Educação e transformação por meio da arte: o propósito de Ademar César e Jane dos Santos

“Eu via o Ademar como um artista de muito talento, mas essa parte artística sempre era nosso “plano b” e não o “plano a”. Quando tomamos a decisão de realmente fazer da arte o nosso sustento, fomos buscar maneiras de fazer isso se tornar realidade”.

Jane dos Santos

Quem já passou pelas ruas dos bairros da cidade e de repente se deparou com muros coloridos e repletos de imagens de passarinhos, flores, corações e crianças felizes a brincar? Vamos dar uma dica: um deles está na entrada do Iate Clube de Joinville que fica no bairro Espinheiros, e retrata as belezas da baía da Babitonga.

O responsável por essas criações é o artista Ademar César, que há mais de vinte anos, dedica seus dias a arte e a produzir trabalhos em pintura que surpreendem por sua técnica e expressão.  Ademar vive exclusivamente de arte, e com o apoio de sua esposa Jane, mantém a vida profissional de artista e o projeto social que leva seu nome, o Instituto Cultural Ademar César, situado na rua Benjamin Constant, nº 3870, bairro Glória.

Espaço destinado a atender pessoas com ou sem deficiência, é um projeto social sem fins lucrativos, que conta com a ajuda de voluntários e se de dica a fazer com que os participantes encontrem prazer, alegria e motivação para viver por meio da arte.

 A equipe do ARTE NA CUCA visitou o instituto e conversou com o casal, que em tom descontraído  falou sobre o projeto, os trabalhos em arte-educação e a vida dedicada a arte.

O PROJETO SOCIAL

ARTE NA CUCA: Boa parte do tempo de vocês é dedicado ao projeto social Instituto Cultural Ademar César, voltado a pessoa com deficiência. O que motivou-os a iniciar essa caminhada?

ADEMAR/JANE: No ano de 2007 montamos um projeto para vender aulas de pintura. Na época, o shopping Mueller e o Shopping Cidade das Flores entraram na parceria que ainda existe, mas o projeto em si durou seis anos. Nessas oficinas, que aconteciam nos dois Shoppings, começamos a conhecer o universo da pessoa com deficiência, por volta de 2008. Foi em uma dessas oficinas que o Ademar ministrava e que eu era a responsável por fazer as inscrições , que um cadeirante se aproximou e perguntou se ele também poderia participar das aulas. Respondi que sim.

Para minha surpresa, a pessoa respondeu que eu não conhecia sua vida e que era muito difícil uma pessoa com deficiência conseguir participar de diversos eventos, principalmente por falta de acessibilidade e atenção dos demais para as necessidades do outro. Depois daquele dia começamos uma amizade, que nos sensibilizou para muitos outros projetos envolvendo a inclusão da pessoa com deficiência, transtornos mentais leves e vulnerabilidade social.

ARTE NA CUCA: Como iniciou o Instituto Cultural Ademar César?

ADEMAR/JANE: O Instituto nasce em 2011, depois de já estarmos em uma caminhada trabalhando com inclusão e oficinas em que oferecíamos bolsas para que pessoas com deficiência também participassem de oficinas que ministrávamos. Nesse ano, percebemos que o projeto voltado ao público com deficiência mantinha-se em crescimento e fomos buscar informação e treinamento para fazer dessa ação – que até então contava com dez participantes – algo maior, que pudesse beneficiar ainda mais pessoas.

A primeira sede do instituto foi uma pequena sala anexo a uma escola que oferecia cursos profissionalizantes na cidade, lugar em que ministramos aulas até 2015, quando finalmente foi possível mudar para onde estamos hoje.

ARTE NA CUCA: Quais são as atividades que o Instituto oferece para os seus atendidos?

JANE: O Instituto Cultural Ademar César oferece vivências em desenho, pintura, dança inclusiva, inclusão digital e aulas de reforço escolar, sempre utilizando a arte como ferramenta de ensino.  Nosso público atualmente está voltado para alunos de escola pública, idosos, pessoas com deficiência física, mental e algumas síndromes.

