Exposição de Miriam da Rocha discute vida e meio ambiente no Shopping Garten

Miriam da Rocha expõe ARBOREM HOMINUM, dezessete colagens em diferentes tamanhos, além de uma instalação repleta de poemas, que dialoga com outros trabalhos da mostra que acontece de 07 de março a 07 de abril na Galeria de Arte do Garten Shopping e conta com a curadoria de Luciano Itaqui.

Por meio de sua arte, Miriam reflete sobre a relação da árvore com a vida do planeta, Harborem Hominum – O Homem Árvore – é um projeto que surgiu em 2015, momento e que ela se recuperava de uma cirurgia e passou a receber revistas em casa. A artista comenta que “O volume de revistas tornou-se grande, então comecei a pensar nas imagens prontas que elas trazem com novos significados. Uni meu amor pelas árvores e minha reflexão sobre o que a humanidade está fazendo com o planeta para transformar em algo artístico e significativo.”

Miriam é apaixonada pelas árvores e por tudo o que elas nos trazem de bom, gosta de desenhá-las do seu jeito. “Árvore é abrigo, é alimento, é sombra, é cura, é frescor, é proteção, é livro, é caderno, é brinquedo, é arte. Árvores são famílias de diferentes etnias. Quando importadas se dão bem com as nativas. Suas conexões ajudam no equilíbrio do planeta. Assim deveria ser com os seres humanos”, reflete a autora.

Como referência de pesquisa e inspiração trás Frans Krajberg , artista, falecido em 2017 que buscava associar sua arte à defesa do meio ambiente; Henri Matisse, com suas colagens na fase final de sua carreira; além do colega e artista joinvilense Luciano da Costa Pereira.

#Fiquesabendo

AnC: Quando aborda a relação entre a árvore e a vida do (no) planeta, acredita que estamos esquecendo as nossas origens? Como isso te afeta?

Miriam: Acredito que isso nos afeta profundamente. Quando respeitamos nossas origens, acredito, seguimos por um caminho mais brando e com mais realizações. E estas realizações, também são pessoais, mas não apenas. Cada vez que realizamos alguma coisa, estamos realizando para um grupo. E a árvore realiza frutos, realiza sombra, realiza ninhos, realiza móveis, realiza papéis, realiza não só para ela, mas para que a vida no e do planeta se mantenha, não é mesmo? Outra coisa, pense comigo, fazemos mapa astral, mas quando pensamos sobre nossas “raízes” construímos uma “árvore genealógica”. Quem não valoriza as origens não consegue construir uma história verdadeira unida ou afastada dessas origens, depende de como ela vai se encaixar para o bem ou para o mal na sua vida. Poderia discursar mais, mas creio que está bom assim

AnC: O que te motivou a retomar um projeto de 2015 e agora apresentá-lo ao público?

Miriam: O que me motivou a retomar esse projeto primeiro foi o mestrado que estou cursando, depois veio um empurrãozinho do Luciano Itaqui, curador desta exposição, ex-aluno, amigo e uma pessoa muito querida. Mostrei para várias pessoas antes dele, mas quem me ajudou a levar a produção para fora das minhas quatro paredes foi o Luciano. O segundo motivo foi por ter passado por mais uma cirurgia em 2019. Esse trabalho me ajudou na recuperação e a me reconstruir, pois fui pesquisar sobre reciclagem de papel e acabei entendendo que é melhor partir do zero. Reciclar gasta literalmente muita energia. Não pensei em mim enquanto fazia, mas no significado que tudo isso poderá gerar em quem vê e consegue refletir a respeito.

AnC: Em muitas culturas a árvore é o símbolo da vida, imortalidade e do conhecimento. Essa simbologia também está presente em seus trabalhos?

Miriam: Talvez sim ou talvez tenha ainda outros significados. Vida, imortalidade e conhecimento são símbolos do inconsciente coletivo, mas não podemos nos esquecer do individual. E não falo de mim quanto ao individual, mas no que provocará em outros, pois não se trata de árvores reais, são extremamente simbólicas. Eu as pensei de uma maneira, mas como você a sentirá? Por que ir a uma exposição, seja ela qual for, mais do que ver você deve sentir!

AnC: Harborem Hominum, traz a colagem como linguagem artística, além de buscar como referência artistas e movimentos da história da arte. Na sua opinião, qual a importância do repertório e da construção de conceitos com propriedade antes, durante e depois do processo de criação?

Miriam: O repertório para a construção de conceitos é fundamental. Não estou inventando a roda. Muitos vieram antes de mim ou estão produzindo neste exato momento algo semelhante. Então, a produção, neste caso da colagem, não é somente se munir de papel, tesoura e cola e soltar a imaginação. Depois de se apropriar da ideia, de um conceito, de uma visão de mundo, com certeza se pode fazer isso. Uma pergunta que procuro fazer é: “o que quero com isso? No que essa produção me faz pensar? O que posso mostrar de diferente, para além da imagem que irei construir? Para tanto, é necessário estudar e, principalmente, se identificar com a própria produção e estar preparado, pois você nunca irá agradar a todos. E fazer o outro refletir a partir de uma imagem, não é uma tarefa muito fácil, não é mesmo?

Quando? 16 de março até 7 de abril
Horário? Coquetel para convidados no dia 16 de março às 19h30. Visitação até 7 de abril das 10 às 22hs
Quanto? gratuito
Onde? Galeria de Arte do Garten Shopping – Av. Rolf Wiest, 333 – Bom Retiro

Aldeia Tekoa Tarumã: Resistência, força e Luta

“Dizem que os tempos da escravidão já acabaram, mas para o indígena continua o mesmo.”
Cacique Ademilson Moreira

Foto: Walmer Bitencourt Júnio. Na foto: Sr. Luiz (Rede Luz), Celiane Neitsch (Arte na Cuca), Cacique Ademilson e moradores da aldeia. Entrevista realizada em 2019 – antes da Pandemia Covid 19.

As margens da BR 101, adentrando por um caminho estreito e sem chamar muita atenção, no final de 2019 à equipe do Arte na Cuca, em conjunto com a fraternidade humanitária Rede Luz, visitou a aldeia indígena Guarani, Tekoa Tarumã, localizada na cidade de Araquari/SC. Ao todo 11 famílias habitam a região, lideradas pelo Cacique Ademilson Moreira, que de fala mansa e agradável nos recebe na casa de reza, local sagrado para a cultura Guaraní.
A impressão foi de que lá, a vida passa mais devagar, e de que existe o tempo certo para cada coisa. O tempo de falar, de ouvir, de orar e também o tempo de esperar. Algo quase inimaginável no mundo ansioso e doente em que nos submetemos a viver, do qual já nos alertava Zigmunt Bauman.

Durante mais de uma hora de conversa, o Cacique falou a nossa equipe sobre os problemas enfrentados pela comunidade, os estigmas sociais com os quais são obrigados a conviver e a luta constantemente para preservar suas terras e cultura. Mas a vida na aldeia não é feita apenas de dificuldades e sim de muita alegria, tradições, valores e conquistas, como a nova sede da escola, construída para facilitar o acesso das crianças e jovens aos estudos.

Arte na Cuca: Como a comunidade indígena se estabeleceu na região que hoje é a aldeia Tekoa Tarumã?

Ademilson: Eu sou natural do Rio Grande do Sul, e estou em Santa Catarina há mais de quinze anos. Quando cheguei nessa região com a minha família, a aldeia já existia, outras famílias já estavam aqui, isso é algo de muitas gerações. Nossa família está aqui há aproximadamente seis anos, porque é da nossa cultura mesmo, o povo Guarani se muda, as vezes porque em certos lugares já não havia mais a possibilidade de plantio, pois o solo precisa descansar e se recuperar. Algum tempo depois de chegar aqui, tive outros filhos e estou há aproximadamente dois anos exercendo o papel de liderança. Nesse período estamos construindo algumas estruturas necessárias para a aldeia, como a implantação da escola e outros meios para irmos sobrevivendo.

Arte na Cuca: Você falou a respeito de sobrevivência, atualmente qual é o principal meio de sustento da comunidade?

Ademilson: Nós temos quatro funcionários contratados pelo Estado, que tem o cargo de professor e lecionam para a própria comunidade da aldeia, mas infelizmente a maior parte de nós sobrevive de doações. E outra fonte de arrecadação de renda é o nosso coral, composto por crianças que se apresentam em escolas públicas e universidades, além de outros eventos, em troca de alimentos. Por último temos a venda de artesanatos.

Arte na Cuca: Em um momento em que o país é governado por lideranças que deixam claro a falta ou nenhuma preocupação em preservar as terras indígenas, disseminando ainda mais o preconceito e o ódio, quando menciona que “Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, quais são as maiores dificuldades enfrentadas por vocês como ancestrais dos legítimos habitantes do Brasil?

Ademilson: Não só hoje, mas desde muito tempo como povos indígenas, nós estamos sofrendo grandes dificuldades e muitas ameaças. Vivemos em estado constante de alerta e resistência, desde a época do descobrimento e da invasão dos não – indígenas.
A nossa cultura sempre foi ameaçada, inclusive nossa própria existência, então, nos tempos atuais, não faz diferença, pois continuamos vivendo esse mesmo processo de extermínio.
Nesse cenário, já aumentou a potência de sermos exterminados, somos atacados em forma de lei, com preconceitos, vivemos com muita dificuldade, principalmente por conta do processo de demarcação das terras indígenas.

Meses atrás nossa aldeia foi ameaçada, recebemos constantes ameaças até mesmo de morte, por conta da demarcação. Nossos direitos, previstos na constituição não estão sendo respeitados nem executados, vivemos um processo de invisibilidade social e na visão do governo, nos simplesmente não existimos. Essa é a pior coisa que pode nos acontecer. Nós somos seres humanos, temos a nossa cultura, língua, espiritualidade, mas mesmo assim não somos notados. Sobrevivemos no meio do fogo cruzado, pois o maior alvo está sempre em quem ocupa a liderança.

