Nono Bonote: o marceneiro das memórias

Seu Silvino Bonote, nascido em Lauro Muller/SC, aos 35 anos deixa sua cidade natal com a esposa dona Ignês e seus quatro filhos, em busca de oportunidades e de uma vida melhor escolhe  Joinville para morar. Na casa com jardim florido e quintal repleto de plantas e hortaliças, algo a mais chama atenção: A pequena oficina de marcenaria, lugar quase sagrado para esse senhor de 79 anos que há mais de 30 se dedica a arte de construir objetos em madeira.

Desde criança, conhece de perto o trabalho e aos 07 anos de idade já ajudava seus pais na roça. No caminho para a labuta, via os grandes carros de bois e carroças pelas estradas de barro a carregar diversos materiais como: madeira, cana e fumo. Conta que o tamanho dos carros com transporte de tração animal, sempre lhe chamava muita atenção, impressionavam pelo tamanho e pela quantidade de peso que os animais conseguiam carregar, além disso, ele mesmo na juventude teve carroça e trabalhou na lida com os carroções de boi. Mas a vida não era só trabalho, também havia tempo para as brincadeiras junto com os primos e irmãos, e era nessas horas que a criatividade e a inventividade afloravam. Vindo de família com poucos recursos financeiros, os brinquedos eram raros e os presentes que ele e os parentes ganhavam na época eram roupas, somente em datas especiais, como o natal.

Para se divertir era preciso inventar brinquedos, foi daí que passou a construir os seus próprios, começando por peças mais rudimentares como os famosos carrinhos de rolimã, espadas, estilingues e até uma bicicleta que também era de madeira. Relembra que no natal, quando criança, havia ganhado de presente dos pais, um violão de brinquedo, mas o mesmo era de papelão e depois de algumas brincadeiras, o objeto praticamente se desmontou.

Silvino: “Resolvi ir até a oficina do vizinho e fazer um violãozinho de madeira para mim, desses que quando você toca sai som, pois o meu, que era de papelão, não saia som nenhum. Fui olhando como era o violão de verdade, aprendendo a fazer o braço, no outro dia voltava na oficina e fazia a parte de trás…e assim foi indo, até ficar pronto. Quando terminei, eu tinha um violão de madeira que saia som de verdade e não se desmanchava feito o primeiro”.

As memórias guardadas desde os tempos da infância se transformam em lindas peças produzidas em sua marcenaria. O reaproveitamento de materiais como pedaços de tábuas, madeiras de demolição, móvel velho ou até troncos de árvores que foram podadas e que iriam para o lixo, nas mãos do artesão, viram rodinhas, copinhos, pilões, vasos ou carrinhos. Além disso, o “Nono” (como é chamado pelos familiares), também fez muitos brinquedos para os seis netos, desde balanças, carrinho de mão, cavalinhos de balanço e casinhas de boneca. Mas conta que hoje em dia os brinquedos e objetos produzidos em madeira não têm mais o mesmo valor que antigamente. “Não tem como concorrer com o plástico e as lojas de artigos de R$1,99, ninguém valoriza o trabalho e o tempo investido nas produções das peças.”

Autodidata, aprendeu o ofício de marceneiro por meio da observação e da prática. Suas peças em estilo rústico são repletas de significados e memórias, de alguém que passou boa parte da vida trabalhando no campo e da terra tirou seu sustento para viver. É por isso que nas peças de Silvino Bonote, torna-se possível identificar com certa frequência o carro de boi, a carroça, o pilão, a tina de vinho, o barril de cachaça, o caminhão carreta entre outros.

Reconhecer e preservar a memória através dos objetos é um meio de mantê-la viva para as futuras gerações e assim apresentar um pouco do que foi o passado, da história e de como ele pode contribuir para compreendermos o presente. Mas, mais importante do que a produção manual feita por Bonote, a riqueza está em ouvir suas histórias, o fazer se completa na fala e das trocas que surgem a partir de uma boa conversa.

