Artista de Joinville fala sobre corpos com deficiência e a relação com a cidade em performance urbana

¡Resiste Corazón! será apresentada em ruas de cinco bairros de Joinville, nos meses de abril e maio 

Quem passar nas proximidades do Museu Sambaqui, no Centro, no próximo sábado (13/04), às 10 horas, poderá ver com certa admiração e talvez espanto um “esqueleto” feito de folhas de acetato de Raio X parado na calçada. Martín, El Periodista, é um avatar, um personagem da performance “¡Resiste Corazón!”, de autoria da atriz e pesquisadora Nathielle Wougles e realização do IMPAR (Instituto de Pesquisa Arte pelo Movimento). 

A artista poderá ser reconhecida pelo público devido ao uso de um capuz preto, que lhe cobre todo o rosto deixando apenas os olhos de fora, e um estetoscópio (aparelho médico para auscultar o coração) ao redor do pescoço. 

Por cerca de 1 hora, a performance percorrerá a rua Dona Francisca, entre os números 241 e 600 no Centro, abordando o tema de corpos com deficiência e a relação com a cidade. Unindo conteúdo teórico a vivências práticas, a atriz reflete sobre como o conceito médico de deficiência está ligado às ideias de capacidade e incapacidade, criando padrões excludentes, a partir dos quais a estrutura social, política e econômica se molda. 

“Um corpo não normativo é anulado nos espaços, inclusive nos artísticos, assim pertencer à cidade para as pessoas com deficiência é um meio de [re]existir. E para experienciar o cotidiano necessitamos de premissas básicas para ocupar os espaços; e direitos civis para exercer a potência no mundo, bem como contrapor a estrutura capacitista”, reflete a atriz. 

O público que for assistir à apresentação ou estiver apenas passando pela rua pode interagir com a performance, inclusive contando histórias. Pelo contato com as pessoas, Nathielle busca criar o que chama de “Corazón Central”, um território simbólico, um lugar de pertencimento, onde as pessoas possam ser elas mesmas e celebrar seus corpos e existências na cidade.

A performance finaliza com a colagem de posters de lambe-lambe, como uma forma de marcar a existência no espaço urbano. Além da apresentação de estreia, neste sábado, haverá outras quatro, em diferentes bairros de Joinville. Todas as apresentações terão audiodescrição aberta, feita pela atriz, e tradução em Libras. 

O trabalho é um desdobramento da pesquisa de mestrado de Nathielle em Artes da Cena e Mediação Cultural pela Escola Superior de Artes Célia Helena e Itaú Cultural. Além de artista e pessoa com deficiência, Nathielle é terapeuta ocupacional, professora, diretora de teatro e presidente do IMPAR. 

O projeto é uma realização do Instituto do IMPAR (Instituto de Pesquisa Arte pelo Movimento) e foi contemplado pelo edital de chamamento do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – FMIC) de 2022.

Agenda das apresentações 

Abaixo todas as datas e locais de apresentações de “¡Resiste Corazón!” em diferentes bairros de Joinville.
A performance será sempre aos sábados, às 10 horas. 

  • 13/04, às 10h. Proximidades do Museu do Sambaqui (Rua Dona Francisca, entre os números 241 e 600) – Centro. 
  • 20/04, às 10h. Praça Tiradentes (Rua Elly Soares, entre os números 270 até 190) – Floresta. 
  • 27/04, às 10h. Rua do Posto de Saúde (Rua Elisabeth Rech, entre os números 179 e 415) – Paranaguamirim. 
  • 11/05, às 10h. Rua da Associação (anexa à associação de moradores) – Morro do Meio. 
  • 18/05, às 10h. Proximidades da Escola Municipal Professor Sylvio Sniecikovski (Avenida Júpiter, entre os números 1876 e 1401) – Jardim Paraíso. 

Livro “Um barro lançado ao futuro” propõe reflexão sobre território e arte a partir do resgate da história da cerâmica em Joinville e região.

Lançamento da obra contará com a presença de especialista na área da arqueologia e lideranças indígenas para um bate-papo.

Na sexta-feira, 19 de abril, a partir das 19h no Anfiteatro da Biblioteca da Univille, em Joinville, acontece o lançamento do livro “Um barro lançado ao futuro”, idealizado pelas pesquisadoras e ceramistas Isadora Terranova e Paula Delai Riedi em colaboração com as lideranças indígenas Marilene Escobar e Wilson Moreira e os participantes do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral. O projeto foi realizado pelas profissionais em 2022 e tinha como pano de fundo a história da cerâmica produzida na região de Joinville com foco nos povos originários.

O dia do lançamento vai contemplar dois momentos: uma oficina relacionada à cerâmica voltada a professores e o bate-papo: “Quem produzia cerâmica antes de nós na cidade de Joinville?”. O debate contará com a presença da professora e pesquisadora Dione da Rocha Bandeira e com as lideranças Marilene Escobar e Wilson Moreira, além das idealizadoras da obra.

Para as ceramistas, o livro não é apenas uma publicação, mas o início de um resgate e promoção dos saberes cerâmicos produzidos pelos povos que viviam no território que hoje é Joinville. “Buscamos celebrar suas simbologias e estabelecer conexões com discussões atuais do universo da arte, antropologia entre outras áreas do conhecimento”, afirmam Paula e Isadora. O livro é resultado de uma pesquisa singular e inédita, fruto de encontros colaborativos entre lideranças indígenas, artistas, pesquisadores, educadores e arqueólogos. A obra também conta com um Material Educativo elaborado pela pesquisadora e educadora Deise Aparecida de Oliveira, visando ser uma ferramenta para aqueles que desejam apropriar-se do processo e repeti-lo em espaços educativos.

