Sem limites: acessibilidade e inclusão na arte joinvilense

O Arte na Cuca acredita e trabalha para que as produções artísticas realizadas na cidade de Joinville e região, consigam ultrapassar as barreiras da comunicação entre arte e público. Nosso maior desejo é possibilitar o acesso as artes para toda e qualquer pessoa, independente de sua cor, crença, gênero, opção sexual, limitações, deficiências e etc. 
Segundo o artigo 125 da constituição federal brasileira,  “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Apoiar e falar cada vez mais sobre representatividade, equidade e valorização das minorias, é um desejo que vai de encontro com uma data considerada por nós, marcante no mês de dezembro: o “Dia Internacional da pessoa com deficiência”, lembrada por suas lutas e conquistas em 03/12.
Para falar sobre os desafios, superações e conquistas da pessoa com deficiência no campo das artes, convidamos a atriz joinvilense Dayane Cristina Gomes, de 26 anos que integra o Grupo de Teatro Libração, projeto idealizado pela diretora Manoella Carolina Rego em parceria com Dayane, no ano de 2011. Durante a entrevista, a atriz fala sobre suas experiências e motivações, mas também sobre os obstáculos que enfrenta quando o assunto é acessibilidade e inclusão.

ANC: Qual foi seu primeiro contato com o teatro e as dificuldades enfrentadas envolvendo a deficiência auditiva?

DAYANE: Sou surda desde que nasci, está na genética familiar. Desde criança sonhava em ser atriz de televisão, mas meu primeiro contato com o teatro foi aos 18 anos, através do Curso Livre de Teatro da Dionísos, com a professora Clarice Steil Siewert, que contava com a tradução em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), da Manoella Rego. É Muito difícil encontrar oficinas e cursos que tenham intérprete de LIBRAS, pouco tempo atrás, eu estava procurando cursos para atores de TV, mas a resposta que ouvi foi de que não teriam como adaptar as aulas para mim, nem mesmo tentaram. Pensando nessa e em outras dificuldades, é que em 2011 eu e a Manoella criamos o Grupo de Teatro Libração.

ANC: Como é fazer parte do Grupo de Teatro Libração e a sua própria descoberta como atriz?

DAYANE: O Libração é um grupo de teatro bilíngue, nos ensaios para os surdos falamos apenas em LIBRAS. Nas apresentações atuamos na nossa língua materna, a LIBRAS e também fazemos uso da expressão facial e corporal. Ás vezes  contamos com a tradução da intérprete, para quem não é bilíngue.

ANC: Quais são seus planos para continuar aprendendo e atuando como atriz?

DAYANE: No início eu não acreditava que era uma boa atriz, me sentia muito insegura e tímida. Foram os professores que me incentivaram e acreditaram em mim. No momento, meus planos são continuar com as apresentação  da peça “Fala comigo!! Ou mundo invertido”, que retrata muito bem o universo dos surdos, e o mais recente projeto do Libração, inspirado no texto ” O Lixo ” do Luís Fernando Veríssimo. E para o futuro sonho em criar novos projeto para ensina arte, teatro e dança os surdos de todas as idades.

ANC: Em novembro você assumiu a diretoria administrativa do Instituto Ímpar, como é fazer parte da equipe de trabalho?

DAYANE: Estou aprendendo e conhecendo por dentro desse projeto que já participo e acompanho faz algum tempo. Os meus colegas do Ímpar são talentosos, e estão sempre realizando ações que tem como objetivo apoiar a inclusão.  Palestras, teatros e etc, principalmente sobre e com as pessoas com deficiência. O Impar é um grupo de artistas fortes, lutadores que estão sempre lutando pela a cultura e motivando as pessoas, com ou sem deficiência.

ANC: Você acredita que os espaços culturais de Joinville, estão preparados para receber o público com necessidades especiais?

DAYANE: Na maioria das vezes não. A falta de acessibilidade fica ainda mais evidente quando o assunto é a acessibilidade arquitetônica, para as pessoas com deficiência física que precisam do auxílio de muletas ou cadeira de rodas. Já para os surdos, o local precisa contratar intérprete, mas também precisa ver antes o local que a interprete vai ficar no palco para ninguém passar na frente e atrapalhar a tradução. Mas também é preciso falar sobre os espaços que vem fazendo um ótimo trabalho quando o tema é inclusão por exemplo, o Grupo Abismo, da AMORABI e a Dionísos sempre convidam quando há intérprete. Eu e outros surdos já vimos apresentações do Grupo Canto do Povo, na Casa Iririú e de grupos de fora da cidade, via , patrocínio federal. Nós do IMPAR, fazemos tudo com interprete.