Humberto Soares expõe “Raios e Trovões” na Lazuli Exposições de Arte

O artista visual e escritor Humberto Soares, integrante da Pequeninus Grupo de Arte, em parceria com o Arte na Cuca e a Lazulli Exposições de Arte, realiza até 31 de dezembro a mostra virtual “Raios e Trovões”, que comemora os seis anos de lançamento da obra “Cidade da Chuva”. A exposição reapresenta parte da trilha sonora produzida exclusivamente para o projeto “Cidade da Chuva” (2015), com as canções de Ana Paula da Silva – “Cidade da Chuva”, e Lander Batista e João Eichholz, – “Casamento de Viúva”.

Comprometidos com a cultura e a formação de público, a equipe da Pequeninus e do Arte na Cuca, promovem uma “Tempestade Cultural”, durante o período da mostra. A primeira ação é a exibição do espetáculo “Cidade da Chuva”, gravado antes da pandemia e disponibilizado no dia 30 de outubro, as 20h no canal do YouTube da Pequeninus. A segunda ação é a oficina “Chuva de Imagens”, a ser realizada com as crianças do programa “Mãos Dadas”, ofertado pela ONG Instituto Esperança, no bairro Morro do Meio (Joinville/SC), que corre no mês de novembro, e a terceira é a ação “Sorteio Chuvoso”.

Nesta, o público poderá adquirir números (01 à 100), com investimento de R$20 (por número) e concorrer a dois prêmios com sorteio no dia 27 de novembro, às 20h e divulgação dos ganhadores pelas redes sociais da Pequeninus e do Arte na Cuca. No primeiro e segundo sorteio, os participantes concorrerão:

*Uma Caixa Surpresa Cidade da Chuva (1 cartão postal 1 pôster, 2 adesivos, 1 livro autografado, 1 arte feita a mão)
*Uma obra original do livro, feita pelo autor (Humberto Soares), tamanho A3 , colorida com água da chuva + um exemplar autografado do livro “Cidade da chuva”.

“Raios e Trovões” têm assessoria e oficina realizados pela arte-educadora Celiane Neitsch, texto e organização de Humberto Soares, produção e imagens de Alex Nascimento, Rafaela Catarina Kinas e Marcelo Kupicki, e webdesign de Walmer B. Júnior. A exposição de arte e ações culturais não são financiadas com auxílios de editais, sendo uma parceria entre os produtores.

Sobre o espetáculo “Cidade da Chuva”

Dia 30/10 (sábado) 
Exibição do espetáculo Cidade da Chuva, da Pequeninus Grupo de Arte (gravado antes da pandemia).
Horário: 20h
Local: Youtube da Pequeninus.
Texto: Humberto Soares e Alex Nascimento
Trilha Sonora: Lander Batista e João Eichhotz
Música-tema: Ana Paula da Silva
Figurino: Marlon Zé
Cenário: o Grupo

Quando? até 31 de dezembro. Horário? Sempre aberto.
Quanto? Entrada gratuita. Para adquirir um “Sorteio Chuvoso” R$20. basta entrar em contato 48 99924-1557 / 48 99904-9570.
Onde? Lazuli Exposições de Arte. Para acessar, clique AQUI.

Pequeninus Grupo de Arte, lança caixa surpresa “Seres Vacinados”

O projeto que nasceu como crítica social a fala do presidente Jair Bolsonaro: “Se tomar vacina e virar jacaré, não tenho nada a ver com isso”, e ao negacionismo científico, quanto a importância e necessidade da vacinação contra a Covid 19, chega ao público em formato de “Caixa Surpresa”. A Pequeninus Grupo de Arte, lança a série intitulada “Seres Vacinados”, que surgiu em fevereiro de 2021, momento em que o artista Humberto Soares, “transformou” por meio de seus desenhos, pessoas vacinadas em jacarés e jacaroas.

O artista Humberto resolveu pegar essa metáfora de “virar jacaré” e fazer uma “brincadeira visual”, uma homenagem aos amigos e familiares que foram vacinados. Foi dessa forma que começou a transformar as pessoas em “seres vacinados” chegando a ilustrar 182 jacarés e jacaroas de diferentes estilos. Hoje o artista já conta com fila de espera para ilustrar essa série, a “Fila das transformações”.

Quem deseja participar da brincadeira e se “transformar em jacaré ou jacaroa”, pode entrar em contato com o artista. A série “Seres Vacinados” funciona através de contribuição espontânea via Pix ou depósito bancário.

Lançamento Caixa “Seres Vacinados”

Sobre a Caixa Surpresa “Seres Vacinados”

A série ganha um desdobramento e se transforma em jogo para brincar e se divertir. O “Jogo do Burrico”, trás vários jacarés e jacaroas dentro da nova Caixa Surpresa da Pequeninus. O objetivo do jogo é baixar o maior número de pares de “Seres Vacinados” e não ficar com a carta do Burrico na mão. Todas as pessoas que foram “transformadas”, podem encomendar e ter a sua caricatura no jogo. As Caixas Surpresas tem quatro valores diferentes (R$20, R$50, R$80 e R$100), a medida que o valor aumenta, também aumenta a quantidade de produtos em cada uma delas. Além do “Jogo do Burrico” as caixas contam com pôster, cartão postal, imãs de geladeira, caderneta de saúde personalizada, mini bloco de anotações e chaveiro. *Os produtos podem sofrer alterações conforme o preço da caixa escolhida.