ARTE NA CUCA: Quantos atendimentos a instituição realiza atualmente?

JANE: Atualmente o instituto realiza oitenta e seis atendimentos por semana e conta com cerca de dez voluntários, entre professores, psicólogos e nutricionista e seu objetivo principal é trabalhar com o melhoramento das capacidades da pessoa, sua autoestima, independência, interação com o outro, expressividade e etc.

ARTE NA CUCA: Ademar, o livro “Dois olhares sobre Joinville” da autora Fernanda Ortiz Machado, trás algo que nos deixou curiosos, uma exposição de pinturas suas na ARCD, pensada para pessoas com deficiência visual. Como foi essa exposição?

ADEMAR: Não fiz exatamente uma exposição para pessoas com deficiência visual, apenas permiti que as mesmas tocassem nas telas durante a exposição. A curiosidade foi a seguinte: será que a pessoa com deficiência visual, se tocar na tela conseguiria compreender alguma coisa? As fichas técnicas das obras foram feitas em Braille e as pinturas eram carregas de tinta a óleo, então a percepção do tato ficou muito aguçada e foi possível compreender os detalhes de cada imagem.

Além disso, havia um texto suporte para que a pessoa conseguisse criar imagens mentais do ambiente da exposição e também das obras. O grande problema é que a maioria dos espaços não toma essa atitude, não deixa as pessoas tocarem, sentir a arte, sendo que aquele é o único jeito que ela tem para poder enxergar.

OS MURAIS DE ADEMAR CÉSAR

ARTE NA CUCA: O trabalho da pintura mural na cidade parte de uma percepção de vocês, qual foi?

ADEMAR/JANE: Percebemos que na cidade haviam muitos muros pichados e que poderíamos de alguma forma contribuir para que essa realidade mudasse. Então começamos a vender as pinturas murais, sempre atreladas a projetos educacionais de conscientização e arte-educação. Observamos que, criou-se certo respeito e que os muros que receberam os projetos não retornaram a ser pichados.

O objetivo não é apenas pintar o mural, finalizar e ir embora. É fazer um trabalho de arte-educação que inicia com a palestra nas escolas.  Os alunos e toda equipe pedagógica conhecem o artista que vai realizar aquele projeto, falamos sobre arte, sobre pintura e sobre a obra que será realizada para aquela instituição.

ARTE NA CUCA: Existe uma grande diferença entre as suas pinturas em tela e as pinturas murais, a que se deve essa mudança?

ADEMAR: Os desenhos e pinturas que faço e que estão nos quadros, foram desenvolvidos exclusivamente para o suporte das telas, são óleos sobre tela, sendo assim outra técnica. Quando eu trabalho com os murais, preciso desenvolver de um jeito que eu possa obter ajuda de outras pessoas que não sejam necessariamente artistas, durante o processo do preenchimento das cores. Comecei a fazer isso nas escolas, quando a proposta era fazer com que os alunos tivessem essa experiência de pintar junto com o artista. Nos murais, trabalhamos a arte pop.

ARTE NA CUCA: Vocês consideram que esses trabalhos, são um meio de deixar o registro do que é a arte do Ademar César, para as futuras gerações?

ADEMAR/JANE: Sim, com certeza. Pois é a pintura dele, o traço e o gesto dele que estão espalhados por diversos pontos da cidade. Estão dentro de escolas, espaços de lazer, de convencia e etc.

ARTE NA CUCA: E quanto à questão financeira, é possível viver trabalhando somente com arte? ( A pergunta não foi feita diretamente ao casal, mas está sendo feita à você leitor. Leia o que diz a fala de Jane, esposa de Ademar César).

Quando levamos a proposta dos murais, as pessoas nos param e perguntam se quem está pagando é a prefeitura. Isso chega a causar certa indignação. Em algumas situações em que estamos executando a pintura nos muros, perguntam: Vocês estão pintando aí “de graça”? E eu respondo: Sim, a gente adora ficar aqui nesse sol torrando e trabalhando de graça! A questão é, porque a arte sempre tem que ser gratuita?” Jane dos santos.

