ANC entrevista: Denise Torrens Nunes

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

Dedicada, determinada, mulher, mãe, esposa, artista, arteterapeuta e arte-educadora, Denise Torrens Nunes é tudo isso e muito mais. É alguém que sabe o que quer e corre atrás dos seus objetivos. Na entrevista que concedeu ao ANC falou sobre carreira, seu ateliê novinho em folha e principalmente sobre a descoberta de uma paixão: A arteterapia.

ANC: Como iniciou seu primeiro contato com as artes?

DENISE: A história é bem longa…(risos). Foi a partir das aulas da Casa da Cultura “Fausto Rocha Júnior”, quando resolvi fazer o  curso de cerâmica, paixão a primeira vista. Fiz o curso regular de três anos as aulas de cerâmica na modalidade ateliê, além de outros cursos, como o de porcelana, desenho, pintura, história da arte e tecelagem. Inclusive participei de um grupo de estudos em história da arte.

Vida que segue, trabalhei por muito tempo com a confecção de lembrancinhas para todos os tipos de ocasiões. Mas sempre envolvida com arte, montei um ateliê de festas, trabalhava com festas temáticas e lembrancinhas mas a coisa chegou a tal ponto que no final já fazia a festa completa, decoração, montagem, lembrancinhas e alimentação. Isso aconteceu até o momento em que falei para mim mesma que queria voltar a estudar e fazer curso de arte. O primeiro filho já estava criado e eu tinha mais tempo para mim, o ano era 1998.  Como eu já tinha a graduação em história, não precisaria fazer vestibular para iniciar um novo curso, naquele ano a FURJ estava mudando para UNIVILLE. Nessa empolgação toda, descobri que estava grávida do meu segundo filho, então dei mais um tempo, não era o momento certo.

Meu segundo filho nasceu prematuro e tivemos algumas complicações, meu bebê precisava de mim, da minha energia e presença, não consegui me dedicar as artes durante esse período e fiquei seis meses vivendo a experiência de ser mãe. Depois disso, tomei coragem para seguir outro rumo, uma fase de mudanças. Vendi todo o meu estoque de material para trabalhar com festas e terminado todo esse processo que foi cuidar do meu filho e de mim mesma, novamente coloquei em minha cabeça que eu queria me envolver ainda mais com arte, até que surgiu um curso de designer de interiores em Joinville – fui fazer o curso, me formei e trabalhei muitos anos na profissão, mas ainda não era a arte que eu tanto buscava.  

Mesmo trabalhando na área de design, não abandonei a cerâmica, sou associada da AAPLAJ (Associação dos Artistas Plásticos de Joinville) e participo do NAF (Núcleo Arte do Fogo), que é um grupo de ceramistas que se reune uma vez por semana e trabalha a argila, cada qual com sua poética, dentro de sua perpectiva artística, mas com trocas de experiências e muito empenho em prol da arte. Depois de todo esse tortuoso caminho, finalmente fiz artes visuais, emendei uma especialização em arteterapia, que me rendeu uma nova carreira profissional. Hoje posso dizer que estou realizada,  estou trabalhando em meu ateliê com cerâmica, tecelagem e ministrando aulas e ainda sessões de arteterapia.

 

ANC: O que te motivou a pesquisar e  a buscar formação em arteterapia? Nos conte um pouco mais a respeito.

DENISE: Acredito que  a arte faz parte da vida de todos nós. Vi na arteterapia  a junção de várias motivos para usar da arte como meio de transformação. O arteterapeuta trabalha com algo muito importante, o poder de criar.  Se baseia em várias formas de expressão artística com finalidade terapêutica .Sempre tive curiosidade sobre como a arte pode ajudar no autoconhecimento de cada pessoa.  A expressão artística pode revelar sentimentos e emoções muito profundos, pode ser aplicada a todos os públicos, de crianças a idosos. Meus público alvo no momento é justamente o idoso institucionalizado.  Após terminar o estágio da especialização, que fiz em um lar de idosos fui contratada para atuar junto a esse público. Num primeiro momento trabalhava apenas como arte educadora (pois ainda não estava formada) e agora já atuando  como profissional arteterapeuta. Confesso que estou me realizando, juntei minha paixão antiga com uma nova. Ser arteterapeuta é cuidar terapeuticamente por meio da arte.

