“40 Possíveis Maneiras de se Descascar uma Mulher”

Por Carol Spieker

De quantas camadas somos feitas nós, mulheres?
A paulistana atualmente radicada em São Francisco do Sul, Clotilde Zingali trata do tema nos textos que mesclam narrativa e poesia, de “40 Possíveis Maneiras de se Descascar uma Mulher”, obra lançada pela Nova Letra Gráfica e Editora, em 2008.

Aqui, preciso fazer uma pausa para dizer que o livro foi publicado em Joinville, quando a escritora residia na Cidade das Flores, através de prêmio no Edital de Apoio a Cultura do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura, o SIMDEC e esta foi sua terceira obra publicada por este mesmo mecanismo, que sempre foi tão importante para o fomento da arte e da cultura em nossa cidade. Pelo mesmo mecanismo, Clotilde lançou anteriormente os livros “Bricolagem para Geladeira” e “Oco Hálito”, ambos também ilustrados pelo talentoso Estêvão Teuber. Aliás, é bom que se diga, as ilustrações das obras da Clotilde, são um capítulo à parte, que mereceriam, certamente, um texto exclusivamente para elas.

Mas, voltemos à obra de Clotilde Zingali.

Livro “40 Possíveis Maneiras de se Descascar uma Mulher”

Em, “40 Possíveis Maneiras de se Descascar uma Mulher”, ela descreve poeticamente, e Estêvão ilustra 40 personagens femininas em textos curtos e instigantes de forma a nos levar a perceber que, por fim, formam um mosaico no qual encontramos características de todas elas em todas elas…e em nós mesmas, mulheres que somos, tão múltiplas e ao mesmo tempo tão singulares. Únicas em nossas particularidades e também naquilo que tange nossa noção de coletividade. Mas os leitores do sexo oposto (ou de nenhum deles) também são muito bem-vindos.

As mulheres descritas e narradas por Clotilde, poderiam ser você, sua irmã, vizinha, parceira ou uma total desconhecida: certamente você as reconhecerá nas 94 páginas que compõe o pequeno livro. Digo pequeno, porque seu formato é diferenciado, mas isso não se aplica, certamente aos textos de Clotilde, nem às ilustrações de Estêvão.

No livro, você se depara com figuras como “Magda”, “Sandra”, “Lídia”, “Wanda”, “Bianca Priscila”, “Norma”, “Yara”, “Ângela” e tantas outras.

O livro pode ser encontrado em algum sebo da cidade, na Biblioteca Pública Municipal, – quando ela voltar a receber os munícipes de Joinville – ou com a própria escritora e aí, você tem aquele charmoso bônus de adquirir um livro com dedicatória e tudo. Você pode encontrar a Clô nas belas ruas do Centro Histórico de São Francisco do Sul, ou nas redes sociais.

Isso tudo porque a escritora agora pode ser encontrada conversando com a gente no podcast de mesmo nome que você encontra em http://anchor.fm/nasondasdocarro

Pelo Instagram em @nasondasdocarro | Pelo Facebook na página Nas Ondas do Carro

Recomendo as três obras de Clotilde e também seu gostoso bate-papo no podcast

Segue lá!

“Um Abraço é um Laço”

Por Carol Spieker

Em tempos de pandemia e isolamento social, penso que uma das palavras muito utilizadas está sendo SAUDADE. Saudade de pessoas, lugares, situações…saudade do “antigo normal”…

Escrevo numa quente noite de sábado em que entre outras saudades, sinto saudade de ir ao teatro e encontrar os amigos, e hoje faz exatamente uma semana que me chegou às mãos um livro extremamente oportuno para esses tempos. Não por acaso: “Um Abraço é um Laço”, escrito por Elizabeth Fontes a mineira mais joinvilense que eu conheço, e ilustrado pelo paulistano Toni D´agostinho, de quem conheço apenas os traços das ilustrações dessa obra e já foi uma grande “estreia”, foi a obra premiada com o primeiro lugar no concurso nacional “Um Mundo, Um Abraço”, em 2020.

