Doses de história: Museu Casa Fritz Alt

Foto da capa: Aquarela da artista Asta dos Reis.

O Museu Casa Fritz Alt, está localizado no bairro Boa Vista, e é uma instituição subordinada a Secretaria de Cultura e Turismo da prefeitura municipal de Joinville/SC. A casa que abriga o museu pertenceu a Friedrich Alt, nascido na Alemanha em 17 de Setembro de 1902 e sua residência foi construída por ele mesmo no ano de 1946. Além de moradia da família, o local também abrigava seu ateliê. Alt tinha a escultura como paixão e profissão, desenvolvendo diversos trabalhos na cidade, muitos deles, obras instaladas em locais públicos, encomendadas pela alta sociedade da época, sendo considerado pioneiro das artes plásticas joinvilense.

O artista Fritz Alt em sua oficina/ateliê

Após a morte do artista em 1968, o imóvel foi adquirido pela prefeitura municipal de Joinville na década de 70 (Decreto 1.053/1970), fato que ocorreu na gestão do prefeito Harald Karmann, e conforme consta no documento: Fica o Executivo Municipal autorizado a adquirir dos Herdeiros Fritz Alt, um imóvel nesta cidade, com as seguintes confrontações e dimensões: “Um terreno situado aos fundos da Rua Aubé, com acesso por um caminho com 5m de largura que parte da Rua Aubé até a residência do finado Fritz Alt, fazendo frente, a Oeste, no referido caminho com 246,96m em linha sinuosa, até encontrar terras de Carlos F. A. Scheineider, seguindo para o Sul com três linhas quebradas de 30,00, 20,000 e 15,00m e seguindo a Leste, com 78,60m até encontrar a divisa do terreno de Dr. Hans Dieter Schmidt, tornando ao Sul com 86,90m até terras de Adolfo Sell, quebrando para Oeste, com 86,00m e retornando ao Norte com 12,50m até o ponto de partida no referido caminho perfazendo a área de 14.922,49m² com as seguintes benfeitorias: uma casa de moradia, de alvenaria, e uma oficina de escultura, também de alvenaria, do finado Fritz Alt(1970, web).

No ano de 1972 a casa passa a ser chamada de “Casa Fritz Alt” e fica estabelecida como museu, porém, sua inauguração oficial ocorreu apenas no ano de 1975, como nos apresenta a pesquisa desenvolvida por Rossi (2014, p.30), O Museu Casa Fritz Alt foi inaugurado oficialmente, em 1975. O acervo do Museu conta com móveis e objetos de uso pessoal do artista, ferramentas, fotos, obras de arte produzidas por Fritz Alt e também um grande número de moldes.

Museu Casa Fritz Alt. Foto: Redes Sociais.

Apesar de o museu estar localizado no Morro do Boa Vista, local que dificulta o acesso, é importante destacar que conforme consta nas pesquisas, sempre foi uma instituição receptiva a projetos acadêmicos e propostas educativas, além das equipes responsáveis pelo museu, estarem sempre elaborando diferentes propostas para fortalecer as relações entre a o espaço de memórias, obras do artista e a comunidade.

Alguns dos projetos já desenvolvidos pelo MCFA foram:
Em 2009, palestras, vídeos, leituras de obras, aplicação de jogos didáticos, oficinas de desenho, oficinas de argila, contação de histórias e passeios pelos jardins. Segundo consta no blog da instituição, essas ações eram realizadas no antigo setor de restauro, espaço construído por Fritz Alt por volta dos anos 50 para produção de obras de grande porte, já que seu ateliê situava-se no porão da residência. O setor não era aberto à visitação, mas como a casa principal foi fechada para restauro em março de 2010 (e ainda encontra-se neste processo), o educativo criou atividades que pudessem contribuir de forma positiva com aqueles que se dispunham a visitar o local, mesmo sem poderem conferir o acervo.

Ainda segundo o blog (2008, web) “o diálogo é construído tematizando a proposta museográfica atual do Museu estruturado a partir dos conceitos no que se refere ao patrimônio cultural da cidade, o conjunto escultórico do artista Fritz Alt e as
propostas educativas”

Visita de escolas. Ano: Sem data.

Outro projeto educativo da instituição que ganhou bastante destaque foi o programa de educação patrimonial, iniciando em 2010 sua trajetória nas escolas. A proposta consistia em uma exposição itinerante em que as imagens utilizadas apresentavam uma diversidade de temas e das linguagens que o artista utilizava para produzir suas obras em gesso, barro e bronze, além do processo das esculturas.
A metodologia da exposição nas escolas consistia em […] uma pequena palestra sobre o museu, sobre o artista a estética escultórica de Fritz Alt. O contato com os alunos é feito de uma forma interativa tanto ao mostrar o vídeo quanto ao falarmos do artista e do museu. […] incentivar a fruição do objeto escultórico e enfatizamos as características modernistas presentes na obra do escultor como um dos poucos artistas desse período no norte catarinense. (2010, web).