Arte de Sérgio Adriano H que faz refletir se espalha pelo Brasil

Saído de Joinville, ele tornou-se o artista visual catarinense de maior evidência no País na atualidade

Sérgio Adriano H é um artista que usa o corpo para se expressar. E, ainda que absolutamente imóvel, cada músculo seu representa o desejo de atrair o olhar para o imperceptível. Sérgio também é um manipulador de palavras, que, mesmo represadas na garganta ou escondidas em afrescos, gritam de indignação perante uma sociedade que já não disfarça a hipocrisia. É assim, fazendo de si próprio o fio condutor do inconformismo, que Sérgio Adriano H. tornou-se o artista visual catarinense de maior evidência hoje no País, com mais de 90 exposições no currículo.

Para se ter uma ideia do alcance do trabalho do joinvilense, ele já participou de mais de 20 mostras somente em 2018, entre coletivas e individuais. São projetos no Brasil todo, principalmente em São Paulo, Santa Catarina, Brasília, no Rio de Janeiro e no Paraná. Em um ano, são duas bienais na conta (de

Curitiba e Brasília), e quando este tiver terminado, mais algumas participações terão elevado esse número, entre elas, a 8ª Bienal de Fotografia Documental da Argentina, a 46ª Coletiva de Artistas de Joinville e a exposição itinerante “Enigmas da Visão”, que passará pela Itália em 2019.

Além dessa quantidade incrível de convites e do conteúdo forte dos trabalhos, outra coisa que chama a atenção é a razoável rapidez com que Sérgio conquistou o reconhecimento nacional. Acredite, até 2011 ele era gerente comercial, e ainda que já tivesse um certo histórico artístico – ganhou o primeiro prêmio logo na estreia em salões de arte, em 2002 -, essa faceta corria em paralelo, pulsando, crescendo, esperando.

Em 2013, veio a virada: Sérgio decidiu dedicar tempo integral às artes e foi fazer mestrado em filosofia em São Paulo. Dois anos depois, formou-se, e não demorou muito para a carreira engrenar de vez. As performances, instalações, vídeos e fotografias de Sérgio se espalharam pelo Brasil, seja em espaços culturais renomados, seja em escolas e praças – graças a editais e premiações que ganhou -, apoiadas em três pilares: CORPO, PALAVRA E HISTÓRIA.

Um processo que mistura imagem (a do próprio artista) e crítica social, embasado, em boa parte, na filosofia. É dela que Sérgio tira e retrabalha um conceito batizado de “Verdade Apresentada”, baseado em crenças e hábitos tão enraizados que se tornam verdadeiros, mas que quando questionados, não têm base para isso.

“Parte do meu trabalho é desconstruir ‘verdades apresentadas’. “É deixar visível o invisível do racismo, do preconceito, da morte, que não é só física, mas moral e social”, diz Sérgio. “Quero comunicar sobre conhecimento. A gente soma conhecimento com o outro. Não fomos educados para ser formuladores de perguntas, fomos educados somente para responder perguntas. Porém, quero retirar o outro da passividade e fazer com o que mesmo entre em ação, formule perguntas, se questione sobre a arte e a vida”.

Nessa linha, dois projetos se destacam no já extenso portfólio de Sérgio. Um é “O Visível do Invisível”, instalação/intervenção urbana aprovada pelo Simdec e apresentada em cinco escolas públicas de Joinville. Nela, Sérgio fotografou a si mesmo chorando, ora com o rosto pintado de branco, ora com o rosto com tinta preta, numa metáfora à condição do negro, sua invisibilidade na sociedade e à escravidão.

“Ruptura do Invisível” foi contemplado no Edital Elisabete Anderle de Apoio à Cultura e apresentado em quatro cidades catarinenses, além de agendado para estar no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, em 2019. Aqui, ele insere fotos de si em sabão em pó e água sanitária, o que resulta em outra imagem, disforme, numa alusão ao “embranquecimento” da sociedade brasileira.