Arte na Cuca: Em um futuro próximo, como você deseja que as pessoas possam enxergar e entender a cultura indígena?

Ademilson: Sempre, desde a criação do mundo, nós sempre fomos seres humanos. Eu gostaria muito que a sociedade em geral nos enxergasse como seres humanos normais, como qualquer outra pessoa. Nós temos uma cultura diferenciada é claro, mas o sangue que corre nas veias de cada um de nós é o mesmo. Sempre tivemos capacidade, condições e possibilidades assim como os não-indígenas, de frequentar a universidade e exercer cargos de instituições renomadas. Não somos diferentes das outras pessoas.
Sonho com o dia em que a sociedade em geral, aprenda a nos enxergar como pessoas, sem preconceitos, mesmo que não conheçam ou não queiram conhecer a nossa cultura. Que apenas respeitem o nosso direito de também existir. Não é preciso acreditar em tudo o que nós acreditamos, mas o mínimo que pedimos e buscamos é o respeito.

Arte na Cuca: Durante nossa conversa, você menciona alguns grupos que chegam à aldeia para visitas de estudos, ainda com o pensamento retrógrado, e entendem o indígena como aquele ser que vive isolado no meio da floresta, ou aqueles que de alguma forma não chegam com boas intenções. Como é essa situação para vocês e de que forma gostariam de ser reconhecidos quando o assunto é a pesquisa da cultura indígena?

Ademilson: A sociedade não-indígena precisa aprender a identificar que tribo indígena vive em determinada região, pois existem vários povos e várias etnias. Nós somos da etnia Guaraní, e sempre habitamos o litoral brasileiro e na maioria das vezes, quando escutamos assuntos que tratam de uma etnia, nos tratam apenas como “índios”, não sabem se é Kaingang, Xokleng, Guaraní, ou outros. Sendo que somos muitos e cada etnia tem sua cultura e forma de conviver. Para nós, o mais interessante seria que as escolas e demais instituições obtivessem informações mais detalhadas e tentassem de alguma forma identificar quem são os povos indígenas, em que situações são distribuídos, quais as etnias existentes.

Arte na Cuca: Ao passar pelos grandes centros das cidades, é possível perceber mulheres indígenas vendendo seus artesanatos em calçadas. Muitas chegam até a serem confundida com moradoras de ruas, e que estão na situação de pedir esmolas. Como é para vocês este não-lugar na sociedade?

Ademilson: É normal essa definição social, pois nós indígenas estamos nessa estatística de exclusão, assim como os moradores de rua. E é com essas condições que nós somos invisibilizados, realmente excluídos. Mas, eles não sabem que nós somos um povo diferente, somos indígenas, temos nossos valores, crenças e culturas. Estamos apenas comercializando nossos produtos, e o que as pessoas não observam é que quando um artesão indígena está ali vendendo suas produções ele está trabalhando. É triste termos que passar por isso, pois buscávamos nosso sustento na mata, com a destruição da natureza, precisamos partir para a mata de pedra, que são as cidades e então mendigar. Isso nos deixa profundamente tristes.

Arte na Cuca: Cacique, percebemos algumas construções na região da aldeia, vamos falar sobre os projetos que estão em andamento? Quais são eles e como as pessoas podem colaborar?

Ademilson: Estamos construindo a Casa das Mulheres, que é uma iniciativa em apoio com a Rede Luz, instituição que tem sido um grande braço direito da aldeia. É um espaço específico para o atendimento das mulheres e suas atividades, o projeto está no início, mas a comunidade e as mulheres da aldeia estão muito envolvidas no andamento da construção.
Também temos a extensão da escola estadual, que apesar de estar passando por um processo burocrático, estamos conseguindo trazê-la, sendo que a sala foi construída pela própria comunidade com materiais cedidos por parceiros. Temos aproximadamente 20 alunos, divididos em ensino fundamental, EJA Médio e o Pró-Jovem.

Quem quiser conhecer ou ajudar os projetos da aldeia Tekoa Tarumã, pode entrar em contato com Luiz, da ONG Rede Luz, através do número (47) 9 9923-4219.

Libras: Intérpretes, educação e realidade nas escolas

A Lingua Brasileira de Sinais – LIBRAS, regulamentada pela lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão (e outros recursos à ela associados), das pessoas surdas do Brasil. Segundo a lei, a acessibilidade em língua de sinais (LIBRAS) deve ser garantida por parte do poder público,  às pessoas que dela necessitarem, principalmente os sistemas de saúde e o educacional, conforme artigo:

Art. 3º- As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4°- O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente.

Fonte: divulgação

Foi no cumprimento da lei, mas também percebendo o quanto ela tem o poder de aproximar as pessoas e tornar o mundo a nossa volta mais humano, que a pedagoga Camila Meier, se apaixonou pela Língua Brasileira de Sinais.  Logo na graduação, na disciplina de LIBRAS, Camila teve aulas com um professor surdo e percebendo a dificuldade dele em estabelecer uma comunicação com a turma, a então acadêmica começa a se dedicar ainda mais as aulas, no intuito de auxiliar professor e demais alunos na quebra de barreiras da comunicação e do preconceito que ainda existia naquele ambiente. 

A estudante concluiu o curso com um grande conhecimento na disciplina e logo depois vieram cursos, pós-graduação e interação com a comunidade surda. Atualmente, Camila é interprete da língua e faz parte do time de educadoras da primeira escola de alfabetização em Libras de Joinville. Ela é nossa entrevistada e por meio dessa conversa, vamos entrar um pouco nesse universo, que às vezes é tão explorado pelas mídias quando a pauta é inclusão, mas que ao mesmo tempo, parece tão esquecido quando o assunto são nossos direitos sociais.

ARTE NA CUCA: Como foi e tem sido sua experiência de trabalhar com pessoas que possuem necessidades especiais?

CAMILA M: No geral é muito bom! Na verdade meu público-alvo é a pessoa surda, mas tive um aluno com autismo, porém sempre trabalhei com os surdos. Tudo tem os dois lados têm o que é mais tranquilo e o lado que é mais trabalhoso, mas estou em constante aprendizado. A área de LIBRAS é algo muito bom e gosto muito, toda a comunicação e expressão, é uma troca e experiência de vida.

ARTE NA CUCA: Nos últimos dias, lemos em diversos veículos de comunicação, sobre o projeto de formação bilíngue da escola Monsenhor Sebastião Scarzello. Como está sendo para os alunos essa nova dinâmica?

CAMILA M: Nosso objetivo na escola não é ensinar apenas LIBRAS, e sim as disciplinas utilizando a língua. As crianças ouvintes está recebendo com muita vontade, tudo para eles é novo e interessante, então acabam aprendendo com mais facilidade. Sempre estão atentos aos sinais para poder aprender e conversar com os amigos.

ARTE NA CUCA: De um modo geral, como você percebe a realidade do aluno surdo nas escolas? Elas estão preparadas e adaptadas para as crianças com necessidades especiais?

CAMILA M: Em minha opinião, de modo geral as escolas não se encontram preparadas, pois muitos dos profissionais não estão habilitados quando o assunto é educação especial. A contratação do profissional às vezes atende apenas aos conhecimentos básicos e os especialistas não são admitidos para as vagas e quando são, no caso das intérpretes, acabam fazendo o papel da professora auxiliar da classe.  É preciso ter a formação de especialista, mas a remuneração acaba sendo de auxiliar.

ARTE NA CUCA: Que mensagem você como educadora e intérprete de LIBRAS, deseja transmitir aos nossos leitores e que contribua para que haja mais equidade e acessibilidade no mundo?
CAMILA M: Desejo que as pessoas respeitem e entendam que a LIBRAS é uma língua, que não se tratam de gestos ou mímicas e sim um idioma. É preciso respeitar sua complexidade, pois nela tudo tem um sentido e parâmetros. Falta a valorização e conhecimento, além do investimento em capacitação dos profissionais que trabalham com inclusão, e o mais importante: Que a comunidade surda existe e está no meio de nós. Só em Joinville residem mais de 30 mil surdos, pessoas que precisam ser valorizadas, de forma que consigam se comunicar, estudar, trabalhar e exercer seu direito de viver em sociedade.

Educação e transformação por meio da arte: o propósito de Ademar César e Jane dos Santos

“Eu via o Ademar como um artista de muito talento, mas essa parte artística sempre era nosso “plano b” e não o “plano a”. Quando tomamos a decisão de realmente fazer da arte o nosso sustento, fomos buscar maneiras de fazer isso se tornar realidade”.

Jane dos Santos

Quem já passou pelas ruas dos bairros da cidade e de repente se deparou com muros coloridos e repletos de imagens de passarinhos, flores, corações e crianças felizes a brincar? Vamos dar uma dica: um deles está na entrada do Iate Clube de Joinville que fica no bairro Espinheiros, e retrata as belezas da baía da Babitonga.

O responsável por essas criações é o artista Ademar César, que há mais de vinte anos, dedica seus dias a arte e a produzir trabalhos em pintura que surpreendem por sua técnica e expressão.  Ademar vive exclusivamente de arte, e com o apoio de sua esposa Jane, mantém a vida profissional de artista e o projeto social que leva seu nome, o Instituto Cultural Ademar César, situado na rua Benjamin Constant, nº 3870, bairro Glória.

Espaço destinado a atender pessoas com ou sem deficiência, é um projeto social sem fins lucrativos, que conta com a ajuda de voluntários e se de dica a fazer com que os participantes encontrem prazer, alegria e motivação para viver por meio da arte.

 A equipe do ARTE NA CUCA visitou o instituto e conversou com o casal, que em tom descontraído  falou sobre o projeto, os trabalhos em arte-educação e a vida dedicada a arte.

O PROJETO SOCIAL

ARTE NA CUCA: Boa parte do tempo de vocês é dedicado ao projeto social Instituto Cultural Ademar César, voltado a pessoa com deficiência. O que motivou-os a iniciar essa caminhada?

