Exposição de Rosi Costa traduz o feminino em paisagens

A artista visual Rosi Costa inaugura a exposição Durante o trajeto no Garten Shopping de Joinville no dia 13 de setembro, quinta-feira. A mostra pode ser vistada gratuitamente até o dia 17 de outubro e reúne onze telas com pinturas que representam a subida do Morro do Boa Vista em direção ao mirante.

Conhecida por suas pinturas de orientação figurativa, mas também por trabalhos de abordagem contemporânea com objetos, performances e instalações, a produção artística de Rosi Costa costuma propor reflexões a respeito do universo feminino e leituras críticas sobre o papel da mulher na sociedade. A ênfase em paisagens dada pela exposição Durante o trajeto é uma versão livre dessa mesma temática, inspirada por Winnie, personagem parcialmente enterrada na peça de teatro Dias felizes, escrita por Samuel Beckett. Das onze telas apresentadas no Garten, dez compõem cinco duplas que se aproximam formalmente com pinceladas, tonalidades e texturas semelhantes.

Além de artista filiada à Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ), Rosi Costa é professora de pintura, de desenho e de técnicas sobre tela. Graduada em Pedagogia e em Artes Visuais, tem pós-graduação em Metodologia do Ensino da Arte e atua desde 2001 no processo de orientação de trabalhos em arte no seu ateliê em Joinville. Suas primeiras participações em exposições coletivas datam de 2012, embora a artista também tenha feito pequenas mostras individuais em espaços não oficiais.

Por e-mail, a artista falou ao ARTE NA CUCA sobre seus temas, sobre sua trajetória e sobre a sua motivação para montar a exposição Durante o trajeto.

Foto: Gleber Pieniz

Durante o trajeto é tua primeira exposição individual. Por que escolheste este grupo de trabalhos para expor e uma sala de shopping center para fazer a tua estreia?

Embora nos últimos anos eu esteja participando de muitas exposições coletivas, há uns anos atrás já fiz exposições individuais na cidade: Câmara de Vereadores, shoppings, biblioteca pública municipal, Faculdade Cenecista de Joinville e Detran. Joinville carece de espaços para exposições e a AAPLAJ em parceria com o Garten Shopping vem valorizando e abrindo esse espaço para que os artistas da cidade tenham a oportunidade de apresentar suas produções. Penso que esse apoio à classe artística merece o retorno dos artistas, levar a arte para espaços públicos e apresentar à sociedade a arte que se produz aqui.

Tua poética ja é conhecida pelas formas figurativas, pelo tema da mulher e pela leitura crítica do universo feminino. Como estas paisagens dialogam com a tua produção habitual? Como esta exposição se encaixa na exploração da tua temática, no desenvolvimento da tua pesquisa?

Inspirada na peça de teatro Dias felizes de Samuel Beckett, onde uma mulher fica presa em um morro, comecei a fazer esse diálogo com minha poética pensando nas montanhas que impedem as mulheres de buscarem serem felizes. No final do ano passado realizei na subida do morro do mirante uma intervenção artística com interação das pessoas que circulavam ali. Como esse espaço me transmite uma meditação ativa e uma reflexão sobre a minha pesquisa, representei essas subidas, curvas e sensações em pinceladas, cores, luz e formas.

Foto: Gleber Pieniz

A pintura é tua forma expressiva mais familiar, embora você tenha se destacado em exposições coletivas com trabalhos híbridos de abordagem contemporânea. Como se dá esse trânsito entre um e outro enfoque na tua arte?

Gosto de me expressar em muitas linguagens. O universo feminino e as reflexões em torno dele me fazem ora querer me expressar de uma forma, ora de outra forma, fluindo de uma para outra abordagem sem conflitos, porque a base poética é sempre a mesma.

Ainda que representem um mesmo lugar e um mesmo ponto de vista, as telas desta exposição se agrupam em pequenos conjuntos que diferem entre si na forma, na cor e no gesto. Como isso acontece na tua pintura?

É interessante que quando se sobe o morro do Boa Vista em direção ao mirante, cada curva surpreende de maneira nova. Na verdade são vários pontos de vista, a próxima curva é diferente da anterior, e essa percepção está representada nas pinturas a partir de pinceladas e cores diferentes. Sou muito intuitiva e ágil no processo e no gesto pictórico, é uma característica pessoal e essa característica fez com eu tivesse que me conter e repensar. Quando me dedicava à pintura dessa série, pintava duas telas de cada vez e esse resultado se percebe claramente observando o conjunto dos trabalhos. Procurava dar esse tempo e me dedicar a outros processos da minha produção e depois retornar para conseguir essa expressividade.