Imagens do “Jogo do Burrico”

Caixa Surpresa “Seres Vacinados”.
Pequeninus Grupo de Arte.
As encomendas podem ser feitas através do 48 99924-1557 / 48 99904-9570.
Humberto Soares e Alex Nascimento.
Outras opções de Caixas Surpresas, clique AQUI

Biblioteca para todos: conheça o projeto “Biblioteca de Muro”

Por Celiane Neitsch

Fui moradora do bairro Floresta, na zona sul de Joinville/SC por 30 anos, mas somente quando acessei certos círculos sociais e culturais, fiquei sabendo da existência do projeto “Biblioteca de Muro”, que desde abril de 2018,possibilita o acesso da comunidade, aos livros e estimula o hábito da leitura nos moradores do bairro.

O professor Jailson Cordeiro, idealizador do projeto, conta que a ideia surgiu durante um curso na cidade de São Paulo, no qual os participantes tinham o desafio final de fazer algo criativo com R$10. “Achei que a literatura fosse uma área interessante. Como toda ideia criativa, surge de um problema, pensei em como fazer para tornar popular a literatura e fazer da leitura um hábito cotidiano. Lembrei de algumas hortas comunitárias, que são feitas nas calçadas, aí surgiu o insight de fazer a biblioteca na calçada, ou no meu caso, no muro”, comenta.

A empreitada, tem o apoio e participação dos amigos Maurílio Morais e Vinicius Oliveira, que colaboram com o conhecimento técnico em construção, e a produção de vídeos e conteúdos de divulgação do projeto. Atualmente já existem três bibliotecas na cidade, localizadas nas ruas: Barra Velha (Floresta), Constantino de O. Borges (João Costa) e Dona Francisca (Santo Antônio). As instalações foram construídas com materiais doados pelo próprio Jailson e para manter o projeto, ele conta com apoiadores e parceiros que colaboram com a organização e doação de livros.

Com o propósito de promover a cultura e a difusão cultural, o Arte na Cuca entrevista o professor Jailson, que traz mais detalhes sobre as bibliotecas e as novidades do projeto, como os recém lançados “Kits de leitura Biblioteca de Muro”. Toda venda dos kits é destinada à construção de novas bibliotecas.

Arte na Cuca: O “Biblioteca de Muro” já se tornou uma referência em ações de difusão cultural, e tem sido destaque em sites e programas de televisão. Quando iniciou o projeto, você já esperava este reconhecimento?

Jailson: Nunca imaginei não, nunca enviei release a nenhum canal da mídia. Sempre foram os canais que me procuraram, tanto rádio, internet como TV. Em termos de reconhecimento da comunidade, eu imaginava que seria impactante por não ter ideia semelhante, mas não tão positivamente.

Arte na Cuca: Existe uma seleção dos livros disponibilizados na biblioteca? De que forma é feita a manutenção e controle das retiradas?

Jailson: Os livros dispostos são todos de doações. A entrada dos livros que tem ISBN e que são entregues a mim, é feita através de um aplicativo. A saída realmente não tem controle, não temos a ideia de implantar nada neste sentido também.

Arte na Cuca: Quais as principais dificuldades em manter um projeto de difusão cultural totalmente gratuito, na cidade de Joinville/SC?

Jailson: No nosso caso a dificuldade é custear novas Bibliotecas, mas sempre estamos testando novos métodos de captação de recursos, estamos tendo sucesso até o momento. Temos a facilidade do projetos ser de “troca de consumo”, então não precisamos de recursos para mantê-lo, apenas para iniciá-lo.

Arte na Cuca: No site do “Biblioteca de Muro”, é possível adquirir kits e contribuir com a construção de mais bibliotecas. Como surgiu a ideia, e quais os planos da equipe do BdM para o futuro?

Jailson: Sim, iniciamos esta semana a venda dos kits, com o lucro construiremos novas Bibliotecas. A ideia já surgiu a muito tempo, porém só consegui colocar em prática agora. A venda de produtos personalizados é uma prática conhecida no meio das captações, ainda não conseguimos personalizar os produtos, mas é uma das intenções, dependendo da demanda. Os planos atuais são de implantar novas Bibiotecas na cidade, temos como meta, mais 2 para este ano. Já temos iniciado a conversa com outras pessoas para expandir o projeto para outras cidades e estados, mas são apenas conversas por hora. Sabemos do potencial de escalabilidade do projeto e vamos trabalhar nisto. 

Arte na Cuca: Sobre uma possível taxação de livros (isentos de impostos pela Constituição Federal de 1988 e, desde o ano de 2014, têm alíquota zero de PIS/Cofins), em maio o ministro da economia Paulo Guedes, declarou que ” o livro é um produto de elite”. Como produtor cultural e educador, qual sua opinião sobre o tema?

Jailson: As justificativas do ministro são do elitismo, segundo a pesquisa mais conhecida do setor que é a Retratos da Leitura no Brasil, cerca de 13% dos livros comprados, foram por consumidores da classe D ou E, porém levar em conta apenas essas informações é ignorar toda uma cadeia de custo e produção para os livros. Com mais impostos, a tiragem fica menor, a facilidade para lançamento de livros também, visto que as editoras deverão restringir as tiragens, tornando a cadeia produtiva cada vez mais comercial. Sem contar o aspecto político e econômico da proposta, que é totalmente contra os princípios e propostas políticas da atual gestão federal, que se elegeu prometendo um governo liberal e com isenção e cortes de impostos. O que é exatamente o contrário neste caso.