ADEMAR/JANE: No ano de 2007 montamos um projeto para vender aulas de pintura. Na época, o shopping Mueller e o Shopping Cidade das Flores entraram na parceria que ainda existe, mas o projeto em si durou seis anos. Nessas oficinas, que aconteciam nos dois Shoppings, começamos a conhecer o universo da pessoa com deficiência, por volta de 2008. Foi em uma dessas oficinas que o Ademar ministrava e que eu era a responsável por fazer as inscrições , que um cadeirante se aproximou e perguntou se ele também poderia participar das aulas. Respondi que sim.

Para minha surpresa, a pessoa respondeu que eu não conhecia sua vida e que era muito difícil uma pessoa com deficiência conseguir participar de diversos eventos, principalmente por falta de acessibilidade e atenção dos demais para as necessidades do outro. Depois daquele dia começamos uma amizade, que nos sensibilizou para muitos outros projetos envolvendo a inclusão da pessoa com deficiência, transtornos mentais leves e vulnerabilidade social.

ARTE NA CUCA: Como iniciou o Instituto Cultural Ademar César?

ADEMAR/JANE: O Instituto nasce em 2011, depois de já estarmos em uma caminhada trabalhando com inclusão e oficinas em que oferecíamos bolsas para que pessoas com deficiência também participassem de oficinas que ministrávamos. Nesse ano, percebemos que o projeto voltado ao público com deficiência mantinha-se em crescimento e fomos buscar informação e treinamento para fazer dessa ação – que até então contava com dez participantes – algo maior, que pudesse beneficiar ainda mais pessoas.

A primeira sede do instituto foi uma pequena sala anexo a uma escola que oferecia cursos profissionalizantes na cidade, lugar em que ministramos aulas até 2015, quando finalmente foi possível mudar para onde estamos hoje.

ARTE NA CUCA: Quais são as atividades que o Instituto oferece para os seus atendidos?

JANE: O Instituto Cultural Ademar César oferece vivências em desenho, pintura, dança inclusiva, inclusão digital e aulas de reforço escolar, sempre utilizando a arte como ferramenta de ensino.  Nosso público atualmente está voltado para alunos de escola pública, idosos, pessoas com deficiência física, mental e algumas síndromes.

ARTE NA CUCA: Quantos atendimentos a instituição realiza atualmente?

JANE: Atualmente o instituto realiza oitenta e seis atendimentos por semana e conta com cerca de dez voluntários, entre professores, psicólogos e nutricionista e seu objetivo principal é trabalhar com o melhoramento das capacidades da pessoa, sua autoestima, independência, interação com o outro, expressividade e etc.

ARTE NA CUCA: Ademar, o livro “Dois olhares sobre Joinville” da autora Fernanda Ortiz Machado, trás algo que nos deixou curiosos, uma exposição de pinturas suas na ARCD, pensada para pessoas com deficiência visual. Como foi essa exposição?

ADEMAR: Não fiz exatamente uma exposição para pessoas com deficiência visual, apenas permiti que as mesmas tocassem nas telas durante a exposição. A curiosidade foi a seguinte: será que a pessoa com deficiência visual, se tocar na tela conseguiria compreender alguma coisa? As fichas técnicas das obras foram feitas em Braille e as pinturas eram carregas de tinta a óleo, então a percepção do tato ficou muito aguçada e foi possível compreender os detalhes de cada imagem.

Além disso, havia um texto suporte para que a pessoa conseguisse criar imagens mentais do ambiente da exposição e também das obras. O grande problema é que a maioria dos espaços não toma essa atitude, não deixa as pessoas tocarem, sentir a arte, sendo que aquele é o único jeito que ela tem para poder enxergar.

OS MURAIS DE ADEMAR CÉSAR

ARTE NA CUCA: O trabalho da pintura mural na cidade parte de uma percepção de vocês, qual foi?

ADEMAR/JANE: Percebemos que na cidade haviam muitos muros pichados e que poderíamos de alguma forma contribuir para que essa realidade mudasse. Então começamos a vender as pinturas murais, sempre atreladas a projetos educacionais de conscientização e arte-educação. Observamos que, criou-se certo respeito e que os muros que receberam os projetos não retornaram a ser pichados.

O objetivo não é apenas pintar o mural, finalizar e ir embora. É fazer um trabalho de arte-educação que inicia com a palestra nas escolas.  Os alunos e toda equipe pedagógica conhecem o artista que vai realizar aquele projeto, falamos sobre arte, sobre pintura e sobre a obra que será realizada para aquela instituição.

ARTE NA CUCA: Existe uma grande diferença entre as suas pinturas em tela e as pinturas murais, a que se deve essa mudança?

ADEMAR: Os desenhos e pinturas que faço e que estão nos quadros, foram desenvolvidos exclusivamente para o suporte das telas, são óleos sobre tela, sendo assim outra técnica. Quando eu trabalho com os murais, preciso desenvolver de um jeito que eu possa obter ajuda de outras pessoas que não sejam necessariamente artistas, durante o processo do preenchimento das cores. Comecei a fazer isso nas escolas, quando a proposta era fazer com que os alunos tivessem essa experiência de pintar junto com o artista. Nos murais, trabalhamos a arte pop.

ARTE NA CUCA: Vocês consideram que esses trabalhos, são um meio de deixar o registro do que é a arte do Ademar César, para as futuras gerações?

ADEMAR/JANE: Sim, com certeza. Pois é a pintura dele, o traço e o gesto dele que estão espalhados por diversos pontos da cidade. Estão dentro de escolas, espaços de lazer, de convencia e etc.

ARTE NA CUCA: E quanto à questão financeira, é possível viver trabalhando somente com arte? ( A pergunta não foi feita diretamente ao casal, mas está sendo feita à você leitor. Leia o que diz a fala de Jane, esposa de Ademar César).

Quando levamos a proposta dos murais, as pessoas nos param e perguntam se quem está pagando é a prefeitura. Isso chega a causar certa indignação. Em algumas situações em que estamos executando a pintura nos muros, perguntam: Vocês estão pintando aí “de graça”? E eu respondo: Sim, a gente adora ficar aqui nesse sol torrando e trabalhando de graça! A questão é, porque a arte sempre tem que ser gratuita?” Jane dos santos.

Quem quiser colaborar ou conhecer o Instituto Cultural Ademar César, pode entrar em contato através do telefone (47) 3435-8195 ou pelo e-mail: institutoademarcesar@hotmail.com

Universo, desenho e forma na arte de Cristina Walter

Cristina Walter é daquelas pessoas que está sempre criando algo, tem necessidade de trabalhar com as mãos e ao mesmo tempo expressar o que sente, seja para expor ou para guardar em algum lugar da sua casa/ ateliê, que divide com seus três gatos. Apaixonada por desenho, inicia seus primeiros traços ainda criança inspirada no irmão mais velho, que também desenhava. Com o tempo, o irmão perdeu a atração pelo desenho, à irmã, descobriu a arte.

Além do desenho, outros trabalhos da artista que chamam muita atenção são a infinidade de  origamis, dobraduras e colagens que ela desenvolve. Inspirados na cultura oriental ou em propostas e conceitos nos quais a dobradura em papel é suporte para expandir a outros universos como o da pintura, aos poucos, o que antes era apenas tinta impressa em papel, transformou-se quase que em telas resguardadas por molduras.

O ano de 2018 tem sido muito proveitoso para Cristina, que após associar-se a AAPLAJ (Associação dos Artistas Plásticos de Joinville), vem se desafiando cada vez mais e já estuda  aventurar-se por outras linguagens. Neste ano, foram três exposições muito importantes: “A Margem-Um olhar sobre o rio”, “Exposição Urban Sketchers Brasil – durante o III Encontro Urban Sketchers Brasil – Salvador/BA”, “Coletiva de Aquarelas do Grupo Observa Joinville”.

Para que sua arte e sua técnica esteja acessível a cada vez mais e mais pessoas, a artista realiza oficinas de origami e divulga seus trabalhos através da página do facebook e da marca, Universo Quadrado. Agora você também encontra as produções da Cris na loja virtual do arte na cuca. Confira a seguir a entrevista exclusiva que ela concedeu ao site, e conheça mais sobre uma de nossas parcerias, e um pouco do que ela faz e pensa sobre arte.

ARTE NA CUCA: Apesar de já produzir arte faz algum tempo, você é uma artista que está começando a se apresentar e a expor cada vez mais na cidade. Conte para nossos leitores e leitoras quem é Cristina Walter?

CRIS W: Meu nome é Cristina Walter da Silva, mas assino meus trabalhos apenas como Cristina Walter. Nasci na cidade de Joinville em 01/12/1970 e comecei a trabalhar aos quinze anos, mas infelizmente apenas meu primeiro emprego tinha relação com desenho, pois trabalhei numa agência de publicidade. Aos 23 anos me aventurei a morar em Curitiba/PR e depois de dois anos morando lá e estudando, a ajuda financeira do meu pai acabou. Fui obrigada a largar os estudos e trabalhar. Só depois de voltar a Joinville em 2012, que meus planos de ser artista voltaram a florescer. De lá para cá, espero continuar trilhando esse caminho, estudar e praticar cada vez mais para minha evolução profissional, fazer novas exposições e ser reconhecida como artista.

ARTE NA CUCA: Quando você começou a desenhar?

CRIS W: Comecei a desenhar ainda criança. Quando era pequena gostava muito dos desenhos do meu irmão mais velho e queria desenhar como ele. Infelizmente ele parou, mas eu continuei com o incentivo da minha mãe que também pintava e desenhava.

ARTE NA CUCA: Após saber que sentia esse desejo de levar o desenho adiante, quais alternativas você procurou para aperfeiçoar seu traço? Estudou em alguma escola de arte?

