Somaa lança seu primeiro álbum nas redes e em formato físico

O mundo quer te enganar é o primeiro álbum completo da banda Somaa e já pode ser acessado através de plataformas virtuais como Spotify, Deezer, Apple Music/iTunes, Amazon Music e Google Play. Lançado pela Monstro Discos também em formato físico com tiragem restrita, o CD do grupo formado por Rafael Zimath (voz e guitarra), Nedilo Xavier (baixo) e Tiago Pereira (bateria) marca o ponto mais alto de uma discografia composta por alguns singles e videoclipes, um DVD (Ao vivo para ninguém), três EPs (Primeiro, Colisão & outras histórias ordinárias e Pequenos poderes) e um CD compartilhado com a banda Sylverdale (Clube da distorção e quebradeira, vol. II).

O disco é o primeiro registro cheio na carreira do Somaa e surge como o resultado de uma pré-produção atenciosa, de um período de gravação em São Paulo e de um lançamento garantido, em grande parte, por uma campanha de financiamento coletivo. A composição das primeiras das onze canções que integram o álbum teve início em 2016 e se estendeu até o final de 2017, nas sessões imersivas gravadas por Gabriel Zander (que produziu Autoramas, Vivendo do Ócio e Menores Atos, entre outros artistas) no Estúdio Costella, em São Paulo. A partir de maio de 2018, o grupo joinvilense mobilizou apoiadores pelo Catarse e reuniu fundos para a finalização do disco que traz capa com a arte de Pedro Gonçalves. O mundo quer te enganar foi finalmente lançado para venda e audição via streaming nas plataformas virtuais no dia 17 de julho, seguido de uma prensagem limitada de CDs pelo mesmo selo Monstro Discos que, há vinte anos, lançava Blue beach monster, coletânea em vinil roxo de sete polegadas com as bandas Bendis, Skabide, E a Vaca Foi Pro Brejo e Butt Spencer (a primeira banda do guitarrista Zimath).

O mundo quer te enganar é um disco cheio de panoramas visuais, de construções roqueiras que emulam espaços, situações e ambientes sempre renovados a cada audição. A alternância de climas é tão grande quanto o número de colaborações de músicos convidados e constitui uma sonoridade áspera e concisa muitas vezes equilibrada por sutilezas de arranjos, timbres e andamentos mais sofisticados. Uma dessas modulações imagéticas mais empolgantes está justamente no miolo do disco, quando “Pressa, etc” acelera a máquina sônica do Somaa a níveis atmosféricos, alcança altura e velocidade de cruzeiro em “Profissão de urubu” e, depois, cai pesada, literalmente, em “Paraquedas – Para elefantes”, de onde sai rastejando, cautelosa, em “Meu querido lado esquerdo” para dar início a outro percurso sonoro-visual que se cumpre até o final do álbum.

Por e-mail, o guitarrista e vocalista Rafael Zimath e o baterista Tiago Pereira conversaram com o ARTE NA CUCA sobre o disco, sobre os detalhes de composição e gravação de O mundo quer te enganar e também sobre a cena cultural que o Somaa ajuda a construir e por onde faz sua música circular.

Como se deu o processo de composição e gravação de O mundo quer te enganar? Como funciona o Somaa por dentro quando se trata de construir a própria música?

Rafael Zimath: O Somaa surgiu em 2011 com o propósito de fazer música que fosse orgânica, não demasiadamente pensada e que pudesse ser amadurecida nos palcos, ao vivo. Assim, naquele momento, um álbum era a última das nossas prioridades. Em 2014 tive a oportunidade de trabalhar produzindo o segundo CD da banda Fevereiro da Silva e este trabalho reacendeu algo dentro de mim: me dei conta que eu sou um compositor de álbuns. Me encanta, como ouvinte, a maneira que um álbum pode apresentar uma experiência completa de um artista, o modo como as músicas podem se entrelaçar. Entendi que estou no meu melhor quando tenho esse input criativo, a tarefa de construir um painel completo. Então, depois de vencidos alguns projetos em andamento (o DVD Ao vivo para ninguém, outro EP), entrei em 2016 com esta meta do Somaa gravar o seu álbum – um disco que registrasse a nossa consolidada sonoridade e que também pudesse ser o melhor trabalho que conseguíssemos conceber. A primeira coisa que decidimos foi gravar em regime de imersão. Eu já sabia que algo acontece quando uma banda inteira se tranca em estúdio durante 12 ou 13 horas por dia e fica totalmente focada em gravar um disco. Todos participam, ideias fluem, há um melhor aproveitamento do esforço e, com sorte, aquele momento intangível de uma performance pode aparecer e ficar registrado para a eternidade em um pedaço de plástico ou qualquer outra plataforma virtual disponível. Também decidimos raspar as economias, apostar outro tanto do nosso próprio dinheiro e gravar em São Paulo, no estúdio Costella, com o Gabriel Zander. Eu conheço o Bil há mais de 20 anos e há pelo menos uns dez penso em gravar com o cara. Se demoramos este tempo todo para lançar um álbum, a gente queria que o troço todo ficasse foda. Então, tentamos gravar a banda ao vivo e sobrepomos detalhes posteriormente, algo que também não tínhamos feito. A gente queria uma gravação orgânica, na cara, com bastante ambiência ou espectro espacial. Posso dizer que acho que deu certo, sem soar muito bobão?

Tiago Pereira: Nós ficamos durante quase todo o ano passado nos encontrando semanalmente (às vezes até duas vezes por semana) pra arranjar e ensaiar as músicas do disco. O Rafael é a principal força criativa do Somaa. Quase tudo que tem nesse álbum em termos de harmonia, riffs e letra foi o Rafael que compôs e nos mostrou. Eu e o Ned contribuímos com detalhes de estrutura, dinâmicas e pouca coisa no texto. Tem bastante esforço de pré-produção no disco. Nós queríamos chegar no estúdio com as músicas tinindo. Valeu a pena o esforço.

Rafael Zimath: Eu escrevo uma quantidade razoável de música, semanalmente. Algumas letras também, mas em volume desproporcional ao que tenho de ideias musicais. Então, normalmente, eu levo o material para a banda, apresento e a gente monta os arranjos (Tiago ajuda muito com o texto, como fez em “Eu sou um terremoto” e “Desapego”). Este processo coletivo é fundamental porque a gente busca maneiras diferentes de representar/arranjar as composições que não sejam fáceis ou triviais, mas também sem nos alongarmos muito nisso. Neste aspecto, penso que o arranjo é algo que nos interessa muito, uma faceta da composição que pode oferecer caminhos muito diferentes do que a música inicialmente pode indicar. Quem tiver a oportunidade de ouvir as demos das músicas do disco, vai perceber que tem muita coisa que mudou ao longo do processo. Algumas canções tiveram cinco ou seis arranjos diferentes (ora arrastadas, ora diretas, etc).

Em que medida o novo trabalho se aproxima e em que medida ele se afasta dos discos que a banda lançou antes?

Tiago Pereira: Parece que ter ficado vários meses ensaiando e ouvindo as músicas enquanto elas foram sendo construídas contribuiu muito pra chegarmos às melhores versões possíveis. Nós pudemos fazer esse trabalho de depuração dos arranjos com bastante calma, ao contrário das gravações anteriores. Penso que temos belas músicas gravadas antes, mas é nesse álbum que está o melhor conjunto de canções que já fizemos. Outro diferencial do disco é que o Rafael está em seu melhor momento como intérprete das próprias músicas. A performance vocal dele cresceu muito.

Rafael Zimath: Em comparação com o que já gravamos antes, me parece que o aspecto central da sonoridade da banda está lá: o peso, os riffs, o gosto pelas harmonias não-ortodoxas, os arranjos acidentados entre bateria-baixo-guitarra, o lirismo ácido, reflexivo e existencialista. Os trabalhos anteriores também apresentavam estes elementos, afinal é quem somos como banda, como músicos. Isso não mudou. A grande diferença foi o processo de gravação, a imersão, o desejo de extrair o melhor resultado possível antes de gravar e enquanto gravávamos. Acho que outra diferença é também o fato de eu ter acionado o botão “Compor canções que formam um álbum”. Então, colaborei com músicas que, talvez, isoladamente, não tivessem sido criadas. Algumas foram escritas justamente para se contrapor àquelas já acumuladas em estoque para este álbum.

Que motivos ou temas (influências, referências, fatos…) interessam ao Somaa quando se trata de escrever letras e compor a parte instrumental das canções? De que modo esse conjunto de fatores também pode se transformar em uma ideia visual para a capa do disco e para os clipes?

Rafael Zimath: Quanto às letras, penso que o mundo como ele é ou como parece ser, interessa demais. A dinâmica das relações (interpessoais, sociais, etc), a interação com a tecnologia e seus múltiplos efeitos, as vidas de aparências, a comunicação, o papel da ciência, o desejo de encontrar a si mesmo nesta insanidade que é estar respirando o ar de 2018, no Brasil e neste planeta “Eu”. A vontade de ter uma vida abundante de arte, que não seja superficial, a busca pela reinvenção e a aceitação também de quem és, a manutenção das relações de verdade, a perseguição dos sonhos. Tento escrever sobre coisas diferentes ou de maneiras distintas, mas dizem que os autores/escritores acabam reproduzindo os mesmos dois ou três temas que os definem como artistas, então há, evidentemente, assuntos que voltam porque as coisas giram, mas às vezes param no mesmo lugar. Estes temas, esta maneira de ver as coisas, é o nosso ethos como artistas, então se relacionam diretamente a outras criações da banda como as artes, os vídeos, etc.

Tiago Pereira: O Rafael tem uma maneira muito peculiar de escrever. A poética dele carrega um certo ceticismo cortante, sem sentimentalismos e com uma certa agressividade. Eu nunca perguntei o que o motivou a escrever determinada música ou parte de música, mas suspeito que ele direcionou muitos versos a pessoas com as quais ele parece não ter tido boas experiências. Eu até brinquei que o disco poderia se chamar Música contra pessoas. Na parte instrumental essa agressividade comedida também aparece: há momentos de dissonância, distorção e ruídos, mas também há melodia e momentos mais solares. Creio que o Pedro, que fez a arte do CD, captou bem essa combinação (mas confesso que achei todo o projeto gráfico mais impactante e verborrágico do que a sonoridade do disco).

Na visão de vocês, como se estrutura o cenário rocker em 2018? Qual é o ambiente por onde a presença do Somaa circula?

Tiago Pereira: Eu percebo um aumento de eventos de música autoral em Joinville. Há o Quinta Independente (cinco edições até o fim do ano), o projeto Autorama (três edições ainda em 2018), a festa Autonom(a), shows periódicos no Garage, na Casa 97 e outros. É nesse circuito que pretendemos dar as caras periodicamente, além de tentarmos tocar ao menos nas principais cidades próximas e em algumas capitais (Curitiba, São Paulo). Não crio expectativas para além disso.

Rafael Zimath: Esta é, talvez, a pergunta mais difícil. Eu vejo que, desde sempre e como nunca, as cenas fortes (do metal, do rap, etc) são aquelas setorizadas. Na minha cabeça, o Somaa acaba sendo prejudicado por não estamos enquadrados dentro de um setor específico, nosso rock é um blend – diriam os gourmetizadores. Por outro lado, isso é um diferencial em um universo repleto de informação – na maioria, rasa. A cena em Joinville está bem movimentada, algumas casas abrindo espaços para a música autoral e a gente está dentro desta movimentação, mas ainda temos muitas perguntas para responder: como criar uma maneira eficiente de se comunicar? Como encontrar um canal eficiente para se comunicar com o público? Estamos tentando descobrir tudo isso. Você publica o cartaz do show no Facebook, mas quem não recebe a informação, não fica sabendo do evento e não vai.