Arte na Cuca: Além de disponibilizar o acesso aos livros, o projeto realiza ou pretende realizar ações de formação em cultura?

Jailson: Nossa ideia por um momento, era de levar a construção das Bibliotecas para dentro de escolas, como um projeto pedagógico e prático, mas com a pandemia a ideia não foi continuada. Quem sabe futuramente demos seguimento.

Arte na Cuca: Com a pandemia, as escolas, cinemas e espaços culturais como as bibliotecas, precisaram se adequar à nova realidade, adotando protocolos e medidas mais rígidas de higiene. Qual a situação da “Biblioteca de Muro” no momento?

Jailson: Como não atuamos em um espaço fechado, o funcionamento continuou igual, até aumentou, por conta das pessoas estarem mais em casa. Sempre higienizamos as doações e orientamos as pessoas a higienizarem as retiradas também para evitar ao máximo a contaminação.

Conheça o projeto “Biblioteca de Muro” clicando AQUI
Facebook Biblioteca de Muro | @bibliotecademuro

Evento online institui a fundação da Cinemateca de Joinville

No dia 19 de junho, comemora-se o “Dia do Cinema Brasileiro”, mas para a cidade de Joinville/SC, a data tornou-se ainda mais importante, pois foi escolhida como data de fundação da Cinemateca de Joinville.

O evento, realizado em formato online, contou com a votação do estatuto da entidade, que é sem fins lucrativos e independente, além também da eleição da primeira chapa diretora, “Tempo de Cinema”. A iniciativa de criar a Cinemateca de Joinville, nasceu de discussões e problematizações de acadêmicos, graduados na primeira turma de bacharel em Cinema e Audiovisual na cidade. Os estudantes questionavam sobre a importância de preservar a memória audiovisual joinvilense, e também a necessidade de contribuir com formação de público, principalmente através da educação patrimonial.

A Cinemateca têm como diretoria: Walmer Bittencourt Júnior, Fahya Kury Cassins, Scheila Alexsandra Pereira, José Henrique Wiemes e Marcelo Eduvirge. A chapa eleita acredita que é preciso pensar no desenvolvimento do setor audiovisual local, na formação de público e dos profissionais do setor. Para o grupo, é essencial preservar a memória, o patrimônio e as produções audiovisuais, ferramentas importantes para o desenvolvimento social e humano de sujeitos mais críticos e políticos.

Sobre a diretoria

“Tempo de Cinema”, a chapa fundadora é composta por:

Walmer Bittencourt Junior: Diretor presidente; graduado em Cinema e Audiovisual, pesquisador, co-criador do site Arte na Cuca, suplente da setorial de Cinema e Audiovisual (CMPC Joinville), membro da COA do Prêmio Catarinense de Cinema 2020.

Fahya Kury Cassins: Diretora de Comunicação e de Educação e Formação; graduada em Cinema e vídeo, professora no curso de Cinema e Audiovisual da UNISOCIESC, produtora e roteirista.

Scheila Alexsandra Pereira: Diretora Financeira; graduada em Cinema e Audiovisual, diretora do Cineclube Verberena, criadora do podcast Mulheres na Direção, cantora e compositora.

José Henrique Wiemes: Diretor Executivo; graduado em Cinema e Audiovisual, produtor.

Marcelo Eduvirge: Conselho Fiscal E Ético; graduado em Cinema e Audiovisual; criador do projeto “Mostra sua cara”, editor e roteirista.

Algumas das principais propostas da Cinemateca Joinvilense: Formação profissional e de público; Levantamento do acervo audiovisual localDifusão da cultura cinematográfica

Confira abaixo a assembleia de fundação, na íntegra:

O que é uma cinemateca?

Assim como em uma biblioteca, a cinemateca é responsável por guardar os registros, que nesse caso, são audiovisuais ao invés de livros. Seu objetivo é catalogar, promover parcerias públicas e privadas, formação e preservação do cinema, incentivar a produção cinematográfica e participar das discussões públicas sobre cinema e audiovisual.

Entre em contato com a Cinemateca de Joinville: @cinemateca | cinematecadejoinville@gmail.com

Doses de história: Casa Krüger

Foto da capa: Arquivo Histórico de Joinville/SC.


Situada na Estrada Dona Francisca, nº 14.530 no distrito de Pirabeiraba – Joinville/SC, a primeira edificação que mais tarde ficou conhecida como Casa Krüger, foi construída  entre os anos de 1890 e 1900, em cima de um pequeno morro, sob a técnica do enxaimel. A morada foi residência do senhor Robert Krüger e Frida Meier,  e do casamento nasceram os filhos Paulo Guilherme Alfredo Krüger e Anita Krüger. Após a morte do marido em 1912, Frida casou-se novamente com o Sr. Paulo Aberto Schwebs, com quem teve um filho,  Arthur Schwebs.

Foto Família Schwebs-Krüger. Fonte: Site “Cortina do Passado”.

Em 1925 a casa passou por um processo de ampliação como consta no artigo Casa Krüger: reflexões sobre um patrimônio histórico edificado (2018, p. 30): “Em 1925 a casa foi ampliada: a edificação em técnica construtiva enxaimel foi desmontada e remontada na nova construção, e foi salva a estrutura de madeira, parte antiga da casa, que hoje está identificada como a cozinha e a área de serviço. A técnica construtiva da parte frontal, erigida em 1925, é a de tijolos autoportantes e alvenaria rebocada”.