CRIS W: Aos onze anos fui estudar na escolinha de artes da casa da cultura Fausto Rocha Júnior, depois cursei desenho juvenil, desenho publicitário e desenho adulto. Permaneci por cinco anos. Lá eu tive aulas com Luiz Si, Nadja de Carvalho Lamas e outros professores maravilhosos. Quando mudei de Joinville/SC para Curitiba/PR, frequentei curso de pintura por dois anos na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Atualmente me dedico às aulas de pintura em aquarela com a artista Silvana Pohl.

ARTE NA CUCA: Como iniciou tua trajetória artística? Tens participado cada vez mais de reuniões e encontros de artistas, assim como de exposições. Conte-nos sobre como tudo começou.

CRIS W: Iniciei ministrando cursos e workshops de origami. O primeiro foi na empresa TOTVS em 2015. Eu trabalhava lá na época e como eles tinham um projeto interno de incentivo aos funcionários para mostrar seus talentos, me inscrevi propondo o workshop de origami. Para minha surpresa, no ano seguinte me convidaram para repetir o workshop.

Com o sucesso dessa primeira experiência, criei coragem e me inscrevi para participar do “Inconsciente Coletivo” (2015), e participei de duas edições (2015) e (2016). Ainda em 2016 realizei minha primeira exposição que aconteceu na Casa 97.

No ano de 2017 foram mais duas oficinas realizadas durante os eventos “Curta Otto” e “II Festival de Aikido e da Cultura Japonesa”. Neste ano, 2018 , me associei a AAPLAJ e decidi me desafiar e produzir e expor cada vez mais como artista. Está sendo um ano muito produtivo, participei de três coletivas de artistas que foram: “A Margem-Um olhar sobre o rio”, “Exposição Urban Sketchers Brasil – durante o III Encontro Urban Sketchers Brasil – Salvador/BA”, “Coletiva de Aquarelas do Grupo Observa Joinville”.

ARTE NA CUCA: Como surgiu a ideia de se dedicar a aprender a arte do origami e das dobraduras?

CRIS W: O origami entrou na minha vida quando eu ainda morava em Curitiba. Um dia, passeando pela feirinha do Largo da Ordem, encontrei uma expositora que dobrou e fez um Tsuru (Garça) minúsculo na minha frente e depois me deu de presente. Fiquei fascinada com aquilo! Um pedaço de papel quadrado virar um pássaro. Parecia mágica!

Ali mesmo na feira, falei para mim mesma que iria aprender a fazer aquilo de qualquer jeito. Então comecei a praticar por meio de livros e diagrama que encontrava na internet, também Fiz curso no Solar do Barão, em Curitiba, que gerou uma exposição coletiva no mesmo local. Assim eu fui aprendendo e desenvolvendo a técnica e depois a arte.

ARTE NA CUCA: O que foi e o que representa para você aprender essa técnica e essa arte milenar de origem oriental?

CRIS W: O origami é uma arte milenar que não tem sua origem muito definida. São muitas as teorias, mas foi no Japão que ela se desenvolveu tornando-se uma prática muito popular tanto para crianças como para adultos. O origami parte da sua forma mais tradicional, de um papel quadrado sem o uso de cortes ou cola (no caso do origami modular) segundo os praticantes puristas da técnica. “Já o origami pra mim, é uma grande paixão que pratico há mais de vinte anos e que está ajudando muito a tornar meu sonho de ser artista uma realidade”.

ARTE NA CUCA: As colagens e origamis que você produz e expõe em molduras são criações suas? De onde surgiu a ideia para essa produção?

CRIS W: Na época que comecei a fazer esse trabalho, queria fugir do que os praticantes da técnica costumam fazer, que são as peças tradicionais ou móbiles. Quando eu ainda morava em Curitiba, cheguei a fazer o que acredito ser a semente do que faço atualmente. Desenvolvi essas criações em molduras baseada na prática e por buscar maneiras de manter a vida útil do papel, já que se trata de um material frágil. Aos poucos fui aperfeiçoando o origami tradicional, pois na época não conhecia nenhum artista que usava o origami na produção dos seus trabalhos artísticos. Hoje já conheço alguns artistas, mas nada muito semelhante ao que faço.


Exposição discute racismo e preconceito nas escolas, “O Visível do Invisível” de Sérgio Adriano H.

O artista visual Sérgio Adriano H, está percorrendo  cinco escolas da cidade de Joinville de 08 a 31 de outubro com sua exposição/ação  “O Visível do Invisível”. O projeto conta com apoio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – SIMDEC 2016, e a mostra que reúne 12 trabalhos, duas séries de seis intitulados “Preto de Alma Branca” e “Branco de Alma Preta”, que propõe estimular reflexões sobre arte e racismo dentro das escolas e nas comunidades que estão inseridas.

O artista falou ao ARTE NA CUCA sobre o início do projeto e seus desdobramentos, que segundo ele, iniciaram a partir da seguinte fala:

“O Visível do Invisível, iniciou em 2013 a partir da fala que uma pessoa fez para mim: “Você é preto de alma branca”. Nunca pensei na vida, principalmente no tempo em que vivemos, que eu ia ouvir algo assim, pois “preto de alma branca” dentro da minha interpretação, se trata de um preto que se tornou bom e “branco de alma preta” é uma pessoa que se tornou ruim. É um ditado popular.” 

Fiz as fotografias onde pinto meu rosto de preto com lágrimas brancas e depois de branco com lágrimas pretas e realizei a exposição dessas fotos na Coletiva de Artistas aqui em Joinville (2013). Na montagem dos meus trabalhos para coletiva, precisei da ajuda do meu irmão, que nunca se permitiu ir ao museu.  Nessa “obrigação” em me ajudar, ele percebeu que o museu poderia ser a casa dele e tempos depois, começou a estudar desenho na casa da cultura. Se me perguntarem porque meu irmão só se permitiu conhecer a arte em 2013, mesmo convivendo com alguém que trabalha com arte desde 2002, vou responder: “É que não fomos educados para as artes. Só fomos educados para trabalhar, construir família, ter um teto e se manter na vida.” Para discutir esses dois fatos, o racismo e a falta de acessibilidade e oportunidade, pois existem milhões de pessoas iguais a ele que nunca se permitiram ir ao museu ou a uma exposição de arte é que construí e estou executando esse projeto.

Ficou curioso e que saber mais sobre esse projeto incrível que leva arte e o artista de encontro ao público, diálogo, acessibilidade e ainda discute questões tão importantes como racismo, preconceito e Bullying no ambiente escolar? O ARTE NA CUCA conversou com Sérgio e trás com exclusividade mais detalhes sobre o impacto social e o poder transformador da arte na vida das pessoas.

Fotos: acervo do artista

ARTE NA CUCA: De que maneira o projeto foi desenvolvido, afim de que os trabalhos e o diálogo que você leva para as escolas estimulem reflexões sobre arte e racismo?

Sérgio A.H: “A ação acontece em três dias. No primeiro dia a ação é pensada para a comunidade. Visto meu terno e fico no muro da frente da escola com a exposição montada. Nesse momento começa a surgir um questionamento por parte das pessoas da comunidade ao se perguntarem o que são essas fotos e quem é essa pessoa de terno num dia de sol ou de chuva na frente da escola e por qual motivo  está vestido dessa maneira”.

No segundo dia, a ação acontece no interior da instituição, já com os alunos. Passo o dia todo com eles discutindo sobre as questões que dizem respeito ao racismo, preconceito, Bullying, e nesse momento eles descobrem que se trata de uma exposição de arte, uma exposição/ação/intervenção, e que o objetivo é fazer com que eles se questionem e reflitam a respeito dessa experiência”.

“O terceiro dia é destinado à oficina de fotografia para alunos multiplicadores. Queremos que eles possam transformar a informação e o aprendizado que tiveram durante os três dias e disseminá-lo entre familiares, amigos, vizinhos e toda a comunidade”.

 

Fotos: acervo do artista

ARTE NA CUCA: Segundo o texto curatorial, escrito por Franzoi Carlos, nesse projeto, a série de fotografias que compõe a mostra “O Visível do Invisível” é apresentada dentro e fora da escola. Como tem sido a reação dos alunos, professores e principalmente da comunidade ao se deparar com teus trabalhos?

Sérgio A.H: “Quando os alunos saem da escola e vão para casa, contam para os pais o que vivenciaram e acabam por responder os questionamentos dos próprios familiares no dia anterior, que se tratava de: “O que eram aquelas fotografias na frente da escola?” A partir daí inicia-se o diálogo em casa, onde o aluno é quem retira os pais e familiares da passividade e os coloca em questionamento ainda maior, como em uma engrenagem que entra em ação”.

 

ARTE NA CUCA: Foram selecionadas cinco escolas municipais de Joinville para receber a exposição e todo o trabalho educativo que se dá antes e depois da mostra. Houve algum critério na escolha dessas instituições?

Sérgio A. H: “Sim. Nos meus projetos, tento me inserir em comunidades em que de alguma forma fico sabendo já ter acontecido casos de racismo e preconceito dentro das escolas.  Às vezes a escolha se dá por aquela comunidade não receber ações e projetos voltados à arte e também pelo apoio e parceria da coordenação dessas instituições. Também houve um mapeamento onde eu quis me inserir em vários pontos, para que o trabalho em si, mas de maneira geral a arte, se descentralizasse. Durante a minha pesquisa de mapeamento para determinar quais escolas receberiam o projeto, contei com a participação e mediação da Priscila dos Anjos, que também é artista e arte-educadora e vivencia essa realidade por estar diariamente presente no ambiente escolar”.

 

ARTE NA CUCA: A partir do que você já pode observar dentro das escolas e das comunidades, como tens percebido o tema RACISMO e o tema preconceito em geral, sendo trabalhado pelas unidades? E como os alunos tem recebido esse novo jeito de abordar o tema – através da arte.