Tiago, o teu trabalho como músico se espalha por bandas e projetos de diferentes sonoridades e propostas. Em que medida a música do Somaa se encaixa nesse panorama?

Tiago Pereira: O Somaa é a banda em que eu coloco minha identidade como baterista, minha assinatura. É onde eu posso criar à vontade, pensando em fazer arte mesmo. Isso me completa muito. Na maioria dos outros projetos não tenho essa mesma liberdade – nem caberia, creio. Não me vejo tocando apenas cover ou apenas gravando em estúdio pra outras bandas. O Somaa faz eu chegar muito próximo daquele desejo adolescente de ser músico e isso me faz muito bem.

Rafael, tua colaboração com a Monstro Discos já vem de longa data. Como você analisa o papel dos selos independentes no cenário de uma música que, quanto mais se massifica e se padroniza, menos se encontra encarnada nos formatos tradicionais?

Rafael Zimath: Pois é, na verdade essa parceria existe e não existe durante este tempo todo, já que se limita a um disco lançado em 1998 (com o Butt Spencer) e este último trabalho do Somaa, agora em 2018. Mas sempre continuei acompanhando os caras, curtindo os discos que lançam, mantendo contato eventual. Os selos continuam e continuarão existindo, apesar de terem perdido a força e o mercado. Então, as condições para lançar materiais por selos estão encolhendo ainda mais para as bandas e os artistas. Mas sempre haverá público que curte essa maluquice que é criar música nova, lançar álbuns – ou é só o meu lado otimista mandando o pessimista calar a boca.

Tiago, você desdobra a atuação do músico não só como artista, mas também como divulgador do circuito, ativista da cena, professor e promotor do trabalho de outros músicos. De que forma o lançamento de um disco apenas no formato virtual pode materializar esse trabalho e mapear lugares, ocupar canais, servir como conexão entre diferentes cenários?

Tiago Pereira: De fato, eu me esforço para contribuir com a “cena” da cidade. Desde que comecei a tocar eu ouço a lamúria de que “Joinville não tem nada”, que qualquer outra cidade é mais atraente e rica musicalmente. Enfim, isso pode ser parcialmente verdadeiro, mas eu não consigo me conformar pelo simples fato de que eu moro aqui e quero viver numa cidade com o máximo de produção musical possível. Reconheço que tenho uma queda por causas perdidas, já que os desafios pra se criar uma cena e um circuito por aqui são grandes. Mas eu sigo fazendo o que está ao alcance. E percebo avanços: existe uma infinidade de bandas compondo, músicos que só tocavam cover estão começando a divulgar seus trabalhos, casas que antes só tocavam cover (Didge, Porão da Liga, Bovary) já estão aceitando música independente, em alguns shows pode-se ver o público cantando as músicas das bandas e até em barzinhos já se pode ouvir cover de músicas de Joinville – o que é simbolicamente muito importante. Eu imagino ser possível criar um ambiente em que fazer música própria seja o caminho natural para os músicos e as bandas. Acredito ser possível construir esse ecossistema favorável à música independente, com lançamentos frequentes e de qualidade, com periodicidade de shows, atraindo artistas relevantes de outras cidades – o que leva à qualificação dos artistas daqui. Claro, tudo isso é a longo prazo. Nesse contexto, um lançamento em formato digital já pode ser considerado uma contribuição ao caldo, mas o Somaa também vai lançar o formato físico do álbum.

Rafael, tua música foi gravada e compartilhada em todas as últimas mídias contemporâneas (radiodifusão, fita cassete, vinil, CD, arquivo digital, streaming). Que tipo de sabedoria ou experiência essas mudanças todas te deram? Como essas tecnologias influenciam ou condicionam a tua música?

Rafael Zimath: O que aprendi é que existem vários caminhos para a música, cada qual com o seu pró/contra a se anunciar para cada perfil de ouvinte. A música pode trafegar em todos estes formatos que, de outro lado, não se excluem. Pessoalmente, me atraem os formatos que envolvem a interface física da música. Embora seja um usuário frequente do streaming (convenhamos, a coisa toda é muito prática e pode ser utilizada em regime 247), a experiência de “segurar” a música que ouço ainda é muito importante. O conteúdo musical não encerra, por si só, a experiência. Eu sou este dinossauro que recebe injeções de serotonina ao segurar um disco bacana enquanto o escuta. Analiso a capa, encarte, letras, por isso sempre me interessei pela concepção da arte dos nossos discos. Quanto a esse ponto, acho que sou um cara do velho testamento, então estas novas tecnologias não influenciam ou condicionam a maneira como a minha música é concebida. Para mim, canções continuam sendo canções: pego a guitarra e o violão e um velho caderno repleto de anotações, memórias, ideias ou sequer as uso. Depois que a coisa se torna pronta, aí tenho um problema que é pensar na plataforma para veicular este produto acabado.

Para encontrar o Somaa nas plataformas virtuais, acesse:

Spotify: https://spoti.fi/2mmhPuF
Deezer: http://bit.ly/2ur18Ty
Apple Music/iTunes: https://apple.co/2uI6xET
Amazon Music: https://amzn.to/2Ju4UjF
Google Play: http://bit.ly/2L6hag0
Homepage: http://www.somaarock.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/somaarock/

Cobaia Cênica apresenta Benjamin – filho da felicidade na Ajote

A Cia. Cobaia Cênica de Rio do Sul apresenta a peça Benjamim – filho da felicidade no Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) no dia 25 de agosto, sábado. O espetáculo solo é escrito e interpretado pelo ator Thiago Becker, tem direção de Ricardo Rocha e direção musical de Rodrigo Fronza.

Com a participação da plateia, Becker encena a vida de Benjamim e a história de sua busca pela felicidade. A partir do texto original e das intervenções ao vivo do público, o espetáculo questiona a presença e a natureza desse sentimento e contextualiza essa busca constante pela satisfação no ambiente da cidade. De maneira interativa, Benjamim sugere a reflexão de que a felicidade talvez seja impossível em sua ilusão de plenitude, mas um estado de espírito que se concretiza na fugacidade do cotidiano.

Por e-mail, o ator Thiago Becker deu entrevista ao ARTE NA CUCA sobre os sentidos e os modos de criação do espetáculo. Confira:

Fale um pouco sobre Benjamim – filho da felicidade, peça onde o personagem conversa com o público sobre sonhos, objetivos e sentimentos.

O espetáculo Benjamim – filho da felicidade tem como principal objetivo fazer as pessoas se questionarem sobre o que realmente importa. A história do Benjamim na verdade é a história de muita gente. Várias pessoas foram perguntadas através de uma entrevista o que as faziam felizes. Então ela é baseada em muitas pessoas, em mim, em amigos e familiares, gente que eu não conheço e até matérias da internet. Todo mundo se reconhece nesse personagem porque ele é baseado em gente, em nós. A temática principal do espetáculo é sobre a incessante busca pela felicidade. Sobre o tempo que se gasta com essa procura e se realmente existe essa tal felicidade. Queremos causar uma reflexão de que a felicidade não se deve ser colocada como um objetivo de vida e, sim, como um sentimento que deve ser sentido e vivido diariamente, em todas as fases da vida, desde a infância até a velhice. Logo no início do espetáculo eu faço um pacto com a plateia, onde todos irão me ajudar a contar a história. Os personagens que rodeiam a vida do Benjamim são representados pelas pessoas que estão ali assistindo. É uma forma de incluir as pessoas na vida do personagem, de criar laços e também poder dar mais cor, desenhar essa história do Benjamim.

O ritmo do espetáculo é intenso. Como foi a criação da dramaturgia e a pesquisa da atuação?

A criação do espetáculo foi uma corrida contra o tempo. O diretor carioca Ricardo Rocha passou exatamente quatro semanas em Santa Catarina em processo de montagem. Já o espetáculo também é um jogo com o tempo. O desafio inicial era contar a história da vida do Benjamim do nascimento à morte em 60 minutos. Na verdade, esse jogo ainda está posto em cena, mas de outra forma. No dia-a-dia das pessoas, o tempo é quase um rival. O ser humano tem sempre questões negativas com o tempo, pode analisar. Quantas vezes usamos a desculpa que estamos sem tempo para fazer alguma coisa? Ou ficamos estressados por não ter mais tempo, ou quando esperamos por algo e dizemos que estamos perdendo tempo. E na verdade não é isso, a reflexão que usamos é oposta. O que importa é perceber que nunca perdemos tempo, que cada segundo de vida é um segundo a mais que ganhamos. Eu gosto muito de teatro físico, de ver o ator entregando toda sua energia para trazer vida à cena. Benjamim é um solo narrativo, uma espécie de monólogo, mas eu não gosto dessa palavra porque eu não estou ali sozinho. O público está sempre comigo, me ajudando. Prefiro o termo solo-narrativo pois eu, junto com o público, narro a história desse personagem com o auxílio do principal instrumento do ator que é o corpo.

DIA: 25 de agosto
HORÁRIO: 20 horas
CUSTO: R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia entrada)
LOCALIZAÇÃO: Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) – r. 15 de Novembro, 1383, no América

Um rio em aquarelas: entrevista com Silvana Pohl

A Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ) recebe a exposição A margem – um olhar sobre o rio até o dia 6 de setembro. A mostra coletiva conta com trabalhos em fotografia, vídeo, performance e instalação de 21 artistas que integram o grupo Parque da Bacia do Cachoeira. Em paralelo e utilizando como referência imagens fotográficas de A margem, acontece a mostra de aquarelas produzidas pela artista Silvana Pohl e também pelas alunas de seu ateliê Eugênia Lee, Solange Voos, Solange Prata, Sandra Lúcia Tanner, Tânia Mara Reis, Cristina Walter e Ingeborg Büchli.

Silvana Pohl conversou com o ARTE NA CUCA a respeito de seus primeiros contatos com a arte, sobre a persistência na profissão de artista e professora e sobre sua relação com a aquarela.

Qual é sua história com a arte? Em que momento percebeu que ela estava presente em sua vida?

Quando era criança meus pais não tinham condições de comprar materiais de arte. Eu ganhava o básico, lápis de cor e, no máximo, giz pastel mas nada de muitas folhas para treinar. Com aproximadamente 12 anos eles me matricularam na Casa da Cultura e lá tinha um ateliê livre de cerâmica com aulas ministradas pela professora Marli Swarowsky e quem nos auxiliava no manuseio do forno era o Mário Avancini. Fiz um ano de ateliê porque a ideia que minha família tinha era me matricular para aprender atividades funcionais e não artísticas. Eu queria fazer outras coisas diferentes. Enquanto meus colegas de turma aprendiam a modelar cabeças e vasos, eu tinha vontade de transformar o barro em bichos. Depois, aos 14 anos, fiz aulas particulares de pintura em porcelana com Lourdes Hardt. Nesse meio tempo casei, construí minha casa e iniciei um curso de desenho de perspectiva no Centro XV, onde permaneci por um ano. Já a pintura em tela eu aprendi observando o trabalho da minha irmã, mas foi muito autodidata, sempre fui intuitiva: para mim foi fácil aprender o tridimensional, o desenho era algo inato, mas sempre gostei de aprender. Também tive a fase de trabalhar muito e quase não conseguir me dedicar às atividades artísticas, pois fui funcionária pública durante 32 anos e lecionei para alunos de primeira a quarta série, além de exercer outras atividades dentro da escola.

