Personagem criado por Humberto Soares, “O Jardineiro” vira capa de cadernos artesanais

A Pequeninus Grupo de Arte está com uma novidade para 2022. Acaba de lançar a coleção de cadernos “O Jardineiro”, personagem de histórias em quadrinhos criado pelo escritor e ilustrador Humberto Soares em 2018, e que agora virou capa de caderno escolar, produzido de forma artesanal.

Você pode escolher entre as cinco opções de desenhos, que são bem coloridas e inspiradas no personagem. Cada caderno vem com uma tirinha de quadrinhos, uma tag/marcador com uma ilustração plastificada, personalizado com nome e capa dura.
Para deixar o seu caderno ainda mais personalizado e exclusivo, é possível escolher o tipo de folhas para o miolo, como por exemplo: folhas para desenho (papel offset sem pauta) brancas, pólem ou coloridas.

Sobre o personagem

O personagem “O Jardineiro” foi publicado pela primeira vez em 2018, no jornal Correio Catarinense. As tirinhas em preto e branco eram publicadas uma vez por semana. Mais tarde ganharam cores e permanceram nas páginas impressas do jornal até 2020.

A ideia brotou e criou raízes na imaginação do artista Humberto Soares, em forma de arte sequencial. Uma homenagem aos avós maternos do artista, já que quando criança, adorava passavar as férias na casa dos avós. Ele transportou seu personagem exatamente para casa onde seus avós viveram durante muitos anos, uma casa de madeira azul claro, com um quintal que remetia a um lugar encantado, cheio de novidades e aventuras. Com gramado enorme, bem verde e pedras brancas enfeitando ao redor da casa, árvores frutíferas, verduras, flores e folhagens. Humberto sempre sonhava com a casa.

Ilustração “O Jardineiro”

Mesmo a casa dos avós não existindo mais, permaneceu viva na sua memória, imortalizando-a nos quadrinhos, transportando para os cenários a antiga casa de sua avó e o também o quintal/jardim que povoa até hoje a imaginação do autor.
A HQ “O Jardineiro” mostra uma família diferente, formada por uma avó e seu neto, ele é um legítimo “filho de vó”, assim chamam as crianças que são criadas pelas avós. Moram sozinhos e passam boa parte do tempo no quintal e no jardim, plantando, cultivando e colhendo. Ela é uma negra, benzedeira, jardineira, guerreira que criou seu neto sozinha e ensinou e ainda ensina a sabedoria das plantas, ele um menino branco, com 8 anos, nasceu praticamente no jardim, talvez ele seja o menor jardineiro que se tenha visto até hoje.
As suas tiras de quadrinhos agora são publicadas nas redes sociais do artista e da Pequeninus.

Para adquirir os cadernos

R$ 20 – 1 Caderno | R$ 50 – 3 Cadernos | R$ 80 – 5 Cadernos (+ frete).
Contato: 48 99924-1557 | 48 999049570 (Alex ou Humberto) – @pequeninusgrupodearte


“A Boneca de Rebeca”

Eis que, um dia, ao chegar em casa e abrir minha caixa de correspondência, me deparo com um envelope endereçado a mim, contendo dois lindos presentes: “Mahuru”, escrito por Anete Curte Ferraz e brilhantemente ilustrado por Malu Rodrigues e “A Boneca de Rebeca”, escrito pela paranaense Marlene de Fátima Gonçalves, ilustrado por Verônica Fukuda, nascida em Registro, no interior de São Paulo. Me aterei aqui ao “A Boneca de Rebeca”, editado pela FATUM, em 2021.
A obra ainda cheira a “tinta fresca”, toda escrita em caixa alta, é voltada para o público infantil e trata com delicadeza e afeto a história de Rebeca, uma linda menina que ganhou um irmão, o Zeca e “(…). Como irmão não é brinquedo mamãe lhe deu uma boneca”.

É importante ressaltar que a obra foi muito bem pensada para o público a que se destina e aborda com responsabilidade o tema da representatividade, pois todas as personagens, inclusive a boneca, são negras, sem que esse fato esteja explícito ou implícito no texto verbal e de protagonismo infantil, pois a história toda se passa com crianças e aborda lindamente o universo infantil. O popular, “criança sendo criança”.