Outra ação, ainda em processo, é “Palavra Tomada”. Na série de fotos, Sérgio aparece com letras de antigos carimbos na boca que formam palavras como “preto”, “viado” e “grite”. É, segundo ele, a representação do silêncio imposto a um segmento, especialmente negro.

“O desafio do artista não é aplainar o terreno, mas sim assinalar com clareza os acidades, as dificuldades, os  desafios. Cabe ao artista buscar sabedoria para si e para o outro, fazer com que os problemas aflorem, e não compor uma doutrina apaziguadora”, salienta, para então reforçar: “O conhecimento  liberta”.

Por tudo isso, e por manter um trabalho artístico engajado, contundente e em contínuo movimento, Sérgio Adriano H foi listado como um dos 30 artistas mais influentes do Estado no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina”. Seu trabalho, além de espalhado pelo Brasil e por outros países, se encontra nos acervos do Museu de Santa Catarina, do Museu de Itajaí, do Museu de Arte de Blumenau e em coleções particulares.

Enviado por:  Rubens Herbst

Projeto leva música clássica para crianças no Jardim Paraíso

A ONG “Missão Criança”, mantida pela Igreja Luterana no bairro Jardim Paraíso, iniciou suas atividades em 1998, depois de uma grande enchente enfrentada pelos moradores, e a partir de então, integrantes da congregação luterana começaram a realizar pequenas ações sociais com adultos e crianças, percebeu-se então que a necessidade maior estava nas crianças, e algo que começou há 20 anos, atualmente atende 150 crianças de 06 a 17 anos. Nas atividades que acontecem em horário oposto ao da escola, e incluem apoio pedagógico, esporte e música, as crianças aprendem através da convivência, brincadeiras e programas desenvolvidos dentro da instituição que busca fortalecer os vínculos familiares e comunitários por meio de diálogos, reuniões de pais e momentos culturais.

Em meio a tantas atividades, destacamos a mais recente conquista da ONG, a arte-educação por meio da música clássica, que conta com a participação e apoio do maestro Rafael Huch, proponente do projeto aprovado pelo Ministério da Cultura através da Lei Rouanet, que mediante aprovação de projeto, autoriza a captação de recursos junto às empresas e pessoas físicas, para realização das propostas.

As aulas de violino, ministradas pelo professor Renan Corrêa, e as de violão e canto coral, pela professora Vivian Vass Tavares além de apresentar às crianças o que para muitas delas é seu primeiro contato com a música clássica, que ali também é um instrumento de transformação social, como aponta à coordenadora Eunice Deckmann: “A grande maioria das crianças, depois que saem da escola, ficam ociosos o que se torna um “prato cheio” para as más influências. Quando conhecemos o Maestro Rafael e o interesse dele pelas crianças e toda a experiência e competência na elaboração de projetos, logo surgiu a ideia de unirmos forças para tentarmos transformar vidas por meio da música e quem sabe até mesmo descobrir novos talentos”.

O próximo passo é ofertar aos alunos aulas de flauta, e manter os professores por mais 12 meses, mas para isso é necessário que a captação atinja 100% dos recursos aprovados, no total de R$133 mil reais. Porém, até o momento, o percentual alcançado foi apenas de 30%, ou seja, mais da metade dos recursos não conseguiram ser captados. Isso é algo que Eunice acredita estar relacionado com a falta de esclarecimento a respeito do funcionamento da Lei Rouanet, que prevê formas de financiamento para eventos culturais e a maior parte dos recursos vem do que é chamado de mecenato, em que pessoas físicas ou jurídicas podem ser patrocinadoras dos projetos aprovados pelo Ministério da Cultura. O valor é deduzido do imposto de renda, pessoa física pode chegar até 6% do IR, e jurídica o limite são 4%.

O prazo máximo para realizar a captação dos 70% faltantes, vai até 30 de dezembro de 2018, e o intuito das aulas de música no “Missão Criança”, é que através das aulas, seja formada uma orquestra infanto-juvenil para enaltecer e, estimular o sentimento de pertencimento entre os moradores do Jardim Paraíso. As primeiras apresentações dos pequenos músicos já estão agendadas.