Encontro de professores. Ano: 2010.


Em ações mais recentes, destacam-se as realizadas durante a gestão de 2014 a 2016, época em que o museu encontrava-se quase que desativado e havia pouca visitação. Nessa coordenação iniciou-se um trabalho de reativação do que antes era a área de restauro, chamando-a de sala de cultura, espaço em que foram oferecidas experiências interativas por meio de oficinas, exposições, intervenções artísticas, palestras e projetos culturais promovendo o pensamento de transformação, conhecimento e comunidade.


Entre os projetos realizados, destacam-se:
“Coletivo Gramatura”: Exposição realizada no ano de 2016, que contou com a participação de artistas iniciantes e outros já conhecidos, em que o objetivo da mostra era divulgar trabalhos produzidos em e com papel, sempre dialogando com o
pensamento artístico do artista Fritz Alt. Um dos pontos mais interessantes do projeto foi à participação de alunos do curso de artes visuais da Uniasselvi, tanto como artistas expositores quanto oficineiros em dias específicos da mostra. Este contato com a arte desde a graduação, possibilitando participações e experiências em campo são fundamentais para aliar teoria e prática, gerando assim aprendizado e conhecimento.

Acadêmicas de Artes Visuais (Uniasselvi). Exposição Coletivo Gramatura. Ano: 2016 Foto: Luciane Klemm

Outro projeto de impacto e aceitação do público, foi à exposição “O artista e a criança”, realizada também no ano de 2016, em que a proposta era criar o diálogo entre a criança no espaço de arte, as obras da artista Sônia Rosa e o artista Fritz Alt. A exposição contou com a participação das crianças e foi pensada para as crianças, com obras de arte produzidas a partir de brinquedos e representações que fazem parte do universo lúdico infantil.


Durante a gestão de 2014 a 2016, houve uma evolução significativa no número de visitas e projetos com escolas, o que foi um marco na história da instituição, que atualmente encontra-se apenas com a exposição de obras do acervo no antigo setor educativo, e a casa, residência de um dos artistas ícones da cidade, espaço de memória e patrimônio cultural, encontra-se ainda em restauro e fechada à
visitação.

*Este texto não aborda ações recentes do museu, mas aproveita para divulgar uma de suas ações de 2021:

O Museu Casa Fritz Alt integra a programação da 19º Semana Nacional de Museus (Ibram) com a Exposição – Revoadas de Outono.
Quando? 16/05/2021 a 16/06/2021 Horário? Terça a domingo – 10h às 16h
Quanto? Gratuito.
Onde? Nos Jardins do Museu Casa Fritz Alt – Rua Aubé, s/n – Boa Vista. Joinville/SC.

Referências Bibliográficas
Blog Asta dos Reis. Disponível em: https://www.astadosreis.com/2018/08/
Ações Educativas. Disponível em: https://sites.google.com/site/museucasafritzalt/
Fritz Alt parte II. Disponível em: http://artejlle.blogspot.com.br/2013/06/fritz-alt-parte-ii.html
Lei ordinária nº 1053/1970.
Museu Casa Fritz Alt. Disponível em:https://sites.google.com/site/museucasafritza
Guia da Programação 19º Semana Nacional dos Museus. Ano: 2021, p. 422.

“Navegue a Lágrima”

Por Carol Spieker

A autora porto alegrense Leticia Wierzchowski, pode ser conhecida do grande público pelas obras premiadas como “Sal”, publicada em 2013 e “A Casa das Sete Mulheres”, publicada em 2002, inspirando obra homônima produzida pela Rede Globo, exibida em 30 países. Na obra “Navegue a Lágrima”, lançada pela Editora Intrínseca em 2015, Letícia conta concomitantemente duas histórias que se passam em diferentes momentos. Uma, a história da editora Heloísa que resolve mudar de ares, após a morte de marido, outra, a história de Laura Berman, uma escritora consagrada.

Isso se dá porque, após perder o marido, Heloisa decide se afastar da cidade e levar uma vida de isolamento justamente na casa de veraneio da famosa escritora, em um balneário no Uruguai.

Ocorre que lá entre mobílias e fotos da escritora com sua família, as histórias de ambas passam a se misturar de forma que, em dado momento, Heloísa, entre um drinque e outro, já não tem mais certeza do que é real ou ficção. De em qual pedaço do caminho, as estradas de ambas se unem. E, nesse vai e vem das histórias de Heloísa e Laura, há ainda a “vida real”, que acontece no momento presente. Porém, o livro não perde seu fio condutor e, em momento algum da leitura, senti-me perdida, sem saber a quem se referia cada trecho da trama muito bem tecida por Letícia Wierzchowski.