Por que ler?
Porque a obra é lindamente escrita toda em caixa alta e rimada o que confere um ritmo gostoso à leitura.
Porque trata com afeto questões de representatividade e protagonismo infantil.
Porque a capa é um encanto! Porque as ilustrações casam perfeitamente com o texto verbal sem ser redundante.
Porque as ilustrações são tão lindas que poderiam ser quadros vendidos separados do livro.
Porque os habituais leitores de literatura infantil encontrarão uma surpresa com a qual se identificarão em uma das ilustrações (eu adorei a referência!).
Porque, mesmo que você não seja mais criança, a obra tocará seu coração.

Espero que você deseje ler a obra ou presentear alguma criança da qual goste muito.
Boa leitura!

“Não é o meu trabalho que é feminista, eu que sou”. Uma conversa com a artista Fernanda Oliveira, do perfil @ahuterina

Descobri a Fernanda Oliveira, durante essas tardes de domingo em que a gente não quer fazer nada, além de zapear pela televisão ou as redes sociais. Na verdade, não descobri a artista Fernanda (ela eu conheci bem mais tarde), mas sim o perfil no Instagram da @ahuterina. Parei, prestei atenção e fiquei maravilhada com a sutileza das colagens e bordados de seus trabalhos.

Além das imagens, uma das primeiras coisas que me chamou a atenção, foi o nome escolhido: ahuterina?? O que seria isso? (pobre de mim, que nem relacionei a palavra com meu próprio útero). Mas mesmo sem fazer essa conexão tão óbvia, eu entendi cada palavra, cada colagem e cada imagem produzidas e postadas naquele perfil. Não pensei duas vezes, antes de fazer contato com a artista por trás daquela arte, questionadora e defensora dos direitos e liberdades de escolha de todas as mulheres. O encontro aconteceu em Setembro de 2021, mas por motivo de força maior a nossa entrevista só nasceu agora, em 2022.

Marcamos um café no centro da cidade de Joinville/SC, ainda com muito receio dos encontros presenciais, mas já vacinadas. Minha primeira impressão foi a melhor possível: além de muito talentosa, Fernanda é um doce de pessoa. Cheia de ideias e referências, logo tínhamos uma mesa repleta de telas, colagens, gravuras e bordados – um trabalho feito por ela, mas que transbordava o grito de outras mulheres. Eu estava lá, entusiasmada e ouvindo suas histórias, as histórias da mulher, mãe, doula e artista. Entendi porque o perfil tinha me chamado tanto a atenção e de onde vinha toda aquela força e verdade.

Fernanda Oliveira


Decidi ser Doula porque queria ajudar as mulheres a passarem com mais respeito pelo parto e ajudar a desmistificar o que envolve a gestação e é reforçado pela medicina”.


Fernanda é doula por opção e profissão, e artista para exercitar a liberdade. Produz trabalhos visuais que transitam pela técnica da colagem e bordado, na intenção de promover reflexões acerca dos direitos e do papel da mulher na sociedade. Na entrevista que concedeu ao Arte na Cuca, a artista fala sobre suas pesquisas, o projeto @ahuterina e de onde vem a inspiração para a produção visual que já recebeu o reconhecimento do Quebrando o Tabu (marca de mídia multiplataforma especializada em Direitos Humanos).

Celiane: Nossos leitores (assim como eu), desejam saber um pouco mais sobre quem é a Fernanda Oliveira, nos fale a respeito da tua trajetória profissional e pessoal.

Fernanda: Bom, meu nome é Fernanda Oliveira, tenho 35 anos e como ocupação profissional sou Doula, mas é na arte onde encontro formas de expressar o que me atravessa e me conectar com meus sentimentos. Decidi ser Doula porque queria ajudar as mulheres a passarem com mais respeito pelo parto e ajudar a desmistificar o que envolve a gestação e é reforçado pela medicina. Eu não sou muito boa pra falar em público, por exemplo. Mas na arte encontro essa facilidade de comunicação.


Celiane: Você pode nos contar um pouco sobre a tua trajetória como artista visual? Como foi o início dos trabalhos em colagem e bordado?