Então, como vocês podem ver, trata-se de uma obra duplamente nova. Nova porque meu exemplar tem ainda o delicioso cheirinho de livro novo, e nova porque sua primeira edição data de 2021. O livro, publicado como Literatura Infantil, pelo selo Gisostrinho da Giostri Editora, conta com 28 páginas, mas reverbera por muito tempo em nosso coração.

Nele, você vai conhecer a história de Maria, menina que inventou uma brincadeira para superar a saudade que sente durante o período de isolamento social. Para cada uma das saudades, ela abraça algo diferente. Maria, imaginava que um abraço era como um lindo laço e pensava que “Um abraço é também um laço, porque amarra a gente junto de quem a gente ama”

A narrativa de “Um Abraço é um Laço”, é toda poesia (seria porque Elizabeth é escritora e também musicista, além de uma poetisa “de mão cheia” e coração transbordante?) e me emocionou de verdade. Penso que seja uma importante obra a ser difundida entre as crianças pois, se para os adultos é difícil expressar todo o turbilhão de sensações que nos acomete nesse momento de isolamento, imagino que muito mais difícil seja para os pequenos, que ainda não possuem maturidade emocional e um repertório mais elaborado para se expressar.

Obra bonita, sensível e muito bem escrita, na qual imagem e palavras formam um belo “casamento”: um complementa o outro da capa até a última página. Recomendo não apenas para crianças, mas também para os adultos que não perderam a conexão, ou que se reconectaram com sua criança interior.

Ah, das vantagens de morar na cidade da autora (pra quem é de Joinville). O livro pode ser adquirido com a própria Beth Fontes. Se você tiver interesse procure por ela no privado no Facebook Beth Fontes, pelo Direct do Instagram @fontes_beth ou pelo e-mail beth.fontes@gmail.com e o livro ainda vem autografado, o que além de chique é um carinho a mais! 😉 Para quem deseja adquirir a obra, segue o contato da autora: (47) 9 99510152

“Fritz, um sapo nas terras do príncipe”

Por Carol Spieker

História Oficial e literatura infantil de qualidade é a mescla que resulta em “Fritz, um sapo nas terras do príncipe”, livro de estreia na literatura infantil, do paulista radicado em Joinville, Jura Arruda.

A obra conta com as ilustrações do músico e ilustrador joinvilense, Nei Ramos e foi publicada pela Editora Letra d’água em 2012 (SIMDEC), graças ao Edital de apoio à cultura do referido ano e, aqui, permito-me abrir parênteses para falar da importância desses mecanismos públicos (via Edital ou Mecenato) para a manutenção da arte e da cultura em nossa cidade.

Voltando à obra de Arruda, seu livro foi amplamente utilizado nas escolas da rede pública de Joinville, desde o seu lançamento e ainda o é, considerando a maneira lúdica e divertida de “contar a história” da fundação e colonização da Colônia Dona Francisca, atual Joinville.

O livro relata a história de Joinville pela ótica de Walter, imigrante alemão que veio “fazer a vida” na nova terra e Fritz, um divertido sapo com mania de realeza que veio escondido para essas terras, pois, sabendo tratar-se da “terra do príncipe”, tinha a intenção de virar gente e tornar-se um belo príncipe, também. Teria Fritz conhecido certo conto de fadas, em que o sapo vira príncipe ao ser beijado pela Princesa? Bem, mas esta já é outra história…

Eles tornam-se amigos e enfrentam juntos as dificuldades e as alegrias da construção da Colônia Dona Francisca, terra dada ao Príncipe François Ferdinand como dote de casamento com Dona Francisca, irmã de D. Pedro II. Outro ponto interessante da obra, é que Jura Arruda insere no texto, escrito em português, palavras escritas em alemão, o que acaba por enriquecer o texto e torná-lo mais atrativo, trazendo naturalmente, um glossário ao final do livro para que o leitor inexperiente no idioma, não perca nenhuma passagem do livro.