Quem já teve a oportunidade de visitar o local, pode constatar que a construção possui seis afrescos nas paredes externas da varanda, deteriorados pela umidade e ação do tempo. O mesmo artigo (2018, p. 31),  também traz algumas informações que ajudam a explicar o estado das pinturas:  “Duas enchentes atingiram o patrimônio e provocaram-lhe prejuízos, uma em 1972 e outra em 1995. A segunda trouxe muitos problemas para a casa, inclusive a degradação das pinturas em afrescos da varanda, por conta da limpeza”.  Segundo a historiadora e especialista em restauro e conservação Dietlinde Clara Rothert, os afrescos foram realizados pelo artista Stock Marquardt, conforme relatos da última moradora do imóvel, a senhora Wally Krüger. 


Em 1996 o imóvel foi tombado como patrimônio histórico estadual pelo Decreto n.º 1.224 de 30 de setembro de 1996, e comprado pela Prefeitura Municipal de Joinville no ano 2000, quando restaurado com recursos do IPHAN em parceria com a prefeitura.  Após o tombamento federal em 2007, passou a integrar a lista de bens tombados pelo Iphan e o projeto Roteiros Nacionais de Imigração em Santa Catarina. Para acessar o material produzido pelo Iphan, clique Aqui.

Segundo o artigo  Portal do Turismo Ecorural de Joinville Casa Krüger: Articulações entre Patrimônio e Turismo (2017): “Na ocasião de seu restauro, em 2000, a casa foi adaptada para ser um Portal Turístico Rural. A casa apresenta um pavilhão com sótão, de edificação teuto-brasileira, destacando-se pelo projeto arquitetônico, riqueza volumétrica, detalhes decorativos com pinturas do tipo estêncil nas paredes internas e afrescos nas paredes externas”

Em dezembro de 2018, o acesso do público à casa foi fechado, conforme consta em matéria do jornal NSCtotal, publicada por Saavedra em 06/12/18, a alegação da prefeitura de Joinville foi a falta de funcionários para manter a estrutura em funcionamento. Atualmente o imóvel ainda permanece fechado e sem as devidas reformas. 

Ao lado da Casa Krüger, existe um galpão (antigo rancho da família, reconstruído em 2002), onde ocorre a comercialização de produtos artesanais pela AJAAR – Associação Joinvilense de Agroindústrias Artesanais Rurais. Ali é possível encontrar artesanatos e alimentos orgânicos como doces, cucas, queijos, salames e etc, produzido por agricultores da região,  por meio da agricultura familiar. A feira acontece todos os sábados e domingos das 08h às 17h.


Referências bibliográficas

DALONSO, da Silva Yoná; DALONSO, Fernanda. Portal do Turismo Ecorural de Joinville Casa Krüger: Articulações entre Patrimônio e Turismo. 2017. Disponível em: http://each.usp.br/turismo/publicacoesdeturismo/ref.php?id=26228. Acesso em: 25  maio 2021.

DALONSO, Fernanda; CARELLI, Mariluci Neis; BANDEIRA, Dione da Rocha. Casa Krüger: reflexões sobre um patrimônio histórico edificado. 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6759468.pdf. Acesso em: 28 maio 2021.

Ipatrimônio.org. Acesso em: 28 maio 2021. http://www.ipatrimonio.org/joinville-casa-de-wally-kruger/#!/map=38329&loc=-26.202941000000024,-48.914409000000006,17

HINSCHING, Fernando G. Casa Küger – Joinville. 2019. Disponível em: https://hinsching.wordpress.com/2019/03/20/casa-kruger-joinville/. Acesso em: 29 maio 2021.

SAAVEDRA, Jefferson. Portal do ecoturismo de Joinville, Casa Krüeger será fechada. 2018. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/saavedra/portal-do-ecoturismo-de-joinville-casa-krueger-sera-fechada. Acesso em: 31 maio 2021.

Tecelagem contemporânea: artista Scheila Laís Eggert fala dos desafios de viver de arte

Fotografia: Mariane Unlauf Fotografia

Moro em Joinville/SC, mas sinto que aqui meu trabalho é pouco valorizado. Quando envio minhas peças para outros estados, ou até mesmo outros países, percebo um público e uma aceitação muito diferente.  Scheila Laís Eggert, Artista Visual.

A artista visual Scheila Laís Eggert, vem ganhando destaque nas redes sociais e até mesmo em matérias produzidas para mídia impressa, como a revista Casa e Jardim (ed Mai/21), desde que decidiu empreender e mergulhar de cabeça no projeto Fiöm Ateliê. Scheila conheceu a tecelagem durante a graduação em Artes Visuais, na Universidade da Região de Joinville – Univille, e depois foi aperfeiçoar seu trabalho nas aulas de tapeçaria e tecelagem da “Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior”.

Filha de Nelson e Lori Eggert, natural da cidade de Jaraguá do Sul/SC, a artista veio para Joinville/SC para cursar a faculdade de artes, concluída em 2019. Acabou ficando, e descobrindo aqui a paixão pelo tear. Impulsionada pela pandemia e a necessidade de complementar o orçamento doméstico, começou a produzir algumas peças para venda, e aos poucos seu trabalho foi ganhando novas formas, cores e volumes. 

Atualmente ela tem conquistado o público jovem e enviado suas peças para capitais como Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, que segundo a artista, “gosta e valoriza uma produção manual, que carrega conceitos e significados”. Em sua poética busca ressignificar a tecelagem e argumenta: “Percebo que a arte têxtil não tem um lugar dentro das artes visuais, ela acaba não sendo muito bem vista. Acaba ficando numa espécie de limbo, não é considerada artesanato, mas também não é  vista como arte. Por isso quero explorar a tecelagem em seu potencial artístico”.