Fernanda: É algo que sempre esteve presente, como se fizesse parte de mim. Naturalmente fui levada a trabalhar em ateliês, a ministrar aulas e oficinas, e a expor meu trabalho para que as pessoas pudessem conhecer. Fui passando por vários caminhos e experimentos até aqui. 

Celiane: Como é seu processo de criação? De que forma organiza, reorganiza e decide sobre a produção de um novo trabalho?

Fernanda: As vezes é intuitivo, as vezes são gritos que precisam sair. Depois disso seleciono se no papel ou tecido, ou os dois juntos, se necessita de pesquisa ou não. Visualizo na minha cabeça e só desaparece dos pensamentos quando consigo trabalhar naquilo e na maioria das vezes, faço um planejamento prévio em papel antes de iniciar.


Celiane: Seus trabalhos provocam muitos questionamentos e chamam a atenção para questões contemporâneas dos pensamentos feminino. Também me chamou a atenção o fato das tuas colagens dar visibilidade a corpos de mulheres brancas e poucos trabalhos trazem a representatividade da mulher negra, pode nos falar algo a respeito?

Fernanda: Uso sempre revistas antigas, anos 70, 80 e de moda, não existia mesmo essa representação. Ganhei uma coleção de revistas completa da Agulha de Ouro, devem ter umas 90 revistas dos anos 80, não há mulheres negras, nem na capa nem dentro, é muito perceptível … Há 2 recortes, um dos anos 70 e outro dos anos 80 no meu feed. E bordado de peitinhos, onde busquei representar todas as cores. Mas também não acho que meu trabalho deva abordar todos os temas, nem que eu tenha esse compromisso de contemplar a todas … levo pra vida o ” pessoal é político” e são nas minhas ações que sou feminista, a minha arte é só uma parte disso, entende? não é o meu trabalho que é feminista, eu que sou.
É no pessoal que eu compro, exalto, indico, mulheres negras, deficientes, lésbicas, etc. No pessoal é onde eu participo de políticas e ações públicas que é de onde surgirão mudanças efetivas, no offline, principalmente sendo antirracista. Se eu fosse uma grande marca, aí sim eu te diria que eu teria o dever de contemplar e representar todas as mulheres. Como mulher artista, eu expresso apenas um pedaço do meu entorno com os materiais ao meu alcance.

Celiane: Você acredita que a arte pode ser um caminho para chamar a atenção da sociedade, no que diz respeito aos direitos humanos e direitos das mulheres?

Fernanda: Acredito muito. A partir do momento em que levantamos o questionamento já estamos no caminho para mudanças. Falar de representatividade, voz e denúncia, muitas vezes através do bordado, considerado culturalmente um passatempo doméstico, já é uma ampliação do olhar.

Celiane: Nos fale de algumas das tuas referências de pesquisa… Quais sãos as mulheres que te inspiram, e os perfis nas redes sociais que você segue para se atualizar?

Fernanda: São taaantas as mulheres que me inspiram todos os dias, que acho extremamente difícil escolher apenas uma…passo por Elza, Frida, Clarice, Virginia, Dilma, mulheres da música, do cinema e as mulheres ao meu entorno, todas pela sua força e ideias e eu sou uma mistura de todas elas. Alguns dos perfis que eu sigo são: @vulvanegra, Brisa, da @vulvamtilliandum, @portalgeledes , fundado por Sueli Carneiro, @coletivoperseguidas .



“Vasto Mundo”

Você já teve a sensação de sentir-se dentro de uma história, e que poderia muito bem ser também um filme? Foi essa a minha sensação ao ler “Vasto Mundo”, de Maria Valéria Rezende. Obra que li por indicação e empréstimo de uma amiga.

No livro, os personagens são narrados em curtas histórias interligadas entre si. Tais histórias se passam em Farinhada, uma vila fictícia no Nordeste brasileiro. Foi publicada pela Editora Alfaguara, em 2015 e se vale de 168 páginas para contar as histórias que a compõe.

Mas, “Vasto Mundo” possui uma particularidade interessante, que eu jamais encontrei em outra obra: as histórias são narradas por Farinhada. Isso mesmo, você não me entendeu mal, é a fictícia vila quem narra as histórias de todos os personagens e essa característica, dá ao leitor um interessante ponto de vista de cada um deles e a obra como um todo, uma perspectiva no mínimo inusitado.