Em 2015, patrocinado pelo município e (extinta) Fundação Cultural de Joinville, por meio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – SIMDEC, Jura Arruda lançou, agora pela Editora Areia (fundada pelo escritor), também em parceria com o ilustrador Nei Ramos, o livro “Fritz, olha o trem!”, no qual Fritz, o sapo personagem- título de ambos os livros, participa da inauguração da Estação Ferroviária de Joinville Neste livro, Fritz vive novas e divertidas aventuras e até descobre o amor, ao lado da bela Futrika, uma sapinha muito simpática.

Recomendo ambas as obras para pequenos leitores. Nas escolas, ele foi amplamente difundido entre os quartos anos, crianças de 9 e 10 anos, que estudam a História de Joinville, pela Matriz Curricular vigente na Rede Municipal de Ensino. Mas, é importante frisar que não se tratam de obras didáticas, voltadas apenas para a sala de aula. Ambos os livros podem ser lidos (e brincados e sonhados…) por pequenos leitores também fora do âmbito escolar.

Jura Arruda é escritor,cronista, pesquisador e dramaturgo, com diversas obras publicadas.

No Dia Internacional da Mulher a atriz Samira Sinara fala sobre empoderamento feminino e transformação social por meio do teatro-educação

Foto: Acervo PRJ.
Entrevista Por Celiane Neitsch

Neste 8 de março atípico, onde beijos e abraços são quase proibidos em virtude da pandemia que nos acompanha há quase um ano, num momento em que o distanciamento e o isolamento social são necessários para tentar garantir nossa segurança,  pensamos nessas mulheres. Mulheres que não podem abraçar ou serem abraçadas, beijar ou serem beijadas e muito menos escolher entre isolar-se ou não. Mulheres que não aparecem nas homenagens dos comerciais de televisão ou nas capas das revistas e que não são lembradas por seus grandes feitos na história. Mulheres que mesmo estando vivas, deixam de existir para a sociedade e muitas delas são esquecidas neste dia de comemoração e reflexão a cerca dos nossos direitos.

Para falar sobre a experiência de trabalhar e conhecer um pouco mais de perto o drama dessas mulheres e sobre o quanto é necessário investir em cultura e arte como agentes de transformação social, o Arte na Cuca entrevistou a atriz, produtora cultural e educadora Samira Sinara Souza.
Samira é integrante da VAI! Coletivo, e atriz do espetáculo solo “Celas e Elas”, projeto realizado em conjunto com a atriz e diretora de teatro Daiane Dordete, que desde 2019 leva oficinas de teatro para dentro da ala feminina do Presídio Regional de Joinville.

A atriz Samira S. Souza durante o Solo performático ©elas com Daiane Dordete e VAI! Coletivo. Foto: Fabricio Porto.

Arte na Cuca: Quando e como inicia sua trajetória com o teatro?

Samira: Desde a infância até a adolescência tive a oportunidade de ter contato com a arte. Minhas irmãs mais velhas fazendo ballet, piano, cursos, avó materna artista plástica e paterna bordadeira.

Minha tia e mãe faziam parte do grupo de dança moderna do teatro Carlos Gomes em Blumenau e depois em Curitiba, foram contatos vivenciando e prestigiando teatro, exposições, cinema e muito livro em casa. Quando vim morar em Joinville, aos 17 anos, resolvi fazer faculdade de Artes na Universidade  da Região de Joinville – Univille. Foi lá que através da disciplina de Improvisação Teatral, conheci o professor Nando Moraes, que junto com a professora Ângela Finardi, assumiram a Cia de Repertório da Univille, projeto de Extensão da instituição e ali estudei teoria e prática teatral durante sete anos.

Foram quatro peças como atriz de teatro e três peças trabalhando na técnica de som, luz e mídias. Quando sai da Univille queria estudar mais teatro-educação, para dar aula de teatro nas escolas, comunidade, ou seja, compartilhar o conhecimento entre as duas linguagens da graduação – cênica e artes visuais. Como já tinha uma pequena trajetória, fui buscar mais uma especialização em Curitiba (Unespar) para entrelaçar cada vez mais a teoria e a prática do universo das artes nas salas de aulas.