O livro é curto, contando com apenas 205 páginas e a linguagem da autora, somada ao interessante enredo tramado num “emaranhado de histórias”, faz com que a leitura seja fluida, emocionante e surpreendente. Este foi do tipo de livro em que entrei madrugada adentro, lendo com curiosidade. Foi também, a única obra que li da autora, mas outros títulos dela já estão na minha “lista dos desejos”.

Mas, se a seu favor o livro tem um enredo interessante, com capítulos curtos e linguagem fluida, contra, há a cor escolhida para a impressão do texto: um azul bonito, mas que, pelo menos no meu exemplar, pareceu fraquinho demais, tornando um tanto dificultoso ler, sobretudo à noite. Mas isso não tira os méritos da obra, de maneira alguma. Creio que a cor eleita, tenha relação com a água: casa de balneário, lágrima, histórias que se fundem como as águas quente e fria em um mesmo oceano. Enfim, mas isso já são divagações de uma leitora sonhadora!!!!

Li a obra por receber várias indicações de diferentes fontes e recomendo muito: pela obra em si, por ser de uma escritora premiada e por se tratar de literatura brasileira atual e de qualidade.

Indicada para público adulto por seu enredo. Não há conteúdo impróprio para menores de 18 anos.

“Teatro em Comunidades Periféricas” Entrevista com ator e diretor Cristóvão Petry

Por Celiane Neitsch

No dia 23 de abril é comemorado o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Pensando nisso, e considerando que, um dos melhores livros que eu tive a oportunidade de ler nos últimos tempos foi “O Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC)” do ator e diretor de teatro Cristóvão Petry, publicado pela editora Areia, compartilho com os leitores a entrevista que Petry concedeu ao site “Arte na Cuca”.

Por que escolhi este livro em meio a tantos outros? Porque depois de sair do conforto da casa de minha avó e vir morar no bairro Itinga (Joinville/SC), aos poucos fui construindo minha relação com o bairro e com as pessoas desta comunidade. Foram e são muitos os momentos de dificuldade, pois cada lugar tem sua dinâmica, sua cultura, suas pessoas. O livro de Petry, me ajudou a entender um pouco mais sobre este lugar. Este lugar que não é feito somente de dificuldades, de distâncias e vizinhos barulhentos… É um lugar feito de lutas, conquistas, união, cultura e muita arte.
Agora convido você leitor(a) a conhecer um pouco mais sobre as histórias e memórias do Itinga.

Céu do bairro Itinga. (Redes sociais Amorabi).

Arte na Cuca: O livro “Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC)” é resultado da sua pesquisa de mestrado, realizado no PPGT – Ceart/Udesc). Por que, mesmo não trabalhando exclusivamente como produtor cultural e ator, você optou em fazer o mestrado em teatro?

Cristóvão Petry: Eu faço teatro há quase 30 anos. Na época que fiz minha graduação em História, era muito difícil você fazer uma faculdade de Artes Cênicas e se manter em Florianópolis. Como não havia uma graduação de teatro em Joinville, grande parte das pessoas que fazem teatro na cidade, se formaram em História. Eu sou uma delas. Quando decidi fazer um Mestrado, não tive dúvidas de fazer teatro. Mesmo não trabalhando exclusivamente com arte, o teatro faz parte da minha história e é impossível abandoná-lo.

Arte na Cuca: Se tivesse que definir quais as principais dificuldades de fazer teatro NA e PARA a periferia da cidade de Joinville, quais seriam elas e por quê?

Cristóvão Petry: Primeiro falta apoio público e privado para a cultura e arte na periferia. Infelizmente a arte ainda é vista como um produto de “elite”. Os bairros afastados do centro da cidade, tem pouco acesso. A maioria dos projetos desenvolvidos é de curto prazo. Se as pessoas não tem acesso, como teremos jovens interessados em fazer, por exemplo, uma faculdade de artes cênicas? O Itinga é um exemplo de que o acesso a arte e a cultura, possibilita novos horizontes para a juventude. Alguns jovens, que começaram a ver e fazer teatro no bairro, decidiram seguir em frente nesse caminho. Não é um caminho fácil, mas é bonito ver como a arte é importante para nossas crianças e adolescentes. Toda escola deveria ter um grupo de teatro, de dança, de música. Tenho certeza que isso mudaria a realidade cultural de nossa cidade.

Arte na Cuca: Em seu livro (página 91), você menciona que “Inscrevíamos nossos espetáculos em festivais e editais e nunca éramos selecionados. Nunca seríamos selecionados. Nossa história era outra”. Em sua opinião, existe ou existia certo preconceito das comissões avaliadoras, na seleção de projetos propostos e realizados por pessoas sem formação acadêmica? Ou talvez o fato se dava pelos projetos terem partido de uma comunidade localizada na periferia da cidade?