Sérgio A. H: “Recebo vários alunos que depois que conversam comigo, relatam casos de racismo na escola. Mas o mais interessante é perceber o quanto eles se fortalecem com essa exposição e todo o projeto, como se fortalecem através da minha fala e da conversa que tenho com eles, porque descobrem que não estão sozinhos. Ao mesmo tempo, percebem que existe alguém fazendo algo para que eles possam ser vistos,  para que o outro também entenda o que eles passam.  A fala do aluno é de agradecimento, porque acabo fazendo com que os colegas da escola entendam e visualizem o que é ser vítima de racismo.  Porque as pessoas abordam o racismo de forma errada e falam: “Você não pode fazer racismo!”. Mas ninguém fala sobre o racismo.  Quando somos retirados da condição do escutar para ouvir o que o outro está falando, ai dói. Existe muito caso de racismo em Joinville. As pessoas dizem: “Eu não sou racista”. Mas o que você faz para combater o racismo? O que você faz para combater o assédio? O que você faz por alguém que está sendo vítima de Bullying? Você faz algo ou porque não é racista, não comete assédio e nem pratica o Bullying, você se exclui? É preciso que você saia desse lugar em que te colocaram e  se coloque no lugar do outro para entender que o racismo e o preconceito existem.

Fotos: acervo do artista

ARTE NA CUCA: Algo bastante comum dentro da escola – principalmente nas aulas de arte – quando o assunto é RACISMO – e esse comumente está associado à cor da pele – é também a associação da cor salmão com o da pele humana.  Do ponto de vista artístico e pessoal, como enxerga essa questão e em que medida ela vai de encontro ao teu trabalho?

Para responder essa pergunta, preciso explicar sobre “verdade apresentada”, que é minha pesquisa como artista. Mas o que é uma verdade apresentada? É quando sua mãe fala: “Não deixe o chinelo se não  você vai morrer”, isso é uma verdade apresentada e quando vamos crescendo, descobrimos que era somente para deixar o chinelo organizado.

Mas existem outras verdades tão bem apresentadas que é difícil de duvidar. Alguém foi tão bem apresentado a um tom de pele que ela é superior a uma pessoa pelo tom de pele. Eu digo que essa pessoa foi tão bem adestrada e convencida que não consegue mais duvidar sobre isso e não duvidando, continua repetindo o racismo.

Faixa-etária: A ação do projeto foi pensada para várias turmas, não tem faixa-etária, mas é ajustado para cada idade e turma de alunos que participa. A conversa com as crianças pequenas acontece de um jeito mais lúdico e em tom de brincadeira, já com o ensino fundamental anos finais tenho uma outra abordagem, que vai ficando um pouco mais séria e com o público adolescente faço um terceiro caminho.

Gosto de pontuar que a conversa começa pelo racismo, perpassa o preconceito mas o importante é discutir a construção do ser, que tipo de ser humano nós estamos construindo. Mas muito, mas atrás, quando você vê uma criança de cinco anos falando para o seu coleguinha: Seu preto..seu amarelo..seu vermelho.  Ele fala isso, mas quem tá por trás? É os pais? É os amiguinhos? Ele viu isso na televisão? Muito mais que isso, ou indiferente se é os pais ou amiguinhos, nós temos uma sociedade que é super preconceituosa e essa fala está embutida.  Indiferente de qual seja a faixa-etária a estrutura é pensada para atender o público escolar. Para isso também pensamos e produzimos o material educativo para professores, materias de apoio para trabalhar com aluno antes e depois da passagem da exposição.

Livro “sobre os jardins” propõe resgate da sensibilidade e do sentido da humanidade em nós

Elisabeth A.C.M. Fontes, nasceu em Leopoldina, MG, é Bacharel em Piano e tem Licenciada em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música Lorenzo Fernandez (RJ). Pós-graduada em Arte Educação (CEPEMG) e em Arte Terapia (INPG).  Atualmente, Beth também é acadêmica Honorária da ALASFS – Academia de Letras de São Francisco do Sul SC, e membro da Associação das letras e Confraria do Escritor de Joinville. É autora de diversas  obras como “Guia Prático de Bogotá”, “História de uma Aquarela “ e também “Sobre os Jardins”. Em parceria com outros autores, participou de antologias como “Saga Nossa”, “Outras Histórias” e “Letras Associadas”.

Ao Arte na Cuca, Beth falou sobre sua produção artística, seu processo de escrita, e claro, sobre sua obra mais recente o livro, “Sobre os Jardins”, ilustrado por Maria Lúcia Rodrigues.

 

Arte na Cuca – Você é natural de Leopoldina, Minas Gerais. Há quanto tempo reside em Joinville e o que te levou a mudar de cidade?  Qual foi sua primeira impressão ao chegar?

Vim para Joinville em fevereiro de 1999, por motivo de trabalho do meu marido. Quando aqui cheguei ,fiquei impressionada com a beleza da cidade, a arquitetura alemã ainda presente em algumas casas de estilo Enxaimel. Fiquei encantada com as áreas verdes e com os jardins constantemente floridos e bem cuidados, com a preservação dos museus e dos lugares turísticos. Joinville também me cativou pela gastronomia alemã, as pessoas acolhedoras, o clima friozinho e a proximidade com as praias do litoral catarinense. Desde que cheguei, senti que seria uma boa experiência morar aqui.  E eu estava certa. Hoje, 19 anos depois, me sinto tão pertencente a este lugar que me considero Joinvilense de coração.

 

Arte na Cuca – Além de escritora e arte-educadora, você também é musicista, como foi o encontro com as artes?

Meu encontro com as artes começou quando eu era bem pequena. Aos 5 anos de idade, ganhei um pianinho de brinquedo, estes que tem apenas 10 teclas. Comecei a explorar os sons e sozinha, aprendi as primeiras melodias. Minha mãe, vendo que eu tinha habilidade musical, me matriculou num conservatório para estudar piano, aos 10 anos de idade. Ali encontrei outros instrumentos como o violão, a flauta doce e o canto coral, decidindo estudar todos eles. Neste universo me descobri também compositora. Fiz inúmeras canções para crianças no meu trabalho como professora. Minha paixão pela música prosseguiu e fiz curso superior em piano. Depois, os cursos de pós – graduação em Arte Educação e em Arte Terapia.

Fui musicista e educadora musical por muitos anos e a prática da música sempre esteve ligada à poesia em meu trabalho. Das composições para crianças passei a escrever poesias para adultos, prosas poéticas e contos. Uma arte vai trazendo outra. E assim, foi chegando à minha vida o gosto pelas artes plásticas, a fotografia e também a arte cerâmica. Explorei um pouco de tudo. Hoje em dia, como escritora e musicista, trabalho integrando as artes por meio de palestras, apresentações musicais, contação de histórias e saraus.

Arte na Cuca – Você escreveu “Sobre os Jardins” e “História de uma Aquarela”, os dois últimos ilustrados por Maria Lúcia Rodrigues. Na literatura, não devemos denominar “escritor e sim autor”, pois ambos, escritor e ilustrador são autores do livro. Fale um pouco sobre a criação dos livros e também sobre o processo de trabalho de vocês.

“História de uma Aquarela” é um livro infanto-juvenil bilíngue, escrito em português e espanhol, publicado em 2013 na Colômbia e lançado na XXVI FILBO – Feira Internacional do Livro de Bogotá.   Durante o tempo em que trabalhei como voluntaria em projetos sociais da ONG brasileira Fundação Aquarela Bogotá, surgiu a vontade de escrever um livro para crianças sobre o viver em outro país abraçando o voluntariado e trabalhos humanitários. Foi o primeiro livro que escrevi com a parceria da Malu Rodrigues. O livro foi escrito à distância: os textos em Bogotá e as ilustrações em Joinville, uma parceria “on line” que a internet nos ajudou a resolver muito bem, aproximando Colômbia e Brasil, neste trabalho humanitário cujo resultado foi maravilhoso!  De caráter beneficente, o livro teve sua renda totalmente destinada às instituições assistidas pela Fundação “Aquarela de Bogotá”, que atende crianças em risco social e portadoras de câncer.  A edição e publicação do livro, feita com recursos próprios, bem como os nossos direitos autorais, foram todos doados para esta causa.

“Sobre os Jardins” foi nosso segundo livro, publicado no Brasil em 2014, com o apoio do SIMDEC e Fundação Cultural de Joinville. Em 2015, foi indicado entre os 10 livros de literatura infantil juvenil com leitura recomendada pela representante do PROLER de Santa Catarina, Dra Taiza Hauen de Moraes, durante a Feira do Livro de Joinville.

Em ambos os livros nós trabalhamos em sintonia, cada uma acrescentando à linguagem da outra, porém, respeitando a criação autoral. Malu Rodrigues, especialista em narrativa visual, desenvolve um trabalho específico de ilustração onde as imagens são cuidadosamente elaboradas de forma a estabelecer um diálogo com o texto e não somente “repetir” o que já está escrito. Isso traz uma riqueza enorme à narrativa textual. Neste processo, vamos construindo juntas todo o projeto literário onde o texto e as imagens se interagem e se complementam. É uma parceria que tem feito a gente crescer muito como autoras de literatura infantil juvenil.

Arte na Cuca – O que você poderia dizer aos nossos leitores a respeito do livro “Sobre os Jardins”?

 “Sobre os Jardins” é uma prosa poética sobre a vida e os valores humanos, baseado nos elementos dos jardins. O livro é um convite ao resgate da sensibilidade e do sentido da humanidade em nós. Propõe o silêncio e o olhar cuidadoso sobre a natureza e a busca das sabedorias guardadas no tempo das sementes, nos verdes das folhas, no crescer das árvores, no esperar das flores, nas pedras do caminho. No mundo de hoje, tão massificado pelo “imediatismo”, valores como paciência e perseverança, compaixão e resiliência são algumas das sabedorias tecidas em metáforas nas lições dos jardins e que podem ser redescobertas nesta prática de observar profundamente. Mais que com olhos curiosos, com o olhar sensível.