É muito importante perceber como se pode fazer a diferença, principalmnete quando se trabalha com um público carente de atenção e afeto, que muitas vezes se considera a margem do convívio social e familiar. Foi um começo difícil, entre os idosos existia um certo preconceito,  ouve-se muitos comentários que desenhar e pintar é “coisa de criancinha” Mas com muita paciência e dedicação os resultados aparecem, cria-se um elo de confiança entre arteterapeuta e atendido que faz a diferença para o processo caminhar.

ANC: Com a finalização da especialização e do seu projeto de estágio, os grupos que você acompanha/atende  continua o mesmo?

DENISE: Tenho dois focos de atuação, um deles é no meu ateliê, onde atendo todo e qualquer público, trabalho com aulas de cerâmica, tecelagem e agora já formada e regulamentada como arteterapeuta, posso associar as aulas que mencionei com a arteterapia em ambiente de ateliê, pois ambas são modalidades muito expressivas e altamente terapêuticas, como também trabalhar somente com a arteterapia ,assim como outras formas de expressão artística. Cada atendido é único e ele define por qual processo quer passar, mas todas as pessoas que iniciam nas sessões de arteterapia preferem ficar trabalhando dentro desse contexto terapêutico no ateliê. Mas é livre e negociável, como fica melhor para cada pessoa.

 O segundo foco de atuação é no lar de idosos onde trabalho três vezes por semana. Atendo os idosos que já participavam do estágio bem como todos os outros, pois muitos são acamados e eu faço uma adaptação para fazer acontecer o processo arteterapêutico igualmente a todos.  Quando se trabalha com idosos tudo deve ser adaptado , desde o usos de materiais até a sessão propriamente dita. A participação é voluntária, hoje quando chego no lar para trabalhar não preciso mais passar de quarto em quarto para solicitar a participação dos idosos, normalmente já estão esperando  em uma ansiedade visível ,para fazer aula de artes, como eles gostam de falar. As atividades são dinâmicas e quase sempre bem aceitas, não gostam de alguns tipos de materias, como a argila, que eu particularmente como ceramista, gostaria muito de trabalhar, mas não funciona e quando quero trabalhar com modelagem, uso outros tipos de massa, é assim que se faz as adaptações, massa de sal, massa de trigo para fazer bolachinhas são ótimas para explorar aspectos do inconsciente, trazendo a tona um conteúdo que está muito bem guardado, é um conteúdo sombrio  nem bom nem ruim, que pode e deve ser resignificado em uma nova roupagem, promovendo a cura interior de cada um.

As linguagens mais aceitas por eles são desenho, pintura, recorte colagem e culinária, todos gostam muito.   O grupo as vezes sofre perdas, sempre estou competindo com indisposições, consultas médicas, visitas inesperadas entre outros fatores. Mas a participação é sempre voluntária, só assim com boa vontade que se consegue chegar  aos conteúdos que o insconciente reserva. Também fazemos passeios com os internos, todos os que tem condições de sair são convidados, é quase uma aventura em meio a cadeiras de rodas e andadores, mas uma experiência muito significativa para todos. Visitamos recentemente a exposição em que eu participei na AAPLAJ (“Memória de moças bem-comportadas” – 2018).

Na sua grande maioria os idosos nunca foram a uma exposição, ao cinema, ou ver o mar, ou mais simples ainda alguns deles nunca tinham usado lapis de cor, giz de cera – nem conheciam. Foram apresentados no momento do meu estágio. Eu uso muito material reciclado, eles ficam admirados quando eu falo que vamos pintar com pincel diferente, um pincel feito por eles, é muito especial, pois cada um consegue acreditar no seu potencial, dentro do seu contexto, e eu na função de arteterapeuta apoiando essa descoberta. Émuito gratificante apresentar algo tão novo, tão simples, a quem acredita ter poucas perspectivas.  Eu aprendo muito com eles, sempre comento com o grupo.