Cristóvão Petry: São as duas coisas. Hoje já existe uma abertura maior para a cultura popular. Na Udesc, em Florianópolis, existia a disciplina Teatro-Comunidade. Essa disciplina que possibilitou que eu entrasse no Mestrado. Percebi que o teatro que eu fazia no Itinga, reverberava também em outras comunidades. Fazia sentido. O resultado final foi a publicação do livro. Mas sinto que ainda é pouco valorizado o trabalho das periferias.

Livro “O Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC). Editora: Areia. Ano: 2020.

Arte na Cuca: Na página 93, quando escreve sobre o apoio aos grupos de teatro , o preço dos ingressos e o discurso de muitos administradores e vereadores que falam em “levar a cultura para os bairros”, você propõe algumas reflexões sobre para que tipo de público a cultura de Joinville se destina.  Como percebe esta questão na última e na atual gestão da cidade? Alguma coisa mudou?

Cristóvão Petry: O Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – SIMDEC, é um importante mecanismo para o fortalecimento da arte e da cultura. A última gestão engessou esse Sistema, modificando a forma e os produtores e produtoras culturais tiveram muitas dificuldades de acessar os recursos. Espero que esta nova gestão que entrou, modifique esse modelo e tenha como meta o cumprimento do Plano Municipal de Cultura. Esse Plano precisa ser revisto, mas ele aponta alguns caminhos. Um deles é a democratização do acesso a cultura nas periferias da cidade.

Arte na Cuca: Segundo seu livro, desde o ano 2000 a Amorabi – Associação dos Moradores do Bairro Itinga, já é um ponto de cultura, independente da participação em editais específicos ou reconhecimento. Em seus projetos a  associação sempre visou a autonomia, protagonismo e o empoderamento.  Contando com toda a sua experiência dentro da Amorabi, qual seria o caminho para que outras associações se tornem referência em cultura, educação e cidadania?

Cristóvão Petry: A Amorabi é um exemplo que pode ser seguido. Durante 20 anos tocou um Centro Comunitário de Educação Infantil, pois no Itinga não havia um CEI público. Também é protagonista na área da cultura com diversas apresentações artísticas e formações. Tudo isso só foi possível, por causa de sua comunidade. Imagine se todas as Associações de Moradores também desenvolvessem projetos como a Amorabi. Os artistas da cidade teriam vários espaços para mostrar sua arte, e com um público cativo. O caminho é o da persistência, da autonomia e do empoderamento.  As entidades precisam saber que elas podem e devem acessar esses recursos públicos. É um direito de todos e de todas.

Comunidade do bairro Itinga, em frente a Associação de Moradores. (Amorabi).

Arte na Cuca: Em 2018, você decide se afastar da presidência da Amorabi, pois havia sido eleito Conselheiro Tutelar da cidade de Joinville. Mesmo atuando como voluntário na associação, um dos motivos para sua decisão foi às mudanças de regras no edital do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura). Como estas mudanças impactaram os projetos realizados pela Amorabi ao longo dos anos?

Cristóvão Petry: A Amorabi vinha ao longo dos anos, desenvolvendo alguns projetos de formação e fruição. No começo, não havia recursos públicos, mas com o tempo a Associação foi conseguindo acessar o Simdec. O recurso era fundamental, principalmente para a contratação dos profissionais. A mudança do Edital, que foi transformado praticamente numa “licitação”, dificultou o acesso ao recurso, não só para a Amorabi, mas para diversos produtores culturais. Hoje sobram recursos e faltam projetos. O que é um absurdo. E há um impacto na periferia. A Amorabi não deixou de desenvolver projetos, mas alguns tiveram que parar por falta de um aporte financeiro.

Espetáculo “É O TREN!”

Arte na Cuca: A terceira parte do livro é dedicada a criação e projetos desenvolvidos pelo Abismo Teatro de Grupo, que nasceu dentro da Amorabi. Qual a importância de um grupo que faz teatro DA e PARA  a comunidade?

Cristóvão Petry: O Abismo é fruto da Amorabi. A Amorabi é fruto da sua Comunidade. Logo, o Abismo é da Comunidade. A persistência e os cursos continuados de teatro, permitiram que o Itinga tivesse um grupo de teatro que nasceu do desejo de seus participantes. Isso é muito lindo. Porque os espetáculos do Abismo, levam sempre o vigor comunitário do Itinga. As vezes até se confunde Abismo com Amorabi. A coisa é meio junto mesmo. Uma trama unida que faz bem para o bairro.

Arte na Cuca: Nos anos de 2018 e 2019 o Abismo Teatro de Grupo, realizou quatorze apresentações dos textos “Os Palhaços” e “A Litorina”, de Miraci Deretti. A peça “Os Palhaços” foi censurada na cidade, e em seu livro você descreve que “’Os Palhaços’ incomodou o regime vigente e também a classe mais conservadora de Joinville, por mostrar a situação do país”. Desde a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, a imprensa, a ciência e a cultura vem sofrendo com a censura. Como você entende a relação entre a censura – que as vezes mesmo velada – aplicada pelo atual governo e o desenvolvimento do pensamento crítico na sociedade brasileira contemporânea?

