre a “Casa João Gomes de Oliveira”

A casa pertenceu a João Gomes de Oliveira, e está datada de  1881. Pai de Procópio  Gomes de Oliveira (que foi prefeito de Joinville em dois mandatos, 1903-1907 e 1911-1914). O pernambucano João Gomes foi um dos maiores proprietários de negros em condição de escravos, no  Norte de Santa Catarina. A antiga fazenda de cana e gado onde Gomes passava suas férias, conserva ainda o engenho de cana-de-açúcar. E  a  antiga captação de água para a produção de cachaça feita possivelmente pelos escravos.

Em 28 de junho de 1935, o imóvel foi adquirido por Alfredo Sierth e após seu falecimento, herdado por Alzira Sierth, que ao casar-se com José Vigando Fleith, mantém o legado da família e algumas das atividades da propriedade, como a produção de melado. Após o falecimento do seu marido e do avançar da idade, o filho do casal, Maurício Fleith, assume a tarefa de manter  a memória da família viva e atravessando gerações.

Programação Educativa

Equipe:

Proponente: Maurício Fleith | Arquiteto: Raul Walter da Luz |
Produção e educação: Celiane Neitsch | Apoio: Jane Fleith | Designer: Matheus Lufiego |
Fotografias e Web designer: Walmer B. Júnior |

“Quarto de Despejo – Diário de uma favelada”

“A Pior coisa do mundo é a fome!” (p.191).


Comprei “Quarto de Despejo – Diário de uma favelada” da escritora Carolina Maria de Jesus, de tanto ouvir falar e de tanta gente muito instruída na arte das letras me indicar, mas posso dizer com toda a certeza que não estava pronta para o arrebatamento que foi essa leitura.
Comprei o livro em um domingo. Era fim de ano. E, assim que cheguei em casa, iniciei a leitura, apenas ascendendo a luz do apartamento vazio e puxando uma cadeira. Nem mesmo abri as cortinas. A história é sobre a rotina de uma mulher e mãe, que por meio de seu diário, relata os dramas para sobreviver em uma favela na cidade de São Paulo, como catadora.

Lançado pela Editora Ática, a obra conta com 200 páginas em forma de diário para contar tão triste história. Justamente por ser escrito em forma de diário, a leitura é fluida e, pelo menos para mim, trouxe reflexões que levarei pra vida.
Depois da leitura, fui incapaz de começar outra de imediato. A famosa “ressaca literária”. Estou certa de que isso ocorreu devida a força e a simplicidade do texto da autora.

Por que ler?
Porque se trata de uma discussão cada vez mais necessária em nossa sociedade: seres humanos que apenas sobrevivem, classificados como abaixo da linha da pobreza.
Porque o texto é forte e ao mesmo tempo fluido, considerando a diagramação em formato de diário.
Porque a escritora recebeu a honraria de Doutora Honoris Causa, que é concedida independentemente da instrução educacional, a quem se destacou por suas virtudes, méritos ou atitudes.
Porque apesar, da data de sua escrita, o texto segue atual, infelizmente.

Considero o livro, leitura obrigatória para sensíveis e críticos leitores adultos.
Recomendo, porém, que respire fundo e se prepare para fortes e difíceis emoções, afinal “(…) a vida é um pouco mais dura que a literatura.” Roberto Bolaño, no livro “Putas Assassinadas”, tradução Eduardo Brandão, Companhia das Letras, 2018.
Desejo uma boa viagem ao “mundo real” criado pelos relatos de Carolina Maria de Jesus!

Oficina online: As ouvidas e as esquecidas – Mulheres artistas na arte cubana

O Arte na Cuca apresenta nos dias 25 de maio e 08 de junho das 19h às 21h , a oficina em formato livre “As ouvidas e as esquecidas – Mulheres artistas na arte cubana”, viabilizada por meio da parceria entre o site e a professora cubana doutora Mariurka Maturell Ruiz, que atualmente mora em Florianópolis/SC. Leia mais sobre a professora, clicando AQUI.

Os encontros serão online com as aulas gravadas, o que possibilita que os participantes acessem o conteúdo sem perder nenhum detalhe da oficina. O investimento é de R$85,00 (+ taxa via Sympla) ou à vista via PIX. Para garantir sua vaga, basta entrar no Sympla ou então, se você é apoiador mensal do Arte na Cuca pode adquirir seu ingresso com 10% de desconto pelo WhatsApp: (47 99695-3165), com Celiane Neitsch.

Também pensando no direito e no acesso à cultura, educação e formação digna, a professora disponibiliza 05 (cinco) bolsas para artistas (preferencialmente mulheres – Trans/Cis), que tenham interesse em aprender sobre arte cubana, mas atualmente sem possibilidade de investir na formação.

Programação da oficina

25/05/22. Quarta – Feira.
Horário: 19h às 21h.

“Arte e Revolução: Tempos de emergência, rupturas e continuidades”

– Caracterização do contexto sociocultural em que está inserida  a produção plástica feminina na arte cubana.

Depois de 1959 a produção plástica feminina cubana, se desenvolve dentro de um processo caracterizado por sucessivas transformações, dentro do qual a obra de arte funciona como estratégia renovadora. Nessa etapa, as artistas mulheres convivem dentro de uma dinâmica sociocultural que incide na abordagem de aspectos políticos e/ou sociais em suas obras.

08/06/22. Quarta – Feira.
Horário: 19h às 21h.

“Mulheres artistas na arte cubana: uma aproximação às suas produções”

– As semelhanças e diferenças que caracterizam suas produções e os espaços privilegiados ou marginais, que ocuparam durante seu trabalho artístico. Trajetória das artistas: Zaida del Río, Flora Fong, Ana Mendieta, Consuelo Castañeda, Marta María Pérez, Rocío García, Sandra Ceballos, Belkis Ayón, Sandra Ramos, entre outras, durante as etapas da Revolução Cubana.