Arte na Cuca: Em sua opinião, quais são as principais dificuldades para fazer teatro e trabalhar com arte na cidade de Joinville/SC?

Samira: Acredito que as dificuldades de viver de arte na cidade de Joinville são apresentadas em três pilares: visão, fomento e financiamento. A visão do que vem a ser a arte, e o entendimento sobre a importância da cultura na vida das pessoas ainda é raso nesta cidade. Arte é considerada como algo supérfluo e piorou nos últimos anos. De dois anos pra cá, acompanho muitos artistas saindo da cidade, aqui, cultura parece ser algo a parte da vida, porém churrasco no fim de semana sem música ninguém faz, né? Cultura e arte, quando é para interesse próprio é importante, mas investir em longo prazo dá prejuízo, e esse pensar ainda é o de muitos empresários da cidade.

Joinville é a maior cidade do estado e com maior arrecadação de PIB Nacional, mas não possui: uma Companhia de Teatro Municipal ou de Dança (profissionais que trabalhariam representando a cidade no mundo). Vários espaços públicos destinados a cultura durante anos não foram restaurados (centro da cidade, Cidadela Cultural Antarctica, entre outros). Ainda não temos instituição de ensino superior nas Artes Cênicas (Dança, Teatro e Circo) e na Música, não tivemos durante anos a multiplicação de pontos de cultura nos bairros. Ou seja, se não há fomento e pouco financiamento na cultura, qual será o reflexo do pensamento da cidade? Surpreendo-me ainda em ver moradores da cidade nas redes sociais, questionando leis de incentivos à cultura na própria cidade. É triste não ter visão, é como se você estivesse morto.

Integrantes da VAI! Coletivo de Pesquisa Cênica. No encontro Colaborações SCenicas. (2021).

Arte na Cuca: Como surgiu a VAI! Coletivo, e quantos integrantes fazem parte dele atualmente?

Samira: A VAI! Coletivo surgiu em 2009, e nasce da visão em comum de alguns artistas de teatro. Os integrantes naquele momento-  Raphael Vianna (fundador e atualmente mora no RJ), Alex Maciel (Rústico Teatral), eu e Felipe Muciollo,  naquele momento buscávamos pesquisar e nos aprofundar em produções de peças autorais. Queríamos unir cada vez mais as artes visuais com as artes cênicas nas montagens e trazer a tecnologia ou seja refletir sobreo papel da mídia nas encenações teatrais.

 Por incrível que pareça, esta tornou-se a identidade do coletivo. Hoje formado por Raphael, eu, Marlon Zé e Jackson Silva. Sempre mantivemos a mente aberta para os projetos, ou seja, nem sempre todos do coletivo estão inseridos em todos os projetos realizados da VAI!. 

Desse modo, sempre estamos trabalhando com parceiros profissionais das artes cênicas,  que visam nossos projetos em comum. A exemplo, a montagem do solo performático teatral do Celas (2010) e desmontagem do Celas e Elas (2019), a convidada do coletivo para fazer parte destes projetos é a Daiane Dordete (diretora e dramaturga da peça, que atualmente mora em Florianópolis).

As atrizes Samira Souza e Daiane Dordete durante oficina de teatro no PRJ. Foto: Jéssica Michels

Arte na Cuca: Você e a atriz e professora Daiane Dordete, iniciaram em 2010 a pesquisa e montagem da peça “Celas”, construída a partir da narrativa de mulheres em situação de cárcere, pesquisa que tem seu desdobramento no espetáculo “Celas e Elas”. Como foi e tem sido para você a experiência de realizar estes projetos?

Samira: No ano de 2010, houve o desejo de realizar um solo teatral, acredito que este seja o desejo de muitos atores e atrizes. Naquele momento estávamos em busca de uma montagem também com dramaturgia autoral e a Daiane Dordete foi convidada para dirigir esse solo.

A pesquisa para esta montagem abordou a performance na cena e o universo feminista, então a historiadora Camila Diane cedeu sua pesquisa sobre as narrativas e depoimentos das mulheres egressas e regressas do Presídio Regional de Joinville, para que pudéssemos iniciar esta jornada.