ANC: Logo na primeira pergunta você menciona que passou por diversas ocupações e trabalhou em áreas afins, com seu trabalho como arteterapeuta podemos dizer que finalmente a Denise se “encontrou” em uma profissão?

DENISE: Ah, com certeza! Eu penso que minha relação com a arteterapia já vem de muito tempo, pois quando fazia cerâmica desde os primórdios  do meu caminho como ceramista, já tinha esse contato mais íntimo e sempre me fez muito bem trabalhar o barro que é extremamente terapêutico. A argila por si só, já é um material fantástico, vivo, respeito muito esse material,  em que você consegue trabalhar até certo ponto, depois ele (o barro) diz: Chega! Agora sou eu. E então você não consegue mais fazer somente o que quer, respeitar o tempo da argila, ter paciência para que o processo aconteça. É assim na arteterapia também.

ANC: Como é essa sua relação com o barro?

DENISE: Respeito a vontade do barro. Trabalho em uma peça até certo ponto e quando vejo que está no limite, paro de mexer . Um exemplo fácil para que compreendam minha relação com esse material, é quando abro meu forno e percebo peças que estão trincadas. Não gosto de consertar,  de arrumar, aceito o que o barro e o forno me apresentam, o que o universo me entregou. As vezes chego no ateliê, vejo que algo não ficou bom, simplesmente jogo no chão e quebro e então vai virar outra coisa. Não sofro por algo que a princípio não deu certo da maneira que eu esperava. É um processo de carinho, doação e interação – “amor e ódio”.

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

ANC: Sobre seu ateliê, você iniciou fazendo atendimento terapêutico ou ministrando aulas de arte como estamos acostumados a vivenciar?

DENISE: Comecei somente ministrando aulas de cerâmica e tecelagem, que ainda acontecem, porém com o interesse maior na arteterapia, pois ainda estava cursando a especialização, então não tinha licença para aplicar as práticas terapêuticas, e eu ainda estava aprendendo como dar um suporte emocional a pessoa que busca uma sessão. Sempre fui e continuo muito ética. É preciso trabalhar de maneira muito consciente e cuidadosa, zelosa por todo o conteúdo que o atendido confia ao arteterapeuta,  pois muitos conflitos vem à tona. Conteúdo não verbalizados e expressos nos desenhos, nas pinturas, e em todo o tipo de material que disponibilizo. Falar não é necessário, pois muitas vezes verbalizar é muito difícil, um processo sofrido. Agora sim, certificada o espaço está aberto para o atendimento voltado ao lado terapêutico.

 

ANC: O que  podemos encontrar no seu ateliê?

DENISE: Encontrará um ambiente seguro, agradável  e com acessibilidade. As vezes não se sabe o que quer, mas na arteterapia somos livres para experienciar, livre  da estética, não existe feio ou bonito no contexto arteterapêutico. Toda expressão plástica é carregada de símbolos e esses símbolos após resinificados, o atendido tem condições de encontrar seu norte, seu equilíbrio.  Eu também possibilito experiências em tecelagem e argila, como aulas…mas tudo depende da necessidade e do que o atendido deseja. O meu objetivo é trabalhar o processo terapêutico rumo ao autoconhecimento, ao prazer de viver e de se cuidar terapeuticamente.

ANC: E as aulas dedicadas apenas ao ensino das práticas artísticas?

DENISE: Atendo em horários diferentes para cada situação. As aulas e as sessões podem ser em grupo ou indivdual, tanto a arteterapia quanto as aulas que visam apenas o ensino de alguma modalidade artística.

ANC: Como acontecem essas sessões? O aluno participa de aulas experimentais?

DENISE: A pessoa pode fazer uma aula ou uma sessão experimental, ou as duas situações.

ANC: Você também recebe crianças para sessões de arteterapia?