Quem quiser colaborar ou conhecer o Instituto Cultural Ademar César, pode entrar em contato através do telefone (47) 3435-8195 ou pelo e-mail: institutoademarcesar@hotmail.com

Universo, desenho e forma na arte de Cristina Walter

Cristina Walter é daquelas pessoas que está sempre criando algo, tem necessidade de trabalhar com as mãos e ao mesmo tempo expressar o que sente, seja para expor ou para guardar em algum lugar da sua casa/ ateliê, que divide com seus três gatos. Apaixonada por desenho, inicia seus primeiros traços ainda criança inspirada no irmão mais velho, que também desenhava. Com o tempo, o irmão perdeu a atração pelo desenho, à irmã, descobriu a arte.

Além do desenho, outros trabalhos da artista que chamam muita atenção são a infinidade de  origamis, dobraduras e colagens que ela desenvolve. Inspirados na cultura oriental ou em propostas e conceitos nos quais a dobradura em papel é suporte para expandir a outros universos como o da pintura, aos poucos, o que antes era apenas tinta impressa em papel, transformou-se quase que em telas resguardadas por molduras.

O ano de 2018 tem sido muito proveitoso para Cristina, que após associar-se a AAPLAJ (Associação dos Artistas Plásticos de Joinville), vem se desafiando cada vez mais e já estuda  aventurar-se por outras linguagens. Neste ano, foram três exposições muito importantes: “A Margem-Um olhar sobre o rio”, “Exposição Urban Sketchers Brasil – durante o III Encontro Urban Sketchers Brasil – Salvador/BA”, “Coletiva de Aquarelas do Grupo Observa Joinville”.

Para que sua arte e sua técnica esteja acessível a cada vez mais e mais pessoas, a artista realiza oficinas de origami e divulga seus trabalhos através da página do facebook e da marca, Universo Quadrado. Agora você também encontra as produções da Cris na loja virtual do arte na cuca. Confira a seguir a entrevista exclusiva que ela concedeu ao site, e conheça mais sobre uma de nossas parcerias, e um pouco do que ela faz e pensa sobre arte.

ARTE NA CUCA: Apesar de já produzir arte faz algum tempo, você é uma artista que está começando a se apresentar e a expor cada vez mais na cidade. Conte para nossos leitores e leitoras quem é Cristina Walter?

CRIS W: Meu nome é Cristina Walter da Silva, mas assino meus trabalhos apenas como Cristina Walter. Nasci na cidade de Joinville em 01/12/1970 e comecei a trabalhar aos quinze anos, mas infelizmente apenas meu primeiro emprego tinha relação com desenho, pois trabalhei numa agência de publicidade. Aos 23 anos me aventurei a morar em Curitiba/PR e depois de dois anos morando lá e estudando, a ajuda financeira do meu pai acabou. Fui obrigada a largar os estudos e trabalhar. Só depois de voltar a Joinville em 2012, que meus planos de ser artista voltaram a florescer. De lá para cá, espero continuar trilhando esse caminho, estudar e praticar cada vez mais para minha evolução profissional, fazer novas exposições e ser reconhecida como artista.

ARTE NA CUCA: Quando você começou a desenhar?

CRIS W: Comecei a desenhar ainda criança. Quando era pequena gostava muito dos desenhos do meu irmão mais velho e queria desenhar como ele. Infelizmente ele parou, mas eu continuei com o incentivo da minha mãe que também pintava e desenhava.

ARTE NA CUCA: Após saber que sentia esse desejo de levar o desenho adiante, quais alternativas você procurou para aperfeiçoar seu traço? Estudou em alguma escola de arte?