Este foi o terceiro livro que li de Maria Valéria Rezende e todos os anteriores, também publicados pela Alfaguara, são igualmente recomendáveis: “O Voo da Guará Vermelha”, também indicada por um amigo e “Quarenta Dias”, que praticamente saltou da estante na minha mão em um dos meus garimpos pelos sebos da cidade.

Por que ler?

Porque “Vasto Mundo” é uma leitura gostosa, embora algumas vezes triste.
Porque é inusitado que uma história seja narrada pelo ponto de vista de uma vila.
Porque, na minha opinião, “Vasto Mundo” poderia ser adaptado para o cinema.
Porque trata-se da obra de uma importante escritora brasileira da atualidade.
Porque as personagens são ricas em suas vidas aparentemente simples.
Porque as histórias se cruzam brilhantemente.

Recomendaria “Vasto Mundo” para experientes e sensíveis leitores, não que a linguagem seja rebuscada ou de difícil compreensão, longe disso, mas as temáticas abordadas na obra são de interesse do público adulto.

Desejo que a viagem à Farinhada seja agradável para você como foi para mim.

Boa leitura!

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“O Avesso da Pele”

Adquiri “O Avesso da Pele” de autoria do carioca radicado em Porto Alegre, Jeferson Tenório, porque sua obra foi vencedora do Prêmio Jabuti 2021, em sua
categoria e este é o principal prêmio da Literatura Brasileira. Também porque acompanho pelo Instagram as postagens da Professora Doutora Sueli Cagneti e certo dia assisti a um vídeo seu, não apenas indicando a obra como fazendo a leitura de um trecho da mesma. Fui tocada pela leitura da professora e por saber da importância do Prêmio Jabuti.
Fui até a livraria A Página, e comprei, sem nem ler a orelha ou quarta capa. Aliás, uma curiosidade a meu respeito: minha irmã costuma dizer que ninguém pode comprar livros escolhendo como eu escolho, lendo um trecho aleatório do mesmo. Hoje, eu acompanho vários canais no YouTube e Instragram, mas antes disso foi assim que selecionei muitas das minhas leituras. Bom, voltando a “O Avesso da Pele”, a obra publicada pela Companhia das Letras em 2020, narra a história de Pedro, que após a morte do pai, professor negro brutalmente assassinado pela polícia, passa a resgatar seus passos, recontando sua história.

O livro fala de racismo velado e explícito, mas seria simplista demais rotulá-lo dessa forma. A obra aborda, para além das relações étnicas, relações de poder em uma sociedade caótica e alienada. É de uma delicadeza e ao mesmo tempo de uma brutalidade ímpar, o que me fez ficar presa à trama de forma a sentir os poros, os pelos e o avesso da minha própria pele. Talvez a identificação tenha vindo do fato de ser eu também uma professora que em alguns momentos já me peguei questionando uma série de (in)certezas. Talvez por, apesar de caucasiana e ter certeza de que jamais compreenderei o que é sofrer racismo, tenho buscado cada vez mais uma pratica antirracista em minha vida. Talvez porque a trama seja bem escrita, a ponto de me fazer querer ler outras obras do autor. Talvez por tudo
isso junto. Só sei que a obra não tem um Prêmio Jabuti à toa. A discussão, apesar de antiga, parece continuar cada vez mais necessária.

Por que ler?
Porque o autor consegue ser delicado e “áspero” em sua abordagem.
Porque a obra trata de temas que urgem por discussão e solução em nossa sociedade. Porque a leitura é forte, mas ao mesmo tempo, rápida (a obra conta com apenas 192 páginas). Porque trata-se de literatura brasileira de excelente qualidade.
Porque trata-se de um escritor negro.
Porque é uma obra premiada.

Espero que “O Avesso da Pele”, que eu indicaria para o público adulto, também toque sua pele e o seu coração.
Boa leitura!

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Metaverso: simulações do real ou apenas mais uma camada de ilusão?