DENISE: Sim. Trabalho com todos os públicos.  O lúdico é muito explorado, a criança não tem preconceito, gosta de todos os materiais, lógico salvo em situações específicas de doenças  ou qualquer outra advesidade, mas tudo sempre pode ser – e é adaptado.

ANC: E quanto ao investimento e materiais?

DENISE: Vai depender do que a pessoa  procura e quer. Cada situação tem um valor, aulas de tecelagem tem um valor de mensalidade e taxa de material, a pessoa não precisa trazer nenhum material, tudo está a disposição no ateliê. Já a cerâmica tem igualmente um valor de mensalidade e a pessoa fica livre, pode comprar a argila e outros materiais no ateliê, e usar suas ferramentas, como pode usar as ferramentas que são disponibilizadas, queimas são cobradas separadamente. Trabalho com pacotes específicos para cada situação.

Foto por: Walmer Bittencourt Junior

ANC: Quantas pessoas  é possível atender no ateliê atualmente?

DENISE: Posso atender grupos de 05 pessoas por sessão/aula, em todas as modalidades.  Além de ministrar aulas individuais se for da vontade do cliente.

ANC: E quanto aos horários das aulas e das sessões?

DENISE: As aulas  acontecem segundas das 08:30 as 11:30 e as terças das 08:45 as 11:45 hs. Para tecelagem e cerâmica respectivamente.  Para atendimento em arteterapia é agendado previamente. Porém os horários podem sofrer alteração conforme a necessidade.

ANC: Queremos saber um pouco mais da Denise artista, como está esse seu outro lado?

DENISE: Fiz minha primeira exposição individual em 2012, na AAPLAJ, participando do projeto “Lançamentos”, na época coordenado pela artista Linda Pool e que contou com a curadoria de Miriam da Rocha. Participo ativamente da associação, faço parte do NAF – Núcleo Arte do Fogo da AAPLAJ, que se encontra semanalmente, cada artista produz dentro de sua poética, mas as trocas de experiências entre as ceramistas são constantes. Uma vez por ano temos a exposição do grupo, nesse ano será em novembro, já comecei as pesquisas para essa exposição, atualmente sou a cordenadora do NAF na gestão 2018/2020.

Já na tecelagem desenvolvo tecidos com a interferência de materiais que podem conversar entre si, fios, lã, barbantes, e tudo a mais que pode servir para tecer.  Minha produção vai de carteiras de mão, bolsas, passando por vestuário, entre mantas, echarpe, chalés,são todas peças exclusivas. Mas no momento meu coração bate mais forte com e pela arteterapia. Porém, não consigo ficar longe da cerâmica e da tecelagem, sou muito inquieta, sempre procuro produzir mesmo que peças pequenas, é uma necessidade, funciona como minha terapia e me fortalece. Atualmente como artista, estou participando das exposições coletivas que acontecem na AAPLAJ em destaque a mostra que está sendo exibida no galpão da associação, a exposição “Proibido para menores de 18 anos – Favor não insistir. ”

ANC: Seu trabalho é sempre figurativo ou tem peças que seguem para a linha do abstrato?

DENISE: Depende muito do momento, mas minhas peças não são obras de grande porte, produzo peças em cerâmica de porte médio a pequeno,  não é um trabalho robusto, é mais rústico que delicado, mas gosto de interferir com materias diferentes e inusitados. Não existe peça com defeito, sim com efeito, me desafio cada vez que uma peça sai do forno com uma trinca ou uma esmaltação que não saiu como o previsto. É sempre uma surpresa abrir o forno e se defrontar com o resultado. Já tive muitas fases,  mas meu fio condutor é único, me vejo nas minhas peças, mesmo quando trabalho uma encomenda.

ANC: Para finalizar nossa entrevista queremos saber sua opinião sobre o espaço que a cerâmica e os ceramistas tem dentro das instituições de arte da cidade? (Vale locais alternativos).