Sobre a professora Mariurka M. Ruiz

Professora Doutora em História pela UFSC (2021), Mestra em Estudos Cubanos e do Caribe (2015) na Universidade de Oriente em Santiago de Cuba – Cuba, possui graduação em História da Arte (2003), com 18 anos de experiência. Atualmente é membro da Cátedra de Estudos Afro-caribenhos da Universidade de Guantánamo; da Cátedra Nelson Mandela da Região Oriente, Cuba; do Observatório das migrações de Santa Catarina, UDESC; do Grupo de pesquisa “O campo cultural latino-americano e suas conexões”, UFSC e do Laboratório de História da África, UFSC. Têm experiência na área de História das Artes Cubanas e Caribenhas e em História. Atualmente, pesquisa as transformações urbanas, migração feminina e diáspora africana desde uma perspectiva de gênero.

Leia alguns artigos publicados pela professora

– Racismo em Cuba: uma análise do número 2/2017 da revista El Mar y la Montaña, em Guantánamo
 Gênero, Ciências e experiências
– Evento Diáspora negra: Cuba no início do século XX
– Género y Mercado Laboral: Ejes de Desigualdades
A Visualidade Feminina nas Artes Plásticas de Guantánamo – Cuba
Arte y representación social: las mujeres negras en la obra plástica de Ernesto Cuesta

Quando? 25 de maio e 08 de junho. Horário? 19h às 21h.
Quanto? R$85,00 (+ taxa via Sympla) ou à vista via PIX (47 996953165) 10% desconto apoiadores mensais Arte na Cuca.
Onde? Online. Via Google Meet. As aulas ficarão gravadas e disponíveis aos participantes. Curso com certificado.
*Com 05 (cinco) bolsas para artistas (preferencialmente mulheres – Trans/Cis).
Informações: contato@artenacuca.com.br ou whatsApp 47 99695-3165. Celiane Neitsch.

Quanto custa realizar um sonho?

Fotografia: Marcos Fernandes.

Quem nunca sonhou? Quem aqui, nunca quis ser aquela atriz ou cantora famosa, que aparece na televisão? Ou que têm milhões de fotos e seguidores no Instagram?

Sonhar, nos ajuda a não morrer de realidade!
Mas você já se perguntou quanto custa realizar um sonho?
Quanto devemos arriscar? Quem aguenta ouvir tantas vezes a palavra ‘não’, diante das dificuldades que se apresentam?

Essas são apenas algumas das perguntas que me fiz, enquanto assistia as aulas ministradas pela primeira bailarina Cecília Kerche, realizadas na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (Joinville/SC), pelo projeto “Artes do Palco”.

Cerca de quarenta estudantes de ballet entre 15 e 18 anos participaram do evento “Cidade da Dança”, que aconteceu nos dias 12 e 13 de março, acompanhadas da presença de suas professoras. Um final de semana intenso, com aulas no período matutino e vespertino e presença de grupos que vieram de várias cidades do estado para poder participar do projeto. Uma oportunidade que além de trazer para Joinville uma das primeiras bailarinas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e nome internacional do ballet, contou com o acompanhamento musical da pianista Medely Dib.

A disciplina do corpo e da mente foi o que primeiro chamou minha atenção, na postura e comportamento das futuras bailarinas. Durante as aulas foi possível perceber o esforço, a dedicação, a superação e o quanto todas estavam ali para aprimorar suas técnicas.

Dedicadas a aprender ao máximo com quem já mostrou sua arte nos grandes palcos do mundo, as participantes, incansáveis na busca pelo movimento perfeito, ouviam com atenção as correções de Kerche… Que com técnica e precisão, exibia movimentos delicados e perfeitos em sua performance.
Entre as observações necessárias da professora e as repetições para encontrar o eixo que permitisse o melhor Pirouette , o entusiasmo foi o sentimento estampado no rosto de todas as participantes, cada qual com sua história, trajetória, desafios, personalidade, mas um sonho em comum: aprender ao máximo, com quem conquistou o sonho de tornar-se a primeira bailarina.

Uma oportunidade de conhecer, aprender e aperfeiçoar suas formações, foi o que o diretor artístico Darling Quadros, por meio do projeto “Artes do Palco” e o patrocínio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (SC/2021), proporciona para as estudantes de ballet, dedicadas a transformar emoções em movimentos.

São projetos como este, com apoio de patrocinadores e leis de incentivo cultural, que possibilitam com que jovens de todas as classes sociais, busquem por um futuro melhor através da arte. É por meio do olhar sensível e responsável de seus professores e da comunidade, que o futuro se constrói e que jovens possam estar mais perto de realizar seus sonhos.


Celiane Neitsch.
Arte-educadora e produtora cultural do site Arte na Cuca.



Arquivo Histórico de Joinville completa 50 anos

No dia 20 de março de 2022, o Arquivo Histórico de Joinville, instituição criada por meio da Lei Municipal nº 1.182/1972 completa 50 anos de atividades. Em comemoração a data, apresentamos a 19ª edição do Boletim do Arquivo Histórico de Joinville, que conta com capa comemorativa , criação do designer e bacharel em Cinema e Audiovisual Walmer B. Júnior, que traz como referências, figuras que remetem as diversas culturas e memórias da cidade.

A publicação apresenta o trabalho técnico da instituição, as pesquisas, os pesquisadores, as atividades educativas e narrativas sobre as histórias de Joinville, além das relações do Arquivo com seus funcionários, seu entorno e a comunidade.