Nesta entrevista, Scheila apresenta seu projeto e revela alguns anseios em relação à carreira, mercado, ser mulher empreendedora e viver de sua própria arte.

Arte na Cuca: Como surgiu o seu interesse pela tecelagem?

Sheila: Meu primeiro contato com a tecelagem foi em 2019, no último ano da graduação em licenciatura em artes visuais. Foi amor à primeira vista, quando vi o tear, me encontrei.  Na universidade aprendi o básico, depois ingressei no curso de tapeçaria e tecelagem da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior, e tive aulas com a professora Luciane Sell da Silva. Lá compreendi melhor a técnica, e no momento venho adaptando e tentando me encontrar dentro desta linguagem e da arte contemporânea.

Arte na Cuca: Sua tapeçaria é desenvolvida sob a linguagem e técnicas contemporâneas, com fios soltos e volumosos, movimentos e cor. De que forma acontece o processo de criação das peças?

Sheila: Eu começo um trabalho pelo desenho, mas acho difícil seguir a ficha técnica, porque acabo  seguindo muito a minha intuição, vai acontecendo e aí a produção acontece no processo. Em alguns dias eu apenas sento em frente ao tear, e quero vivenciar a técnica. Acredito que está relacionado com minhas outras experiências, que de certa forma, dialogam com as artes visuais. Em Jaraguá do Sul/SC, eu havia feito o curso de Design e Produção de Moda (Instituto Federal Santa Catarina), e na graduação em artes, pude ter contato com a fotografia, além de ter feito fotografia na Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb). São três formações voltadas para área da criatividade, o que contribuiu muito para meu trabalho como artista visual. 

Arte na Cuca: Na página do Facebook da Fiõm Ateliê, você traz uma frase da artista Sheila Hicks (2015), conhecida por suas obras inovadoras e experimentais, e nos apresenta a reflexão:

“Eu sou lenta. Levo tempo para construir algo e um tempo longo para compreender o que eu fiz. Eu retorno repetidas vezes ao mesmo trabalho. Muitas versões se acumulam…eu reconsidero os quebra-cabeças visuais”.

Continuando você ainda escreve: “Ler sobre a minha artista têxtil favorita, é também me compreender! São tantas peças de incertezas e dúvidas, mas que com o tempo vão fazendo todo o sentido”. Hicks é uma artista que te inspira e te faz refletir sobre sua própria produção. Quais outros artistas te inspiram?  E de que forma você lida com as dúvidas acerca do seu trabalho?

Scheila: Ao longo deste meu caminho com a tapeçaria, acabei descobrindo vários artistas, mas existem três em particular, pelos quais me apaixonei. As artistas com quem mais me identifico são Sheila Hicks, Gunta Stölz e Anni Albers. Quando penso em artistas brasileiros, me inspiro em Norberto Nicola, que também tem um trabalho incrível.  Acho que ler sobre o artista, as experiências que teve e o que escreveu, me ajuda a entender meu próprio processo. Todos são incríveis, e espero um dia poder chegar onde eles chegaram.

Arte na Cuca: O foco da sua produção está na comercialização das peças. São trabalhos contemporâneos, que exploram a potência da arte como objeto de desejo e seu valor comercial. Como você sabe que seu trabalho está pronto para venda?

Scheila: É uma questão muito difícil saber ao certo em que momento é preciso parar. Confesso que tenho alguma dificuldade para entender este tempo, mas no meu trabalho isso também acaba sendo algo intuitivo, dá para sentir. Sobre o foco ser comercial, realmente estou produzindo algo mais comercial, pensando em viver da minha arte.

Arte na Cuca: Mesmo sua produção sendo recente, já pensou em participar de exposições de arte em instituições culturais, como museus e galerias?

Sheila: No começo meus trabalhos eram ainda mais comerciais. As cores, formas, não tinha nada a ver comigo. Com o tempo fui me encontrando. No momento ainda pretendo seguir com a produção comercial, mas sim, tenho a intenção de futuramente buscar o caminho das exposições de arte. Estou estudando as possibilidades.

Arte na Cuca: As suas peças estão disponíveis na loja online da Fiõm Ateliê. O que te motivou a empreender no campo da arte?

Sheila: Concluí a graduação em Licenciatura em Artes Visuais no final de 2019, e no início de 2020 até cheguei a procurar emprego na área da educação, mas acabou não surgindo oportunidade. Então decidi investir na minha produção artística, exclusivamente na tapeçaria, que já era uma paixão. Acho que ter criado um site, acabou facilitando na divulgação do meu trabalho, assim como nas redes sociais.Essas ferramentas digitais são também uma forma de compartilhar todo meu processo e acabaram sendo muito úteis neste momento de pandemia, em que muitos artistas e a população em geral, está enfrentando grandes dificuldades e falta de emprego e renda. 

Arte na Cuca: Suas peças são produzidas em que tipo de tear? Em suas redes sociais, li a respeito de trabalhos feitos de maneira totalmente manual. Como funciona esta técnica?

Sheila: Trabalho com o tear de Pente Liço e além dele, utilizo telas para bordados em lã, que tem um processo de produção ainda mais artesanal. Estou produzindo peças que misturam o bordado de tapeçaria clássico, como num resgate das memórias de avós, mães e filhas, que aprenderam a técnica umas com as outras, e tentar elaborar algo com técnicas mais contemporâneas. Para isso, eu mesma faço os desenhos na tela e vou trabalhando as cores e os fios.