DENISE: É ainda muito difícil. A cerâmica é uma arte que requer muitos cuidados na hora de produzir, pois o processo é longo, as peças demoram  para ficarem prontas. Além do que podemos perder todo o trabalho a qualquer momento, passar por duas ou mais queimas a altas temperaturas. Na hora de expor, também requer cuidados.  São peças sensíveis, existe uma preocupação em relação ao suporte, e onde serão expostas. E por fim existe ainda um preconceito em relação ao material, as pessoas desconhecem o valor da argila, desvalorizando a obra de arte feita de barro.  Os espaço são ainda escassos e muitos não apoiam a cerâmica como arte e sim apenas como artesanato, inviabilizando a exposição das obras.

ANC entrevista: Rosi Costa

Rosi Costa é artista visual muito atuante no circuito artístico de Joinville. Além de produzir seus trabalhos e desempenhar o papel de esposa e mãe, encontra tempo para exercer a profissão de professora de arte em seu ateliê. Em suas aulas, Rosi não ensina somente a técnica, mas busca criar relações de amizade com seus alunos e por meio da arte estabelecer conexões que promovam a busca pelo autoconhecimento.
O ANC esteve no ateliê da artista e bateu um papo bem interessante sobre processo de criação, pesquisa e fazer artístico, além de dar uma espiadinha no que ela anda produzindo para novas exposições. O resultado você confere a seguir.

ANC: Você possui formação acadêmica em arte?
ROSI: Minha primeira formação foi em pedagogia, quando já lecionava, decidi fazer o curso superior em artes visuais, mas antes disso já havia feito aulas na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e por último fiz pós-graduação em arte-educação. Mas acredito que meu trabalho como artista se dá não apenas pela minha formação acadêmica e sim pelo fato de que estou sempre buscando, me aperfeiçoando e me questionando sobre meu próprio fazer artístico.

ANC: Como foi seu primeiro contato com as artes?
ROSI: Quando comecei, foi através da pintura. No princípio não tinha nenhum objetivo, foi mais por hobby, pensei que eu nem tinha talento para tal atividade, mas à medida que ia produzindo, comecei a gostar e descobri na pintura uma verdadeira paixão.
Depois dos primeiros anos me dedicando a pintura, comecei a refletir e descobri que o que sabia era pouco e fui buscar mais conhecimento sobre o assunto, iniciando um curso de pintura na casa da cultura, onde aprendi muitas técnicas, porém, o que mais me interessava nas aulas da casa da cultura era me libertar do estilo acadêmico pois minha primeira professora ensinava muito o acadêmico.
Mesmo gostando muito do curso da casa da cultura, que me ajudou a ampliar meu jeito de pintar e me expressar, sentia que ainda não era o suficiente e que algo faltava dentro de mim. Fui pesquisando, me aperfeiçoando e buscando interagir mais com outros artistas, com o objetivo de encontrar um determinado rumo e o encontrei a partir do símbolo da bolsa (bolsa feminina) e tudo o que ela representa para mim.

ANC: Aproveitando seu comentário, conta pra nós qual sua relação com a bolsa?
ROSI: Tudo teve início a partir do meu contato com as alunas do meu ateliê e nossas trocas a respeito da mulher e seu lugar na sociedade. Comecei a perceber que esse era um tema que me deixava inquieta, principalmente sobre os sofrimentos internos, o que cada uma delas acaba passando sozinha, coisas que as pessoas não entendem e que a própria mulher tem dificuldades em resolver. Quando comecei a pesquisar o tema mais a fundo, li que o objeto bolsa, para a mulher é como se fosse uma extensão de seu próprio corpo, pois carregamos tudo o que julgamos ser necessário, é um porto seguro.
Nós mulheres, carregamos a menina que fomos, a jovem os nossos sentimentos, nossos sonhos as nossas saudades, decepções e etc… Então a bolsa para mim não é somente um objeto ou um acessório comum e sim o arquétipo do meu interior.

ANC: Você já realizou alguma exposição que discutisse apenas a relação da mulher com a bolsa?
ROSI: Ainda não fiz nenhuma do jeito que eu queria. Comecei a pensar em algo apenas sobre as bolsas e que contaria com obras interativas, oficinas e até cheguei a escrever um projeto para ocupar os dois espaços expositivos da Associação dos Artistas Plásticos de Joinville, encaminhei com o intuito de realiza-la em Outubro (2018), mas recebi a notícia de que serei avó, então decidi esperar e curtir meu neto ou neta, ao mesmo tempo que amadureço ainda mais a ideia.