O termo “metaverso” surge no contexto da literatura cyberpunk na virada da década de 1980 para 1990, especialmente na obra de Neal Stephenson chamada “Snow Crash”. Nessa história um entregador de pizza coabita em mundos paralelos, entre a sua realidade simples e cotidiana e a ficção em um mundo virtual onde incorpora a personalidade de um samurai. Nessa mesma perspectiva o filme “Calmaria” lançado recentemente e estrelado por Matthew McConaughey, narra a história de um pescador que no decorrer da trama percebe que faz parte de um jogo programado a partir dos anseios, frustrações, traumas e experiências de uma criança no computador de seu quarto. No mesmo estilo de “O Show de Truman”, estrelado por Jim Carrey, o real e a ficção convivem, confundem o espectador e na verdade refletem as experiências e sociabilidades do nosso mundo.

Wake up, Neo…

Apesar das críticas de Jean Baudrillard, o filme Matrix (1999) teve também como inspiração a obra “Simulacros e Simulação” de 1981, ao ponto de homenagear o autor em uma das primeiras cenas do filme quando Neo recolhe alguns discos do seu trabalho como hacker. Por meio de uma trama mais próxima do mito da caverna de Platão, as irmãs Wachowski buscaram também criar um metaverso através de um mundo real controlado pelas máquinas e um mundo fictício em que os humanos estariam hibernados através de simulações e softwares com o intuito de extrair a energia desses corpos dormentes. Mesmo que de forma binária, Matrix buscou explicitar a alienação das massas através da analogia do capitalismo e o controle das grandes corporações pelo meio das propagandas, do consumo e do próprio entretenimento. Como diria Baudrillard em uma entrevista sobre o filme:

“’Matrix’ é certamente o tipo de filme sobre a matriz que a matriz teria sido capaz de produzir”

Talvez essa reflexão tenha se aproximado mais do último filme “The Matrix Resurrections”, pois no próprio roteiro é perceptível uma crítica à película ao destacar que o filme poderia ter sido produzido pela própria Matrix, só que agora em forma de um jogo eletrônico. É com base em um game dentro da Matrix que Neo acaba por perder a consciência do real e passa a ser o criador desse produto de entretenimento em que no sentido final busca alienar mesmo aqueles que pareciam ter sido libertos.

Mas afinal o que a ficção tem a ver com o real? Ou o real tem a ver com a ficção?

Para o sociólogo Jean Baudrillard a nossa experiência de vida está imersa por símbolos transmitidos através da mídia e que faz com que os produtos tenham sentido em ser consumidos. A tecnologia, a cultura, a mídia e o consumo produzem imaginários sobre o real ao ponto de transformá-lo em algo híbrido e difuso entre o que é fidedigno e o que é imaginado sobre a realidade. Tal vivência no fim faz com que percamos a percepção sobre a diferença do que é simulado e do que é real.

No mesmo sentido o metaverso parece ser mais uma camada do que já vivíamos, afinal games como Decentraland ou The Sandbox, simulam interações humanas, customização dos usuários, construção e compra de terrenos virtuais, colecionáveis ou NFTs com moedas virtuais e que só adquirem valor real através de uma construção de símbolos e sinais, tal qual no mundo físico. Gigantes como a Nike já compram empresas como a RTFKT, uma fabricante de tênis virtual, a Adidas já investe na construção do seu espaço no The Sandbox, a Microsoft anunciou avatares 3D para reuniões no Teams e até mesmo shows como do músico Travis Scott já ocorrem e alcançam milhões de espectadores. Isto pode significar que o metaverso também repete o modelo de criação de sentido e constructos em produtos consumíveis, mesmo que sem valores físicos, agora dentro do um mundo online.

Portanto a possibilidade de produção de renda por grandes empresas e por pessoas comuns também atrairá consumidores que buscam uma vivência paralela à sua experiência e, por sua vez, uma camada mais profunda de entretenimento ou mesmo alienação ainda que agora de forma literal. O que nos faz refletir até que ponto essas simulações podem impactar o real. De que forma essas simulações nos deixarão mais imersos na sociedade de consumo? Quais fantasias e ilusões serão criadas nessas simulações? Quais aspectos psicológicos esse universo usará como estímulo e forma de atração de usuários? Será possível em algumas décadas passarmos mais tempo no mundo “simulado” do que no “real” e por consequência hibernados tal qual na metáfora de Matrix? Ou isso já ocorre sem mesmo percebermos através da mídia?

Imagem capturada no game Decentraland.
Fonte: https://decentraland.org/