Como você se descobriu como aquarelista?

No final da década de 80, lembro que passava minhas férias na praia do Ervino, local onde não havia muita infraestrutura. Portanto, sempre que voltava para Joinville tinha que trazer tudo de volta com medo de que a casa fosse roubada porque ninguém morava lá. Eu já gostava muito de pintar, mas precisava de materiais que fossem funcionais, pois telas e cavaletes não eram muito viáveis nessa situação. Percebi que a aquarela possibilitava essa praticidade, mas não entendia a técnica e naquele momento o que fazia era basicamente colocar tinha em cima do papel. Só passei a realmente compreender a técnica e explorar as possibilidades da aquarela quando iniciei minhas aulas no ateliê da artista Asta dos Reis, de 2003 a 2007, e depois disso fui para a Casa da Cultura onde continuei tendo aulas de aquarela com a mesma professora.

Você se considera uma artista figurativa? Até que ponto se permite ousar em suas pinturas em aquarela?

Na verdade meu trabalho é figurativo porque é a linha que escolhi seguir, mas por mais que eu tente controlar a pintura em aquarela, ela sempre me desafia e surpreende.

Como surge a ideia para cada novo trabalho seu?

A maioria das imagens são fotografias minhas, procuro fazer esses registros no final do dia para aproveitar a luz, às vezes passeando com meu cachorro. Estou sempre atenta aos detalhes: folhas, céu, nuvens, flores, tudo vira inspiração.

A aquarela permite erros?

Ela permite pouquíssimos erros. Inclusive, depende muito do papel, pois com muita celulose não permite erro nenhum, pode rasgar e começar do zero. Agora, se o papel tem mais fibra de algodão, é possível recuperar mas depende muito do pigmento que você aplica. Sempre falo para minhas alunas no ateliê que precisamos estar em um espírito de laboratório pois o erro serve para nossa experiência.

Como foi o processo de criação e desenvolvimento dos trabalhos que estão em exposição na AAPLAJ?

As aquarelas foram feitas a partir das fotos tiradas pelo grupo Parque da Bacia do Cachoeira, e eu e minhas alunas pensamos todo o desenho, a luz, as paletas de cores para desenvolver as imagens que fazem parte da mostra. Para tal é preciso ter certo domínio da técnica pois utilizamos a mesma imagem, mas modificamos as cores e as sombras para conseguirmos novos efeitos. Foi um trabalho de muita pesquisa, gratificante para todas nós.

Bruna Morsch lança livro e fala sobre vida, literatura e atitude

A escritora Bruna Sofia Morsch lançou o livro Van Ella Citron na sexta-feira, 20 de julho, com sessão de autógrafos e conversa com os leitores nas Livrarias Curitiba do Shopping Mueller. Publicado pela editora Micronotas, o romance trata da transformação dupla na vida da personagem que lhe dá o título: de universitária a garota de programa em Metrópolys, de iniciante a maior heorína entre as mulheres da Ilha das Viúvas, Van Ella luta para não ser enquadrada em um perfil único. A história propõe reflexões sobre a busca por status, sobre reconhecimento, sobre cultura machista e sobre feminilidade.

Bruna Sofia Morsch é escritora de contos, poesia e romance. É professora e psicóloga, pós-graduada em Psicanálise. Van Ella Citron é seu romance de estreia e foi apontado como um dos dez melhores livros de 2017 em uma lista de novidades e lançamentos de pequenas editoras elaborada pela equipe e pelos críticos do site São Paulo Review. A autora conversou sobre a vida e sobre a literatura com o ARTE NA CUCA algumas horas antes do lançamento.

Fale um pouco sobre o significado de Van Ella Citron para a sua trajetória artística e pessoal.

Minha trajetória artística começou por influência da minha mãe, que sempre esteve envolvida com a arte. Eu sempre gostei de desenhar como um hobby, nunca havia pensado em encarar isso como profissão. Foi na adolescência, durante meu processo de transição e confusões em relação à minha sexualidade que comecei a escrever. Dessa escrita surgiram dois romances que não prosperaram, pois acabei me cansando deles. O ingresso no curso de Psicologia caiu como uma luva e foi muito interessante conhecer a diversidade das pessoas. No final da faculdade saí da minha primeira profissão, passei por um momento bastante confuso relacionado a questões familiares e à minha própria identidade de gênero, num processo de descoberta. Estava muito confusa, mas sabia que precisava me formar e abrir minha clínica. No meio disso tudo, decidi voltar a escrever, mas a ideia era partir para as crônicas, dando início à Ilha das Viúvas, lugar que a Van Ella mora e que nasceu de um blog. O projeto de transformar as crônicas em livro deu-se no início do meu processo de transição e, no meio do livro, já com o nome de Bruna, percebi que a personagem falava muito de mim, muitos dos conflitos da personagem vêm da minha subjetividade e me concretizavam enquanto mulher e enquanto escritora.

Quais foram as referências ou inspirações para o seu livro? Em que medida ele é autobiográfico?

As pessoas pensam que todas nós, mulheres transexuais, somos ou já fomos prostitutas. Não vejo nenhum problema nisso, mas eu não chego para um sujeito e pergunto “ah, você é médico, né?”. O preconceito está intrínseco. Penso que o livro é autobiográfico quando ele traz referências da minha personalidade de uma maneira fantasiosa, maquiada, leve mas glamorosa, porque viver na pele o que a Van Ella vive é muito difícil. Quando penso na questão estética do livro, as inspirações são referências cinematográficas, principalmente os filmes de Quentin Tarantino e os quadrinhos Sin City além, claro, da psicanálise.

O abandono de uma vida considerada perfeita, o choque da realidade das ruas, o trabalho como prostituta…Como esses temas afetam Bruna Sofia Morsch?

Muitas pessoas ficaram chocadas com o início do livro porque a personagem abandona tudo para levar uma vida muito diferente em um ambiente de crimes e de prostituição. Não conseguem compreender os motivos para ela fazer isso. Com Van Ella Citron tento trazer para o livro o caminho inverso dessa visão de mundo capitalista, da busca pelo status perfeito e de que temos que ser sempre bem sucedidos em todas as áreas da vida. Eu não fiz essa saída para o campo da prostituição para me resolver, mas me afeta justamente quando penso quais são os preços que pagamos pelas nossas decisões. Muitos pensam que estou num lugar maravilhoso por ter uma família que me apoia e por ter meu emprego, mas a invisibilidade relacionada às mulheres está em todos os lugares, mesmo em uma simples conversa. O discurso machista está presente em qualquer boca.

Sua personagem se constrói como mulher num sentido contemporâneo, mas também está presa a angústias e questões mal resolvidas de uma vida privilegiada. Para você, o que é ser mulher?

Penso que essa passagem da menina para tornar-se mulher não se trata de uma questão cronológica, de estar muito bem elaborada com a menina que se foi, com a mãe que se tem e com esse afastamento da figura da mãe. É quando passamos a nos reconhecer além daquele lugar que nos faz filha de alguém. Ser mulher é entrar em contato com a sua feminilidade e ter de se haver com o fato de que a mulher é um sujeito castrado. É alguém que entra em contato com seu próprio saber e se aventura sem medo do diferente, daquilo que não sabe.

Van Ella Citron se transforma numa espécie de justiceira contra a máfia e o governo sem medir consequências. Como essa transformação radical auxilia a descoberta do “eu” interior e psicológico da personagem?

Algumas pessoas que me apoiam no projeto e que também leram o livro falaram que a personagem Van Ella é um diamante com várias facetas e que age conforme a luz bate nela. Outras falam que se trata de um sujeito que ainda não está constituído, sendo assim uma dúvida. Também acho que nesse primeiro livro ela é muito introdutória e está se descobrindo, vivendo um período de transição que é a passagem da adolescência para a vida adulta, todos os problemas e descobertas que essa mudança traz como a impulsividade do não saber viver e o que fazer com isso. Mas ela acaba fazendo algo grandioso, que talvez tenha um preço.

As revelações finais sobre a identidade da personagem nos faz pensar sobre inclusão e representatividade do público LGBTQ+ na cena literária. Como você analisa esta questão?

Já tive muita cobrança social para estar sempre militando e falando sobre ser uma mulher transexual, mas não quero que a transexualidade apareça antes do meu nome ou de quem sou como pessoa. Isso é algo que acontece muito com quem levanta bandeiras: acaba apagando o sujeito. Acredito que o fato de estar lançando um livro e estar circulando em outras profissões, transitando de uma forma diferente do que se espera de uma mulher trans já é o suficiente. Não preciso militar ainda mais do que aquilo que já estou fazendo espontaneamente. Quero alcançar leitores além da bandeira LGBTQ+. Um dos meus objetivos com esse livro é minimizar a transexualidade enquanto algo gritante para a sociedade. Acho que esse discurso do “me engulam” e essa gritaria do “me aceitem” são efetivos para conquistar direitos, mas completamente fracassados para fazer relações de conversas e travessias de encontros entre sujeitos. Penso que a militância vem das questões da relação com o judiciário, não com as relações de amor.

“Dançando na rua” quer agitar o calendário da dança em Joinville

Realizado nos últimos domingos de cada mês na Rua das Palmeiras, o projeto “Dançando na rua” promove neste dia 27 de maio a sua segunda etapa. A iniciativa pretende agitar a dança joinvilense ao longo de todo o ano e mobilizar um cenário que parece ganhar visibilidade apenas em julho, durante o festival. O Arte na Cuca conversou com o bailarino, professor e produtor Jailson Cordeiro, um dos organizadores deste projeto que tem o apoio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (SIMDEC).

Vamos começar falando sobre você. Quem é Jailson Cordeiro? Qual é a sua história?

Uma pessoa que encontrou seu propósito na arte, na cultura e na educação. Alguém que tenta mudar as pessoas usando como ferramenta a cultura e a arte, principalmente a dança. Comecei a dançar em 2008, com a dança de salão. Estudei bastante, fiz vários cursos e congressos fora de Joinville e fiz o curso de formação de professor em dança de salão. Em 2014, comecei a trabalhar na área de produção cultural. Desde aí me senti mais à vontade na área e finalizei a especialização em Gestão Cultural em 2016. Em 2015 comecei a lecionar no Colégio Elias Moreira para o curso de Jovem Aprendiz e foi quando minha vida passou a tomar um propósito com mais sentido ainda. Estar em sala de aula é uma das minhas paixões, assim como a dança. Em 2017 comecei a fazer parte da diretoria da Associação de Grupos de Dança de Joinville (Anacã) como secretário e neste ano renovei o mandato por mais dois anos. Temos uma evento magnífico, que é o “Dança Joinville”. Concomitantemente, estou finalizando a segunda especialização, que é em Neuroaprendizagem. Este ano, depois de muito tempo, consegui colocar em prática um dos sonhos mais antigos que é o “Dançando na rua”.

Qual o objetivo do “Dançando na Rua”?

Entendemos que a dança sofre um processo inverso hoje: a dança vem da rua, da cultura popular, dos anseios das pessoas. Hoje em dia, faz dança quem vai para as escolas fazer aula, para aprender o passo certo ou errado. Não condeno escolas de dança, muito pelo contrário: minha intenção é e sempre foi fomentar público às escolas, mas o “Dançando na rua” tem esse desejo de levar as pessoas a sentir o que é dança (naquilo que eu acredito), ser sua essência para todos. Além disso, queremos fazer valer o título de Cidade da Dança. Joinville tem o maior evento do mundo no gênero, mas as pessoas da cidade precisam dançar. Acreditamos que o projeto evidencia uma das maiores identificações da população com a cidade.