ANC: Você pretende explorar novas possibilidades de trabalhos artísticos para além da pintura em tela?
ROSI: Sim, estou muito em busca disso. Comecei no ano passado com uma intervenção que me possibilitou ter uma interação maior com o público e a partir dela, já estou pensando em novos projetos que contam ainda mais com a interação daqueles que entendemos como apenas observadores. Meu pensamento começa a mudar a respeito dessa questão quando inicio outros cursos voltados principalmente para a arte contemporânea e também na troca de ideias com outros amigos artistas e integrantes da AAPLAJ. É um processo de busca, de constante aperfeiçoamento e desejo em testar diferentes materiais e possibilidades para além da pintura.

ANC: Além de ser artista, desempenha outra função dedicada as artes? (Professora, curadora, gestora cultural e etc).
ROSI: A minha atuação é como artista visual e como professora, mas comecei a experimentar novas possibilidades, outras linguagens porque senti que a pintura já não dava mais conta de expressar tudo o que eu gostaria. Estou com muitos projetos que pretendo colocar em prática em breve e um deles é em parceria com uma amiga psicóloga e diz respeito ao desenvolvimento de oficinas para mulheres que enfrentam situações de sofrimento interior e está fundamentado em princípios da arte-educação e da arteterapia.

ANC: Qual a linguagem mais utilizada na produção de seus trabalhos artísticos?
ROSI: Eu amo a pintura, amo o cavalete e além da pintura trabalho com recorte e colagem, mas percebo que a arte contemporânea possibilita com que me expresse muito mais. Dei início a proposta voltadas para a performance e intervenções e estou gostando muito. Por um certo tempo, sentia um aperto no peito, vontade de gritar algo que nem eu mesma sabia o que era. Acredito que o fato de me expressar utilizando outros materiais me trouxe a liberdade que precisava para superar meus limites como artista.

ANC: Como (se for possível) você definiria sua poética?
ROSI: Sempre penso a minha poética como autoconhecimento e autoexpressão. Estou sempre através dela me expressando, mas ao mesmo tempo me conhecendo. Percebo que estou em uma fase de transição, pois até um determinado ponto da minha pesquisa, eu ficava conversando com mulheres, pesquisando sobre mulheres, falando das mulheres e não sabia por qual motivo. Até que chegou em um certo momento em que acabei percebendo que essa minha atitude era um reflexo da minha própria busca interior. Estava olhando para ela na esperança de me encontrar, mas hoje entendo que não estou apenas em busca de mim, mas talvez eu esteja em uma espécie de missão para ajudar outras mulheres.

ANC: Quando você decidiu ministrar aulas de pintura no seu ateliê?
ROSI: Comecei minhas atividades como professora de ateliê antes de iniciar minha produção como artista. Eu já pintava há alguns anos e estudei pintura durante dez anos antes de dar aulas. Existia em mim o desejo de ensinar, mas nunca me sentia preparada. O que me motivou a dar o primeiro passo foi a vontade de ter um emprego em que eu pudesse estar perto dos meus filhos e também por ter uma professora que apesar de não ter tanto domínio sobre o que estava disposta a ensinar, tinha muita coragem para encarar o desafio e buscar sempre mais. Foi aí que decidi tentar e descobri que estava preparada e isso já faz dezesseis anos.

ANC: Em que dias da semana acontecem as aulas? Como você ensina seus alunos?
ROSI: As aulas são ministradas as segundas e terças no período da tarde e da noite. Eu me vejo como uma orientadora das habilidades das pessoas, porque se ela tem interesse e vontade não existe nada que não consiga aprender. Não começo as aulas com teoria e sim a partir da prática e através da prática vou ensinando a teoria, tudo depende do momento de cada aluno. Ensino a técnica, mas não me fecho somente nela e estou sempre trazendo exemplos, artistas dando abertura e possibilidade para que cada um desenvolva seu próprio estilo e sua criação e encontre seu próprio caminho, sempre instigando o pensamento e o autoconhecimento.