Em formato digital e trimestral, o Boletim do Arquivo Histórico de Joinville é resultado de uma parceria estabelecida entre a Secretaria de Cultura e Turismo de Joinville (Secult), o setor educativo do AHJ e o site de formação cultural Arte na Cuca, que atua de forma voluntária.

A 19ª edição está disponível no site Arte na Cuca na seção “Biblioteca”, mas pode ser acessado AQUI. Em breve, todas as edições anteriores do Boletim do AHJ, estarão digitalizadas e disponíveis neste endereço eletrônico, a fim de ampliar o acesso da população aos projetos e ações desenvolvidas pelo Arquivo Histórico de Joinville ao longo da sua existência.

Acompanhe também a programação de aniversário dos 50 anos do Arquivo Histórico de Joinville:

Março

Lançamento do Boletim n. 19 do AHJ – edição especial dos 50 anos (trimestral).

Solenidade alusiva aos 50 anos do Arquivo Histórico de Joinville.
Quando? 20/03/2022
Horário: 10h.

Mesa redonda “Os 50 anos do Arquivo Histórico de Joinville: história, memória e cidade”, com a Profa. Dra. Janine Gomes da Silva (UFSC) e a Profa. Dra. Ilanil Coelho (UNIVILLE).
Quando? 24/03/2022
Horário: 19h.
Informações: arquivohistorico@joinville.sc.gov.br


Qual passado de Joinville escolher?


Crédito foto de capa: Gerson Machado
Celebração de integrantes religião matrizes africana, monumento em homenagem ao imigrante.

Fazer história: há algo que não te contam?

É comum a ideia de que o conhecimento sobre o passado não pode mudar. Imagina-se, também, a história como algo encerrado. Desse modo, certas discussões, como a que questiona se os portugueses “descobriram” ou “invadiram” estas terras que habitamos, podem acabar gerando desconfortos, como se houvesse alguém tentando deturpar ou manipular a história.
Isso acontece porque os meios de se produzir um conhecimento sobre o passado geralmente permanecem como um “não-dito” (CERTEAU, 2020). Ignora-se que o historiador está inserido num contexto sócio-histórico específico, que realiza uma pesquisa científica, sistemática e com base em vestígios do passado (isto é, fontes) e que atribui sentidos políticos de forma crítica a eles. Por fim, ele produz uma escrita que busca divulgar esse conhecimento sobre o passado e que, mais importante, ouso afirmar, busca interferir na realidade do presente. Nesse último ponto é necessário reconhecer que falar do passado é, na verdade, muito mais falar do presente.

É o costume de consumir narrativas prontas (e diria até enlatadas e de qualidade duvidosa) acerca do tempo que se foi que acaba levando a tal desconforto com discussões históricas críticas que emergem na cena pública. No último ano, presenciamos isso de forma contundente no Brasil e em outros países, quando ataques a estátuas/monumentos de figuras históricas fizeram diferentes passados se presentificarem como fantasmas saindo de feridas não cicatrizadas (ÁVILA, 2021a).

Pretendo, aqui, discutir um pouco acerca de quais passados emergem e quais passados permanecem imersos na cena pública da cidade de Joinville, tendo em vista que, em datas comemorativas, como o aniversário da cidade, sempre o passado local é algo que recebe grande atenção, principalmente por meio de mídias eletrônicas e digitais, como canais televisivos e redes sociais.

Um passado uno?

Tratando-se do passado de Joinville, estamos muito acostumados com a narrativa que evoca como chave de interpretação figuras como a princesa Dona Francisca, o príncipe François D’Orleans e o caso da venda das terras do dote da princesa para que a companhia Colonizadora de Hamburgo desse início ao processo de povoamento com imigrantes da “Alemanha”. A ênfase no imigrante alemão também é um forte elemento desta representação do passado. Minha ideia é que esses dois fatores, a narrativa do príncipe e da princesa e dos “pioneiros da Alemanha”, quando reforçados por diferentes tecnologias de mobilização do tempo histórico (ARAUJO, 2021), acabam por criar uma caricatura estereotipada da história de Joinville, passando a serem entendidos como os únicos passados possíveis da cidade.

É percebido o empreendimento histórico de consolidar esta história na memória pública da cidade. Recentemente, em 2021, uma emissora de televisão produziu um documentário inteiramente dedicado à biografia da princesa Dona Francisca, prestando homenagens a ela pelo crédito de ter dado início à história da cidade. Apenas duas décadas antes, no ano de 2001, um monumento em forma de barca foi inaugurado para demarcar o protagonismo dos imigrantes europeus e fazer o ritual de “sacralização” desse passado (MACHADO, p. 21, 2009). A ênfase nesse elemento estrangeiro, porém, não era novidade, pois, cinquenta anos antes, em 1951, outro monumento, também presente no centro de Joinville referenciando os “pioneiros” germânicos, já havia sido inaugurado (SILVA, 2008). Estes são apenas alguns dos vários vetores que ativam e mobilizam na memória pública um passado de Joinville uno, monolítico e cristalizado.
Mas, há outros passados de Joinville possíveis? Se sim, é possível escolher algum? Qual, então (se é que há um certo), dever-se-ia escolher? No que resultam e implicam essas escolhas? Essas são algumas perguntas, motivadas pelas reflexões do historiador Arthur Lima de Ávila (2021b), que me levaram a escrever este texto. Não tenho o objetivo de respondê-las sumariamente, muito menos dizer qual é o “verdadeiro” ou o ideal passado da cidade. Meu intuito é despertar uma reflexão na leitora ou leitor para que possa, consequentemente, intervir no seu cotidiano em sociedade.

Passados esquecidos, negados e/ou silenciados?