O projeto terá mais sete edições. Todas elas serão na Rua das Palmeiras?

Sim, todas as edições serão na Rua das Palmeiras. Escolhemos a Rua das Palmeiras como local principal, exatamente por ter um vínculo muito forte com a cidade. A identidade da cidade é intrínseca à Rua das Palmeiras e à dança.

Quem está por trás deste projeto?

A idealização foi minha. Penso nele desde 2014, mas conto com o apoio de outros dois professores que estão comigo desde o início, inclusive como proponentes junto ao SIMDEC, que são Fábio Simões (de dança de salão) e Jhon Helder (de danças urbanas). A produção cultural ficou por conta de minha empresa, a Mais Cultura Gestão Cultural. Temos também como apoiadores um designer que é o Marcelo Oliveira e uma parceria para alguns vídeos com a Dutra Filmes.

Como é a rotina de ensaios de quem trabalha com dança?

Temos vários perfis de profissionais de dança. Tem aqueles que são donos de escolas ou de grupos de dança, aqueles que lecionam em várias locais ou escolas diferentes, aqueles que não trabalham somente com dança, enfim, vários perfis. Creio que a maior dificuldade esteja na trajetória até você se tornar profissional de dança. Não existe regulamentação ideal para a área. Existe muito preconceito também com quem escolhe seguir na área, o que gera desconfiança e falta de credibilidade. Quem nunca teve de ouvir a frase, “você só trabalha com dança?”

Além do “Dançando na rua”, tens algum outro projeto, curso ou apresentações futuras para Joinville?

Tenho vários. Temos o “Dança Joinville”, que já é uma mostra consolidada, com quase dez anos de história, para quem estamos dando um novo rumo a partir deste ano. Temos também algumas ideias na gaveta, como o “Festival de danças urbanas Urban Cult”. Tenho projetos também em outras áreas além da dança, que são a “Biblioteca de muro” – que são bibliotecas abertas à população que ficam em muros de casas – e também o “Poemas em código”, que utiliza a tecnologia do QR Code para democratizar o acesso à poesia. Existem muitas outros projetos que as pessoas me procuram para dar uma ajuda ou orientação. Estou sempre aberto a conversas.

Deixe uma mensagem aos leitores do Arte na Cuca.

Quero agradecer a todos que fazem parte do Arte na Cuca e agradecer aos leitores porque tenho certeza que sem eles a ideia não existiria. Quero dizer que o trabalho com dança na cidade ainda é muito longo e está longe do ideal, mas tem pessoas que querem fazer de Joinville, de fato, a cidade da dança. Ao leitor que tem este desejo, venha fazer dança na cidade – seja no meu projeto ou com outros profissionais da área. A dança pode transformar as pessoas, pode alavancar o setor criativo, o econômico e muito mais. E, claro, esperamos todos na próxima edição do “Dançando na rua”, que acontece no último domingo de cada mês às 15 horas na Rua das Palmeiras. A próxima edição já é neste domingo, dia 27 de maio.

Arte na Cuca entrevista o cantor Jesus Luhcas

SHOW DE LANÇAMENTO DO CLIP PODE ME CHAMAR DE BIXA

ONDE: Galeria 33 (R. Bento Gonçalves, 33, Glória), em Joinville

QUANDO: Sábado (12 de maio), às 18 horas

QUANTO: R$ 15 antecipados e R$ 20 na hora. Ingressos disponíveis em sympla.com.br/sounina.

 

O cantor e compositor Jesus Luhcas, maranhense, 24 anos, deixou São Luís há seis anos para vir atrás de um amor que veio morar em  Joinville. Por aqui também encontrou sua maior paixão, a música. O artista estará lançando o novo clipe da canção “Pode me Chamar de Bixa” neste sábado na Galeria 33. O clipe foi gravado no Hotel Trocadero nos dias 9 e 10 de março e envolveu uma grande equipe de profissionais entre cinegrafistas, bailarinos, produtores e técnicos. A equipe foi encabeçada pelo diretor paulista Mário Águas e pelo diretor de arte Monteiro Monteiro, da produtora WTF. A maior parte da equipe, que incluía estudantes de Cinema da Unisociesc, trabalhou de forma colaborativa. Em breve, o clipe “Pode me Chamar de Bixa” será lançado em São Luis, cidade natal do cantor. Nesta entrevista Jesus Luhcas nos contou sobre como surgiu a ideia para seu novo trabalho, o que ele está curtindo no cenário atual da música e muito mais. Confira!

 

Quem é Jesus Luhcas?

A melhor definição é humano, porque o tempo todo a gente está mudando. Esse videoclipe que vou lançar agora é muito diferente do primeiro videoclipe que eu lancei da música “E eu” que eu fiz com o Xuxa Levy. Naquele primeiro clipe eu estava em uma fase de autoconhecimento, de percepção do mundo, do que realmente vale a pena e isso tudo vai mudando com o tempo. Eu cito sempre a música do Raul Seixas “Metamorfose Ambulante”:  “se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou, se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor, lhe tenho amor, lhe tenho horror, lhe faço amor, eu sou um ator”. O que mais me atrai dentro da arte é poder explorar essas diversas facetas. Comecei cantando em um coral da igreja, então as minhas raízes musicais de fora da igreja, são do rock brasileiro, Renato Russo, Cazuza, Cássia Eller e Raul Seixas. “Pode me chamar de Bixa” é pop, mas tem uma boa pegada rock ‘n’ roll. Uma coisa que eu não abro mão é deixar uma mensagem positiva, algo que some na vida das pessoas, e não simplesmente uma música que vai fazer as pessoas dançarem. Tem que trazer um tipo de pensamento, critica, transformação da mente mesmo. Essa é a minha definição.

 

De onde você veio e por que escolheu Joinville para seguir sua vida?

Quando eu fazia parte do coral, eu me apaixonei por uma menina de São Paulo que veio morar aqui em Joinville. Não demorou muito eu vim atrás dela, com esperança de termos um relacionamento amoroso, que nós temos, sempre tivemos, desde que nos conhecemos. Somos bastante amigos e eu digo que ela não foi o grande amor da minha vida, mas eu encontrei um grande amor aqui em Joinville, que é a grande paixão da minha vida, a paixão pela música. Fui bailarino dos nove aos 18 anos, quando eu vim pra Joinville, cidade da dança, eu achei que iria trabalhar com dança, mas descobri aqui a paixão pela música. Cheguei aqui em Joinville no dia 16 de maio de 2012.

 

Como foi seu início na música e quem te inspirou no início da carreira?

Eu iniciei cantando no coral, ainda na escola, mas antes disso eu ganhei um violão de um amigo e esse presente foi meu companheiro. Aprendi a tocar violão sozinho e quem me inspirou, musicalmente falando, é um cara chamado Marcos Almeida. Ele não é muito conhecido, mas eu amo muito o trabalho dele. Ele é um cantor gospel, mas com uma pegada completamente diferente desses cantores que a gente está acostumado a ouvir. A música tem um poder de tocar, geralmente o que me toca é a poesia, a letra, a ideia por trás, e esse cantor tem músicas com conteúdo de reflexão. As pessoas precisam escutar Marcos Almeida.

 

Quem te incentiva e qual é a sua inspiração para continuar na música?

A nova cena musical é maravilhosa, o Brasil está em uma de suas melhores fases musicais, nós temos nomes que ainda são pouco conhecidos, que eu acredito que são nomes que só tendem a crescer dentro do cenário musical. Começamos a descobrir nomes como Liniker, AnaVitória, Francisco El Hombre, Pablo Vittar, que é um artista verdadeiro, que está fazendo muito mais que música, ele está fazendo uma transformação de mentalidade, de posicionamento político, inclusive. E artistas de Joinville eu tenho escutado muito a banda Napkin, Fevereiro da Silva, Ana Paula da Silva, Mario Ghanna. Tem uma galera muito boa aqui em Joinville.

 

Qual é o seu objetivo na música?

Viver de música e ser rico! Já teve momentos que eu cheguei a pensar que ser rico seria uma coisa ruim, mas hoje eu quero ter dinheiro porque o meu objetivo com a música é futuramente abrir escolas de artes, porque a arte mudou a minha vida, a arte me trouxe para um posicionamento pessoal de me reconhecer como ser humano individual, que tem desejos, histórias e isso tudo foi permitido através da arte. Tudo o que eu sei de arte, ganhei gratuitamente, estudei em escolas de dança, teatro, canto, tudo de maneira gratuita, e o que eu mais quero é proporcionar uma história melhor do que a minha para outras pessoas, outras crianças, adolescentes. A arte tem o poder de transformar e abrir a mente, libertar as pessoas de prisões que estão dentro da nossa cabeça. Aqui em Joinville eu já estou apoiando um lugar incrível chamado Centro de Transformação Cultural Arte Para Todos – IMPAR. Este trabalho que eu estou fazendo lá no Arte Para Todos, já é o meu flerte com o meu grande sonho.

 

De onde surgiu a inspiração para “ Pode me Chamar de Bixa”?

Eu estava indo participar de um concurso chamado “Cidade que dança”, eu tenho um estilo próprio de me vestir, estilo que eu escolhi. Quando percebi um carro diminuiu a velocidade, baixou o vidro e um cara gritou “bixa!”, eu olhei pra ele e disse:  “Oi, sou eu tudo bem?”, ele ficou sem reação, pois a intenção dele foi me ofender. Eu não tenho preocupação com sexualidade, sou bicho solto, eu apoio a causa LGBT porque eu sou gay quando eu quero ser gay, sou bi quando eu quero ser bi e hétero quando quero ser hétero. Sexualidade não é da conta de ninguém, eu é que tenho que dar conta da minha sexualidade, ninguém tem que se incomodar com isso. Muitos meios de comunicação não quiseram entrar nesse projeto porque ainda existe o estereótipo de que a palavra “bixa”, é uma coisa ruim, eu vejo que é necessário falar desse assunto tanto pelo fato de o cara ter me parado no meio da rua e usado a palavra para tentar me ofender, quanto pelo fato de que depois eu comecei com o projeto, ter ouvido “nãos” por conta dessa palavra, e é nesse momento que eu sei que tenho que seguir com o projeto. E outra: pode me chamar de bixa, sim!

 

Quando será o lançamento do álbum?

Em 20 de julho lançarei o EP em um show que vai acontecer aqui em Joinville na Lime Club. Esse EP vai trazer seis músicas, todas com misturas de ritmos, vai ter reggae com rap, rap com rock e pop com reggae. Gosto muito dessa mistura de ritmos.

 

Fale uma palavra que tenha grande significado para você.

Amor. É uma palavra que é banalmente usada, mas que tem um significado enorme.

 

Deixe algum recado para quem ainda não conhece seu trabalho.

Eu acho que a gente é muito distraído, todos nós. As pessoas fazem um alvoroço e enquanto está todo mundo olhando para aquele lugar, está acontecendo outra coisa escondida e nem sempre o que está acontecendo escondido é uma coisa ruim. Às vezes é o que realmente precisa de atenção, como alguns desses artistas que eu citei, que não são muito conhecidos. Existem artistas na mídia que são conhecidos e que são maravilhosos como Anita, Pablo Vittar, Simone e Simaria, Maiara e Maraisa, Luan Santana, todos estes grandes artistas nacionais reconhecidos, fazem um trabalho lindo, mas as pessoas precisam se atentar que existem outros artistas muito bons, nossa cultura é linda, temos outras fontes de arte tão boas. O recado é: se esforcem para não ficar comendo apenas aquilo que estão te dando, vivendo aquilo que estão te oferecendo. Sejam protagonistas das suas vidas!