No projeto contemplado pelo SIMDEC/ Edital do Mecenato 2010, “CELAS” – a montagem, não visava o universo carcerário porque não tivemos contato e experiência dentro das grades, o foco foi abordar as influências do patriarcado e da meritocracia na rotina da vida da mulher, como o preconceito, a violência contra a mulher e as prisões psicológicas vivenciadas pelas mulheres no século XXI.

O nosso contato com o Presídio Regional de Joinville foi com a apresentação da peça “CELAS”, foi uma contrapartida social do projeto, realizada no Dia Internacional da Mulher, em 08 de março de 2012. Neste dia, após as apresentações e o bate papo com as mulheres reeducandas, decidimos que voltaríamos para dar um curso de teatro a elas. Para mim, enquanto atriz, a peça criou novas camadas de impressões, imagens e sensações alterando inclusive, o ritmo da peça.

Voltamos no ano de 2019, com um novo projeto aprovado pelo SIMDEC/ 2016, na categoria de formação em cultura, que tinha como objetivo o curso de teatro no PRJ para mulheres em privação de liberdade. As aulas foram ministradas para a Ala Feminina A e B, e ao todo 34 mulheres foram contempladas com esta experiência que durou seis meses. Dentro deste projeto, remontaríamos o “CELAS” e apresentaríamos para elas com o bate papo, seria a nossa contrapartida social. Porém, percebemos que no decorrer das aulas, vivenciando uma rotina semanal com elas, o “CELAS” de 2010 já não era mais com aquele formato, então partimos com a ideia de uma desmontagem teatral do “CELAS” e inserir a nossa experiência no cárcere, presentando um novo título e espetáculo, o “CELAS E ELAS” de 2019.

Este desdobramento trouxe várias mudanças, uma delas foi a presença da fotógrafa Jéssica Michels, que nos acompanhou no projeto participando de três encontros para registros fotográficos, resultando numa exposição intitulada “Para além das celas”. Foi um momento de muita felicidade poder ver a alegria das mulheres reeducandas e como elas puderem se perceber nas fotografias, o quanto a arte mudou o olhar, o sentir da vida, e estas palavras e desenhos estão presentes nas cartas que nós recebíamos como registro de aula, mas também como depoimento de encontro entre alunas e professoras.

Arte na Cuca: A arte pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico, do empoderamento e do sentimento de pertencimento das pessoas. Em sua opinião, projetos culturais que visam à transformação social por meio da arte, podem beneficiar a sociedade num todo?

Samira: Ah, como certeza! Os pontos de cultura são provas vivas de que arte muda e transforma o posicionamento coletivo de um bairro, de uma comunidade. Em Joinville temos a AMORABI, no bairro Itinga – um ponto de cultura ativo e resistente, que é referência na cidade, no estado e no Brasil.

Arte na Cuca: No artigo “Sobre Cartas, Celas, elas e professoras – em – processo”, publicado na revista Urdimento (nº 39. Nov/dez 2020), você e a atriz Daiane Dordete Stecket Jacobs, citam a fala de uma das alunas durante as aulas de teatro na PRJ:

“Nós não podemos ter espelho aqui. Isso é uma forma de diminuir a gente, de acabar com a nossa autoestima. Como a gente pode ser uma pessoa melhor se a gente nem pode se ver, se a gente acaba esquecendo quem é? Precisamos nos amar para amar outras pessoas”.
De que forma estas e outras falas te impactaram como mulher, artista e educadora?

Samira: Pergunta difícil (risos). Mas foram vários momentos durante as aulas, na cela-aula. Quando você é professora em espaços mais vulneráveis, de exclusão social  não tem como você, em alguns momentos, agir como mulher e como ser humano. Acredito que esta vivência mudou o nosso olhar e visão de mundo completamente, eu a Daiane saíamos das aulas muitas vezes conversando muito sobre os acontecimentos vividos e/ou silenciosas.  Esses momentos que nos fizeram pensar nesta desmontagem do “Celas e Elas”, dar espaço a elas, seja através das cartas lidas e entregues ao público no final da apresentação, seja na exposição fotográfica que nos acompanha a cada apresentação, seja no bate-papo com o público após cada apresentação, seja nas cenas do celas- por exemplo- da família, que hoje me fazem lembrar das histórias das alunas entre seus filhos(as), mas principalmente, pensarmos ainda neste mundo privado que nós vivemos (consumismo exacerbado, tecnologia, violência, preconceito.)