 

Arte na Cuca – Como tem acontecido a divulgação do livro e quais os próximos jardins onde o livro irá florescer?

Depois de ter participado de importantes eventos como o “I Jardim Criativo do MAJ”, o “VI Encontro Catarinense de Escritores”, o “VI Encontro Internacional de Contadores de Histórias FATUM”, o “III Festival da Primavera”, nosso próximo evento será participar do “XXIV Encontro do PROLER “,na UNIVILLE Universidade, dia 12 de novembro. E em seguida, do dia 13 a 18, participaremos do “II Observa”, evento realizado pelos grupos de observadores de pássaros de Joinville e região que acontecerá dentro da programação da 80ª Festa das Flores de Joinville.

Arte na Cuca –  Sobre sua relação com a música, foi em Joinville aconteceu o lançamento do seu primeiro CD “Sonoridades Doces para Sensibilidades Tranquilas”(2005), junto do “Compassolivre Conjunto de Flautas Doces de Joinville”.  Quais seus próximos projetos na música?

Participar do “Conjunto de Flautas Doces Compassolivre”, foi um grande presente para mim. Em 2003 fui convidada a fazer parte da nova formação do grupo e em 2005 gravamos o CD “Sonoridades Doces para Sensibilidades Tranquilas”. Por conta desse belo projeto, participei de várias turnês de lançamento e divulgação do espetáculo. Esta oportunidade apresentou-me oficialmente como musicista para a cidade e solidificou minha carreira aqui em Joinville, abrindo novos caminhos na arte. Foi um tempo de grande aprendizado e a feliz oportunidade de conviver com músicos e profissionais das áreas de educação e cultura.

Sobre os próximos projetos, já estou gestando um novo livro de poemas infantis o qual terá a participação da Malu Rodrigues, criando toda a imagética e a poesia da ilustração. Este novo trabalho endereçado às crianças, está carregado de delicadezas e arte, e tem planos para ser lançado no ano que vem.

Paralelamente, sigo no meu projeto pessoal “Canções de contar Histórias”, que é um trabalho autoral de composição de canções para livros infantis. Uma espécie de “música tema” especialmente composta para o livro. A inspiração surgiu em 2015, motivada pela leitura de livros de escritores joinvilenses.  As primeiras canções foram escritas para os livros “Fritz, um sapo nas terras do príncipe”, “O vento que me voa” e “Uma árvore que dá o que falar”, do escritor Jura Arruda. Depois, vieram as canções para “Dor de Passarinhos” e “Devagar e sem pressa vamos à biblioteca” ( Rita de Cássia Alves), “A dança que encanta criança” ( Bernadete Costa), ”Coração Guarany” (Marlete Cardoso) e “Tob, o cachorro campeão” (Beatriz Peres). Em 2017 comecei a compor para livros infantis de escritores do Estado do Paraná, como para o livro “Monet, e o dia em que tudo mudou” (Katya Hirata) e “A última folha” (Adriana Barretta).  Este projeto que envolve música e historias tem o desejo de virar um livro de poesias, canções e partituras futuramente. Gosto muito de interligar as artes, a música conversando com a poesia, os livros, as ilustrações e a contação de histórias. Creio que este diálogo entre várias linguagens expressivas que a arte propõe é muito enriquecedor para as crianças em seus processos de aprendizagem cognitiva, sensorial e emocional.

 

Arte na Cuca – O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?

Escrever com tempo e com paciência é um grande prazer. A gente vai deixando as ideias nascerem sem pressa, vai modelando as palavras, vai bordando a escrita. A inspiração traz o texto, mas é o debruçar-se sobre ele que o torna poesia. A minha maior alegria está em receber o retorno do leitor, saber se o meu texto tocou ou acrescentou um pouco de emoção e significados à história de quem leu. Se o meu livro emocionar, suscitar alguma boa lembrança, provocar alguma mudança, trouxer algum estado de encantamento, ele terá cumprido seu propósito de dialogar com o sentimento do outro. E isso é o que nutre a minha vontade de continuar escrevendo.

 

Os livros da autora podem ser encontrados para venda na livraria: “O Sebo”, Rua Dr. João Colin, 572 – Centro, Joinville – SC. Tel. (47) 3433-7081. Meu contato: beth.fontes@gmail.com

Oh, Céus! – exposição de Silvana Pohl no Garten

Nesta quinta-feira, 18 de outubro às 20 horas, no  Garten Shopping  recebe a mostra intitulada “Oh, Céus!”, da artista visual, Silvana Pohl que apresenta ao público seu trabalho através de 19 aquarelas em que o tema de sua pesquisa está sempre direcionado para a cor, beleza e enigma dos céus.  A exposição conta com a curadoria de Marc Engler e ficará aberta até o dia 06 de novembro.

Oh, Céus é a 12ª mostra individual de Silvana, a 1ª foi em julho de 2010 quando expôs na Secretaria Municipal de Educação, a artista apresentou seus trabalhos também na Biblioteca Pública, no Centro Cultural Brasil Estados Unidos e na Casa da Memória, além de diversas coletivas. Em maio a artista participou da Exposição Internacional FabrianoInAcquarello, em Fabriano, Itália. Silvana Pohl faz parte da Associação dos Artistas Plásticos de Joinville AAPLAJ desde 2017.

Estudou aquarela com Asta dos Reis de 2005 a 2008, curso de Desenho e Pintura na Casa da Cultura 2012 a 2014. Continua seus estudos como autodidata.  Busca referências e admira os trabalhos de grandes mestre da aquarela, no Brasil,  Marcos Beccari, Renato Palmuti, Antonio Giacomin, Ari de Góes Jr.  Nos EUA, Ali Cavanagh, Marney Ward, Jeannie Vodden, Heidi Parrinello, Thomas Schaller. Na Europa e Oriente, Mitko Yankov, Igor Sava, Igor Mosiychuk, Adisorn Pornsirikarn, Carol Carter, Anna Hammer, Nesta Musial-Tomasewska, Berhard Vogel, Elke Memmler, Shirley Trevena,  Viktoria Prischedko, You Mee Park, Milind Mulick, Endre Penovac e John Lovett, Ilustrou capas de dois livros da poetisa joinvilense Rita de Cássia Alves – “Ensaio de Pétalas” e “Pele Submersa” e ilustra o novo livro de Lair Bernardoni. Silvana compartilha seus conhecimentos da técnica da aquarela com seus alunos em seu atelier particular.

Sem dúvidas, é uma artista de muitos talentos que já é figura carimbada no nosso site, e por isso mesmo, decidimos fazer um “bate e volta” de perguntas e respostas com a DIVA da aquarela joinvilense, confere aí!

ARTE NA CUCA – COMO VOCÊ DECIDIU SER UMA ARTISTA AQUARELISTA?

SILVANA POHL – Desde a infância, sempre gostei de desenhar e pintar. Mas só me dei conta da aquarela como forma de expressão em fins dos anos 90, em especial por sua funcionalidade. Ainda não tinha consciência da técnica com sua valorização pela transparência. No início de 2000 fiz alguns anos de aulas com Asta dos Reis com quem comecei a aprender os princípios. Mas foram os anos de prática, meus estudos como autodidata, os cursos com mestres dessa arte e meu papel como instrutora que me tornaram mais conscientes dessa técnica difícil, mas fascinante por sua imprevisibilidade. O papel, a água e o pigmento são meus parceiros de trabalho e, muitas vezes, comandam os resultados.

ARTE NA CUCA – O QUE TE INSPIRA PARA PRODUZIR UM NOVO TRABALHO ARTÍSTICO? 

SILVANA POHL – São muitas ou poucas coisas.  Depende da perspectiva da qual se observa. Pode ser uma teia de aranha, uma folha descolorida caída no quintal, um “esqueleto” de folha que se decompõe, um inseto, a harmonia de cores de uma flor, a incidência da luz sobre uma paisagem ou um objeto. Os céus de Joinville! Essa é a magia de viver… a magia do olhar. Tem que ter olhos pra ver!

 

QUANDO: Abertura 18 de outubro às 20 horas. Visitação até 06 de novembro, de domingo a domingo, das 10 às 22 horas
QUANTO: entrada gratuita
ONDE: Garten Shopping – av. Rolf Wiest, 333, no Bom Retiro, em Joinville

Exposição de Rosi Costa traduz o feminino em paisagens

A artista visual Rosi Costa inaugura a exposição Durante o trajeto no Garten Shopping de Joinville no dia 13 de setembro, quinta-feira. A mostra pode ser vistada gratuitamente até o dia 17 de outubro e reúne onze telas com pinturas que representam a subida do Morro do Boa Vista em direção ao mirante.

Conhecida por suas pinturas de orientação figurativa, mas também por trabalhos de abordagem contemporânea com objetos, performances e instalações, a produção artística de Rosi Costa costuma propor reflexões a respeito do universo feminino e leituras críticas sobre o papel da mulher na sociedade. A ênfase em paisagens dada pela exposição Durante o trajeto é uma versão livre dessa mesma temática, inspirada por Winnie, personagem parcialmente enterrada na peça de teatro Dias felizes, escrita por Samuel Beckett. Das onze telas apresentadas no Garten, dez compõem cinco duplas que se aproximam formalmente com pinceladas, tonalidades e texturas semelhantes.

Além de artista filiada à Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ), Rosi Costa é professora de pintura, de desenho e de técnicas sobre tela. Graduada em Pedagogia e em Artes Visuais, tem pós-graduação em Metodologia do Ensino da Arte e atua desde 2001 no processo de orientação de trabalhos em arte no seu ateliê em Joinville. Suas primeiras participações em exposições coletivas datam de 2012, embora a artista também tenha feito pequenas mostras individuais em espaços não oficiais.

Por e-mail, a artista falou ao ARTE NA CUCA sobre seus temas, sobre sua trajetória e sobre a sua motivação para montar a exposição Durante o trajeto.