Arte na Cuca: A tecelagem é uma linguagem que exige do artista muito tempo, dedicação e certo domínio da técnica. Estes são uns dos motivos que tornam o custo final dos produtos, pouco acessíveis ao grande público. Como você entende a questão da precificação no campo das artes visuais?

Sheila: Eu demorei um tempo para entender esta questão da precificação. Mas meu trabalho tem sido minha fonte de renda, principalmente na pandemia. Vivo da minha produção e por ser algo muito manual, que demanda tempo e dedicação, precisei aprender a cobrar por ele. Chega a ser engraçado pensar o quanto a gente se questiona: será que meu trabalho vale mesmo tudo isso? Por ser artista mulher, em início de carreira. São muitas questões. Mas tenho encarado minha produção artística como uma empresa, fiz toda a contabilidade, faço a divulgação, venda e tudo o que for necessário.

Arte na Cuca: Que conselho você daria para quem é artista empreendedor e quer comercializar seus trabalhos artísticos?

Sheila: Diria que não é algo fácil, precisa acreditar e se dedicar muito. Principalmente acreditar no seu próprio potencial. Estou me conhecendo, acreditando na minha marca e no meu projeto. Minha dica é, disponibilize seu trabalho online e mostre para todo mundo ver, tenha coragem de mostrar para o mundo. Também mostre quem você é, o público precisa se conectar com você.

Arte na Cuca: Onde você espera que seu trabalho e suas peças estejam, daqui a dez anos?

Scheila: Eu sonho muito! Quero muito poder ter um espaço fixo como uma galeria,  para expor minha arte. Poder explorar a tapeçaria tanto de forma comercial, como também em propostas mais artísticas, além claro, de ter um ateliê maior, porque no momento meu local de trabalho é um quarto no meu apartamento.

“A arte têxtil está muito conectada com o saber feminino, e gosto de abordar este saber em minha poética. A gente acaba se deparando com pessoas que dizem: minha avó também fazia isso, eu também sei fazer. Este é um ponto que busco discutir em meus trabalhos,  provocar novos olhares para esta linguagem e também para essa separação sobre o que é arte e o que não é. Hoje em dia, separar as produções em caixinhas não faz mais tanto sentido”. Scheila Laís Eggert

Redes Sociais: @fiöm ateliê | Facebook Fiöm Ateliê | site Fiöm Ateliê

Doses de história: Mercado Público Municipal Germano Kurt Freissler

Foto Mercado Municipal de Joinville, construído em 1906.

O mercado público municipal de Joinville/SC, teve sua primeira edificação construída em 1906, na gestão do prefeito Procópio Gomes de Oliveira, mas sua inauguração oficial ocorreu em 1907, quando Oscar Schneider assumiu a prefeitura da cidade. Em arquitetura luso-brasileira , assim como os mercados de São Francisco do Sul e Florianópolis, a edificação se destacava às margens do Rio Cachoeira, em meio a paisagem e outros armazéns.

Carlos Ficker, no livro “Histórias de Joinville: crônicas da Colônia Dona Francisca” (2008, p. 328) nos provoca a refletir sobre esta importante obra; Está, pois, Joinville dotado de um local próprio para a edificação do seu Mercado. A simples arborização desta praça dar-lhe-há uma bella perspectiva. […] E como habil  e pertinaz nos seus empreendimentos, prova-o de sobejo, si outros não chegassem para proval-o, o facto da creação de um mercado para Joinville”.

Desde o início, a construção causou polêmica, primeiro pela localização escolhida, que a princípio era onde hoje está a Biblioteca Municipal Rolf Colin, no entanto, o terreno já havia sido cedido à Sociedade de Embelezamento de Joinville. Após a justificativa do superintendente Frederic Brüstlein, sobre as dificuldades de acesso ao mercado por meio dos carroções e embarcações, o local mudou para o terreno à margem do Cachoeira.

Mas, houveram dificuldades quanto a aceitação de tal mudança, pois as frequentes chuvas e inundações, transformavam em banhado todas as áreas às margens do rio. O segundo impasse, dizia respeito às divergências e pontos de comercialização de pescadores e agricultores. Enquanto na região do Rio Cachoeira havia se estabelecido a venda de pescados, muitas famílias viviam longe da “vila”, e a agricultura de subsistência era a principal atividade econômica da época. Os agricultores vendiam seus produtos de porta em porta, ou diretamente aos comerciantes, em um ponto de carroceiros onde hoje é a Praça Lauro Müller,  não levando sua produção até o Mercado.

Conforme publicação do Jornal ND+ (2016) “A partir da entrega da obra, as críticas se voltaram para o regulamento do mercado. Uma relação de regras publicada pelo jornal Commércio de Joinville, determinava os dias e horas em que os produtos deveriam ser expostos e, principalmente, proibia a venda de inúmeros artigos pelas ruas da cidade. Tanto os produtores rurais quanto os pescadores, se mobilizaram contra as regras iniciais estabelecidas pela superintendência, e as discussões eram acompanhadas pela imprensa. ‘Os colonos não estão dispostos a se sujeitar ao que venha tirar os seus hábitos’, afirmava a Gazeta de Joinville ainda em 1907”.