Foto: Jaqueline Mello

Depoimentos de alunos durante as oficinas de teatro no PRJ

“Com as aulas podemos nos sentir por uns instantes fora dessas grades que nos tornam privadas do mundo”.(depoimento de ex alunas reeducandas do PRJ, curso de teatro 1º semestre 2019).

“As aulas tem me ensinado muitas coisas que eu não tinha aprendido e também ocupa a cabeça pra não pensar em coisas ruins.” (depoimento de ex alunas reeducandas do PRJ, curso de teatro 1º semestre 2019).

A seguir, alguns fragmentos de textos retirados do artigo “Sobre Cartas, Celas, elas e professoras – em – processo”, publicado na revista Urdimento (nº 39. Nov/dez 2020). Para ler o artigo completo clique AQUI.

Depois destes dois  anos  que  deixamos  o celas adormecido,  fiquei  com vontade  de  retomar  o  projeto,  talvez  com  outro  enfoque,  com  um  olhar mais direcionado às mulheres que estão no espaço prisional. Lembro do pouco acesso à arte e à cultura que elas relataram ter em conversas nos corredores do PRJ e nos bate-papos que fizemos após a apresentação do celas lá, no Dia Internacional da  Mulher, em  2012.  Nunca havia entrado  em  um  espaço  de encarceramento  e recordo de falas como: “nunca tinha visto uma peça de teatro” ou“ eu gostei mais da cena da mãe” (Página 05 do artigo: “Sobre Cartas, Celas, elas e professoras – em – processo” ano: 2020. Escrito por Daiane Dordete e Samira Sinara Souza)

A sensação parece de ser jogada como lixo, em um depósito humano… não é  à  toa  que  os  espaços  prisionais,  hospitais  psiquiátricos  e  os  ‘lixões’  são construções  localizadas  geralmente  longe  dos  centros  urbanos.  Que  tristeza!  E para piorar  a  sociedade  em  que  estamos  inseridas  ainda  não  percebeu  (ou  não quer perceber) os reflexos estarrecedores dessa discriminação: preconceito social

e abandono do Estado. A sociedade ainda não reconhece a ressocialização. Não é à toa que, por esses motivos, muitas mulheres reincidem nas infrações, pois não encontram mais espaço em uma sociedade que faz questão de lhes excluir. (Página 06,07 do artigo: “Sobre Cartas, Celas, elas e professoras – em – processo” ano. 2020. Escrito por Daiane Dordete e Samira Sinara Souza)

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Projeto “Conversas Virtuais com o Arquivo Histórico de Joinville” apresenta série de lives em comemoração aos 49 anos do Arquivo e aos 170 anos da cidade

Conservação, restauro, pesquisa, educação patrimonial. Estas são apenas algumas das atribuições do Arquivo Histórico de Joinville que em 2021 completa 49 anos de existência e atividades. Em comemoração ao aniversário do Arquivo e também aos 170 anos da cidade o “Arte na Cuca”, por meio da proponente Celiane Neitsch e em parceria com a equipe técnica do AHJ, realiza o projeto “Conversas Virtuais com o Arquivo Histórico de Joinville”.

O evento, que tem produção gráfica e audiovisual do Bacharel em cinema Walmer Bittencourt Júnior, consiste em uma série de quatro lives que discutem os diferentes tipos de acervos presentes na instituição (Arquitetônico, Iconográfico, Cartográfico e Hemeroteca). As apresentações acontecem nos dias 04/03, 11/03, 18/03 e 25/03 sempre às 19h30, com transmissão ao vivo pelo canal do Arte na Cuca no YouTube.