Foto: Gleber Pieniz

Durante o trajeto é tua primeira exposição individual. Por que escolheste este grupo de trabalhos para expor e uma sala de shopping center para fazer a tua estreia?

Embora nos últimos anos eu esteja participando de muitas exposições coletivas, há uns anos atrás já fiz exposições individuais na cidade: Câmara de Vereadores, shoppings, biblioteca pública municipal, Faculdade Cenecista de Joinville e Detran. Joinville carece de espaços para exposições e a AAPLAJ em parceria com o Garten Shopping vem valorizando e abrindo esse espaço para que os artistas da cidade tenham a oportunidade de apresentar suas produções. Penso que esse apoio à classe artística merece o retorno dos artistas, levar a arte para espaços públicos e apresentar à sociedade a arte que se produz aqui.

Tua poética ja é conhecida pelas formas figurativas, pelo tema da mulher e pela leitura crítica do universo feminino. Como estas paisagens dialogam com a tua produção habitual? Como esta exposição se encaixa na exploração da tua temática, no desenvolvimento da tua pesquisa?

Inspirada na peça de teatro Dias felizes de Samuel Beckett, onde uma mulher fica presa em um morro, comecei a fazer esse diálogo com minha poética pensando nas montanhas que impedem as mulheres de buscarem serem felizes. No final do ano passado realizei na subida do morro do mirante uma intervenção artística com interação das pessoas que circulavam ali. Como esse espaço me transmite uma meditação ativa e uma reflexão sobre a minha pesquisa, representei essas subidas, curvas e sensações em pinceladas, cores, luz e formas.

Foto: Gleber Pieniz

A pintura é tua forma expressiva mais familiar, embora você tenha se destacado em exposições coletivas com trabalhos híbridos de abordagem contemporânea. Como se dá esse trânsito entre um e outro enfoque na tua arte?

Gosto de me expressar em muitas linguagens. O universo feminino e as reflexões em torno dele me fazem ora querer me expressar de uma forma, ora de outra forma, fluindo de uma para outra abordagem sem conflitos, porque a base poética é sempre a mesma.

Ainda que representem um mesmo lugar e um mesmo ponto de vista, as telas desta exposição se agrupam em pequenos conjuntos que diferem entre si na forma, na cor e no gesto. Como isso acontece na tua pintura?

É interessante que quando se sobe o morro do Boa Vista em direção ao mirante, cada curva surpreende de maneira nova. Na verdade são vários pontos de vista, a próxima curva é diferente da anterior, e essa percepção está representada nas pinturas a partir de pinceladas e cores diferentes. Sou muito intuitiva e ágil no processo e no gesto pictórico, é uma característica pessoal e essa característica fez com eu tivesse que me conter e repensar. Quando me dedicava à pintura dessa série, pintava duas telas de cada vez e esse resultado se percebe claramente observando o conjunto dos trabalhos. Procurava dar esse tempo e me dedicar a outros processos da minha produção e depois retornar para conseguir essa expressividade.

DIA: 13 de setembro
HORÁRIO: 20 horas
VISITAÇÃO: até 17 de outubro, de domingo a domingo, das 10 às 22 horas
CUSTO: entrada gratuita
LOCALIZAÇÃO: Garten Shopping – av. Rolf Wiest, 333, no Bom Retiro, em Joinville

Somaa lança seu primeiro álbum nas redes e em formato físico

O mundo quer te enganar é o primeiro álbum completo da banda Somaa e já pode ser acessado através de plataformas virtuais como Spotify, Deezer, Apple Music/iTunes, Amazon Music e Google Play. Lançado pela Monstro Discos também em formato físico com tiragem restrita, o CD do grupo formado por Rafael Zimath (voz e guitarra), Nedilo Xavier (baixo) e Tiago Pereira (bateria) marca o ponto mais alto de uma discografia composta por alguns singles e videoclipes, um DVD (Ao vivo para ninguém), três EPs (Primeiro, Colisão & outras histórias ordinárias e Pequenos poderes) e um CD compartilhado com a banda Sylverdale (Clube da distorção e quebradeira, vol. II).

O disco é o primeiro registro cheio na carreira do Somaa e surge como o resultado de uma pré-produção atenciosa, de um período de gravação em São Paulo e de um lançamento garantido, em grande parte, por uma campanha de financiamento coletivo. A composição das primeiras das onze canções que integram o álbum teve início em 2016 e se estendeu até o final de 2017, nas sessões imersivas gravadas por Gabriel Zander (que produziu Autoramas, Vivendo do Ócio e Menores Atos, entre outros artistas) no Estúdio Costella, em São Paulo. A partir de maio de 2018, o grupo joinvilense mobilizou apoiadores pelo Catarse e reuniu fundos para a finalização do disco que traz capa com a arte de Pedro Gonçalves. O mundo quer te enganar foi finalmente lançado para venda e audição via streaming nas plataformas virtuais no dia 17 de julho, seguido de uma prensagem limitada de CDs pelo mesmo selo Monstro Discos que, há vinte anos, lançava Blue beach monster, coletânea em vinil roxo de sete polegadas com as bandas Bendis, Skabide, E a Vaca Foi Pro Brejo e Butt Spencer (a primeira banda do guitarrista Zimath).

O mundo quer te enganar é um disco cheio de panoramas visuais, de construções roqueiras que emulam espaços, situações e ambientes sempre renovados a cada audição. A alternância de climas é tão grande quanto o número de colaborações de músicos convidados e constitui uma sonoridade áspera e concisa muitas vezes equilibrada por sutilezas de arranjos, timbres e andamentos mais sofisticados. Uma dessas modulações imagéticas mais empolgantes está justamente no miolo do disco, quando “Pressa, etc” acelera a máquina sônica do Somaa a níveis atmosféricos, alcança altura e velocidade de cruzeiro em “Profissão de urubu” e, depois, cai pesada, literalmente, em “Paraquedas – Para elefantes”, de onde sai rastejando, cautelosa, em “Meu querido lado esquerdo” para dar início a outro percurso sonoro-visual que se cumpre até o final do álbum.

Por e-mail, o guitarrista e vocalista Rafael Zimath e o baterista Tiago Pereira conversaram com o ARTE NA CUCA sobre o disco, sobre os detalhes de composição e gravação de O mundo quer te enganar e também sobre a cena cultural que o Somaa ajuda a construir e por onde faz sua música circular.

Como se deu o processo de composição e gravação de O mundo quer te enganar? Como funciona o Somaa por dentro quando se trata de construir a própria música?

Rafael Zimath: O Somaa surgiu em 2011 com o propósito de fazer música que fosse orgânica, não demasiadamente pensada e que pudesse ser amadurecida nos palcos, ao vivo. Assim, naquele momento, um álbum era a última das nossas prioridades. Em 2014 tive a oportunidade de trabalhar produzindo o segundo CD da banda Fevereiro da Silva e este trabalho reacendeu algo dentro de mim: me dei conta que eu sou um compositor de álbuns. Me encanta, como ouvinte, a maneira que um álbum pode apresentar uma experiência completa de um artista, o modo como as músicas podem se entrelaçar. Entendi que estou no meu melhor quando tenho esse input criativo, a tarefa de construir um painel completo. Então, depois de vencidos alguns projetos em andamento (o DVD Ao vivo para ninguém, outro EP), entrei em 2016 com esta meta do Somaa gravar o seu álbum – um disco que registrasse a nossa consolidada sonoridade e que também pudesse ser o melhor trabalho que conseguíssemos conceber. A primeira coisa que decidimos foi gravar em regime de imersão. Eu já sabia que algo acontece quando uma banda inteira se tranca em estúdio durante 12 ou 13 horas por dia e fica totalmente focada em gravar um disco. Todos participam, ideias fluem, há um melhor aproveitamento do esforço e, com sorte, aquele momento intangível de uma performance pode aparecer e ficar registrado para a eternidade em um pedaço de plástico ou qualquer outra plataforma virtual disponível. Também decidimos raspar as economias, apostar outro tanto do nosso próprio dinheiro e gravar em São Paulo, no estúdio Costella, com o Gabriel Zander. Eu conheço o Bil há mais de 20 anos e há pelo menos uns dez penso em gravar com o cara. Se demoramos este tempo todo para lançar um álbum, a gente queria que o troço todo ficasse foda. Então, tentamos gravar a banda ao vivo e sobrepomos detalhes posteriormente, algo que também não tínhamos feito. A gente queria uma gravação orgânica, na cara, com bastante ambiência ou espectro espacial. Posso dizer que acho que deu certo, sem soar muito bobão?

Tiago Pereira: Nós ficamos durante quase todo o ano passado nos encontrando semanalmente (às vezes até duas vezes por semana) pra arranjar e ensaiar as músicas do disco. O Rafael é a principal força criativa do Somaa. Quase tudo que tem nesse álbum em termos de harmonia, riffs e letra foi o Rafael que compôs e nos mostrou. Eu e o Ned contribuímos com detalhes de estrutura, dinâmicas e pouca coisa no texto. Tem bastante esforço de pré-produção no disco. Nós queríamos chegar no estúdio com as músicas tinindo. Valeu a pena o esforço.

Rafael Zimath: Eu escrevo uma quantidade razoável de música, semanalmente. Algumas letras também, mas em volume desproporcional ao que tenho de ideias musicais. Então, normalmente, eu levo o material para a banda, apresento e a gente monta os arranjos (Tiago ajuda muito com o texto, como fez em “Eu sou um terremoto” e “Desapego”). Este processo coletivo é fundamental porque a gente busca maneiras diferentes de representar/arranjar as composições que não sejam fáceis ou triviais, mas também sem nos alongarmos muito nisso. Neste aspecto, penso que o arranjo é algo que nos interessa muito, uma faceta da composição que pode oferecer caminhos muito diferentes do que a música inicialmente pode indicar. Quem tiver a oportunidade de ouvir as demos das músicas do disco, vai perceber que tem muita coisa que mudou ao longo do processo. Algumas canções tiveram cinco ou seis arranjos diferentes (ora arrastadas, ora diretas, etc).