O jornalista Lúcio Matto, no livro “Jornal Retrô: 100 histórias de uma Joinville de outros tempos” (2020, p. 62) descreve acerca das regras do Mercado Público; “O rigor do regulamento era tamanho que as normas tentavam limitar até quanto tempo os frequentadores do Mercado deveriam levar para fazer suas compras […]. A limpeza era de fato uma fixação e reaparece no capítulo V, intitulado ‘Disposições Gerais’. O artigo 19 explicitava entre as obrigações dos locatários a de ‘conservarem as casinhas no maior asseio, caiadas ou pintadas, com as entradas sempre desembaraçadas e limpas […].”

Entre os anos de 1956 e 1957, inicia a primeira mudança em sua arquitetura, com a retirada dos arcos da parte superior do prédio, e na primeira gestão do prefeito Luiz Henrique da Silveira (1977 e 1982) o imóvél foi demolido. Em justificativa à construção de um novo mercado, no Jornal A Notícia, citado por SILVA (2016, p. 137) a prefeitura apresenta “[…] retomar suas características originais: “[…] o último trabalho que pode ser considerado como reforma realizado no Mercado Municipal, aconteceu em 1947, exatamente 138 quando o prédio perdeu suas características germânicas originais, ganhando formas indefinidas de construção.” (AN, 1979, p. 3).  

Mas, as referências encontradas por meio de fontes iconográficas, apresenta nitidamente uma edificação em estilo açoriano, em um momento de fortalecimento da cultura luso – brasileira e não germânica. SILVA (2016, p. 141) Não apenas arquitetos, engenheiros e historiadores se manifestaram de forma contrária à construção do “falso enxaimel” em Joinville. O crítico de arte e escritor Harry Laus, definiu a atual edificação do Mercado Público como “um lamentável arremedo do verdadeiro enxaimel”

A demolição do primeiro Mercado Público Municipal de Joinville, serve de exemplo quanto à importância da educação patrimonial, preservação e  leis de tombamento. A historiadora e doutoranda em História Giane Maria de Souza (2020) argumenta que […] problema é quando os gestores, vereadores, prefeitos, deputados, conselheiros de cultura não entendem a função e a importância de um bem tombado, inventariado, como um museu, uma edificação histórica, uma coleção documental, um monumento ou um arquivo público e suas relações dialógicas com as comunidades. A ausência desse entendimento faz com que o poder público invista os recursos em outros serviços como eventos e propagandas; concretamente políticas de abandono que passam a existir para determinados setores ou bens públicos. Leia o texto completo AQUI.

Algumas ações no Mercado Público Municipal Germano Kurt Freissler

Carnaval no Mercado
A folia do carnaval joinvilense acontece no Mercado Público, e conta com atrações locais de renome nacional, grupos de escola de samba, bandas e shows ao vivo.

Corte do Carnaval de Joinville (2018). Foto: Redes Sociais Prefeitura de Joinville.



Encontro de colecionadores e motociclistas
São muitos os encontros de carros antigos e motocicletas que ocorrem no Mercado Público. Um desses encontros foi registrado pelo jornal A Notícia (2013); O ronco do motor é reconhecido de longe. Pneus espessos, pilotos com coletes de couro, tatuagens e motocicletas que chamam a atenção por onde passam. Amantes da estrada e de boa música, as “irmandades”, como costumam identificar os moto clubes, se reúnem neste sábado, no Mercado Público Municipal de Joinville, a partir das 14 horas. 

Foto: Vinicius Mendes

MAJ Sounds
Idealizado pelo VJ Leandro Vigas, juntamente com o DJ Roger Thiago o evento que surgiu em abril de 2012, teve várias edições. Muitas das quais, realizadas nos jardins do Museu de Arte de Joinville e algumas no Mercado Público.  Regado a música e apresentações  multiculturais, era realizado em espaços públicos de forma gratuita e sem fins lucrativos. 

Evento MAJ Sounds. Foto: Redes Sociais.

Referências

SILVA, Bruno da. A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: : políticas de preservação, instâncias, mecanismos e agentes culturais em. : POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO, INSTÂNCIAS, MECANISMOS E AGENTES CULTURAIS EM. 2016. Disponível em: http://www.faed.udesc.br/arquivos/id_submenu/2229/dissertacao_bruno_da_silva___completa.pdf. Acesso em: 14 maio 2021.

SOUZA, Giane Maria de. Patrimônio Abandonado. 2020. Disponível em: https://artenacuca.com.br/arte-educacao/patrimonio-abandonado/. Acesso em: 14 maio 2021.

EVARINI, Adrieli. De cais comercial, o Mercado Público de Joinville se transforma em concorrido ponto de encontro. 2015. Disponível em: https://ndmais.com.br/diversao/de-cais-comercial-o-mercado-publico-de-joinville-se-transforma-em-concorrido-ponto-de-encontro/. Acesso em: 14 maio 2021.

ND, Redação. 1906: o ano da construção do Mercado Municipal de Joinville às margens do Cachoeira. 2016. Disponível em: https://ndmais.com.br/cultura/1906-o-ano-da-construcao-do-mercado-municipal-de-joinville-as-margens-do-cachoeira/. Acesso em: 14 maio 2021.

FICKER, Carlos. História de Joinville: crônicas da colônia dona francisca. 3. ed. Joinville: Letra Dágua, 2008.

MATTOS, Lúcio. Jornal Retrô: 100 histórias de uma joinville de outros tempos. Joinville: Independente, 2020.

FAZERAQUI. Mercado Público de Joinville recebe edição do MAJ Sounds no próximo domingo. 2017. Disponível em: https://www.fazeraqui.com.br/edicao-do-maj-sounds-sera-no-mercado-publico-de-joinville/. Acesso em: 14 maio 2021.