Cristóvão Petry: A arte não pode existir com a censura. A arte e a cultura nos fazem pensar criticamente. Um governo que pretende calar a arte e a cultura não poderia ser legitimado. É lamentável ver em pleno 2021, notícias sobre a censura. Sobre pessoas querendo a volta do “regime militar”. Porém, fazer arte no Brasil hoje é resistência. A gente resiste, mas além da censura moral há também a censura financeira. O governo não publica os editais públicos, não abre concurso para a área cultural, diminui os investimentos. Isso é muito grave. O movimento cultural no Brasil estava crescendo. Existe um Plano Nacional de Cultura. Um Conselho de Cultura. Mas isso vem sendo deixado de lado. Um descaso total. Lamento muito que tenhamos chegado neste ponto. Mas isso vai passar e teremos uma retomada. A arte e a cultura resistem sempre.

Espetáculo “Os Palhaços” UFSC – Florianópolis.

Arte na Cuca: Com a pandemia causada pelo Covid – 19, o setor cultural foi um dos mais atingidos, assim como a população mais atingida tem sido os moradores das favelas e periferias. Em sua opinião, que ações podem ser tomadas pelos governos (Municipal, Estadual e Federal) a fim de minimizar os impactos da doença entre os mais fragilizados?

Cristóvão Petry: O auxílio emergencial é fundamental, para tentar minimizar esse impacto. Demorou muito para ser aprovada a Lei Aldir Blanc. Agora foi aprovada sua prorrogação. No Estado poderia ser lançado novamente o Edital Elisabete Anderle, e em Joinville pensar nos recursos do Simdec. Os recursos do Simdec, poderiam auxiliar muito os produtores culturais a desenvolverem seus projetos de forma on-line. Já aprendemos a fazer isso. Mas é preciso reformular o Simdec, facilitando o acesso dos artistas aos recursos.

Arte na Cuca: Em maio a Amorabi faz 40 anos. São 40 anos de uma trajetória de muita luta e resistência. Você (assim como tantas outras pessoas que contribuíram) se dedicou e trabalhou incansavelmente para que a associação se tornasse o que ela é hoje. O que você deseja e espera da Amorabi para os próximos 40 anos?

Cristóvão Petry: Espero que a Amorabi continue nesta luta, resistindo e mostrando que é possível desenvolver projetos na periferia que façam bem para a comunidade. Projetos permanentes de educação não formal, onde a cultura e a cidadania, sejam pontes para a formação de pessoas críticas que buscam uma sociedade mais humana e igualitária. 

Livros organizados e publicadas por Cristóvão Petry

Doses de história: Museu de Arte de Joinville

Foto da capa: Arquivo Histórico de Joinville

O Museu de arte de Joinville, localizado na Rua XV de Novembro, número 1.400, foi criado através da lei Municipal nº 1.271, de 15/05/1973 e inaugurado em 03 de setembro de 1976. Sua casa sede foi residência do imigrante saxão, Ottokar Doerffel, personalidade de ativa participação na vida cultural e política da então Colônia Dona Francisca.

 Doerffel foi fundador do primeiro jornal da colônia, o “Kolonie-Zeitung”, além de dirigir a companhia colonizadora de Hamburgo e ter sido o 3º prefeito da cidade, ainda no período monárquico pelo partido conservador em 1874 e 1877.

No ano de 1864 é concluída a construção do casarão, permanecendo na residência até o ano de sua morte, em 1906, quando a casa passou para a família Barthol, seus parentes, e mais tarde foi comprada por Affonso Lepper. Após a morte de Helene Trinks Lepper em 1973, o casarão foi desapropriado pela prefeitura que no mandato do então prefeito, Pedro Ivo Figueiredo de Campos, e por reinvindicação da classe artística da cidade, foi inaugurado o Museu de Arte de Joinville, no ano de 1976.

“Seu acervo foi iniciado com as obras que se encontravam no antigo Departamento de Educação e Cultura, e essas primeiras obras eram produções de artistas locais, mais tarde ampliadas para obras de artistas reconhecidos a nível nacional e internacional, adquiridas por meio de doações.” (OLIVEIRA, 2009 p. 27).

Faz parte da instituição, a biblioteca Harry Laus, que possui acervo de aproximadamente 2.000 livros entre catálogos e periódicos, e desde 2001, conta também com os Anexos 1 e 2 na Cidadela Cultural Antarctica, espaço em que foram realizadas várias edições da Coletiva de Artistas, além de outras exposições de caráter temporários.