Em que medida o novo trabalho se aproxima e em que medida ele se afasta dos discos que a banda lançou antes?

Tiago Pereira: Parece que ter ficado vários meses ensaiando e ouvindo as músicas enquanto elas foram sendo construídas contribuiu muito pra chegarmos às melhores versões possíveis. Nós pudemos fazer esse trabalho de depuração dos arranjos com bastante calma, ao contrário das gravações anteriores. Penso que temos belas músicas gravadas antes, mas é nesse álbum que está o melhor conjunto de canções que já fizemos. Outro diferencial do disco é que o Rafael está em seu melhor momento como intérprete das próprias músicas. A performance vocal dele cresceu muito.

Rafael Zimath: Em comparação com o que já gravamos antes, me parece que o aspecto central da sonoridade da banda está lá: o peso, os riffs, o gosto pelas harmonias não-ortodoxas, os arranjos acidentados entre bateria-baixo-guitarra, o lirismo ácido, reflexivo e existencialista. Os trabalhos anteriores também apresentavam estes elementos, afinal é quem somos como banda, como músicos. Isso não mudou. A grande diferença foi o processo de gravação, a imersão, o desejo de extrair o melhor resultado possível antes de gravar e enquanto gravávamos. Acho que outra diferença é também o fato de eu ter acionado o botão “Compor canções que formam um álbum”. Então, colaborei com músicas que, talvez, isoladamente, não tivessem sido criadas. Algumas foram escritas justamente para se contrapor àquelas já acumuladas em estoque para este álbum.

Que motivos ou temas (influências, referências, fatos…) interessam ao Somaa quando se trata de escrever letras e compor a parte instrumental das canções? De que modo esse conjunto de fatores também pode se transformar em uma ideia visual para a capa do disco e para os clipes?

Rafael Zimath: Quanto às letras, penso que o mundo como ele é ou como parece ser, interessa demais. A dinâmica das relações (interpessoais, sociais, etc), a interação com a tecnologia e seus múltiplos efeitos, as vidas de aparências, a comunicação, o papel da ciência, o desejo de encontrar a si mesmo nesta insanidade que é estar respirando o ar de 2018, no Brasil e neste planeta “Eu”. A vontade de ter uma vida abundante de arte, que não seja superficial, a busca pela reinvenção e a aceitação também de quem és, a manutenção das relações de verdade, a perseguição dos sonhos. Tento escrever sobre coisas diferentes ou de maneiras distintas, mas dizem que os autores/escritores acabam reproduzindo os mesmos dois ou três temas que os definem como artistas, então há, evidentemente, assuntos que voltam porque as coisas giram, mas às vezes param no mesmo lugar. Estes temas, esta maneira de ver as coisas, é o nosso ethos como artistas, então se relacionam diretamente a outras criações da banda como as artes, os vídeos, etc.

Tiago Pereira: O Rafael tem uma maneira muito peculiar de escrever. A poética dele carrega um certo ceticismo cortante, sem sentimentalismos e com uma certa agressividade. Eu nunca perguntei o que o motivou a escrever determinada música ou parte de música, mas suspeito que ele direcionou muitos versos a pessoas com as quais ele parece não ter tido boas experiências. Eu até brinquei que o disco poderia se chamar Música contra pessoas. Na parte instrumental essa agressividade comedida também aparece: há momentos de dissonância, distorção e ruídos, mas também há melodia e momentos mais solares. Creio que o Pedro, que fez a arte do CD, captou bem essa combinação (mas confesso que achei todo o projeto gráfico mais impactante e verborrágico do que a sonoridade do disco).

Na visão de vocês, como se estrutura o cenário rocker em 2018? Qual é o ambiente por onde a presença do Somaa circula?

Tiago Pereira: Eu percebo um aumento de eventos de música autoral em Joinville. Há o Quinta Independente (cinco edições até o fim do ano), o projeto Autorama (três edições ainda em 2018), a festa Autonom(a), shows periódicos no Garage, na Casa 97 e outros. É nesse circuito que pretendemos dar as caras periodicamente, além de tentarmos tocar ao menos nas principais cidades próximas e em algumas capitais (Curitiba, São Paulo). Não crio expectativas para além disso.

Rafael Zimath: Esta é, talvez, a pergunta mais difícil. Eu vejo que, desde sempre e como nunca, as cenas fortes (do metal, do rap, etc) são aquelas setorizadas. Na minha cabeça, o Somaa acaba sendo prejudicado por não estamos enquadrados dentro de um setor específico, nosso rock é um blend – diriam os gourmetizadores. Por outro lado, isso é um diferencial em um universo repleto de informação – na maioria, rasa. A cena em Joinville está bem movimentada, algumas casas abrindo espaços para a música autoral e a gente está dentro desta movimentação, mas ainda temos muitas perguntas para responder: como criar uma maneira eficiente de se comunicar? Como encontrar um canal eficiente para se comunicar com o público? Estamos tentando descobrir tudo isso. Você publica o cartaz do show no Facebook, mas quem não recebe a informação, não fica sabendo do evento e não vai.

Tiago, o teu trabalho como músico se espalha por bandas e projetos de diferentes sonoridades e propostas. Em que medida a música do Somaa se encaixa nesse panorama?

Tiago Pereira: O Somaa é a banda em que eu coloco minha identidade como baterista, minha assinatura. É onde eu posso criar à vontade, pensando em fazer arte mesmo. Isso me completa muito. Na maioria dos outros projetos não tenho essa mesma liberdade – nem caberia, creio. Não me vejo tocando apenas cover ou apenas gravando em estúdio pra outras bandas. O Somaa faz eu chegar muito próximo daquele desejo adolescente de ser músico e isso me faz muito bem.

Rafael, tua colaboração com a Monstro Discos já vem de longa data. Como você analisa o papel dos selos independentes no cenário de uma música que, quanto mais se massifica e se padroniza, menos se encontra encarnada nos formatos tradicionais?

Rafael Zimath: Pois é, na verdade essa parceria existe e não existe durante este tempo todo, já que se limita a um disco lançado em 1998 (com o Butt Spencer) e este último trabalho do Somaa, agora em 2018. Mas sempre continuei acompanhando os caras, curtindo os discos que lançam, mantendo contato eventual. Os selos continuam e continuarão existindo, apesar de terem perdido a força e o mercado. Então, as condições para lançar materiais por selos estão encolhendo ainda mais para as bandas e os artistas. Mas sempre haverá público que curte essa maluquice que é criar música nova, lançar álbuns – ou é só o meu lado otimista mandando o pessimista calar a boca.

Tiago, você desdobra a atuação do músico não só como artista, mas também como divulgador do circuito, ativista da cena, professor e promotor do trabalho de outros músicos. De que forma o lançamento de um disco apenas no formato virtual pode materializar esse trabalho e mapear lugares, ocupar canais, servir como conexão entre diferentes cenários?

Tiago Pereira: De fato, eu me esforço para contribuir com a “cena” da cidade. Desde que comecei a tocar eu ouço a lamúria de que “Joinville não tem nada”, que qualquer outra cidade é mais atraente e rica musicalmente. Enfim, isso pode ser parcialmente verdadeiro, mas eu não consigo me conformar pelo simples fato de que eu moro aqui e quero viver numa cidade com o máximo de produção musical possível. Reconheço que tenho uma queda por causas perdidas, já que os desafios pra se criar uma cena e um circuito por aqui são grandes. Mas eu sigo fazendo o que está ao alcance. E percebo avanços: existe uma infinidade de bandas compondo, músicos que só tocavam cover estão começando a divulgar seus trabalhos, casas que antes só tocavam cover (Didge, Porão da Liga, Bovary) já estão aceitando música independente, em alguns shows pode-se ver o público cantando as músicas das bandas e até em barzinhos já se pode ouvir cover de músicas de Joinville – o que é simbolicamente muito importante. Eu imagino ser possível criar um ambiente em que fazer música própria seja o caminho natural para os músicos e as bandas. Acredito ser possível construir esse ecossistema favorável à música independente, com lançamentos frequentes e de qualidade, com periodicidade de shows, atraindo artistas relevantes de outras cidades – o que leva à qualificação dos artistas daqui. Claro, tudo isso é a longo prazo. Nesse contexto, um lançamento em formato digital já pode ser considerado uma contribuição ao caldo, mas o Somaa também vai lançar o formato físico do álbum.

Rafael, tua música foi gravada e compartilhada em todas as últimas mídias contemporâneas (radiodifusão, fita cassete, vinil, CD, arquivo digital, streaming). Que tipo de sabedoria ou experiência essas mudanças todas te deram? Como essas tecnologias influenciam ou condicionam a tua música?

Rafael Zimath: O que aprendi é que existem vários caminhos para a música, cada qual com o seu pró/contra a se anunciar para cada perfil de ouvinte. A música pode trafegar em todos estes formatos que, de outro lado, não se excluem. Pessoalmente, me atraem os formatos que envolvem a interface física da música. Embora seja um usuário frequente do streaming (convenhamos, a coisa toda é muito prática e pode ser utilizada em regime 247), a experiência de “segurar” a música que ouço ainda é muito importante. O conteúdo musical não encerra, por si só, a experiência. Eu sou este dinossauro que recebe injeções de serotonina ao segurar um disco bacana enquanto o escuta. Analiso a capa, encarte, letras, por isso sempre me interessei pela concepção da arte dos nossos discos. Quanto a esse ponto, acho que sou um cara do velho testamento, então estas novas tecnologias não influenciam ou condicionam a maneira como a minha música é concebida. Para mim, canções continuam sendo canções: pego a guitarra e o violão e um velho caderno repleto de anotações, memórias, ideias ou sequer as uso. Depois que a coisa se torna pronta, aí tenho um problema que é pensar na plataforma para veicular este produto acabado.

Para encontrar o Somaa nas plataformas virtuais, acesse:

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