ANC entrevista: Denise Torrens Nunes

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

Dedicada, determinada, mulher, mãe, esposa, artista, arteterapeuta e arte-educadora, Denise Torrens Nunes é tudo isso e muito mais. É alguém que sabe o que quer e corre atrás dos seus objetivos. Na entrevista que concedeu ao ANC falou sobre carreira, seu ateliê novinho em folha e principalmente sobre a descoberta de uma paixão: A arteterapia.

ANC: Como iniciou seu primeiro contato com as artes?

DENISE: A história é bem longa…(risos). Foi a partir das aulas da Casa da Cultura “Fausto Rocha Júnior”, quando resolvi fazer o  curso de cerâmica, paixão a primeira vista. Fiz o curso regular de três anos as aulas de cerâmica na modalidade ateliê, além de outros cursos, como o de porcelana, desenho, pintura, história da arte e tecelagem. Inclusive participei de um grupo de estudos em história da arte.

Vida que segue, trabalhei por muito tempo com a confecção de lembrancinhas para todos os tipos de ocasiões. Mas sempre envolvida com arte, montei um ateliê de festas, trabalhava com festas temáticas e lembrancinhas mas a coisa chegou a tal ponto que no final já fazia a festa completa, decoração, montagem, lembrancinhas e alimentação. Isso aconteceu até o momento em que falei para mim mesma que queria voltar a estudar e fazer curso de arte. O primeiro filho já estava criado e eu tinha mais tempo para mim, o ano era 1998.  Como eu já tinha a graduação em história, não precisaria fazer vestibular para iniciar um novo curso, naquele ano a FURJ estava mudando para UNIVILLE. Nessa empolgação toda, descobri que estava grávida do meu segundo filho, então dei mais um tempo, não era o momento certo.

Meu segundo filho nasceu prematuro e tivemos algumas complicações, meu bebê precisava de mim, da minha energia e presença, não consegui me dedicar as artes durante esse período e fiquei seis meses vivendo a experiência de ser mãe. Depois disso, tomei coragem para seguir outro rumo, uma fase de mudanças. Vendi todo o meu estoque de material para trabalhar com festas e terminado todo esse processo que foi cuidar do meu filho e de mim mesma, novamente coloquei em minha cabeça que eu queria me envolver ainda mais com arte, até que surgiu um curso de designer de interiores em Joinville – fui fazer o curso, me formei e trabalhei muitos anos na profissão, mas ainda não era a arte que eu tanto buscava.  

Mesmo trabalhando na área de design, não abandonei a cerâmica, sou associada da AAPLAJ (Associação dos Artistas Plásticos de Joinville) e participo do NAF (Núcleo Arte do Fogo), que é um grupo de ceramistas que se reune uma vez por semana e trabalha a argila, cada qual com sua poética, dentro de sua perpectiva artística, mas com trocas de experiências e muito empenho em prol da arte. Depois de todo esse tortuoso caminho, finalmente fiz artes visuais, emendei uma especialização em arteterapia, que me rendeu uma nova carreira profissional. Hoje posso dizer que estou realizada,  estou trabalhando em meu ateliê com cerâmica, tecelagem e ministrando aulas e ainda sessões de arteterapia.

 

ANC: O que te motivou a pesquisar e  a buscar formação em arteterapia? Nos conte um pouco mais a respeito.

DENISE: Acredito que  a arte faz parte da vida de todos nós. Vi na arteterapia  a junção de várias motivos para usar da arte como meio de transformação. O arteterapeuta trabalha com algo muito importante, o poder de criar.  Se baseia em várias formas de expressão artística com finalidade terapêutica .Sempre tive curiosidade sobre como a arte pode ajudar no autoconhecimento de cada pessoa.  A expressão artística pode revelar sentimentos e emoções muito profundos, pode ser aplicada a todos os públicos, de crianças a idosos. Meus público alvo no momento é justamente o idoso institucionalizado.  Após terminar o estágio da especialização, que fiz em um lar de idosos fui contratada para atuar junto a esse público. Num primeiro momento trabalhava apenas como arte educadora (pois ainda não estava formada) e agora já atuando  como profissional arteterapeuta. Confesso que estou me realizando, juntei minha paixão antiga com uma nova. Ser arteterapeuta é cuidar terapeuticamente por meio da arte.

É muito importante perceber como se pode fazer a diferença, principalmnete quando se trabalha com um público carente de atenção e afeto, que muitas vezes se considera a margem do convívio social e familiar. Foi um começo difícil, entre os idosos existia um certo preconceito,  ouve-se muitos comentários que desenhar e pintar é “coisa de criancinha” Mas com muita paciência e dedicação os resultados aparecem, cria-se um elo de confiança entre arteterapeuta e atendido que faz a diferença para o processo caminhar.

ANC: Com a finalização da especialização e do seu projeto de estágio, os grupos que você acompanha/atende  continua o mesmo?

DENISE: Tenho dois focos de atuação, um deles é no meu ateliê, onde atendo todo e qualquer público, trabalho com aulas de cerâmica, tecelagem e agora já formada e regulamentada como arteterapeuta, posso associar as aulas que mencionei com a arteterapia em ambiente de ateliê, pois ambas são modalidades muito expressivas e altamente terapêuticas, como também trabalhar somente com a arteterapia ,assim como outras formas de expressão artística. Cada atendido é único e ele define por qual processo quer passar, mas todas as pessoas que iniciam nas sessões de arteterapia preferem ficar trabalhando dentro desse contexto terapêutico no ateliê. Mas é livre e negociável, como fica melhor para cada pessoa.

 O segundo foco de atuação é no lar de idosos onde trabalho três vezes por semana. Atendo os idosos que já participavam do estágio bem como todos os outros, pois muitos são acamados e eu faço uma adaptação para fazer acontecer o processo arteterapêutico igualmente a todos.  Quando se trabalha com idosos tudo deve ser adaptado , desde o usos de materiais até a sessão propriamente dita. A participação é voluntária, hoje quando chego no lar para trabalhar não preciso mais passar de quarto em quarto para solicitar a participação dos idosos, normalmente já estão esperando  em uma ansiedade visível ,para fazer aula de artes, como eles gostam de falar. As atividades são dinâmicas e quase sempre bem aceitas, não gostam de alguns tipos de materias, como a argila, que eu particularmente como ceramista, gostaria muito de trabalhar, mas não funciona e quando quero trabalhar com modelagem, uso outros tipos de massa, é assim que se faz as adaptações, massa de sal, massa de trigo para fazer bolachinhas são ótimas para explorar aspectos do inconsciente, trazendo a tona um conteúdo que está muito bem guardado, é um conteúdo sombrio  nem bom nem ruim, que pode e deve ser resignificado em uma nova roupagem, promovendo a cura interior de cada um.

As linguagens mais aceitas por eles são desenho, pintura, recorte colagem e culinária, todos gostam muito.   O grupo as vezes sofre perdas, sempre estou competindo com indisposições, consultas médicas, visitas inesperadas entre outros fatores. Mas a participação é sempre voluntária, só assim com boa vontade que se consegue chegar  aos conteúdos que o insconciente reserva. Também fazemos passeios com os internos, todos os que tem condições de sair são convidados, é quase uma aventura em meio a cadeiras de rodas e andadores, mas uma experiência muito significativa para todos. Visitamos recentemente a exposição em que eu participei na AAPLAJ (“Memória de moças bem-comportadas” – 2018).

Na sua grande maioria os idosos nunca foram a uma exposição, ao cinema, ou ver o mar, ou mais simples ainda alguns deles nunca tinham usado lapis de cor, giz de cera – nem conheciam. Foram apresentados no momento do meu estágio. Eu uso muito material reciclado, eles ficam admirados quando eu falo que vamos pintar com pincel diferente, um pincel feito por eles, é muito especial, pois cada um consegue acreditar no seu potencial, dentro do seu contexto, e eu na função de arteterapeuta apoiando essa descoberta. Émuito gratificante apresentar algo tão novo, tão simples, a quem acredita ter poucas perspectivas.  Eu aprendo muito com eles, sempre comento com o grupo.

ANC: Logo na primeira pergunta você menciona que passou por diversas ocupações e trabalhou em áreas afins, com seu trabalho como arteterapeuta podemos dizer que finalmente a Denise se “encontrou” em uma profissão?

DENISE: Ah, com certeza! Eu penso que minha relação com a arteterapia já vem de muito tempo, pois quando fazia cerâmica desde os primórdios  do meu caminho como ceramista, já tinha esse contato mais íntimo e sempre me fez muito bem trabalhar o barro que é extremamente terapêutico. A argila por si só, já é um material fantástico, vivo, respeito muito esse material,  em que você consegue trabalhar até certo ponto, depois ele (o barro) diz: Chega! Agora sou eu. E então você não consegue mais fazer somente o que quer, respeitar o tempo da argila, ter paciência para que o processo aconteça. É assim na arteterapia também.

ANC: Como é essa sua relação com o barro?

DENISE: Respeito a vontade do barro. Trabalho em uma peça até certo ponto e quando vejo que está no limite, paro de mexer . Um exemplo fácil para que compreendam minha relação com esse material, é quando abro meu forno e percebo peças que estão trincadas. Não gosto de consertar,  de arrumar, aceito o que o barro e o forno me apresentam, o que o universo me entregou. As vezes chego no ateliê, vejo que algo não ficou bom, simplesmente jogo no chão e quebro e então vai virar outra coisa. Não sofro por algo que a princípio não deu certo da maneira que eu esperava. É um processo de carinho, doação e interação – “amor e ódio”.

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

ANC: Sobre seu ateliê, você iniciou fazendo atendimento terapêutico ou ministrando aulas de arte como estamos acostumados a vivenciar?

DENISE: Comecei somente ministrando aulas de cerâmica e tecelagem, que ainda acontecem, porém com o interesse maior na arteterapia, pois ainda estava cursando a especialização, então não tinha licença para aplicar as práticas terapêuticas, e eu ainda estava aprendendo como dar um suporte emocional a pessoa que busca uma sessão. Sempre fui e continuo muito ética. É preciso trabalhar de maneira muito consciente e cuidadosa, zelosa por todo o conteúdo que o atendido confia ao arteterapeuta,  pois muitos conflitos vem à tona. Conteúdo não verbalizados e expressos nos desenhos, nas pinturas, e em todo o tipo de material que disponibilizo. Falar não é necessário, pois muitas vezes verbalizar é muito difícil, um processo sofrido. Agora sim, certificada o espaço está aberto para o atendimento voltado ao lado terapêutico.

 

ANC: O que  podemos encontrar no seu ateliê?

DENISE: Encontrará um ambiente seguro, agradável  e com acessibilidade. As vezes não se sabe o que quer, mas na arteterapia somos livres para experienciar, livre  da estética, não existe feio ou bonito no contexto arteterapêutico. Toda expressão plástica é carregada de símbolos e esses símbolos após resinificados, o atendido tem condições de encontrar seu norte, seu equilíbrio.  Eu também possibilito experiências em tecelagem e argila, como aulas…mas tudo depende da necessidade e do que o atendido deseja. O meu objetivo é trabalhar o processo terapêutico rumo ao autoconhecimento, ao prazer de viver e de se cuidar terapeuticamente.

ANC: E as aulas dedicadas apenas ao ensino das práticas artísticas?