 

“É tão mal falado o nosso bairro, é tão judiado por todo mundo… e não é assim. O bairro não é um problema, algumas pessoas são. É um bairro muito bom.”

Eunice B. Deckmann

Para quem deseja mais informações, os contatos da ONG “Missão Criança”, são:

E-mail: pmcparaiso@gmail.com
Contato: (47) 3903-1827 ou (47) 9657-8131

Os vários mundos de Roseli Ritzmann

Roseli Ritzmann é artista visual, graduada em História pela Universidade da Região de Joinville – Univille, também possui formação em história da arte e cerâmica pela Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior. Desenvolve trabalhos artísticos em diversas linguagens como pintura, desenho, colagem, gravura, instalação, livro de artista, entre outros. Inquieta e pesquisadora, está sempre se dedicando a aprender e aperfeiçoar sua técnica e pesquisas relacionadas as artes visuais, mas o que muitos não sabem, é que ela ainda encontra tempo para produzir e se dedicar a outra paixão: Os fantoches de bonecos.

A artista conta que começou a produzir seus primeiros fantoches a quatro anos atrás, inspirada na condição intelectual de seus alunos, quando ainda trabalhava em uma instituição educacional da cidade. “Trabalhei com inclusão de deficientes intelectuais, e os fantoches de material reciclado das oficinas de arteterapia sempre renderam boas histórias nas mãos deles. Então percebi que seria algo muito interessante e importante direcionar minha criatividade na elaboração de fantoches.”

Sua produção foi sendo aperfeiçoada aos poucos, das primeiras peças feitas com material reciclado, passou para os fantoches de feltro e logo depois para os de espuma, que tem aproximadamente 40 cm e que inicialmente eram tingidos com tinta spray ou acrílica. A colagem das partes era feita com cola de silicone, mas em suas pesquisas, Roseli descobriu que o ideal é a cola de sapateiro. A estrutura dos fantoches de espuma é sempre a mesma, o que vai mudar e torna-los únicos e especiais é a caracterização que ela dá para cada um. É como se cada um deles fosse seu “filho único”, sempre um detalhe especial, algo diferente que só aquele fantoche terá, por mais que todos se pareçam, sempre haverá uma marca de nascença escondida em algum lugar.

Todas as mudanças, pesquisas e aperfeiçoamentos, fizeram com que seus fantoches se tornassem cada vez mais resistentes, visualmente interessantes e lúdicos. Atualmente a artista conta com dois ateliês em sua casa, um para as artes e outro para os fantoches, que agora podem ser de bonecos, sapos, palhaços, bichinhos e outros seres frutos da imaginação daquela que lhes trás ao mundo.

No ano de 2014, os fantoches já faziam parte de sua vida tanto quanto a arte, e Ritzmann decide sair da sala de aula, para transformar a atividade em negócio. Abre a empresa Popilu, que além dos fantoches, desenvolve jogos didáticos e brinquedos educativos. Todos os produtos são confeccionados e vendidos em seu ateliê e também nas feiras em que participa. “Os fantoches de feltro costumam ser adquiridos para as crianças, já os fantoches de espuma (40cm) é um produto bastante procurado pelos professores e principalmente por educadores de igrejas”

Os fantoches podem ser um excelente recurso lúdico e pedagógico, para pais, psicólogos, educadores, professores e artistas quando se trata de tentar transmitir uma mensagem, além de auxiliar no desenvolvimento da expressividade, atenção, trabalho em equipe, coordenação entre outros benefícios. O teatro em si, mas especificamente os de fantoches, podem ser trabalhados com todas as idades, pois não exigem muitos movimentos do corpo, beneficiando crianças, jovens, adultos e idosos. É preciso apenas deixar a imaginação fluir e assim como Roseli, ter sensibilidade para perceber que são das necessidades e das adversidades de nossas vidas, que surgem os caminhos e as oportunidades, e a partir daí é só ir lapidando os diamantes.  Roseli Ritzmann é exemplo de artista que expande sua pesquisa, produção e conhecimentos para outros campos e não se dá por satisfeita, adquirir um dos produtos da Popilu é mais que comprar um brinquedo, ou um fantoche qualquer, é levar uma obra de arte para casa.