A Colônia Dona Francisca não surgiu num vazio social e geográfico sem nenhum precedente histórico, como se pode supor. Apesar do discurso sobre o passado de Joinville, que trata das terras da princesa e dos imigrantes germânicos, ter sua sustentação em fontes históricas, outros fatores são esquecidos ou silenciados nessa narrativa.

Lembremos, de início, que no século XIX o Brasil vivia sob um Império. Império que tinha como principal pilar de sua sustentação econômico-social, o trabalho escravo. Quando a Inglaterra reconheceu a Independência do Brasil, no ano de 1826, exigiu, como moeda de troca, que o tráfico de escravos fosse proibido nestas terras, pois isto iria favorecer seus negócios na Europa e nas suas colônias em África. Em 1831, o tráfico foi proibido, mas não cessado, permanecendo por meios ilegais.

Em via de toda essa pressão da Inglaterra com o fim do tráfico de escravos, alguns membros da elite brasileira passaram a perspectivar que a escravidão já estava com seus dias consumados. Nas suas visões, seria apenas uma questão de tempo para que este regime tivesse seu fim. Mas, claro, libertar os escravos repentinamente seria um ato demasiado irresponsável. O trabalho “livre” e assalariado, que já vigorava principalmente na Inglaterra em plena Revolução Industrial, era visto como solução. Porém, a finalidade dos negros só poderia ser o trabalho escravizado. Para implantar o serviço com mão-obra-livre e assalariada, a massa de trabalhadores pretos tinha de ser substituída. A aposta foi na imigração (DOLHNIKOFF, 2003).

Além propriamente do racismo, o darwinismo social, ideologia científica que, a partir da metade do século XIX, esteve fortemente presente em diferentes países, afirmava que os trabalhadores considerados mais aptos para o trabalho livre eram os brancos europeus. Os ditos “alemães”, eram os preferidos, pois se pensava que eram mais vocacionados do que outros povos para o trabalho no campo e em ofícios urbanos. Paralelamente, o território alemão, ainda não unificado em Estado Nação, passava por uma crise em razão de sua industrialização tardia. Hamburgo mantinha historicamente negócios com o Brasil e a demanda por imigrantes foi vista como uma grande oportunidade de lucrar e, também, se livrar da mão-de-obra que lá estava sobrando. De forma geral, a maioria dos imigrantes de origem germânica que vieram para o Brasil e Joinville era composta de pessoas com baixo poder aquisitivo que se dedicava à lavoura e trabalhos artesanais (CUNHA, 2008).

Em vista desses eventos, notamos a dimensão e espessura do contexto em que foi fundada e colonizada por imigrantes germânicos a Colônia Dona Francisca, em 1851, nas terras dotais da princesa e do príncipe. Raras vezes notamos menções ao processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil ao se tratar da fundação da Colônia Dona Francisca. Igualmente persiste o silenciamento em relação aos que antes já moravam na região, algo já demonstrado em obra clássica da historiografia da cidade, o livro História de Joinville: Crônica da Colônia Dona Francisca, do historiador Carlos Ficker, publicada em 1962. Nela, o autor demonstra como brasileiros de origem portuguesa e, também, negros escravizados já habitavam certas regiões de onde viria ser Joinville, e, inclusive, como os escravizados foram empregados no trabalho de abrir as primeiras “picadas” em meio ao mato antes da chegada dos imigrantes (FICKER, 2008).
Geralmente, silenciamentos como esse servem para legitimar políticas no presente que buscam excluir ou até mesmo atacar determinados setores da população. Ademais, muitas vezes são esses setores que, de fora do meio acadêmico, incitados pela controvérsia, reivindicam novos olhares para o passado (TROUILLOT, 2016). Isso nos mostra a importância da emersão da discussão histórico-crítica na cena pública, fazendo o passado não estar sob o monopólio dos historiadores.
No entanto, esse é somente o caso mais nítido de silenciamento de passados da cidade de Joinville. Podemos citar alguns outros.

Quando a cidade comemorava seus 100 anos de fundação, uma série de ações foram empreendidas. Esse momento, na frase que dá título ao livro da historiadora Janine Gomes da Silva, foi um “tempo de lembrar” e, também, um “tempo de esquecer”. Ora, as comemorações se fizeram logo após um momento conturbado na cidade, a chamada Campanha de Nacionalização do Estado Novo, na qual pessoas de ascendência estrangeira tiveram suas práticas culturais e cotidianas suprimidas em razão da política do Estado Novo sob o presidente Getúlio Vargas. Tendo a campanha chegado ao fim, as comemorações do centenário foram vistas como um momento para redimir essa população. Desse modo, a memória da fundação da cidade foi ressignificada e atribuída quase exclusivamente à “força de vontade” alemã (SILVA, 2008). Desde então, já se tentava explicar o sucesso industrial e econômico de Joinville por conta de um suposto “DNA alemão” – ideia que ainda permanece forte em certos dirigentes públicos (SILVEIRA, 2021). No caso do Sesquicentenário, comemorado no ano de 2001, o discurso foi outro. Havia sido reconhecida a nova paisagem étnica e cultural da cidade, em razão das (i)migrações, porém, o clima das comemorações, ditada pelo ritmo e perspectivas de um grupo minoritário de homens, estava impregnada de um teor pedagógico para aqueles “forasteiros” que, não bastasse terem conseguido emprego e sua subsistência na cidade, deveriam também amar incondicionalmente Joinville (MACHADO, 2009). Dito de outra forma, até admitiu-se o ingresso de outros atores (marginalizados) nas cenas do passado e do presente, contudo, como personagens coadjuvantes.