DENISE: Atendo em horários diferentes para cada situação. As aulas e as sessões podem ser em grupo ou indivdual, tanto a arteterapia quanto as aulas que visam apenas o ensino de alguma modalidade artística.

ANC: Como acontecem essas sessões? O aluno participa de aulas experimentais?

DENISE: A pessoa pode fazer uma aula ou uma sessão experimental, ou as duas situações.

ANC: Você também recebe crianças para sessões de arteterapia?

DENISE: Sim. Trabalho com todos os públicos.  O lúdico é muito explorado, a criança não tem preconceito, gosta de todos os materiais, lógico salvo em situações específicas de doenças  ou qualquer outra advesidade, mas tudo sempre pode ser – e é adaptado.

ANC: E quanto ao investimento e materiais?

DENISE: Vai depender do que a pessoa  procura e quer. Cada situação tem um valor, aulas de tecelagem tem um valor de mensalidade e taxa de material, a pessoa não precisa trazer nenhum material, tudo está a disposição no ateliê. Já a cerâmica tem igualmente um valor de mensalidade e a pessoa fica livre, pode comprar a argila e outros materiais no ateliê, e usar suas ferramentas, como pode usar as ferramentas que são disponibilizadas, queimas são cobradas separadamente. Trabalho com pacotes específicos para cada situação.

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

ANC: Quantas pessoas  é possível atender no ateliê atualmente?

DENISE: Posso atender grupos de 05 pessoas por sessão/aula, em todas as modalidades.  Além de ministrar aulas individuais se for da vontade do cliente.

ANC: E quanto aos horários das aulas e das sessões?

DENISE: As aulas  acontecem segundas das 08:30 as 11:30 e as terças das 08:45 as 11:45 hs. Para tecelagem e cerâmica respectivamente.  Para atendimento em arteterapia é agendado previamente. Porém os horários podem sofrer alteração conforme a necessidade.

ANC: Queremos saber um pouco mais da Denise artista, como está esse seu outro lado?

DENISE: Fiz minha primeira exposição individual em 2012, na AAPLAJ, participando do projeto “Lançamentos”, na época coordenado pela artista Linda Pool e que contou com a curadoria de Miriam da Rocha. Participo ativamente da associação, faço parte do NAF – Núcleo Arte do Fogo da AAPLAJ, que se encontra semanalmente, cada artista produz dentro de sua poética, mas as trocas de experiências entre as ceramistas são constantes. Uma vez por ano temos a exposição do grupo, nesse ano será em novembro, já comecei as pesquisas para essa exposição, atualmente sou a cordenadora do NAF na gestão 2018/2020.

Já na tecelagem desenvolvo tecidos com a interferência de materiais que podem conversar entre si, fios, lã, barbantes, e tudo a mais que pode servir para tecer.  Minha produção vai de carteiras de mão, bolsas, passando por vestuário, entre mantas, echarpe, chalés,são todas peças exclusivas. Mas no momento meu coração bate mais forte com e pela arteterapia. Porém, não consigo ficar longe da cerâmica e da tecelagem, sou muito inquieta, sempre procuro produzir mesmo que peças pequenas, é uma necessidade, funciona como minha terapia e me fortalece. Atualmente como artista, estou participando das exposições coletivas que acontecem na AAPLAJ em destaque a mostra que está sendo exibida no galpão da associação, a exposição “Proibido para menores de 18 anos – Favor não insistir. ”

ANC: Seu trabalho é sempre figurativo ou tem peças que seguem para a linha do abstrato?

DENISE: Depende muito do momento, mas minhas peças não são obras de grande porte, produzo peças em cerâmica de porte médio a pequeno,  não é um trabalho robusto, é mais rústico que delicado, mas gosto de interferir com materias diferentes e inusitados. Não existe peça com defeito, sim com efeito, me desafio cada vez que uma peça sai do forno com uma trinca ou uma esmaltação que não saiu como o previsto. É sempre uma surpresa abrir o forno e se defrontar com o resultado. Já tive muitas fases,  mas meu fio condutor é único, me vejo nas minhas peças, mesmo quando trabalho uma encomenda.

ANC: Para finalizar nossa entrevista queremos saber sua opinião sobre o espaço que a cerâmica e os ceramistas tem dentro das instituições de arte da cidade? (Vale locais alternativos).

DENISE: É ainda muito difícil. A cerâmica é uma arte que requer muitos cuidados na hora de produzir, pois o processo é longo, as peças demoram  para ficarem prontas. Além do que podemos perder todo o trabalho a qualquer momento, passar por duas ou mais queimas a altas temperaturas. Na hora de expor, também requer cuidados.  São peças sensíveis, existe uma preocupação em relação ao suporte, e onde serão expostas. E por fim existe ainda um preconceito em relação ao material, as pessoas desconhecem o valor da argila, desvalorizando a obra de arte feita de barro.  Os espaço são ainda escassos e muitos não apoiam a cerâmica como arte e sim apenas como artesanato, inviabilizando a exposição das obras.

ANC entrevista: Cassio Correia

Cassio Correia, ator, diretor, dançarino popular e produtor cultural, formado pela FURB,
adotou Joinville como palco de seus trabalhos há 10 anos. O ator que também é presidente da AJOTE – Associação Joinvilense de Teatro, trás em seu currículo mais de 30 espetáculos teatrais, somente com a “Cia Essaé”, são 14 trabalhos, o 15º com estreia prevista para o segundo semestre deste ano, intitulado“ A Última Aventura de Gilganesh”, que conta com direção de Henrique Sitchin, da “Cia Truks” (São Paulo).
Influente produtor da área cultural, Cássio está sempre com um novo projeto, idealizador do “ANIMANECO”, o Festival de Teatro de Bonecos de Joinville – evento que está em sua 2ª edição – tem início no dia 27 de abril, data em que também se comemora o Dia Nacional do Teatro de Bonecos.

O ANC conversou com o ator para saber um pouco mais sobre sua trajetória e principalmente para que a galera que nos acompanha, entenda um pouco mais a respeito de como é fazer teatro na nossa Joinville de tantos contrastes. Confere aí:

ANC: Como iniciou sua trajetória no teatro?
CASSIO: Sou natural de Jaraguá do Sul e a minha história com a cultura começou com a dança folclórica, desde criança fiz parte de grupos de dança e também de teatro na escola. Tinha uma colega do grupo de dança folclórica que fazia faculdade de teatro na época e comentou sobre o curso para mim, e como eu já gostava de teatro, já atuava na escola, sempre chamou minha atenção, mas naquele momento não tive a possibilidade de fazer. Fui convidado para fazer parte de um grupo profissional em Jaraguá, e assim que eu entrei no grupo, já iniciei a faculdade de teatro, em meados dos anos 2000.

ANC: E seus primeiros trabalhos se tratando do teatro profissional?
CASSIO: O primeiro trabalho significativo que eu tive foi um espetáculo chamado “O Patinho Feio” de formas animadas. Na época, existia na cidade de Jaraguá do Sul um festival de formas animadas, que atualmente foi extinto. A nossa Cia na época, não trabalhava com teatro de animação, mas como nós estávamos sempre envolvidos com a organização do festival, fizemos uma oficina com o argentino Sérgio Mercúrio e nesta ocasião, surgiu um personagem de sacolas plásticas e com as mãos que era um pato, uma figura muito bonita e interessante, a partir dali, nosso diretor que achou o personagem muito bom, montou “O Patinho Feio”, foi um dos primeiros espetáculos que eu me destaquei, fiz mais de 200 apresentações, participando do Projeto: Sesc Encena Catarina e vários festivais pelo Brasil, ali começou a minha história com o teatro de bonecos e com o teatro de animação.

ANC: Quais as dificuldades encontradas no início da carreira?
CASSIO: A questão da sustentabilidade, de você se manter, quando eu montei a Cia e também quando fazia parte de outro grupo de teatro em Jaraguá do Sul, tinha outros afazeres, dava aulas, só a Cia não dá conta, por isso que a gente está sempre cheio de projetos. Estou sempre trabalhando pensando no amanhã, produzindo muito.

ANC: Quais as maiores dificuldades atualmente?
CASSIO: Vou citar o mecenato do Simdec ,que é a captação dos recursos feitos pela renúncia fiscal de até 30 % do pagamento de Imposto sobre Serviços e Imposto Territorial Urbano de empresas. É uma maneira do empresário local incentivar e ter o seu nome ligado a projetos culturais que vão circular pela cena joinvilense. Existem muitas empresas em Joinville que não querem destinar o ISS mas qualquer empresa pode fazer isso, não precisa ser uma grande empresa, o mercadinho da esquina pode destinar 30 % do ISS do mês para isso porém é algo que não acontece e isso está relacionado com a falta de conhecimento sobre esse mecanismo, isso é umas das maiores dificuldades que os artistas enfrentam hoje em dia.

ANC: Vamos falar sobre a “Cia Essaé”, há quantos tempo ela existe?
CASSIO: A Cia surgiu em 2010, do desejo de três amigos: Jackson Amorim, Leticia de Souza e eu, nós três somos formados em teatro e na época, trabalhávamos no SESC. Tínhamos vontade de voltar pra cena e nos reunimos pra montar um espetáculo que foi “O Werter, Tempestade e Ímpeto”. A partir desse trabalho surgiu a “Cia Essaé”. A proposta da Cia sempre foi trabalhar com diretores convidados, embora tenhamos a formação, convidamos diretores de fora para virem a Joinville e dirigir trabalhos específicos.

ANC: De quantos espetáculos você já participou?
CASSIO: Cerca de 30 espetáculos, com a “Cia Essaé”, são 14 trabalhos que continuam em
cartaz. 

ANC: Quais são os seus planos para o futuro em relação a carreira de ator?
CASSIO: Eu venho caminhando e pesquisando muito o teatro de bonecos, é uma bandeira que estou levantando, e a “Cia Essaé” por ser a única Cia em Joinville que trabalha produzindo teatro de animação, além do “ANIMANECO”, traz junto com essa força de querer fomentar a linguagem, não só para crianças mas para adultos também. Meu objetivo daqui para frente é ter um solo na área de bonecos, e já estou pensando em alguns diretores que desejo convidar para trabalhar nesse projeto.

ANC: Já que entramos no tema, cite um espetáculo de teatro de bonecos que assistiu e te marcou profundamente.
CASSIO: Sem dúvidas foi, “O Princípio do Espanto”, da Morpheus Teatro de São Paulo, que vai estar aqui em Joinville dia 19 de maio, no Galpão de Teatro da AJOTE. Espetáculo muito premiado que já viajou por todo o país

ANC: Em razão da sua carreira como ator e produtor cultural, percebe a necessidade de abrir mão de momentos importantes da vida pessoal?
CASSIO: A vida pessoal direta ou indiretamente de quem trabalha com cultura, acaba sendo um pouco afetada, o relacionamento familiar, o amoroso entre outros. Eu de um tempo para cá, estou tentando priorizar estes momentos, dentro da minha disponibilidade, ou seja, muitas vezes já deixei de ir em encontros familiares por conta do trabalho e ensaios, agora eu tento me agendar pra poder estar mais com a família, que amo e tenho muito respeito.