Fotos: Walmer Bittencourt Junior e Celiane Neitsch

O que é trabalho de criatividade, o que é hobby e o que é arte?

Pensando no que escrever para compartilhar com os leitores do ANC, me deparei com o rascunho de um projeto da Maria Eduarda, aluna do 1º ano do ensino médio da escola que fiz estágio em 2017.

Meu trabalho de conclusão de estágio tinha como principal objetivo, estimular a criatividade e o pensamento reflexivo a partir da elaboração de uma “máquina impossível” e por meio delas, despertar ideias, discussões, pesquisas e possibilidades de criar um protótipo do que poderia vir a ser construído – mesmo que essa produção não fosse algo possível de executar dentro do nosso contexto. A provocação que deu início a esse projeto compartilhado com os alunos, partiu das observações e pesquisas a respeito das obras e biografia do artista Rogério Negrão e que compunham a exposição “Máquinas do Abismo” (2017).

Finalizada a experiência da docência e da graduação, em dezembro de 2017, hoje (04/04/2018), vasculhando algumas agendas, encontro  uma das etapas do que desenvolvemos em sala de aula: Escrever sobre nossas ideias, colocar no papel o que queríamos materializar em um trabalho de criatividade  e assim, tentar encontrar soluções para possíveis problemas que poderiam vir a surgir durante o processo de criação e de construção de nossas máquinas.

Maria Eduarda (aluna a quem me refiro no início do texto), decidiu criar uma máquina que batizou de “Endorfina – hormônio da felicidade”. Na folha em que os alunos deveriam desenvolver o rascunho de seus projetos, havia um campo para descrever o modo de funcionamento de suas criações, local em que a menina nos dá as seguintes instruções:

“Você irá entrar dentro de uma sala que terá um sofá de frente para uma TV que passará alguns vídeos e frases que vão estimular o cérebro a produzir os hormônios da felicidade que são a endorfina, a oxitocina, dopamina e a serotonina.”

No momento em que eu pude reler esse pequeno texto, surgiu-me a seguinte pergunta: “Será que chegamos ao ponto de precisarmos criar uma máquina para produzir felicidade instantânea?”. – Na verdade essa falsa sensação de felicidade já existe e é alimentada com a ajuda de medicamentos sintéticos, redes sociais, televisão, consumismo e diversos outros meios nada saudáveis e que mascaram as dificuldade que temos em enfrentar nossas realidades.

A proposta que incentivou a criação das máquinas, refletiu não apenas no trabalho dessa aluna mas em vários outros, onde é possível observar as consequências da vida moderna. O mais interessante é perceber que através da arte podemos acessar e dar significado as diversas questões adormecidas em nosso interior, como a angústia e a tristeza, sentimentos proibidos em um mundo em que nos escondemos atrás de falsos sorrisos.

Porém, quem já ouviu falar que a arte liberta? Nos liberta de quem somos e de nossas angústias, sofrimentos, medos, frustrações. A arte nos faz poder o impossível, conceber o inconcebível. Mas na realidade em que vivemos, com tantas crises financeiras  e inseguranças, qual a possibilidade de verdadeiramente vivermos a arte e de arte, para além do que nos é apresentado na escola? Como alcançar a realização profissional sem precisar contar com uma “máquina da alegria”?

Essas são perguntas difíceis de responder, mesmo assim, levanto aqui algumas provocações a respeito de uma palavra que num primeiro momento, não parece estar relacionada com a arte, porém, está sim muito presente na dinâmica daqueles que se dedicam à literalmente viver de arte e entrar em seu amplo e complexo sistema – DISCIPLINA.

