Cultura como profissão e existência: conversa com a bailarina e artista visual Nicole Leite

Nicole Leite é natural de Santos (São Paulo) e desde criança por influência da mãe, sonhava em ser bailarina.
Estudou na Escola de Bailado (Santos) e dançou profissionalmente na Companhia de Dança da Cidade de Santos. Em 2020 ingressa no curso superior de bacharel em Artes Visuais pela Univille trabalha como mediadora cultural no Instituto Internacional Juarez Machado. No ano de 2022, é eleita conselheira municipal de cultura pela setorial de artes visuais. Em parceria com outros artistas, cria o coletivo Entremeios.
Atualmente, também participa do coletivo Projeto Labart como intérprete-criadora em dança contemporânea e da Associação de Artistas Plásticos de Joinville – AAPLAJ. Na arte-educação é educadora em uma ONG que desenvolve atividades de contraturno cultural no bairro Morro do Meio.

Hoje aos 23 anos ela já dançou profissionalmente em várias cidades e está em busca do tão sonhado diploma de Bacharel em Artes Visuais. Além da vida dedicada a dança e as artes, entendeu que para ser artista em um país marcado pela desigualdade social, é preciso atuar em várias frentes, como a arte-educação e a política cultural.

Aluna da Escola de Bailado de Santos

Arte na Cuca: Você comenta sobre a “Escola de Bailado Municipal de Santos” e a formação que considera mais profissional. Como foi essa época da sua vida?

Nicole Leite: A escola contribuiu muito para minha formação. Foi um grande incentivo, afinal estudei de forma gratuita graças a uma política pública de acesso a cultura. A instituição é administrada pela Secretária de Cultura de Santos e possui em sua estrutura a Companhia Balé da Cidade de Santos, um grupo profissional que também é fruto de politicas públicas, sendo composto por bailarinas mais experientes e que recebem um salário para trabalhar na Cia todos os dias, seis horas diárias. Fui convidada para ingressar nesse grupo aos 16 anos, e na época eu estava no sétimo ano da minha formação. Tanto a escola de bailado quanto a sede da companhia estão localizadas no Teatro Municipal Brás Cubas, um equipamento cultural que concentra vários outros equipamentos públicos administrados pela SECULT de Santos, como a cinemateca, cias de teatro, galeria de artes visuais, entre outros. Ou seja, meu cotidiano era extremamente cultural.

Foi a escola de balé que me oportunizou uma imersão enorme no universo da dança. Fiz grandes amizades, dancei em várias cidades, como a capital São Paulo/SP e também fora do estado, nas cidades de Florianópolis/SC e Joinville/SC. Não vou dizer que foi uma época perfeita, o balé é duro, e dançar profissionalmente é mais ainda, mas sou grata demais pelo privilégio de ter começado minha vida profissional já dentro do setor artístico. Os únicos empregos que eu tive até então foi de recepcionista de uma dentista e vendedora de jornal! (risos).

Arte na Cuca: Na sua opinião, quais foram as principais diferenças entre trabalhar com arte em grandes cidades como Santos e São Paulo, e seguir com a profissão em Santa Catarina?

Nicole Leite: Em nenhum lugar tem sido fácil e é sempre uma luta diária, mas percebo algumas diferenças sim. Acho que o estado de São Paulo possui políticas públicas mais estruturadas voltadas para o setor cultural. Também é um estado MUITO multicultural, pois agrega grupos diversos, que partiram, ou foram forçados a deixar seus países ou outros estados do Brasil, para se estabelecerem em SP, tanto na capital como no litoral. É muito comum ver pessoas cujo os familiares não são de São Paulo. Eu por exemplo, tenho minha família toda nordestina por parte de mãe, e a família por parte de pai é paulistana e espanhola, pois minha vó deixou a Espanha para morar em Santos aos 16 anos.