DIA: 13 de setembro
HORÁRIO: 20 horas
VISITAÇÃO: até 17 de outubro, de domingo a domingo, das 10 às 22 horas
CUSTO: entrada gratuita
LOCALIZAÇÃO: Garten Shopping – av. Rolf Wiest, 333, no Bom Retiro, em Joinville

ANC entrevista: Rosi Costa

Rosi Costa é artista visual muito atuante no circuito artístico de Joinville. Além de produzir seus trabalhos e desempenhar o papel de esposa e mãe, encontra tempo para exercer a profissão de professora de arte em seu ateliê. Em suas aulas, Rosi não ensina somente a técnica, mas busca criar relações de amizade com seus alunos e por meio da arte estabelecer conexões que promovam a busca pelo autoconhecimento.
O ANC esteve no ateliê da artista e bateu um papo bem interessante sobre processo de criação, pesquisa e fazer artístico, além de dar uma espiadinha no que ela anda produzindo para novas exposições. O resultado você confere a seguir.

ANC: Você possui formação acadêmica em arte?
ROSI: Minha primeira formação foi em pedagogia, quando já lecionava, decidi fazer o curso superior em artes visuais, mas antes disso já havia feito aulas na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e por último fiz pós-graduação em arte-educação. Mas acredito que meu trabalho como artista se dá não apenas pela minha formação acadêmica e sim pelo fato de que estou sempre buscando, me aperfeiçoando e me questionando sobre meu próprio fazer artístico.

ANC: Como foi seu primeiro contato com as artes?
ROSI: Quando comecei, foi através da pintura. No princípio não tinha nenhum objetivo, foi mais por hobby, pensei que eu nem tinha talento para tal atividade, mas à medida que ia produzindo, comecei a gostar e descobri na pintura uma verdadeira paixão.
Depois dos primeiros anos me dedicando a pintura, comecei a refletir e descobri que o que sabia era pouco e fui buscar mais conhecimento sobre o assunto, iniciando um curso de pintura na casa da cultura, onde aprendi muitas técnicas, porém, o que mais me interessava nas aulas da casa da cultura era me libertar do estilo acadêmico pois minha primeira professora ensinava muito o acadêmico.
Mesmo gostando muito do curso da casa da cultura, que me ajudou a ampliar meu jeito de pintar e me expressar, sentia que ainda não era o suficiente e que algo faltava dentro de mim. Fui pesquisando, me aperfeiçoando e buscando interagir mais com outros artistas, com o objetivo de encontrar um determinado rumo e o encontrei a partir do símbolo da bolsa (bolsa feminina) e tudo o que ela representa para mim.

ANC: Aproveitando seu comentário, conta pra nós qual sua relação com a bolsa?
ROSI: Tudo teve início a partir do meu contato com as alunas do meu ateliê e nossas trocas a respeito da mulher e seu lugar na sociedade. Comecei a perceber que esse era um tema que me deixava inquieta, principalmente sobre os sofrimentos internos, o que cada uma delas acaba passando sozinha, coisas que as pessoas não entendem e que a própria mulher tem dificuldades em resolver. Quando comecei a pesquisar o tema mais a fundo, li que o objeto bolsa, para a mulher é como se fosse uma extensão de seu próprio corpo, pois carregamos tudo o que julgamos ser necessário, é um porto seguro.
Nós mulheres, carregamos a menina que fomos, a jovem os nossos sentimentos, nossos sonhos as nossas saudades, decepções e etc… Então a bolsa para mim não é somente um objeto ou um acessório comum e sim o arquétipo do meu interior.

ANC: Você já realizou alguma exposição que discutisse apenas a relação da mulher com a bolsa?
ROSI: Ainda não fiz nenhuma do jeito que eu queria. Comecei a pensar em algo apenas sobre as bolsas e que contaria com obras interativas, oficinas e até cheguei a escrever um projeto para ocupar os dois espaços expositivos da Associação dos Artistas Plásticos de Joinville, encaminhei com o intuito de realiza-la em Outubro (2018), mas recebi a notícia de que serei avó, então decidi esperar e curtir meu neto ou neta, ao mesmo tempo que amadureço ainda mais a ideia.