ANC: Qual conselho você daria para quem deseja seguir carreira como ator?
CASSIO: Fazendo um paralelo a minha vida, eu comecei a trabalhar em área administrativa, porque meus pais queriam, trabalhei quase 10 anos da minha vida fazendo algo que não me deixava feliz, até que chegou o momento em que decidi tentar, se não desse certo eu voltaria para a área da administração. Mas o que eu gosto é disso, me realizo fazendo arte, estou caminhando para os meus 20 anos de carreira, deu certo! O conselho que eu deixo é se você tem essa vontade de ser ator/atriz , pelo menos você tem que tentar. É trabalhoso? É! Mas você está fazendo um bem para você e para outras pessoas, as vezes com determinado espetáculo você coloca um tema em discussão, que talvez aquela pessoa, naquele momento em que está assistindo precisa muito escutar e refletir sobre o assunto. Teatro é troca de emoções e sentimentos.

ANC: Como você percebe a aceitação e frequência do público joinvilense nos espetáculos teatrais?
CASSIO: A minha Cia trabalha muito com teatro escola, estamos com o projeto: “Literatura com Sabor- O gosto pela leitura”. São 6 escolas que a gente está levando para o mesmo grupo de alunos, três propostas de três autores brasileiros – Machado de Assis, Lima Barreto e Caio Fernando Abreu. Conversamos com a direção das escolas que participam do projeto, para que as mesmas turmas, com os mesmos alunos, assistam os três trabalhos, e no final a gente encerra com um bate-papo sobre a literatura dos três autores e sobre a questão do consumo de cultura, é um trabalho que visa a formação de plateia. Esporadicamente também levamos as escolas até a AJOTE, e em horário diurno, propomos uma troca de ideias, uma conversa com os alunos, e durante esse momento questionamos sobre quem está entrando no teatro pela primeira vez e quem já conhece o local, sempre com a intenção de fazer uma investigação para formar públicos. Eu venho trabalhando também em outro projeto com outros artistas que chama-se “eufaçocultura.com”, que desde 2016 cadastra escolas, ONG’s e Instituições carentes, para que possam levar esses alunos, essas pessoas para o teatro, pagos com o ingresso do “Eu faço cultura”. O projeto nos dá um retorno muito positivo e funciona como uma outra ação de formação de plateia. O joinvilense está começando a ter o hábito de ir ao teatro e tanto eu quanto outros artistas estamos trabalhando cada vez mais para que isso aconteça.

ANC: O que mais admira em um ator?
CASSIO: A capacidade que o ator tem de provocar discussões acerca de algum tema que as pessoas no cotidiano não param para pensar, e as vezes, se vê encenada naquela determinada peça, naquele espetáculo e de uma certa forma acabamos repensando em relação a algumas coisas, acho mágica a capacidade do ator poder falar e atingir um grande número de pessoas, isso sem dúvida é muito poderoso.

ANC: Em quais atores de teatro você considera fontes de inspiração?
CASSIO: Admiro muito o trabalho de Cias, temos um espetáculo de sombras, “ O carteiro” em que reconhecemos muito o trabalho da “Lumbra” Cia de Porto Alegre. A linha de objetos que estamos desenvolvendo foi inspirada no trabalho da “Cia Gente Falante”, também de Porto Alegre, O espetáculo “GilGamesh”, vai ser manipulação de bonecos de mesa, trabalho que respeito muito e que é desenvolvido pela “ Truks” de São Paulo. Falando de Joinville eu acho que o trabalho que a “Dionisos” vem desenvolvendo a tantos anos, é um trabalho muito significativo. Eu não tenho um ator especifico, me espelho muito no trabalho de Cias.

ANC: O que você mais gosta de fazer, atuar, dirigir ou produzir?
CASSIO:
Atualmente o mais forte é a produção, mas estar no palco atuando também é muito bom.

 

 

ANC: Você possui uma linha de trabalho? Ou procura diversificar?

CASSIO:Trabalhamos com três linhas: Teatro, palhaçaria e atuação, contação de histórias e bonecos, a linha da animação é a mais forte.

ANC: A maioria dos artistas em geral, mantém um segundo emprego ou fonte de renda, ou seja, fazem trabalhos paralelo a arte para poderem se sustentar, você acredita que talvez falte incentivo ao artista joinvilense?

CASSIO: Em Joinville a gente escuta as pessoas falando sempre “Não tem muita coisa de cultura pra fazer”, mas isso é um mito, porque sempre tem algo pra fazer na cidade, o que acontece é a falta de hábito do público em procurar, nessa semana eu fiz um trabalho para adolescentes do ensino médio em uma escola no bairro São Marcos, e sempre pergunto a eles o que eles costumam fazer, se vão ao teatro, em eventos culturais, a resposta é sempre a mesma “ a gente não fica sabendo”. Hoje tem diversas maneiras de você encontrar um programa que mais lhe agrade, basta você entrar no google e digitar “Teatro em Joinville” que vai encontrar as opções. Aqui na cidade, se formos pensar em nível de incentivo municipal para a classe artística, ainda é uma cidade que consegue manter um fundo interessante, agora falar sobre Santa Catarina, tem diversas cidades que não tem um fundo municipal de cultura que funcione. O Estado tem somente o edital Elisabeth Anderle, que na sua última edição disponibilizou o total de 5 milhões.

Temos um bom incentivo de arte na cidade, os projetos de fundos para cultura devem fomentar a arte, e o que acontece às vezes é que o poder público acaba se agarrando a esse orçamento e também tem a questão de que a população não tem o hábito de consumir cultura. Então os editais ajudam e trazem muitas opções de eventos gratuitos, e o gratuito acabou distanciando a população de consumir cultura, de saber que você precisa pagar aquele ingresso para valorizar o artista. Muitas vezes recebemos convite de escolas e empresas para ir “mostrar o nosso trabalho”, “divulgar”, mas será que um dentista me atende gratuitamente para “mostrar” o trabalho dele? Joinville poderia ser muito mais cultural.

ANC: Como você vê o teatro na educação brasileira?
CASSIO: Infelizmente um pouco esquecido, muitas vezes pela falta de interesse dos próprios professores, vejo pouquíssimos professores frequentando espetáculos de teatro, buscando saber onde tem as programações na cidade, eu sei que as pessoas tem o seus afazeres, mas ir ao teatro uma vez ao mês já é mudar um pouco o hábito e incentivar a arte na sua cidade. Por esse motivo que o trabalho de formação de plateia nas escolas é essencial.

ANC: Qual a situação da AJOTE na atualidade?
CASSIO: Estou no segundo mandato de presidência, e a AJOTE vem passando por um processo de resistência, desde 2001, quando entramos na Antarctica. O problema mais sério da Cidadela, é a questão do abandono do prédio público, o perigo que a gente vem passando lá. Tivemos uma reunião esta semana com a secretária de Cultura, onde eles trouxeram umas soluções que já deveriam ter sido feitas há muito tempo, como é a questão do projeto de contenção do morro, que já está aprovado e vai começar a ser feito logo.  Queremos muito que o público desfrute e se aproprie da cidadela, um espaço no centro da cidade, de resistência, que recebe espetáculos de todo o Brasil, com preços populares. Estamos mantendo a programação e fazendo bilheteria, somos uma classe fazendo teatro em Joinville. A maior questão da AJOTE neste momento, não é só em prol da AJOTE, mas para a Cidadela, queremos que o poder público olhe com carinho para a Antarctica, e não deixe o prédio cair.

ANC: Fale um pouco sobre o espetáculo Fadas
CASSIO: Fadas é o carro chefe da Cia, é o espetáculo que a gente mais viaja, ele quebra com toda essa normatividade da palavra fada, as crianças com suas famílias, chegam ao teatro esperando uma fadinha cor de rosa, ele é um espetáculo que acontece em uma marcenaria, são dois atores, trabalhando com ferramentas que se transformam nos personagens da história que vamos contar. Estamos conseguindo cativar e formar um público para essa linguagem de teatro.

Premiação com Fadas no Festivale Festival de Teatro do Vale do Paranhana, na cidade de Rolante RS, Melhor Espetáculo infantil, direção, para Paulo Martins Fontes, Ator Coadjuvante, para Jackson Amorim, Cenário, para Marcelo de Mello, Iluminação, para Flávio Andrade. O espetáculo participou do Projeto Emcena Catarina do SESC, onde a cia passou por 28 cidades do Estado.

ANC: Agora vamos falar sobre o “ANIMANECO”
CASSIO: O ANIMANECO nasceu no ano passado, de um desejo meu de ter um festival de teatro de bonecos aqui em Joinville.  E ele foi criado estrategicamente nesta época porque no dia 27 de abril é o Dia Nacional do Teatro de Bonecos. A recepção que a cidade vem mostrando para o festival, está sendo muito positiva. Nos dias 02,03 e 04 de maio, acontecerão apresentações de espetáculos para escolas, já está tudo agendado, não tem mais nenhum horário livre, todos lotados. Os espetáculos vão acontecer em escolas e também na AJOTE. Para adquirir seu ingresso e assistir ao festival ANIMANECO você pode acessar enjoyeventss.com.br, ou na Loja Linha Nutri Produtos Naturais no Shopping Mueller.

ANC: Um passo muito importante para o ANIMANECO
CASSIO: Junto ao Festival, nos dias 05 e 06 de maio estará acontecendo o 1º Seminário de Teatro de Animação de Joinville, realização da UDESC. Mesas redondas e debates sobre a produção e gestão de teatro de bonecos no Brasil, trazendo além de espetáculos, conversas com profissionais e alunos da Universidade.

Participação de Cias de teatro de São Paulo, Goiânia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Ingressos R$ 20 (inteira)  R$ 10 (meia)

Mais informações: essae.com.br/animaneco2018

ANC entrevista: Rosi Costa

Rosi Costa é artista visual muito atuante no circuito artístico de Joinville. Além de produzir seus trabalhos e desempenhar o papel de esposa e mãe, encontra tempo para exercer a profissão de professora de arte em seu ateliê. Em suas aulas, Rosi não ensina somente a técnica, mas busca criar relações de amizade com seus alunos e por meio da arte estabelecer conexões que promovam a busca pelo autoconhecimento.
O ANC esteve no ateliê da artista e bateu um papo bem interessante sobre processo de criação, pesquisa e fazer artístico, além de dar uma espiadinha no que ela anda produzindo para novas exposições. O resultado você confere a seguir.

ANC: Você possui formação acadêmica em arte?
ROSI: Minha primeira formação foi em pedagogia, quando já lecionava, decidi fazer o curso superior em artes visuais, mas antes disso já havia feito aulas na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e por último fiz pós-graduação em arte-educação. Mas acredito que meu trabalho como artista se dá não apenas pela minha formação acadêmica e sim pelo fato de que estou sempre buscando, me aperfeiçoando e me questionando sobre meu próprio fazer artístico.

ANC: Como foi seu primeiro contato com as artes?
ROSI: Quando comecei, foi através da pintura. No princípio não tinha nenhum objetivo, foi mais por hobby, pensei que eu nem tinha talento para tal atividade, mas à medida que ia produzindo, comecei a gostar e descobri na pintura uma verdadeira paixão.
Depois dos primeiros anos me dedicando a pintura, comecei a refletir e descobri que o que sabia era pouco e fui buscar mais conhecimento sobre o assunto, iniciando um curso de pintura na casa da cultura, onde aprendi muitas técnicas, porém, o que mais me interessava nas aulas da casa da cultura era me libertar do estilo acadêmico pois minha primeira professora ensinava muito o acadêmico.
Mesmo gostando muito do curso da casa da cultura, que me ajudou a ampliar meu jeito de pintar e me expressar, sentia que ainda não era o suficiente e que algo faltava dentro de mim. Fui pesquisando, me aperfeiçoando e buscando interagir mais com outros artistas, com o objetivo de encontrar um determinado rumo e o encontrei a partir do símbolo da bolsa (bolsa feminina) e tudo o que ela representa para mim.