Digo tudo isso pois na minha concepção, essa diversidade toda deixa a região mais multicultural em todos os aspectos, e até certa medida, a população respeita isso (claro que temos muitas ressalvas aqui, a cultura nordestina ou afro-brasileira não é tão respeitada como as europeias, mas enfim). Já em Santa Catarina, parece existir uma questão histórica em que prevalece a cultura europeia, principalmente as culturas alemã, italiana, etc, em detrimento dos outros povos que aqui também habitavam (população afrodescendentes, indígena, etc.). Eu sinto que a tolerância com a cultural alheia é menor. E isso pode respingar em muitas coisas, que vão desde a qualidade de vida das pessoas imigrantes, até as políticas públicas para o atendimento e dignidade dessas pessoas.

Joinville/SC e Santos/SP são cidades com área territorial e número de habitantes bem aproximados, mas os incentivos voltados para o setor cultural são diferentes. Em Joinville a gente precisa lutar MUITO contra o conservadorismo, a censura, a marginalização da cultura como um todo. Como eu já disse, em Santos não é fácil também, mas é diferente. São Paulo tem uma realidade que não tem como comparar a nenhuma cidade do Brasil e até mesmo a poucas cidades no mundo. É uma cidade riquíssima, com muita gente, muito mais oportunidade mas também muita competitividade. Tá todo mundo lutando por um espaço, por contatos, por formação, por uma parede na galeria, por uma vaga em uma Cia. Tem, de fato, muita oportunidade, mas o cenário da desigualdade lá é tão explicito no nosso cotidiano, e isso me afetou muito.

Vivi coisas maravilhosas lá, as mais marcantes foram os trabalhos que eu fiz como dançarina para a O2, uma das maiores produtoras audiovisual do país, e um outro trabalho chamado Protesys, com direção de Afonso Poyart e participação do Cauã Reymond. Mas pra viver com o mínimo de dignidade lá é preciso já ter muito dinheiro e eu não tinha recursos para além do que eu ganhava trabalhando, isso que trabalhei com muita coisa sem ser artisticamente também. Certo dia, demorei 4 horas para sair de um trabalho na zona sul de São Paulo para chegar na casa do meu tio na zona leste. Nesse dia percebi que, se eu quisesse ter tempo e qualidade de vida naquele momento da minha juventude, eu precisaria deixar de lado o sonho de morar na capital, ao menos até me estruturar para quem sabe, voltar futuramente e assim vivenciar as melhores partes daquela cidade incrível e desafiadora.

Em cidade menores como Joinville e Santos, em relação a São Paulo (capital) as oportunidades são menores, mas existe mais espaço para a inventividade e criação de novas proposições. Se a cidade tiver estrutura e políticas para incentivar esse crescimento, melhor ainda. Em Joinville a gente luta diariamente para conseguir incentivos e espaço, e acima de tudo respeito para com a nossa existência e nossas expressões .

Arte na Cuca: Foi também em Joinville que você iniciou o curso superior de bacharel em Artes Visuais e segue atuando profissionalmente, (artes visuais, dança e arte-educação). Alguns artistas encontram dificuldades para atuar em diferentes linguagens e perceber as artes em suas diversas possibilidades e conexões. Como as três atividades atravessam seus projetos pessoais e culturais?

Nicole Leite: Apesar da gente classificar nossas atuações em “caixinhas”, agrupando por suas características inerentes e especificidades (e até mesmo para melhor organizar as demandas de cada fazer), eu acredito que as coisas se misturam, se influenciam e se convergem até certo ponto. Claro que depende muito da pessoa que “encabeça” essas ocupações. No meu caso, eu gosto dessa transversalidade, da influência desses setores entre si, sinto que me potencializa. Por exemplo; sou da dança e quando iniciei minha produção no campo das artes visuais, fez muito sentido que a performance fosse uma linguagem que estivesse no meu radar, pois possuem semelhanças. Para mim é confortável e atraente, embora a performance seja uma coisa e dançar seja outra coisa.