Sobre as aulas:

Aulas de pintura em tela
Professora: Rosi Costa
Horário: Segundas e terças 3h/aula (vespertino e noturno)
Valor: R$95,00 mensais
Contato: (47) 9668-1691
*Turmas de no máximo 07 alunos

O que é trabalho de criatividade, o que é hobby e o que é arte?

Pensando no que escrever para compartilhar com os leitores do ANC, me deparei com o rascunho de um projeto da Maria Eduarda, aluna do 1º ano do ensino médio da escola que fiz estágio em 2017.

Meu trabalho de conclusão de estágio tinha como principal objetivo, estimular a criatividade e o pensamento reflexivo a partir da elaboração de uma “máquina impossível” e por meio delas, despertar ideias, discussões, pesquisas e possibilidades de criar um protótipo do que poderia vir a ser construído – mesmo que essa produção não fosse algo possível de executar dentro do nosso contexto. A provocação que deu início a esse projeto compartilhado com os alunos, partiu das observações e pesquisas a respeito das obras e biografia do artista Rogério Negrão e que compunham a exposição “Máquinas do Abismo” (2017).

Finalizada a experiência da docência e da graduação, em dezembro de 2017, hoje (04/04/2018), vasculhando algumas agendas, encontro  uma das etapas do que desenvolvemos em sala de aula: Escrever sobre nossas ideias, colocar no papel o que queríamos materializar em um trabalho de criatividade  e assim, tentar encontrar soluções para possíveis problemas que poderiam vir a surgir durante o processo de criação e de construção de nossas máquinas.

Maria Eduarda (aluna a quem me refiro no início do texto), decidiu criar uma máquina que batizou de “Endorfina – hormônio da felicidade”. Na folha em que os alunos deveriam desenvolver o rascunho de seus projetos, havia um campo para descrever o modo de funcionamento de suas criações, local em que a menina nos dá as seguintes instruções:

“Você irá entrar dentro de uma sala que terá um sofá de frente para uma TV que passará alguns vídeos e frases que vão estimular o cérebro a produzir os hormônios da felicidade que são a endorfina, a oxitocina, dopamina e a serotonina.”

No momento em que eu pude reler esse pequeno texto, surgiu-me a seguinte pergunta: “Será que chegamos ao ponto de precisarmos criar uma máquina para produzir felicidade instantânea?”. – Na verdade essa falsa sensação de felicidade já existe e é alimentada com a ajuda de medicamentos sintéticos, redes sociais, televisão, consumismo e diversos outros meios nada saudáveis e que mascaram as dificuldade que temos em enfrentar nossas realidades.

A proposta que incentivou a criação das máquinas, refletiu não apenas no trabalho dessa aluna mas em vários outros, onde é possível observar as consequências da vida moderna. O mais interessante é perceber que através da arte podemos acessar e dar significado as diversas questões adormecidas em nosso interior, como a angústia e a tristeza, sentimentos proibidos em um mundo em que nos escondemos atrás de falsos sorrisos.

Porém, quem já ouviu falar que a arte liberta? Nos liberta de quem somos e de nossas angústias, sofrimentos, medos, frustrações. A arte nos faz poder o impossível, conceber o inconcebível. Mas na realidade em que vivemos, com tantas crises financeiras  e inseguranças, qual a possibilidade de verdadeiramente vivermos a arte e de arte, para além do que nos é apresentado na escola? Como alcançar a realização profissional sem precisar contar com uma “máquina da alegria”?

Essas são perguntas difíceis de responder, mesmo assim, levanto aqui algumas provocações a respeito de uma palavra que num primeiro momento, não parece estar relacionada com a arte, porém, está sim muito presente na dinâmica daqueles que se dedicam à literalmente viver de arte e entrar em seu amplo e complexo sistema – DISCIPLINA.