A proposta cultural foi realizada com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), por meio do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023. O projeto contempla a impressão e distribuição do livro, a obra foi publicada no formato digital ainda em 2022. Uma parte dos exemplares será destinada gratuitamente à Fundação Catarinense de Cultura (FCC), bem como a bibliotecas, museus, instituições culturais e educacionais, visando a utilização por professores. Outra parte dos livros será entregue às lideranças indígenas da Aldeia Ka’aguy Mirim Porã, localizada na Terra Indígena Tarumã (Araquari, SC) para a comercialização da obra e retorno da verba à própria comunidade. Eles estarão no lançamento do livro com exemplares à venda.

Experiência registrada em livro.

A obra “Um barro lançado ao futuro” lançada agora em 2024 é a versão impressa do material divulgado em 2022 no formato digital. A publicação online era a última etapa do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral, promovido via Lei Aldir Blanc 2021, viabilizada pela Prefeitura de Joinville.

O livro conta com três capítulos que mostram o processo de elaboração do projeto, desde a concepção, com as referências acadêmicas e artísticas utilizadas, até a etapa de preparação e execução das peças de barro. Aparecem na obra as 15 pessoas selecionadas para participar do projeto. Há uma parte do livro dedicada a detalhar o aprendizado e aprimoramento do grupo na técnica do fazer cerâmico, e ainda a inspiração de cada um para compor a própria peça. A publicação ainda contempla um ensaio visual com as cerâmicas prontas, e um material educativo voltado a profissionais interessados em replicar o processo em contextos de educação formal e não-formal. 

Entre os destaques da obra está o texto “Ceramistas pré-coloniais da baía da babitonga” escrito pela arqueóloga e pesquisadora Dione Bandeira. A tese de doutorado da estudiosa foi uma das fontes de pesquisa e inspiração para o projeto. No livro a pesquisadora contextualiza o processo de identificação das cerâmicas produzidas há mais de mil anos no território que hoje é Joinville e traz ainda a experiência do trabalho realizado com esses artefatos no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. Dione é uma das convidadas para o bate-papo “Quem produzia cerâmica antes de nós na cidade de Joinville? e lançamento do livro impresso.

Oficinas.

Além da publicação da versão impressa do livro “Um barro lançado ao futuro”, o projeto contempla ainda uma série de quatro formações educativas. As atividades são voltadas para professores e para crianças. A iniciativa é gratuita para ambos os públicos mas as vagas são limitadas, por isso é necessário fazer inscrição previamente por meio do formulário online – https://linktr.ee/futuroancestral .

As oficinas são baseadas no conteúdo do livro “Um barro lançado ao futuro”, que aborda as relações entre cerâmica, território, arte e ensinamentos ancestrais dos povos originários. As atividades terão um espaço para reflexão sobre os temas abordados, e ainda para a mão na massa, com a produção de peças em argila. “Para nós era importante compartilhar com mais gente esses aprendizados que foram também construídos coletivamente na elaboração do projeto Laboratório de Cerâmica Futuro Ancestral, que precedeu o livro”, pontua uma das idealizadoras da iniciativa, a pesquisadora e ceramista, Isadora Terranova.

A intenção também tem a ver com a escolha do público-alvo das oficinas. “Queríamos focar nos educadores porque o livro conta com uma material educativo voltado justamente para ser trabalhado em sala de aula”, explica Isadora. As crianças, para quem são destinadas duas das quatro oficinas, também tiveram lugar garantido no projeto por serem habituadas à manualidade e abertas à experimentação. “Acreditamos ser importante elas pensarem conosco sobre território, o lugar a que pertencem, e depois ludicamente construir a partir da argila peças que representam isso”, afirma a organizadora do projeto.

As duas oficinas voltadas para professores são intituladas “Cerâmica, Ancestralidade e Território” e “Moldando a paisagem”. A primeira, que ocorre no dia 19/4, e faz parte do evento de lançamento oficial do livro, contará ainda com a presença da liderança indígena e ceramista Marilene Escobar, e também uma das colaboradoras do livro. A atividade inicia às 13h no Ateliê de Esculturas do Centro de Artes e Design (CAD), da Univille.

A segunda oficina para os educadores ocorre no dia 10/5 no CEU do Aventureiro e é preferencialmente voltada para professores de escolas e comunidade escolar da rede pública, com foco nas escolas indígenas e quilombolas de Joinville e região. A atividade inicia às 13h.

Para as crianças, a oficina “Moldando o nosso mundo: oficina de cerâmica para crianças de 06 a 12 anos” está marcada para o dia 20/4, às 09h, na Biblioteca Comunitária Lutador Dito, em Amorabi. 

Em maio, a oficina ocorrerá novamente, desta vez para a comunidade escolar da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Wera Puku, em Araquari, SC. As oficinas têm carga horária de cinco horas e todos os participantes vão receber certificado.

AGENDA

Cerâmica, Ancestralidade e Território: Oficina Teórico-Prática para Educadores da Rede Pública de Ensino

📅 Data: 19/04 🕒 Horário: Das 13h às 18h
📍Local: Ateliê de Esculturas do Centro de Artes e Design (CAD), da Univille. 

Moldando o nosso mundo: Oficina de cerâmica para crianças

📅 Data: 20/04 🕒 Horário: Das 09h às 14h
📍Local: Biblioteca Comunitária Lutador Dito – Rua dos Esportistas, 510, Bairro Itinga, Joinville/Sc.

Moldando a paisagem: Oficina teórico-prática para Educadores da Rede Pública de Ensino, com foco em Escolas Indígenas

📅 Data: 10/05 🕒 Horário: Das 13h às 18h
📍Local: CEU do Aventureiro. – R. Theonesto Westrupp, 627