O que quero dizer é que para mim faz sentido essa múltipla atuação, pois acho que existe uma potência nisso, e também é uma característica minha. Eu sempre fui bastante difusa, curiosa e com uma vontade absurda de experimentar e vivenciar muitas coisas. Agora, deixando o romantismo um pouco de lado, para ter uma gestão eficiente e organizada dessa quantidade de demanda eu tive que aprender muito, e errar muito também. E principalmente amadurecer, o que tem sido todos dias. As pessoas não lidam bem com a multiplicidade de demandas, somos ansiosos e nesse sistema precisamos trabalhar muito para sobreviver, temos pouco tempo (ou temos a sensação de que não temos tempo).
É preciso ter muita organização, e de fato ter uma relação afetiva com esses setores, acho que eles tem que nos empolgar minimamente para a gente seguir neles. Outro fator bem importante, para trazer mais os pés para o chão: algumas pessoas tem escolha, outras não.

No meu caso, eu preciso trabalhar, pagar aluguel, pagar faculdade, comprar comida, comprar o papel e a caneta que eu vou usar no meu desenho. Se envolver com mais setores da cultura foi também uma estratégia de sobrevivência, para sobreviver economicamente de arte, de cultura, do que mantem minha alma quente e por consequência, minha vida mais realizada. Sendo bem sincera, eu tenho sempre muito medo. Pois nesse país não estamos seguros vivendo de arte, ainda mais fora das capitais. Estamos a mercê de gestores que tratam a cultura com pouca ou nenhuma atenção, e se tratando de Joinville, simplesmente não existe um sistema da arte que estruture uma cena artística profissionalizada.

Temos uma única galeria comercial – com pouco acesso para artistas periféricos; temos uma única lei de incentivo municipal o SIMDEC (Sistema Municipal de Desenvolvimento Pela Cultura), sempre em risco, temos sempre que lidar com o conservadorismo, mesmo no próprio setor. Muitos desafios, SEMPRE. Felizmente, é compatível comigo essa postura dinâmica de ocupar muitos espaços. Graças a isso, conheço tanta gente especial, tanta gente profissional, mas que não recebe dinheiro para, e isso me dói o coração. Gente que fica sem referencia aqui, devido a todos esses problemas que comentei, e por isso se esquecem do gigantesco talento que possuem. Para minha sorte, estou com essas pessoas cotidianamente, as vezes sem nos vermos por um tempo, mas estamos sempre em contato.

A cena cultural alternativa da cidade é forte, é linda, e é poderosa. Eu acho que tudo isso tem transformado quem eu sou, e por consequência, a minha atuação nesses setores que você comentou, pois o que eu aprendo em um lugar parece sempre se complementar ao que eu faço em outros espaços.

Em exposição na AAPLAJ

Arte na Cuca: Você participa de muitos projetos coletivos, sempre atuando em várias pautas. Desde 2022 integra o Conselho Municipal de Políticas Culturais de Joinville pela setorial de Artes Visuais, como tem sido essa experiência? Acredita que os artistas devem se envolver com a política pública institucionalizada?

Nicole Leite: Desde quando entrei no CMPC (Conselho Municipal de Políticas Culturais) aprendi MUITO, muito mesmo. Antes eu era muito crua no que diz respeito a política institucional. Entendi muitas coisas nesse meio tempo. Sempre vai ser uma luta trazer dinheiro para o setor cultural, principalmente se a gestão pública tiver pouco entendimento sobre o nosso setor. Acredito que no governo de Jair Bolsonaro, nós artistas sofremos muito. Agora, felizmente, tivemos bons momentos com o retorno do Ministério da Cultura e da implementação de leis como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc.