Disciplina é o que diferencia de imediato o trabalho artístico proposto por um artista de fato, do trabalho de criatividade proposto por uma aluna no 1º ano do ensino médio. Não quer dizer que o trabalho criativo da aluna não tem o seu valor, mas ainda está longe da maturidade técnica e conceitual que um artista precisa ter para alcançar o status de Arte.

O artista que encara sua produção como um trabalho sério e comprometido, pesquisando, criando e problematizando-a, aumentam muito suas chances  de se tornar bem sucedido dentro do circuito artístico da cidade e do próprio sistema. Uma coisa é certa: Não existe receita pronta e é preciso enfrentar com determinação e coragem as adversidades e os caminhos tortuosos da profissão. É preciso estudar, se qualificar cada vez mais e mais, visitar museus, exposições, eventos de arte, realizar parcerias e muitas vezes recomeçar do zero, se reinventar.

No ano de 2015, aprendi com um  certo “Mestre” – muito conhecido e admirado na cidade – que o artista precisa se doar de corpo e alma aos seus projetos, (e não de doações), sem descanso e sem hesitar. Percebi por estar em constante contato com ele, que trabalhar com arte não pode ser considerado um hobby, algo que produzimos apenas quando há inspiração e que fazemos as vezes só para “relaxar” – na verdade, trabalhar com arte não é nada relaxante e nos trás dificuldades que precisam ser enfrentadas e superadas como outra atividade qualquer-. Quando me refiro a esse “trabalhar com arte”, estou me referindo não apenas aos artistas, mas aos professores, produtores culturais, diretores, galeristas, assistentes culturais e todos os profissionais que estão diretamente envolvidos.

Que a “maré não está para peixe”, todos nós sabemos, mas alguém me disse que – não consigo lembrar ao certo quem – “É por conta dos grandes problemas que chegamos as grandes ideias”. Precisamos aprender a aproveitar uma de nossas melhores qualidades: A criatividade e com a ajuda dela, explorar nossa capacidade de resolver problemas.

Em pensar que tudo isso começa lá na sala de aula, quando a professora nos apresenta os primeiros artistas (que não necessariamente precisam ser apenas das artes visuais) e nós começamos a entender que pensar e agir criativamente pode nos trazer uma série de benefícios para a vida. O que inicialmente é um trabalho de criatividade, pode se tornar um hobby e evoluir para arte, pena que nem todos evoluem e assim passam os anos…

Viajando na arte – O ônibus que virou um ateliê de encantos!

Esta é uma história sobre sonhos possíveis…

Projeto: Viajando na arte – O ônibus que virou um ateliê de encantos!

Este sonho nasceu da vontade e união da equipe de profissionais da educação da Escola Municipal João Costa, que diante de um problema, a falta de sala especializada para as aulas de arte, encontraram a solução com muita determinação e criatividade: Transformar um ônibus em ateliê de arte.

Segundo a diretora da escola, Cristine Kelly Kalckmann da Silva, a instituição já contava com a parceria de uma empresa de ônibus da cidade em outros projetos. E em uma das reuniões de professores, surgiu a ideia de solicitar o ônibus para que pudesse ser utilizado como sala de artes.

Cristine ressalta que inicialmente ela e as outras professoras imaginaram que a empresa doaria apenas o veículo, sem nenhuma alteração, e qual não foi a surpresa delas ao descobrirem que o pedido não seria apenas atendido, mas que o ônibus também seria personalizado. Fato que contribuiu ainda mais para despertar a curiosidade e o encantamento dos professores e estudantes.

Toda a modificação foi pensada com auxílio das professoras de arte Daniela, Carina e Édina. Que escolheram imagens de obras de arte de artistas consagrados para decorar o ônibus-ateliê. As educadoras declaram que é notável o entusiasmo das turmas e sentem que as aulas de arte tornaram-se ainda mais empolgantes com a chegada do ônibus – ateliê, pois acreditam que ter um espaço destinado exclusivamente às oficinas de arte, contribuirá muito mais para o aprendizado e desenvolvimento do potencial criativo dos alunos.