A contrapelo dessa concepção, o que explica o sucesso “alemão empreendedor”, tomando com base a obra do historiador Dilney Cunha, História do trabalho em Joinville, é que entre os simples camponeses e artesãos que migraram da Europa para o Brasil, também vieram algumas pessoas letradas e com certo capital econômico dispostas a investir e, assim, empregar a mão-de-obra que, na Colônia, então havia de sobra (CUNHA, 2008).
Porém, esse passado de “sucesso empreendedor alemão”, além de silenciar o passado dos imigrantes germânicos de origem humilde que sofreram com a hostilidade destas terras quando nela chegaram, deturpa o passado de grupos geralmente marginalizados e subalternizados. Em outras palavras, a narrativa caracterizada por esse culto ao empreendedor, silencia os passados dos operários e dos lavradores de Joinville (principalmente os passados de conflitos entre empregados e patrões).

É comum a difusão da ideia de que Joinville é uma cidade ordeira, sem grandes conflitos sociais e harmoniosa em suas relações. A historiadora Iara Andrade da Costa, ao estudar a imprensa escrita entre os anos de 1917 e 1943, demonstrou que existem passados que desmistificam essa idealização. Em A Cidade da Ordem: Tensões Sociais e Controle, a autora desconstrói o mito de cidade ordeira e de trabalhadores passivos. Revoltados com suas condições de trabalho, moradia, salário, altos impostos e outros motivos, os operários das fábricas tomaram as ruas para protestar por meio de greves. Entretanto, eram vistos como motivos de vergonha e taxados de desordeiros, infiltrados e vagabundos (COSTA, 1996). Assim, desde então, Joinville pode, sim, ser considerada a cidade do trabalho. Mas será ela a cidade dos trabalhadores?

Diversos outros passados poderiam ocupar o espaço deste texto e que são igualmente necessários para compreender e intervir em nosso presente, como o das (i)migrações contemporâneas, que desde 1980 não cessaram e que vem transformando e (re)inventando continuamente a paisagem social da cidade (COELHO, 2011); também poderia ter citado alguns passados ainda mais incômodos, que deixaram certas marcas tácitas no ethos da cidade, como o do fascismo integralista (WENDLAND, 2011). Enfim, não quero tornar esse texto enfadonho demais para a leitora ou o leitor, mas espero ter conseguido demonstrar as várias possibilidades de passado que Joinville pode ter para si e, consequentemente, assumir as responsabilidades que implicam seus usos (e abusos) políticos. É importante, sempre ao deparar-se com a história una, fazer o mesmo questionamento do célebre filósofo judeu-alemão, Walter Benjamin: “não ressoa nas vozes a que damos ouvido um eco das que estão, agora, caladas?” (LÖWY, p. 48, 2005).

Há uma moral para a história?

O cerne do argumento não é esquecer, silenciar ou negar a factibilidade da narrativa hegemônica sobre o passado da cidade, pois isto seria sentar-se do mesmo lado da mesa dos negacionistas, tão menos o objetivo é supervalorizar no presente alguns indivíduos antes renegados em detrimento de outros. Sobretudo, considero pensar o passado de Joinville por meio de outras chaves de interpretação, algo extremamente necessário, pois nosso presente, como bem podemos notar numa ligeira caminhada nas ruas da cidade, exige isso de nós. Não incorrer no erro da história monolítica e cristalizada é necessário justamente para não tornar o presente e o futuro habitável para apenas poucos indivíduos seletos.

Só com muitos passados simultâneos coexistindo no tempo presente, somente com uma história em aberto, abarcando uma multiplicidade de passados possíveis, é que teremos um horizonte com uma multiplicidade de futuros possíveis. Pensando a partir das proposições de Avila (2021a), o papel do historiador, julgo ser, o de trazer de volta a capacidade de imaginar o futuro e com isso, renovar as esperanças (e utopias?) para um porvir melhor que nosso presente, que se encontra fechado em si e por si mesmo, e que se refugia num passado fantasiado de vale encantado. Porém, o passado não pertence somente aos historiadores, ele é um patrimônio público que deve ser usado com cuidado e adequadamente. O desafio é transformar essa história (múltipla) cientificamente produzida em algo com sentido prático nas vidas dos que habitam essa cidade para, assim, transformá-la (AVILA, 2021a).

O passado que escolhi, a leitora ou leitor já deve ter percebido. As consequências da escolha desse passado, também me são evidentes. Meu desejo é que elas impliquem num presente e futuro mais habitável, isto é, igualitário, equitativo e justo, seja se tratando de questões étnicas, de classe, gênero e entre muitas outras. Agora, tendo as opções postas à mesa, me obrigo a questionar: você, qual passado vai escolher?

Weslley dos Santos Graper

Acadêmico do 4º ano do curso de História da Universidade da Região de Joinville – Univille, bolsista dos Projetos de Extensão, Laboratório de História Oral da Univille (LHO) e Centro Memorial da Univille (CMU), bolsista de Iniciação Científica da FAPESC e membro do Grupo de Pesquisa Cidade Cultura e Diferença (GPCCD).

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Valdei Lopes. A experiência do tempo para além da história disciplinar. In: AVILA, Arthur Lima de; NICOLAZZI, Fernando; TURIN, Rodrigo (org.). A História (in)disciplinada. 2ª ed. Vitória: Editora Milfontes, 2021.

AVILA, Arthur Lima de. A História no Labirinto do Presente: Ensaios (in)disciplinados sobre teoria da história, história da historiografia e usos políticos do passado. Vitória: Editora Milfontes, 2021a.

AVILA, Arthur Lima de. Qual passado escolher? Uma discussão sobre o negacionismo histórico e o pluralismo historiográfico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 41, no 87, 2021b.

CERTEAU, Michel. A Operação Historiográfica. In: CERTEAU, Michel. A Escrita da História.
Tradução Maria de Lourdes Menezes. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020.