Disciplina é o que diferencia de imediato o trabalho artístico proposto por um artista de fato, do trabalho de criatividade proposto por uma aluna no 1º ano do ensino médio. Não quer dizer que o trabalho criativo da aluna não tem o seu valor, mas ainda está longe da maturidade técnica e conceitual que um artista precisa ter para alcançar o status de Arte.

O artista que encara sua produção como um trabalho sério e comprometido, pesquisando, criando e problematizando-a, aumentam muito suas chances  de se tornar bem sucedido dentro do circuito artístico da cidade e do próprio sistema. Uma coisa é certa: Não existe receita pronta e é preciso enfrentar com determinação e coragem as adversidades e os caminhos tortuosos da profissão. É preciso estudar, se qualificar cada vez mais e mais, visitar museus, exposições, eventos de arte, realizar parcerias e muitas vezes recomeçar do zero, se reinventar.

No ano de 2015, aprendi com um  certo “Mestre” – muito conhecido e admirado na cidade – que o artista precisa se doar de corpo e alma aos seus projetos, (e não de doações), sem descanso e sem hesitar. Percebi por estar em constante contato com ele, que trabalhar com arte não pode ser considerado um hobby, algo que produzimos apenas quando há inspiração e que fazemos as vezes só para “relaxar” – na verdade, trabalhar com arte não é nada relaxante e nos trás dificuldades que precisam ser enfrentadas e superadas como outra atividade qualquer-. Quando me refiro a esse “trabalhar com arte”, estou me referindo não apenas aos artistas, mas aos professores, produtores culturais, diretores, galeristas, assistentes culturais e todos os profissionais que estão diretamente envolvidos.

Que a “maré não está para peixe”, todos nós sabemos, mas alguém me disse que – não consigo lembrar ao certo quem – “É por conta dos grandes problemas que chegamos as grandes ideias”. Precisamos aprender a aproveitar uma de nossas melhores qualidades: A criatividade e com a ajuda dela, explorar nossa capacidade de resolver problemas.

Em pensar que tudo isso começa lá na sala de aula, quando a professora nos apresenta os primeiros artistas (que não necessariamente precisam ser apenas das artes visuais) e nós começamos a entender que pensar e agir criativamente pode nos trazer uma série de benefícios para a vida. O que inicialmente é um trabalho de criatividade, pode se tornar um hobby e evoluir para arte, pena que nem todos evoluem e assim passam os anos…

Viajando na arte – O ônibus que virou um ateliê de encantos!

Esta é uma história sobre sonhos possíveis…

Projeto: Viajando na arte – O ônibus que virou um ateliê de encantos!

Este sonho nasceu da vontade e união da equipe de profissionais da educação da Escola Municipal João Costa, que diante de um problema, a falta de sala especializada para as aulas de arte, encontraram a solução com muita determinação e criatividade: Transformar um ônibus em ateliê de arte.

Segundo a diretora da escola, Cristine Kelly Kalckmann da Silva, a instituição já contava com a parceria de uma empresa de ônibus da cidade em outros projetos. E em uma das reuniões de professores, surgiu a ideia de solicitar o ônibus para que pudesse ser utilizado como sala de artes.

Cristine ressalta que inicialmente ela e as outras professoras imaginaram que a empresa doaria apenas o veículo, sem nenhuma alteração, e qual não foi a surpresa delas ao descobrirem que o pedido não seria apenas atendido, mas que o ônibus também seria personalizado. Fato que contribuiu ainda mais para despertar a curiosidade e o encantamento dos professores e estudantes.

Toda a modificação foi pensada com auxílio das professoras de arte Daniela, Carina e Édina. Que escolheram imagens de obras de arte de artistas consagrados para decorar o ônibus-ateliê. As educadoras declaram que é notável o entusiasmo das turmas e sentem que as aulas de arte tornaram-se ainda mais empolgantes com a chegada do ônibus – ateliê, pois acreditam que ter um espaço destinado exclusivamente às oficinas de arte, contribuirá muito mais para o aprendizado e desenvolvimento do potencial criativo dos alunos.