ANC: Você pretende explorar novas possibilidades de trabalhos artísticos para além da pintura em tela?
ROSI: Sim, estou muito em busca disso. Comecei no ano passado com uma intervenção que me possibilitou ter uma interação maior com o público e a partir dela, já estou pensando em novos projetos que contam ainda mais com a interação daqueles que entendemos como apenas observadores. Meu pensamento começa a mudar a respeito dessa questão quando inicio outros cursos voltados principalmente para a arte contemporânea e também na troca de ideias com outros amigos artistas e integrantes da AAPLAJ. É um processo de busca, de constante aperfeiçoamento e desejo em testar diferentes materiais e possibilidades para além da pintura.

ANC: Além de ser artista, desempenha outra função dedicada as artes? (Professora, curadora, gestora cultural e etc).
ROSI: A minha atuação é como artista visual e como professora, mas comecei a experimentar novas possibilidades, outras linguagens porque senti que a pintura já não dava mais conta de expressar tudo o que eu gostaria. Estou com muitos projetos que pretendo colocar em prática em breve e um deles é em parceria com uma amiga psicóloga e diz respeito ao desenvolvimento de oficinas para mulheres que enfrentam situações de sofrimento interior e está fundamentado em princípios da arte-educação e da arteterapia.

ANC: Qual a linguagem mais utilizada na produção de seus trabalhos artísticos?
ROSI: Eu amo a pintura, amo o cavalete e além da pintura trabalho com recorte e colagem, mas percebo que a arte contemporânea possibilita com que me expresse muito mais. Dei início a proposta voltadas para a performance e intervenções e estou gostando muito. Por um certo tempo, sentia um aperto no peito, vontade de gritar algo que nem eu mesma sabia o que era. Acredito que o fato de me expressar utilizando outros materiais me trouxe a liberdade que precisava para superar meus limites como artista.

ANC: Como (se for possível) você definiria sua poética?
ROSI: Sempre penso a minha poética como autoconhecimento e autoexpressão. Estou sempre através dela me expressando, mas ao mesmo tempo me conhecendo. Percebo que estou em uma fase de transição, pois até um determinado ponto da minha pesquisa, eu ficava conversando com mulheres, pesquisando sobre mulheres, falando das mulheres e não sabia por qual motivo. Até que chegou em um certo momento em que acabei percebendo que essa minha atitude era um reflexo da minha própria busca interior. Estava olhando para ela na esperança de me encontrar, mas hoje entendo que não estou apenas em busca de mim, mas talvez eu esteja em uma espécie de missão para ajudar outras mulheres.

ANC: Quando você decidiu ministrar aulas de pintura no seu ateliê?
ROSI: Comecei minhas atividades como professora de ateliê antes de iniciar minha produção como artista. Eu já pintava há alguns anos e estudei pintura durante dez anos antes de dar aulas. Existia em mim o desejo de ensinar, mas nunca me sentia preparada. O que me motivou a dar o primeiro passo foi a vontade de ter um emprego em que eu pudesse estar perto dos meus filhos e também por ter uma professora que apesar de não ter tanto domínio sobre o que estava disposta a ensinar, tinha muita coragem para encarar o desafio e buscar sempre mais. Foi aí que decidi tentar e descobri que estava preparada e isso já faz dezesseis anos.

ANC: Em que dias da semana acontecem as aulas? Como você ensina seus alunos?
ROSI: As aulas são ministradas as segundas e terças no período da tarde e da noite. Eu me vejo como uma orientadora das habilidades das pessoas, porque se ela tem interesse e vontade não existe nada que não consiga aprender. Não começo as aulas com teoria e sim a partir da prática e através da prática vou ensinando a teoria, tudo depende do momento de cada aluno. Ensino a técnica, mas não me fecho somente nela e estou sempre trazendo exemplos, artistas dando abertura e possibilidade para que cada um desenvolva seu próprio estilo e sua criação e encontre seu próprio caminho, sempre instigando o pensamento e o autoconhecimento.

Sobre as aulas:

Aulas de pintura em tela
Professora: Rosi Costa
Horário: Segundas e terças 3h/aula (vespertino e noturno)
Valor: R$95,00 mensais
Contato: (47) 9668-1691
*Turmas de no máximo 07 alunos