COELHO, Ilanil. Pelas tramas de uma cidade migrante. Joinville: Editora Univille, 2011.

COSTA, Iara Andrade da. A Cidade da Ordem: Tensões Sociais e Controle (1917-1943). Orientador: Euclides Marchi. 1996. 255 f. (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1996.

CUNHA, Dilney. História do trabalho em Joinville: Gênese. Joinville: Edições TodaLetra, 2008.

DOLHNIKOFF, Miriam. Elites regionais e a construção do Estado nacional. In: JANCSÓ, István (org.). Brasil: Formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec; Ed. Unijuí; Fapesp, 2003.

FICKER, Carlos. História de Joinville: Crônica da Colônia Dona Francisca. Joinville: Editora Letradágua, 2008.

LÖWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.

MACHADO, Diego Finder. REDIMIDOS PELO PASSADO? SEDUÇÕES NOSTÁLGICAS EM UMA CIDADE CONTEMPORÂNEA (JOINVILLE, 1997-2008). Orientador: Emerson Cesar de Campos. 2009. 178 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós- Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.

SILVA, Janine Gomes da. Tempo de lembrar, tempo de esquecer: As vibrações do Centenário e o período da Nacionalização: histórias e memórias sobre a cidade de Joinvile. Joinville: Editora Univille, 2008.

SILVEIRA, Felipe. A política em Joinville: O problema do DNA alemão. O Mirante Joinville. Joinville, 30 jun. 2021. Disponível em: https://omirantejoinville.com.br/2021/06/30/a-politica-em-joinville-o-problema-do-dna-alemao/. Acesso em: 25 fev. 2022.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciando o passado: o poder e a produção da história. Tradução Sebastião Nascimento. Curitiba: Huya, 2016.

WENDLAND, Daniely. INTEGRALISMO, CÍRCULO OPERÁRIO CATÓLICO E SINDICATOS EM JOINVILLE (1931-1948). Orientador: Adriano Luiz Duarte. 2011. 244 f. Dissertação (Curso de Pós-Graduação em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

Ele continua moderno aos 100 anos

Neste mês a Semana de Arte Moderna comemorou a lembrança de seu centésimo aniversário. Um movimento que teve em seu início a provocação, o escândalo, o protesto contra a tradição simétrica e da beleza perfeita, das correntes euro-centristas da época. Por isso o grotesco, o simples, a crítica mais ácida, estão presentes no modernismo brasileiro, contra o modelo ideal da sociedade pós Revolução Industrial.

Como o próprio Oswald de Andrade dizia: ‘o modernismo é primitivo’. Este movimento trouxe consigo uma onda que sacudiu o Brasil daquele início de século. As artes de modo geral viviam uma crise causada pela I Guerra Mundial, e o modelo plástico, literário, musical anterior, já não servia mais, porque enfatizava a concepção mais tradicional do modelo da belle époque. Os modernistas queriam realmente propor algo inusitado, novo, quebrando com essa tradição do belo, do civilizado, do evoluído, do perfeito, a qual era o clima criado desde o final do século 19 e início do século 20. 

Muito desta euforia vivida na belle époque era fruto das inúmeras inovações tecnológicas da época, como a eletricidade (lâmpada e outros aparelhos eletrodomésticos), carros, aviões, telefone, entre tantas outras inovações. Para a opinião pública, se imaginava que a humanidade chegou em sua plenitude e não desenvolveria nada muito além daquilo já existente. Porém com a Primeira Guerra, este clima eufórico se transformou em depressão e no desmoronamento de um modelo de vida, adjetivado de civilizado. Foi neste clima pós 1918, que na Europa, movimentos como futurismo, cubismo, expressionismo, mesmo já existentes, agora ganharam a cena artística e influenciavam todo tipo de expressão de vanguarda. Esta onda revolucionária, já em 1922 chegava ao Brasil.

A Semana de Arte Moderna, foi tão importante para a intelectualidade brasileira e posteriormente para política, economia e relações sociais, que na História do Brasil foi a primeira vez que um movimento cultural chegou ao país primeiro que em Portugal, nossa antiga metrópole. Aquela fatídica semana de 13 a 18 de fevereiro de 1922, foi apenas o estopim que desencadearia uma série de consequências para o Brasil. 

O modernismo brasileiro descobriu o Brasil, muito mais que Cabral o fizera em 1500. Mário e Oswald de Andrade, Bandeira, na literatura; Villa-Lobos na música; Di Cavalcanti, Malfati, Tarsila, e posteriormente, Portinari e Segall nas artes plásticas; todos sensíveis estudiosos e observadores da cultura brasileira, conseguindo traduzir estas vivências e obras-primas reconhecidas mundialmente. 

Nas décadas seguintes esta relação só fez crescer e enriquecer, com uma espontaneidade, que nunca se vira nas artes produzidas no país, tanto que em 1928, Oswald lança o Manifesto Antropofágico ou Antropofagia, na qual propunha uma revisão na relação artística dos autores brasileiros, que deveriam simplesmente se inspirar nos movimentos europeus, mas trazer a alma da brasilidade. Seria uma espécie de canibalismo (inspiração/engolir a produção europeia, mas digerir/produzir algo tipicamente brasileiro. Foi uma alavanca necessária para as artes, já que as obras passaram a ser reconhecidas internacionalmente por sua originalidade, estilo, sensatez, carregando consigo a alma do Brasil, a expressão máxima de sua cultura, intrínseca nos quadros, músicas, esculturas.