Eu acho que no Brasil é importante que a gente se envolva com a política, mesmo que minimamente. Mas também não acho que a gente deva dizer no que as pessoas devem ou não se envolver, vai de cada um e cada um vê uma importância naquilo. Eu aconselho aos meus colegas e qualquer profissional da cultura, ou a qualquer cidadão mesmo sem vinculo profissional com o setor cultural (afinal cultura é cidadania!), que pesquise e entenda um pouco sobre os direitos culturais nesse país. É importante que a gente saiba a estrutura, o que é competência do executivo, do legislativo, do judiciário. Essas informações nos empoderam e faz com que a gente entenda melhor os caminhos para demandar o cumprimento desses direitos. Vejo a galera com um fazer cultural fortíssimo, que promove um desenvolvimento pela cultura de em sua comunidade, mas não sabe que existe fomento, leis de incentivo, editais que serve justamente para fortalecer esse fazer.

Não quero dizer que é culpa das pessoas não saber, muito da nossa falta de conhecimento vem do próprio sistema educacional do país, e todas as suas desigualdades. Eu nunca pisei em uma escola particular na vida, por causa disso consegui bolsa de estudos no primeiro ano de uma faculdade particular, mas se quando me formei no ensino médio eu soubesse para que servia o ENEM, e como as universidades públicas são importantes, acho que tentaria ter ingressado na universidade pública.

Tudo que estou aprendendo, estou aprendendo agora, vivendo. Vivo enquanto aprendo a viver. E quanto mais vivo de cultura mais eu entendo que o conhecimento e a articulação social coletiva, são uma das nossas melhores maneiras de contornar todas essas adversidades. Então eu aconselho sim que a gente se envolva mais com a política institucionalizada, embora seja natural que algumas pessoas fiquem na linha de frente, enquanto outras dão o suporte. Compartilhar informação pelas redes sociais, seguir e curtir o trabalho da galera que faz o babado acontecer, ler sobre o que tá acontecendo, ir nas reuniões (falando do CMPC), ou só compartilhar quando tem, enfim, qualquer coisa, ajuda muito o coletivo.

Arte na Cuca: Nesse teu processo de descoberta e aprendizado no que diz respeito política cultural do município de Joinville, acredita que o caminho seria menos árduo e mais assertivo, se houvesse uma formação política para conselheiros e conselheiras de cultura?

Nicole Leite: Eu acho o Sistema Municipal de Cultura (SMC) muito completo na teoria, mas ele não é operacionalizado em seu todo. Um dos elementos desse sistema é o Programa Municipal de Formação em cultura (Lei 6.705), o artigo VII fala sobre estimular e promover a formação e qualificação de pessoas em política e gestão culturais, incluindo a dos profissionais de ensino; o que que ainda não existe de forma sistematizada, e isso é um dos fatores que deixa a atuação dos conselheiros cheias de “furos”, principalmente a dos conselheiros iniciantes. Por exemplo: é super difícil para novos rostos ingressarem no CMPC (Conselho Municipal de Política Cultural) e participarem ativamente das discussões políticas, pois nesse contexto são utilizadas falas, termos e encaminhamentos que são desconhecidos por pessoas que não estão inseridas nessa institucionalização, e isso assusta, nos deixa à margem das discussões.

Durante a Conferência Municipal de Cultura de 2023

Atualmente não existe uma metodologia ou um conjunto de passos, quando uma nova gestão de conselheiros assume. Não existe a preparação para nos possibilitar condições de discutir temas como por exemplo: o Sistema Municipal de Cultura e suas instâncias, as funções de um conselheiro, ou até mesmo as questões técnicas para ajudar na construção dos editais de cultura, como por exemplo os editais do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura). Além das dificuldades de organização das setoriais e entre os conselheiros representantes da gestão e da sociedade civil, para que a gente saiba a quem recorrer quando necessário.