Segundo consta no decreto, e em material produzido pela equipe do MAJ,

O Museu de Arte de Joinville, tem por finalidade: Recolher, abrigar, estudar, tombar, conservar, pesquisar e expor obras de arte em geral e em especial de joinvilense e catarinenses, além de desenvolver programas de comunicação museológica e educacional […]. (CONEXÕES EDUCATIVAS, 2012, p. 7).

Projeto Conexões Educativas

As ações educativas no Museu de Arte de Joinville tem início na década de 90, a partir da iniciativa de Ivani Carneiro, funcionária do museu, que começa a planejar projetos de educação ao perceber que este setor ficava quase sempre que em segundo plano. Alguns anos mais tarde, outra funcionária toma a iniciativa de levar projetos ao museu, Sueli Garcia, especialista cultural educadora de museu. Mas, por conta do quadro de funcionários reduzido, era necessário dividir o tempo para atuar em outros setores.

Durante muito tempo, o museu não contou com ações educativas elaboradas pela própria instituição, e sim, parcerias com outras instituições e artistas envolvidos, como a Univille e a Secretaria de educação. Um dos momentos mais significativos da atuação do museu como espaço de educação não formal está documentado no catálogo virtual “Conexões Educativas”, produzido em maio de 2015, por meio dos recursos advindos do prêmio Darcy Ribeiro, concedido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Nessa publicação consta um recorte de diversas ações realizadas de 2009 a 2014, durante as gestões de (2009 a 2012) e a de (2013 a 2016).

No material, encontram-se algumas ações em arte-educação elaborada pelos profissionais do museu, que contemplaram diferentes públicos, desde o escolar, universitário a pessoas em situações de vulnerabilidade social. Isso nos mostra que, sempre houve a preocupação da equipe em disseminar a arte e a cultura por meio da educação.

Atualmente o Museu de Arte de Joinville encontra-se fechado para visitação e a equipe trabalha em ações internas, como a realocação do acervo. Para a 19 Semana Nacional dos Museus, o MAJ preparou a ação:

18/05/2021 – 10h30 às 11h30
Relato de Experiência: ressignificando o acervo do MAJ. Será desenvolvido de forma virtual, um relato das ações de
conservação/preservação e higienização do acervo do MAJ.

*Atualmente os galpões anexo do museu assim como a Cidadela Cultural Antárctica, encontram-se interditados.

Referências Bibliográficas

OLIVEIRA, Maria Bernadete Garcia Baran de. Mediação cultural: ação educativa no
Museu de Arte de Joinville. 2010. 112 f. Dissertação (Patrimônio Cultural e Socieda
de)- Universidade da Região de Joinville.

Conexões Educativas. Disponível em: . Acesso em: 27 de março. 2021

Guia da Programação 19º Semana Nacional dos Museus. Ano: 2021, p. 423.

Após 23 anos, Arquivo Histórico de Joinville lança 16º edição de seu Boletim Informativo

O Arquivo Histórico de Joinville (AHJ), a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) e a Prefeitura Municipal de Joinville (PMJ), após 23 anos, anunciam a retomada e o lançamento da 16º edição do Boletim Informativo do AHJ.

A publicação apresenta o trabalho técnico, as pesquisas, os pesquisadores, as narrativas sobre a história de Joinville, e aborda as relações do Arquivo Histórico de Joinville com a cidade. Em formato digital e com periodicidade trimestral, o Boletim do AHJ é resultado de uma parceria estabelecida com o site de formação e difusão cultural “Arte na Cuca”.

 O Boletim nº 16 está disponível no site “Arte na Cuca” na seção “Biblioteca”, mas pode ser acessado AQUI. Em breve, todas as edições anteriores do Boletim do AHJ, estarão digitalizadas e disponíveis neste endereço eletrônico, a fim de ampliar o acesso da população aos projetos e ações desenvolvidas pelo Arquivo Histórico de Joinville ao longo da sua existência.

Boletim Informativo do Arquivo Histórico de Joinville

Quando? Abril, Maio e Junho.
Quanto? Gratuito. PDF disponível AQUI
Onde? Formato digital online.

“Cidade da Chuva”

Por Carol Spieker

Se você não é morador da Cidade das Bicicletas, como é conhecida Joinville/SC, talvez você não saiba, mas nossa cidade é também conhecida como Cidade da Chuva e foi inspirado nesse título de nossa cidade, que o artista Humberto Soares publicou em 2015 o livro “Cidade da Chuva”, editado pelo próprio autor.

Aqui, novamente abro um parêntese para falar da importância do SIMDEC para a produção e o fomento da cultura em nossa cidade, pois o livro foi publicado com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Joinville e da (extinta) Fundação Cultural de Joinville, por meio do Mecenato Municipal de Incentivo à Cultura Lei de Incentivo – SIMDEC 2013.