Os modernistas não somente orbitaram as artes, eles impulsionam a criação do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, em sua criação SPHAN, fazendo com que se pensasse o Patrimônio Cultural brasileiro. Mas eles não pararam por aí, indiretamente, suas ideias também acirraram o descontentamento com a Política dos Governadores e o seu modelo coronelista, fundamentado no voto de cabresto, em que o eleitor, devido ao voto ser aberto, sofria ameaças para escolher o candidato da aristocracia local. Contra esse modelo político aconteceram as revoltas Tenentistas, que se dividiram entre idealistas comunistas e nacionalistas, que, de mão dadas com o Movimento Modernista ajudava a transformar o Brasil. 

Estas ações na década de 1920 resultaram no Golpe de 1930, com Getúlio Vargas, e posteriormente, a fundação do Estado Novo (1937), dando sobrevida ao seu governo até 1945. Na Era Vargas os modernistas ganharam voz, e muitos ocuparam cargos dentro deste governo, para difundir seus conceitos nacionalistas. 

Contudo, o que estes intelectuais queriam era quebrar os grilhões que prendiam o país a seus traumas coloniais, que sofriam a tecnização com um discurso euro-centrista e neocolonialista, difundido por boa parte do mundo intelectual universitário e reverberado pelas sociedades industrializadas como sinônimo de desenvolvimento e civilização, em que se contrapunha o modelo europeu, tido como positivo, civilizado, evoluído, ao modelo outro, adjetivado de negativo, selvagem e atrasado. Por isso, o mote modernista de buscar sua brasilidade e nela encontrar valores, para rebater essa cultura euro-centrista, que rebaixava o Brasil perante os estrangeirismos.

O Modernismo produziu uma cultura impar e influenciou a sociedade brasileira, pois suas ações observava os costumes no interior e traduzia estes em arte. Macunaíma, as Bachianas Brasileiras, Abapuru, foram exemplares desta fomentação do que é ser brasileiro. Este tema tão comum para os modernistas dos anos 1920, passaram a nortear cada vez mais os estudos nas faculdades e como consequência, a produção teórica para entender nossa nação, aumentou consideravelmente entre as décadas 1930 e 1970. 

Hoje, os medíocres e influenciadores reduziram essa ação gigantesca do Movimento Modernista, a discussões de gênero e etnias. Por criticar os artistas de 1922 com a mentalidade de 2022, se tornaram um excelente exemplo de anacronismo. Se pudéssemos concretizar este discurso anacrônico e transportá-lo para 1922, no ceio da Semana de Arte Moderna e estabelecêssemos que aquele grupo fosse composto por, um quarto de afros, outro quarto de ameríndios, e a mesma porção de mulheres, como naquele instante do espaço/tempo representavam um elite intelectual, que em parte também eram financeira, possivelmente, hoje o Brasil estaria entre os três primeiros países do rancking mundial em educação, cultura e IDH. No entanto, esta não era a realidade do Brasil de 1922, o que se tinha entre os modernistas naquela semana eram predominantes homens brancos e de classe média/alta, com boa formação intelectual e por isso o Brasil ainda luta por democratização de cultura, educação e bem-estar social.

Todavia, ao contrário, se o Movimento Modernista não tivesse acontecido, nós não teríamos Bossa Nova, MPB, Tropicália, Rock Nacional, e nossa arte seria uma mera reapresentação daquilo que acontecia no exterior, como fora durante o período colonial e imperial.

Reduzir a Semana de Arte Moderna a discussões do presente e por conta disso, apagar seu devido valor na História do Brasil, é no mínimo irresponsável. Pergunto, será que estes medíocres um dia mereceram um lugar de destaque por influenciar o presente, como fizeram aqueles modernistas? Tenho certeza que a resposta será não. Está na hora de nós brasileiros darmos valor a quem merece e mudarmos a cara deste país, a começar pelo Movimento Modernista iniciado em sua Semana de Arte de 1922.  Eles sim merecem estar no Hall dentre os brasileiros que de melhor produziram e, portanto, devemos a eles o nosso devido respeito e reverência, porque, foram eles que descobriram essa nação e nos ajudaram a compreendê-la melhor.

 ¹O Movimento Modernista só chegaria as terras lusitanas em 1930.

Escrito por Cristiano Viana Abrantes.
Graduado em História pela USP em 1998, atuou por 25 anos como professor de História. Atualmente trabalha como historiador do Município de Joinville desde 2015. Participou de inúmeros projetos escolares e atualmente tem investido na área de Literatura como escritor e dramaturgo.

O que você sabe sobre a História da Arte Cubana?

O “Arte na Cuca” inicia suas atividades de formação em 2022 com o curso “Uma viagem panorâmica pela crítica e história da arte cubana nos séculos XIX e XX”, ministrado pela professora cubana graduada em História das Artes, mestra em Estudos Cubanos e do Caribe, doutora em História: Mariurka Maturell Ruiz. Leia a entrevista sobre a professora clicando AQUI.

Os encontros serão online e estão previstos para o mês de março (02, 05, 16, 19) com as aulas gravadas, o que possibilita que os participantes acessem o conteúdo, caso não consigam estar presentes em todas as datas. O investimento é de R$150 (+ taxa) e para garantir uma das 20 vagas disponíveis, basta entrar no Sympla ou então, se você é apoiador mensal do Arte na Cuca pode adquirir seu ingresso com 10% de desconto pelo WhatsApp: (47 99695-3165).

O curso tem como objetivo expor as particularidades da arte cubana, por meio das contribuições de historiadores, investigadores e críticos da arte cubanos, em uma viagem panorâmica pela história da arte do século XIX ao XX, pelas etapas: Colonial, Neocolonial República e Revolução, até os anos 90. Nas aulas, o participante entrará em contato com interpretações sobre o processo de desenvolvimento dos fenômenos artísticos em Cuba e a conexão com os fatos socioculturais que serviram de base; contribuições e considerações dos principais críticos das artes plásticas de Cuba (Magaly Espinosa, Gerardo Mosquera, Desiderio Navarro, Antonio Eligio, Lupe Álvarez, etc.). Mariurka M. Ruiz também apresentará aspectos importantes do processo histórico-artístico cubano e as relações com a arte brasileira, utilizando como referência as experiências da pesquisadora e curadora de arte Lilian Llanes Godoy  (Bienais de São Paulo e Havana). 