Enfim, o que acontece é que cada um se vira como pode e tudo fica muito desigual. A implementação do Programa Municipal de Formação em Cultura seria uma das saídas para amenizar essas desigualdades de acesso ao conhecimento técnico que é importante para ser conselheira. Nada mais justo e inteligente, que todas as pessoas tenham o mesmo entendimento das leis, decretos, e toda informação pertinente a esse meio, de forma pedagógica e acessível em termos de linguagem. A quem interessa um monte de conselheiros sem saber a quem recorrer? Sem ter os conhecimentos necessários para formalizar suas demandas? A quem interessa um conselho ineficiente? Eu penso que essa conjectura interessa muito para gestões que marginalizam a cultura por sua ignorância, ou ganância (ou ambos) e seu conservadorismo.

Durante audiência pública na Câmara de Vereadores de Joinville. Tema: Alterações na lei do Simdec. (Foto: Site da Câmara de Vereadores de Joinville).

Arte na Cuca: Para finalizar nossa conversa, queremos falar um pouco sobre a sua produção artística e poética nas artes visuais. O que você pesquisa e quais são suas principais linguagens nas artes?

Nicole Leite: Eu acho que esse monte de coisas influência meus interesses, o que torna tudo bem difícil de organizar! (Risos). Bem, como ponto de partida, me volto para dança, para o corpo, para o movimento, que são territórios familiares a mim. Com esses elementos em mente, exploro as linguagens das artes visuais, como a pintura, o desenho, a fotografia e a performance.

Basicamente, tenho experimentado muito no campo do desenho, da linha e do gesto, enquanto um movimento que produz visualidades. Existem objetos que me atraem também e trago eles para a pesquisa. Objetos como a cadeira vermelha de plástico, característica dos nossos botecos brasileiros, e que faz parte de um universo muito afetivo para mim. O carvão também é um elemento que me atrai desde 2019, utilizo ele nos desenhos, gosto de pensar sua materialidade e suas possíveis significações com base nas relações que podemos fazer. Recentemente comecei a pensar nele como “elemente” cênico em performances e foto-performances. A parte conceitual de tudo é um desafio, tanto quanto a materialidade desses tantos interesses, por vezes tão polifônicos.

Nos últimos meses, tenho investigado o rastro e o risco, com a indagação: o que fica no espaço depois que o corpo passa e depois que se mexe? Essas marcas (ou vestígios, ou provas de algo vivo que passou) além de compor a imagem, seja pelo desenho, pelos objetos, nas fotografias, vídeos, e nas “sobras” das performances, indicam também um corpo em estado de “mexeção”, (corpo em movimento) que passou, e que continua ocupando uma superfície, e assim mantem sua existência viva e disponível para ser investigada, disponível para ser encontrada. O que é deixado evoca presenças emocionais, através das associações e das lembranças que se acionam ao nosso corpo.

Acho linda a ideia de pensar o encontro entre pessoas, entre alguém e algo, seja algo vivo, seja um objeto, seja uma ideia. Sabe aqueles encontros que nos deixam nervosos, ansiosos? Aqueles que a gente sente toda essa emoção no corpo, através de sensações como arrepios, respiração alterada, fala e pernas bambas? Acho tudo isso muito interessante! Para mim, o desafio tem sido ver esses interesses nas propostas que executo. No entanto, acho chato e falho impor os conceitos já formatados para o que está nascendo poeticamente nas experimentações.
Essas materialidades falam por si também, e podem mudar o nosso rumo dentro de uma pesquisa. É preciso deixar essa conversa sempre de uma forma horizontal.

O principal instrumento do artista, na minha opinião, é a sensibilidade. Se ela não estiver ativa, nos ajudando, a gente fica muito perdido. É sempre uma conversa que se entende no silêncio, na pausa. Algo que tem sido difícil nesse nosso tempo atual. A gente não pausa. É “clichêzinho”, mas estou vendo que realmente, é na presença que a gente se organiza, se mune, apreende para si todas essas informações do mundo, para organizar em nós mesmos. Para a gente elaborar o que achamos disso tudo, de forma autônoma, de forma nossa, sem correr o risco de simplesmente andar por esse mundo sem entender o que entende dele.