Dito isso, volto a ater-me ao livro de Soares e aqui há uma peculiaridade: trata-se de uma narrativa visual. Exatamente. Não há no livro uma palavra sequer, exceto pela bela introdução da musicista local, Ana Paula da Silva, com quem Humberto fez uma bela parceria para esta publicação.

Isto significa que as 96 páginas que compõem a obra, não trazem uma narrativa verbal, aquela linearidade textual, narrando uma história a que muitos leitores estão mais que acostumados, mas há uma narrativa (ou várias!) cuidadosa e lindamente ilustradas por esse mestre dos pincéis, tintas, gizes e lápis das mais variadas cores.

Os tons, literalmente dão o tom à narrativa que traz seres fantásticos com os quais, particularmente chego a crer que Hum (como costuma ser carinhosamente chamado pelos amigos), tem parentesco: são criaturas de outros planetas, escafandristas e seres representando o próprio sol e a própria chuva.

Tantos tons, cores e texturas…

Um livro para degustar com os olhos!

Livro: Cidade da Chuva. Autor: Humberto Soares.

Eu, que tenho alguma vivência com crianças ouvindo e criando histórias, recomendo para crianças de todas as idades, com a devida mediação de um leitor mais experiente. Como se trata de uma narrativa visual, que remete à nossa própria cidade, é possível deixar que os pequenos, viagem pelo mundo encantado da imaginação e criem, recriem e mais uma vez inventem suas próprias interpretações acerca da obra.

Mas, o livro não é um privilégio apenas para pequenos leitores. Os mais crescidinhos, mesmo que já barbados ou de cabelos brancos também podem se deliciar a cada página do livro que é em si, uma obra de arte.

Os joinvilenses certamente vão se identificar. Os de outras localidades vão se encantar com essa sensível obra de Humberto Soares, o duende das cores.

Você que é de Joinville, encontra a obra para empréstimo nas Bibliotecas Públicas, para aquisição, recomendo recorrer à Livraria O Sebo ou contatar o próprio Humberto Soares pelas redes sociais. @humbertopequeninus, no Instagran ou Humberto Soares, no Facebook e assim, ter o prazer de ter seu exemplar autografado…assim como o meu!!!

Sobre o autor Humberto Soares

Nasceu em Curitiba/PR e mudou-se para Joinville/SC em 1998, onde desenvolveu sua arte, passando pelas histórias em quadrinhos, exposições e desenvolveu seu lado escritor, narrador de histórias e também de professor de arte sequencial para crianças e adultos.

Humberto morou muito tempo em Joinville, e andava pelas ruas sempre encantado e encantando vestido de duende, distribuindo sorrisos e boa sorte através de seus trevos de quatro folhas. Hum, como é carinhosamente conhecido pelos amigos, é quase um personagem em tempo integral: das muitas vezes que nos encontramos trocando histórias pelas livrarias, feiras do livro, teatros e eventos culturais de modo geral, ficaram a lembrança da sua encantadora e contagiante energia. Atualmente o artista reside e trabalha em Canelinha/SC.

Doses de história: Biblioteca Pública Municipal de Joinville

Fotógrafo: Desconhecido.

No dia 9 de Abril comemorou-se o Dia Nacional da Biblioteca e pensando nisso, o Arte na Cuca homenageia todos os profissionais de bibliotecas e da educação, contando um pouco sobre a história da Biblioteca Pública de Joinville, que foi criada na gestão do prefeito Arnaldo Moreira Douat, em 1950, mas somente foi inaugurada em 9/03/ 1952, já na gestão do então Prefeito Rolf Colin, que atualmente leva o nome da biblioteca central.

A instituição funcionava na Rua do Príncipe, região central de Joinville e em 24/09/1955, mudou-se para a sede atual situada no então Jardim Lauro Müller, que à época, contava com o busto de Dona Francisca esculpida por Fritz Alt e também com um coreto onde ocorriam apresentações musicais aos domingos. A obra de Fritz Alt encontrada na parede externa da biblioteca retrata a influência do livro na vida do homem, desde a infância, passando pela juventude e chegando a fase adulta e terceira idade. O painel foi inaugurado em 24/12/ 1955.

Fotos da praça Lauro Muller – Marco Zero, Coreto e busto Dona Francisca (Obra de Fritz Alt).
Fonte da imagem: Arquivo Histórico de Joinville.

No ano de inauguração, contava com um acervo de apenas 3000 títulos. Atualmente esse número passa de 62000 contando com livros, jornais, obras raras, inclusive no idioma alemão e autores nacionais, estrangeiros e locais.

Em 2010, necessitou passar por reforma e revitalização e passou a funcionar no prédio do antigo Piazza Itália, no bairro Anita Garibaldi, onde permaneceu até o ano de 2013, quando retornou à sede atual, agora revitalizada, na Praça Lauro Muller no Centro de Joinville.