CRIS W: Aos onze anos fui estudar na escolinha de artes da casa da cultura Fausto Rocha Júnior, depois cursei desenho juvenil, desenho publicitário e desenho adulto. Permaneci por cinco anos. Lá eu tive aulas com Luiz Si, Nadja de Carvalho Lamas e outros professores maravilhosos. Quando mudei de Joinville/SC para Curitiba/PR, frequentei curso de pintura por dois anos na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Atualmente me dedico às aulas de pintura em aquarela com a artista Silvana Pohl.

ARTE NA CUCA: Como iniciou tua trajetória artística? Tens participado cada vez mais de reuniões e encontros de artistas, assim como de exposições. Conte-nos sobre como tudo começou.

CRIS W: Iniciei ministrando cursos e workshops de origami. O primeiro foi na empresa TOTVS em 2015. Eu trabalhava lá na época e como eles tinham um projeto interno de incentivo aos funcionários para mostrar seus talentos, me inscrevi propondo o workshop de origami. Para minha surpresa, no ano seguinte me convidaram para repetir o workshop.

Com o sucesso dessa primeira experiência, criei coragem e me inscrevi para participar do “Inconsciente Coletivo” (2015), e participei de duas edições (2015) e (2016). Ainda em 2016 realizei minha primeira exposição que aconteceu na Casa 97.

No ano de 2017 foram mais duas oficinas realizadas durante os eventos “Curta Otto” e “II Festival de Aikido e da Cultura Japonesa”. Neste ano, 2018 , me associei a AAPLAJ e decidi me desafiar e produzir e expor cada vez mais como artista. Está sendo um ano muito produtivo, participei de três coletivas de artistas que foram: “A Margem-Um olhar sobre o rio”, “Exposição Urban Sketchers Brasil – durante o III Encontro Urban Sketchers Brasil – Salvador/BA”, “Coletiva de Aquarelas do Grupo Observa Joinville”.

ARTE NA CUCA: Como surgiu a ideia de se dedicar a aprender a arte do origami e das dobraduras?

CRIS W: O origami entrou na minha vida quando eu ainda morava em Curitiba. Um dia, passeando pela feirinha do Largo da Ordem, encontrei uma expositora que dobrou e fez um Tsuru (Garça) minúsculo na minha frente e depois me deu de presente. Fiquei fascinada com aquilo! Um pedaço de papel quadrado virar um pássaro. Parecia mágica!

Ali mesmo na feira, falei para mim mesma que iria aprender a fazer aquilo de qualquer jeito. Então comecei a praticar por meio de livros e diagrama que encontrava na internet, também Fiz curso no Solar do Barão, em Curitiba, que gerou uma exposição coletiva no mesmo local. Assim eu fui aprendendo e desenvolvendo a técnica e depois a arte.

ARTE NA CUCA: O que foi e o que representa para você aprender essa técnica e essa arte milenar de origem oriental?

CRIS W: O origami é uma arte milenar que não tem sua origem muito definida. São muitas as teorias, mas foi no Japão que ela se desenvolveu tornando-se uma prática muito popular tanto para crianças como para adultos. O origami parte da sua forma mais tradicional, de um papel quadrado sem o uso de cortes ou cola (no caso do origami modular) segundo os praticantes puristas da técnica. “Já o origami pra mim, é uma grande paixão que pratico há mais de vinte anos e que está ajudando muito a tornar meu sonho de ser artista uma realidade”.

ARTE NA CUCA: As colagens e origamis que você produz e expõe em molduras são criações suas? De onde surgiu a ideia para essa produção?

CRIS W: Na época que comecei a fazer esse trabalho, queria fugir do que os praticantes da técnica costumam fazer, que são as peças tradicionais ou móbiles. Quando eu ainda morava em Curitiba, cheguei a fazer o que acredito ser a semente do que faço atualmente. Desenvolvi essas criações em molduras baseada na prática e por buscar maneiras de manter a vida útil do papel, já que se trata de um material frágil. Aos poucos fui aperfeiçoando o origami tradicional, pois na época não conhecia nenhum artista que usava o origami na produção dos seus trabalhos artísticos. Hoje já conheço alguns artistas, mas nada muito semelhante ao que faço.