Programação do curso “Uma viagem panorâmica pela crítica e história da arte cubana nos séculos XIX e XX”

02/03 – Quarta – Feira 19h às 21h
“As artes plásticas no período colonial: uma aproximação à gravura, pintura e escultura”.

05/03 – Sábado 10h às 12h
“As expressões artísticas em Cuba durante a República Neocolonial”.

16/03 – Quarta – Feira 19h às 21h
“A política cultural na Revolução cubana: incidência no desenvolvimento das artes plásticas nas décadas do 60 e 70 no século XX”.

19/03 – Sábado 10h às 12h
As dinâmicas na produção artística nos anos 80 e 90: contribuições formais e temáticas. Relações de continuidade e ruptura.


Sobre a professora Mariurka M. Ruiz

Professora Doutora em História pela UFSC (2021), Mestra em Estudos Cubanos e do Caribe (2015) na Universidade de Oriente em Santiago de Cuba – Cuba, possui graduação em História da Arte (2003), com 18 anos de experiência. Atualmente é membro da Cátedra de Estudos Afro-caribenhos da Universidade de Guantánamo; da Cátedra Nelson Mandela da Região Oriente, Cuba; do Observatório das migrações de Santa Cataria, UDESC; do Grupo de pesquisa “O campo cultural latino-americano e suas conexões”, UFSC e do Laboratório de História da África, UFSC. Têm experiência na área de História das Artes Cubanas e Caribenhas e em História. Atualmente, pesquisa as transformações urbanas, migração feminina e diáspora africana desde uma perspectiva de gênero.
Leia alguns artigos publicados pela professora:
Racismo em Cuba: uma análise do número 2/2017 da revista El Mar y la Montaña, em Guantánamo
Gênero, Ciências e experiências
Evento Diáspora negra: Cuba no início do século XX
Género y Mercado Laboral: Ejes de Desigualdades

Quando? Março/22. *
Quanto? R$150 + taxas. Via Sympla. Clique Aqui para inscrições.
Onde? Evento online no Google Meet.
*Garanta sua vaga e concorra a 1 aula experimental com dicas para redação de texto em espanhol. (Resumos, artigos ou projetos de pesquisa).
*10% de desconto para apoiadores mensais do site “Arte na Cuca”.
Entre em contato via WhatsApp 47 99695-3165. Celiane Neitsch.

Personagem criado por Humberto Soares, “O Jardineiro” vira capa de cadernos artesanais

A Pequeninus Grupo de Arte está com uma novidade para 2022. Acaba de lançar a coleção de cadernos “O Jardineiro”, personagem de histórias em quadrinhos criado pelo escritor e ilustrador Humberto Soares em 2018, e que agora virou capa de caderno escolar, produzido de forma artesanal.

Você pode escolher entre as cinco opções de desenhos, que são bem coloridas e inspiradas no personagem. Cada caderno vem com uma tirinha de quadrinhos, uma tag/marcador com uma ilustração plastificada, personalizado com nome e capa dura.
Para deixar o seu caderno ainda mais personalizado e exclusivo, é possível escolher o tipo de folhas para o miolo, como por exemplo: folhas para desenho (papel offset sem pauta) brancas, pólem ou coloridas.

Sobre o personagem

O personagem “O Jardineiro” foi publicado pela primeira vez em 2018, no jornal Correio Catarinense. As tirinhas em preto e branco eram publicadas uma vez por semana. Mais tarde ganharam cores e permanceram nas páginas impressas do jornal até 2020.

A ideia brotou e criou raízes na imaginação do artista Humberto Soares, em forma de arte sequencial. Uma homenagem aos avós maternos do artista, já que quando criança, adorava passavar as férias na casa dos avós. Ele transportou seu personagem exatamente para casa onde seus avós viveram durante muitos anos, uma casa de madeira azul claro, com um quintal que remetia a um lugar encantado, cheio de novidades e aventuras. Com gramado enorme, bem verde e pedras brancas enfeitando ao redor da casa, árvores frutíferas, verduras, flores e folhagens. Humberto sempre sonhava com a casa.

Ilustração “O Jardineiro”

Mesmo a casa dos avós não existindo mais, permaneceu viva na sua memória, imortalizando-a nos quadrinhos, transportando para os cenários a antiga casa de sua avó e o também o quintal/jardim que povoa até hoje a imaginação do autor.
A HQ “O Jardineiro” mostra uma família diferente, formada por uma avó e seu neto, ele é um legítimo “filho de vó”, assim chamam as crianças que são criadas pelas avós. Moram sozinhos e passam boa parte do tempo no quintal e no jardim, plantando, cultivando e colhendo. Ela é uma negra, benzedeira, jardineira, guerreira que criou seu neto sozinha e ensinou e ainda ensina a sabedoria das plantas, ele um menino branco, com 8 anos, nasceu praticamente no jardim, talvez ele seja o menor jardineiro que se tenha visto até hoje.
As suas tiras de quadrinhos agora são publicadas nas redes sociais do artista e da Pequeninus.

Para adquirir os cadernos

R$ 20 – 1 Caderno | R$ 50 – 3 Cadernos | R$ 80 – 5 Cadernos (+ frete).
Contato: 48 99924-1557 | 48 999049570 (Alex ou Humberto) – @pequeninusgrupodearte