Atualmente a Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin, conta com processamento técnico, biblioteca braile, setor de pesquisa, setor de empréstimo, setor de literatura, de literatura infantil e infanto-juvenil e gibiteca, além de recepção e setor administrativo. Em razão das ações de enfrentamento à Pandemia da COVID -19, o horário de atendimento, bem como a equipe está reduzido, abrindo apenas de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h.

No entanto, há a promessa da Secretaria Municipal de Educação, órgão ao qual as Bibliotecas Públicas são vinculadas, de o quanto antes, restabelecer toda a equipe e o pleno retorno e ampliação dos projetos desenvolvidos.

Algumas ações da Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin – Joinville/SC.
A contadora de histórias Carol Spieker, durante uma contação realizada na Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin.

Contação de histórias nas unidades escolares mediante prévio agendamento (é importante ressaltar que este serviço passou a ser oferecido de maneira virtual durante o ano de 2020, enquanto a Biblioteca seguia fechada, obedecendo a Decretos Estadual e Municipal).

Visita monitorada, na qual grupos previamente agendados visitavam todos os setores da biblioteca e a visita culminava em uma deliciosa sessão de contação de histórias.

Sábados Culturais, que ocorriam quinzenalmente com eventos culturais como lançamento de livros, contação de histórias, apresentações artísticas e culturais das unidades escolares da Rede Municipal de Educação.

Projeto Vestibulando, atividade com regularidade semanal, na qual a população prestes a prestar vestibular e a realizar a prova do ENEM, tinha acesso ao estudo das obras exigidas nesses concursos.

Oficina da Memória Literária, tendo como atividade com regularidade semanal e público alvo, pessoas com mais de 60 anos que desejassem conhecer e experimentar exercícios, baseados sempre em obras literárias que visassem proporcionar um melhor funcionamento da memória.

Mediação de Leitura na UTI do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, atividade com regularidade mensal desenvolvido em uma parceria da Biblioteca com o Hospital

Formação continuada dos mediadores de leitura da Rede Municipal de Educação de Joinville, atividade com regularidade bimestral que visava o pleno desenvolvimento dos trabalhos realizados pelos Auxiliares Escolares/Mediadores de Leitura nas Unidades Escolares, entre muitos outros projetos e ações realizados na e pela Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin.

Há ainda em Joinville outras duas Bibliotecas Públicas em Joinville: a Gusavo Ohde, em Pirabeiraba e outra no bairro Aventureiro, em parceria do Município de Joinville com o Governo Federal.


*Na data de publicação deste texto, todos os atendimentos da Biblioteca estão paralizados.
Contribuição: Carol Spieker

“Olhos D’ água”

Por Carol Spieker

Contando com apenas 126 páginas, divididas em 15 contos, além do Prefácio e Introdução, “Olhos D´água”, da mineira Conceição Evaristo, publicado pela Pallas Editora e Distribuidora Ltda, é uma obra arrebatadora, na opinião da leitora que vos indica este livro.

Já na página dedicada à ficha catalográfica da edição de 2016, uma importante informação: “Esta publicação foi realizada com recursos do edital de Apoio à Coedição de Livros de Autores Negros da Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura em parceria com a Sociedade de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPIR/PR”.

Tenho lido e ouvido ultimamente discussões acerca do tema: por que ler autores negros? Há quem questione: qual a diferença? ou quem saia com a frase feita, vestida toda de senso comum: “Literatura não tem cor, tem qualidade!” Mas aí vem o questionamento: quantos escritores e principalmente quantas escritoras negras brasileiros/as você já leu? Se foi em menor número que escritores caucasianos é fácil concluir que seja por que há menos publicações de escritores negros e isso tem uma razão de ser, pois existe toda uma estrutura social na qual negros tem menos acesso que caucasianos em muitas situações e a educação certamente é uma dessas situações. Mas não quero aqui alongar-me nessa discussão.

O fato é que sim, Conceição Evaristo, é mulher e negra e, como uma parcela das pessoas nestas condições em nosso país, teve de conciliar os estudos com o trabalho de empregada doméstica, na Zona Sul de Belo Horizonte, até concluir o Curso Normal. Isso não faz da obra de Conceição Evaristo especial, mas certamente influencia em sua escrita forte, comovente e que nos prende a atenção do início ao fim.

Seus textos que compõem “Olhos D´água”, ora são suaves e poéticos, ora nos tomam de assalto como um soco no estômago e nos faz suspender a respiração sem perceber.

Para mim, esse é o caso por exemplo, de “Di Lixão”, que retrata entre outras questões, a invisibilidade social das pessoas em situação de rua. Já reli este livro algumas vezes, na íntegra e em partes e também já indiquei e emprestei para amigos e, para cada um deles os textos chegaram de forma diferente, mas sempre intensa.

Ainda sobre a escritora, Conceição Evaristo, hoje é Mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Suas obras abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A obra “Olhos D´água” foi traduzida para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2017.

Recomendo para sensíveis leitores!