ANC: Aproveitando seu comentário, conta pra nós qual sua relação com a bolsa?
ROSI: Tudo teve início a partir do meu contato com as alunas do meu ateliê e nossas trocas a respeito da mulher e seu lugar na sociedade. Comecei a perceber que esse era um tema que me deixava inquieta, principalmente sobre os sofrimentos internos, o que cada uma delas acaba passando sozinha, coisas que as pessoas não entendem e que a própria mulher tem dificuldades em resolver. Quando comecei a pesquisar o tema mais a fundo, li que o objeto bolsa, para a mulher é como se fosse uma extensão de seu próprio corpo, pois carregamos tudo o que julgamos ser necessário, é um porto seguro.
Nós mulheres, carregamos a menina que fomos, a jovem os nossos sentimentos, nossos sonhos as nossas saudades, decepções e etc… Então a bolsa para mim não é somente um objeto ou um acessório comum e sim o arquétipo do meu interior.

ANC: Você já realizou alguma exposição que discutisse apenas a relação da mulher com a bolsa?
ROSI: Ainda não fiz nenhuma do jeito que eu queria. Comecei a pensar em algo apenas sobre as bolsas e que contaria com obras interativas, oficinas e até cheguei a escrever um projeto para ocupar os dois espaços expositivos da Associação dos Artistas Plásticos de Joinville, encaminhei com o intuito de realiza-la em Outubro (2018), mas recebi a notícia de que serei avó, então decidi esperar e curtir meu neto ou neta, ao mesmo tempo que amadureço ainda mais a ideia.

ANC: Você pretende explorar novas possibilidades de trabalhos artísticos para além da pintura em tela?
ROSI: Sim, estou muito em busca disso. Comecei no ano passado com uma intervenção que me possibilitou ter uma interação maior com o público e a partir dela, já estou pensando em novos projetos que contam ainda mais com a interação daqueles que entendemos como apenas observadores. Meu pensamento começa a mudar a respeito dessa questão quando inicio outros cursos voltados principalmente para a arte contemporânea e também na troca de ideias com outros amigos artistas e integrantes da AAPLAJ. É um processo de busca, de constante aperfeiçoamento e desejo em testar diferentes materiais e possibilidades para além da pintura.

ANC: Além de ser artista, desempenha outra função dedicada as artes? (Professora, curadora, gestora cultural e etc).
ROSI: A minha atuação é como artista visual e como professora, mas comecei a experimentar novas possibilidades, outras linguagens porque senti que a pintura já não dava mais conta de expressar tudo o que eu gostaria. Estou com muitos projetos que pretendo colocar em prática em breve e um deles é em parceria com uma amiga psicóloga e diz respeito ao desenvolvimento de oficinas para mulheres que enfrentam situações de sofrimento interior e está fundamentado em princípios da arte-educação e da arteterapia.

ANC: Qual a linguagem mais utilizada na produção de seus trabalhos artísticos?
ROSI: Eu amo a pintura, amo o cavalete e além da pintura trabalho com recorte e colagem, mas percebo que a arte contemporânea possibilita com que me expresse muito mais. Dei início a proposta voltadas para a performance e intervenções e estou gostando muito. Por um certo tempo, sentia um aperto no peito, vontade de gritar algo que nem eu mesma sabia o que era. Acredito que o fato de me expressar utilizando outros materiais me trouxe a liberdade que precisava para superar meus limites como artista.

ANC: Como (se for possível) você definiria sua poética?
ROSI: Sempre penso a minha poética como autoconhecimento e autoexpressão. Estou sempre através dela me expressando, mas ao mesmo tempo me conhecendo. Percebo que estou em uma fase de transição, pois até um determinado ponto da minha pesquisa, eu ficava conversando com mulheres, pesquisando sobre mulheres, falando das mulheres e não sabia por qual motivo. Até que chegou em um certo momento em que acabei percebendo que essa minha atitude era um reflexo da minha própria busca interior. Estava olhando para ela na esperança de me encontrar, mas hoje entendo que não estou apenas em busca de mim, mas talvez eu esteja em uma espécie de missão para ajudar outras mulheres.

ANC: Quando você decidiu ministrar aulas de pintura no seu ateliê?
ROSI: Comecei minhas atividades como professora de ateliê antes de iniciar minha produção como artista. Eu já pintava há alguns anos e estudei pintura durante dez anos antes de dar aulas. Existia em mim o desejo de ensinar, mas nunca me sentia preparada. O que me motivou a dar o primeiro passo foi a vontade de ter um emprego em que eu pudesse estar perto dos meus filhos e também por ter uma professora que apesar de não ter tanto domínio sobre o que estava disposta a ensinar, tinha muita coragem para encarar o desafio e buscar sempre mais. Foi aí que decidi tentar e descobri que estava preparada e isso já faz dezesseis anos.

ANC: Em que dias da semana acontecem as aulas? Como você ensina seus alunos?
ROSI: As aulas são ministradas as segundas e terças no período da tarde e da noite. Eu me vejo como uma orientadora das habilidades das pessoas, porque se ela tem interesse e vontade não existe nada que não consiga aprender. Não começo as aulas com teoria e sim a partir da prática e através da prática vou ensinando a teoria, tudo depende do momento de cada aluno. Ensino a técnica, mas não me fecho somente nela e estou sempre trazendo exemplos, artistas dando abertura e possibilidade para que cada um desenvolva seu próprio estilo e sua criação e encontre seu próprio caminho, sempre instigando o pensamento e o autoconhecimento.

Sobre as aulas:

Aulas de pintura em tela
Professora: Rosi Costa
Horário: Segundas e terças 3h/aula (vespertino e noturno)
Valor: R$95,00 mensais
Contato: (47) 9668-1691
*Turmas de no máximo 07 alunos

O que é trabalho de criatividade, o que é hobby e o que é arte?

Pensando no que escrever para compartilhar com os leitores do ANC, me deparei com o rascunho de um projeto da Maria Eduarda, aluna do 1º ano do ensino médio da escola que fiz estágio em 2017.

Meu trabalho de conclusão de estágio tinha como principal objetivo, estimular a criatividade e o pensamento reflexivo a partir da elaboração de uma “máquina impossível” e por meio delas, despertar ideias, discussões, pesquisas e possibilidades de criar um protótipo do que poderia vir a ser construído – mesmo que essa produção não fosse algo possível de executar dentro do nosso contexto. A provocação que deu início a esse projeto compartilhado com os alunos, partiu das observações e pesquisas a respeito das obras e biografia do artista Rogério Negrão e que compunham a exposição “Máquinas do Abismo” (2017).

Finalizada a experiência da docência e da graduação, em dezembro de 2017, hoje (04/04/2018), vasculhando algumas agendas, encontro  uma das etapas do que desenvolvemos em sala de aula: Escrever sobre nossas ideias, colocar no papel o que queríamos materializar em um trabalho de criatividade  e assim, tentar encontrar soluções para possíveis problemas que poderiam vir a surgir durante o processo de criação e de construção de nossas máquinas.

Maria Eduarda (aluna a quem me refiro no início do texto), decidiu criar uma máquina que batizou de “Endorfina – hormônio da felicidade”. Na folha em que os alunos deveriam desenvolver o rascunho de seus projetos, havia um campo para descrever o modo de funcionamento de suas criações, local em que a menina nos dá as seguintes instruções:

“Você irá entrar dentro de uma sala que terá um sofá de frente para uma TV que passará alguns vídeos e frases que vão estimular o cérebro a produzir os hormônios da felicidade que são a endorfina, a oxitocina, dopamina e a serotonina.”

No momento em que eu pude reler esse pequeno texto, surgiu-me a seguinte pergunta: “Será que chegamos ao ponto de precisarmos criar uma máquina para produzir felicidade instantânea?”. – Na verdade essa falsa sensação de felicidade já existe e é alimentada com a ajuda de medicamentos sintéticos, redes sociais, televisão, consumismo e diversos outros meios nada saudáveis e que mascaram as dificuldade que temos em enfrentar nossas realidades.

A proposta que incentivou a criação das máquinas, refletiu não apenas no trabalho dessa aluna mas em vários outros, onde é possível observar as consequências da vida moderna. O mais interessante é perceber que através da arte podemos acessar e dar significado as diversas questões adormecidas em nosso interior, como a angústia e a tristeza, sentimentos proibidos em um mundo em que nos escondemos atrás de falsos sorrisos.

Porém, quem já ouviu falar que a arte liberta? Nos liberta de quem somos e de nossas angústias, sofrimentos, medos, frustrações. A arte nos faz poder o impossível, conceber o inconcebível. Mas na realidade em que vivemos, com tantas crises financeiras  e inseguranças, qual a possibilidade de verdadeiramente vivermos a arte e de arte, para além do que nos é apresentado na escola? Como alcançar a realização profissional sem precisar contar com uma “máquina da alegria”?

Essas são perguntas difíceis de responder, mesmo assim, levanto aqui algumas provocações a respeito de uma palavra que num primeiro momento, não parece estar relacionada com a arte, porém, está sim muito presente na dinâmica daqueles que se dedicam à literalmente viver de arte e entrar em seu amplo e complexo sistema – DISCIPLINA.

Disciplina é o que diferencia de imediato o trabalho artístico proposto por um artista de fato, do trabalho de criatividade proposto por uma aluna no 1º ano do ensino médio. Não quer dizer que o trabalho criativo da aluna não tem o seu valor, mas ainda está longe da maturidade técnica e conceitual que um artista precisa ter para alcançar o status de Arte.

O artista que encara sua produção como um trabalho sério e comprometido, pesquisando, criando e problematizando-a, aumentam muito suas chances  de se tornar bem sucedido dentro do circuito artístico da cidade e do próprio sistema. Uma coisa é certa: Não existe receita pronta e é preciso enfrentar com determinação e coragem as adversidades e os caminhos tortuosos da profissão. É preciso estudar, se qualificar cada vez mais e mais, visitar museus, exposições, eventos de arte, realizar parcerias e muitas vezes recomeçar do zero, se reinventar.

No ano de 2015, aprendi com um  certo “Mestre” – muito conhecido e admirado na cidade – que o artista precisa se doar de corpo e alma aos seus projetos, (e não de doações), sem descanso e sem hesitar. Percebi por estar em constante contato com ele, que trabalhar com arte não pode ser considerado um hobby, algo que produzimos apenas quando há inspiração e que fazemos as vezes só para “relaxar” – na verdade, trabalhar com arte não é nada relaxante e nos trás dificuldades que precisam ser enfrentadas e superadas como outra atividade qualquer-. Quando me refiro a esse “trabalhar com arte”, estou me referindo não apenas aos artistas, mas aos professores, produtores culturais, diretores, galeristas, assistentes culturais e todos os profissionais que estão diretamente envolvidos.

Que a “maré não está para peixe”, todos nós sabemos, mas alguém me disse que – não consigo lembrar ao certo quem – “É por conta dos grandes problemas que chegamos as grandes ideias”. Precisamos aprender a aproveitar uma de nossas melhores qualidades: A criatividade e com a ajuda dela, explorar nossa capacidade de resolver problemas.

Em pensar que tudo isso começa lá na sala de aula, quando a professora nos apresenta os primeiros artistas (que não necessariamente precisam ser apenas das artes visuais) e nós começamos a entender que pensar e agir criativamente pode nos trazer uma série de benefícios para a vida. O que inicialmente é um trabalho de criatividade, pode se tornar um hobby e evoluir para arte, pena que nem todos evoluem e assim passam os anos…