A live de abertura conta com a presença da convidada especial  Liliane Janine Nizzola – Superintendente do IPHAN/SC além da Especialista Cultural em Restauro e Conservação Dietlinde Clara Rothert e a Arquiteta e Urbanista Dinorah Luísa da Rocha Brüske. Participam também dos próximos dias do evento, o artista visual Nilton Santos Tirotti, a historiadora Valéria König Esteves, a professora e historiadora Ângela M. Vieira, o historiador e assistente cultural  Leandro Brier Correia, o historiador e especialista em história Dilney Cunha e o jornalista Lúcio Mattos,  sempre com mediação da Doutoranda em História Giane Maria de Souza.

Este projeto e foi contemplado pelo edital n°001/SECULT/2020, do município de Joinville/SC Inciso III, do art 2° da Lei Federal n°14.017 (Lei Aldir Blanc).

Vídeo de divulgação do projeto “Conversas Virtuais com o Arquivo Histórico de Joinville”

Programação

04/03 – Acervo Arquitetônico. 19h30 às 20h30. Para ter acesso a live clique AQUI

>Liliane Janine Nizzola, Arquiteta e Urbanista, superintendente do Iphan/SC.
O Iphan e a preservação do patrimônio arquitetônico no estado de Santa Catarina.

>Giane Maria de Souza (AHJ). Historiadora, especialista cultural e doutoranda em história.
Apresentação do AHJ. O projeto de digitalização do acervo arquitetônico do Fundo do Poder Executivo, custodiado no Arquivo Histórico de Joinville.

>Dinorah Rocha Brüske, arquiteta e urbanista, Mestra em Desenvolvimento Urbano – Geografia.
A diversidade dos projetos arquitetônicos do acervo do Arquivo Histórico de Joinville

>Dietlinde Clara Rothert. Historiadora, especialista em restauro e conservação na Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC).·.
A historia da preservação do patrimônio arquitetônico em Joinville.

11/03 – Acervo Iconográfico. 19h30 às 20h30 Para ter acesso a live clique AQUI

>Valéria König Esteves. Historiadora e mestre em Patrimônio Cultural – Mestra em Patrimônio Cultural e Sociedade.
A preservação dos múltiplos períodos da história de Joinville por meio do acervo iconográfico do AHJ.

>Leandro Brier Correia. Historiador, assistente cultural e especialista em metodologia do ensino de História.
A importância da digitalização do acervo iconográfico do AHJ para o acesso a pesquisa e informação.

>Nilton Santos Tirotti. Mestre em Engenharia de Produção. Artista visual e docente em Cinema e Artes Visuais. 
A produção e a pesquisa imagética na arte a partir do acervo iconográfico do AHJ.

18/03 – Acervo cartográfico. 19h30 às 20h30 Para ter acesso la live clique AQUI

>Dilney Cunha (AHJ). Historiador e especialista em História e Historiografia do Brasil.
Joinville antes de Joinville: problematizações a partir da cartografia.

>Ângela Maria Vieira. Historiadora, pós-graduada em História do Brasil e História Cultural.
Como refletir a ocupação da cidade de Joinville 170 anos depois, pelo olhar do estudante da escola pública, dos migrantes, imigrantes e refugiados?

25/03 – Acervo de Hemeroteca. 19h30 às 20h30 Para ter acesso à programação clique AQUI

>Leandro Brier Correia. Historiador, assistente cultural e especialista em metodologia do ensino de História.
A importância do acesso ao acervo da hemeroteca do AHJ como fonte de pesquisa.

>Valéria König Esteves. Historiadora e mestre em Patrimônio Cultural – Mestra em Patrimonio Cultural e Sociedade.
Jornais e periódicos culturais entre outros acervos da hemeroteca do AHJ para a preservação das memórias da cidade de Joinville.

>Lúcio Mattos. Graduado em Comunicação Social (Jornalismo), escritor e autor do Jornal Retrô:100 histórias de uma Joinville de outros tempos.
A influência da imprensa e a pesquisa histórica em jornais e periódicos, para refletir a respeito dos valores, curiosidades e a cultura da sociedade joinvilense em diferentes épocas. (Gênese do livro Jornal Retrô).