NSC, Redação. Sambistas animam carnaval no Mercado Público de Joinville. 2009. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/sambistas-animam-carnaval-no-mercado-publico-de-joinville. Acesso em: 14 maio 2021.

NSC, Redação. Encontro de motociclistas acontece neste sábado no Mercado Público de Joinville. 2013. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/encontro-de-motociclistas-acontece-neste-sabado-no-mercado-publico-de-joinville. Acesso em: 14 maio 2021.

Doses de história: Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville

Foto da capa: Luciano Itaqui.

Segundo o site da Prefeitura Municipal de Joinville (2021), o Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville é “uma unidade do(a) Secretaria de Cultura e Turismo – SECULT, […]responsável por atuar na preservação do patrimônio arqueológico brasileiro e na produção de conhecimento sobre povos construtores de sambaquis, que viveram na região há mais de 5 mil anos. Seu acervo possui cerca de 45 mil artefatos que evidenciam a cultura e o estilo de vida do povo sambaquiano.

Diferente do Museu Casa Fritz Alt, Museu de Arte de Joinville e Museu Nacional de Imigração e Colonização, espaços em que suas edificações foram construídas para servir de moradia à personalidades da cidade, o Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, foi construído com o propósito de tornar-se museu.

Em seu artigo, Souza (2016, p. 159) afirma que o MASJ é a única unidade criada com fins museológicos:
“Efetivamente, o Museu Arqueológico de Sambaqui foi a única unidade criada para ser museu. Com a construção da sede própria, em 1972, o museu passou a atuar na preservação do patrimônio arqueológico do município, função reforçada pela Lei Orgânica Municipal de 1990. As ações do MASJ são acompanhadas pelo crescimento dos acervos em decorrência de doações particulares, pesquisas e a localização de novos sítios arqueológicos. Algumas coleções estão sob a guarda do museu até mesmo por meio de endosso”.

No ano de 1963 a Prefeitura Municipal de Joinville/SC, comprou a coleção arqueológica de Guilherme Tiburtius, um estudioso de sambaquis que registrou, coletou e classificou diversos artefatos e sepultamentos de sítios que estavam sendo destruídos na região. “A herança cultural deixada por Guilherme Tiburtius é inestimável. Mesmo sem formação acadêmica em Arqueologia, Tiburtius foi um grande estudioso, além de reunir e organizar materiais provenientes dos sambaquis, entre os anos de 1940 a 1960, período em que estes sítios arqueológicos ainda não contavam com proteção de lei. Seus registros em fichas e desenhos são preciosos ainda hoje para as pesquisas sobre sambaquis. A importância de Tiburtius para o Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville é relevante, pois foi a coleção organizada por ele que deu início ao acervo do MASJ”, (Blog MASJ, 2021).

Pensando na salvaguarda deste patrimônio arqueológico, anos mais tarde, nasce oficialmente o MASJ, criado pela lei municipal nº 1042 em 1969. Mas, o prédio que abriga o museu só seria inaugurado em 1972, com seu projeto arquitetônico e construção realizados em cooperação técnica com o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN).

Desde os primeiros anos de atuação o museu é referência no que diz respeito a pesquisa, salvaguarda e educação patrimonial. A professora doutora Elizabete Tamanini (2003, p. 82) descreve a respeito da participação do museu em ações que envolvem diferentes grupos e a comunidade, “O MASj desde sua fundação, tem desenvolvido programas didáticos que abrangem estudantes de 1º e 2º graus, universitários e estudantes de cursos profissionalizantes. O auditório, equipado com moderna aparelhagem, tem servido para ministrar aulas sobre Arqueologia e Pré-História Brasileira, bem como para programações cinematográficas culturais, realizadas principalmente com o intuito de atingir positivamente as crianças, despertando nelas o gosto pelos Museus […]”.

Um dos destaques do setor educativo do MASJ, ocorreu logo nos primeiros anos com a criação do primeiro Kit Educativo, maleta com acervos arqueológicos que circulava pelas escolas. Após consolidado, recebeu do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (Iphan) o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 2007. O Projeto de Atendimento Educativo 2º, 3º e 4º Ciclos visava sistematizar, discutir e apresentar questões relacionadas ao modo de se utilizar o museu enquanto espaço de educação e produção de conhecimento científico. “[…] Nesse projeto, os trabalhos se iniciam com os alunos do 2º ciclo (3ª série) que discutem os conceitos de alimentação e moradia. As atividades prosseguem no 3º ciclo (5ª série) contemplando a tecnologia e suas relações e encerram-se no 4º ciclo (7ª série) tratando-se do fenômeno da diversidade cultural presente no cotidiano”. (Web, 2021).

Algumas ações educativas e de difusão cultural realizadas pelo MASJ

Exposição Itinerante
Em 1998 o museu iniciou o processo de elaboração de uma exposição itinerante, que segundo Machado e Souza (s.d, p. 277) “O projeto tinha por objetivo facilitar a aproximação do público às práticas da arqueologia e à compreensão da importância do patrimônio arqueológico. […] Também, pretendia estimular o conhecimento crítico sobre os diferentes processos da ocupação humana, a partir da discussão da importância da preservação do patrimônio material e imaterial. E, finalmente, adequar a exposição aos portadores de deficiências visual e motora”.

Imagem retiradas do Blog da escola.

Canal EducativoApresentação

Canal do MASJ no YouTube

Livro
Em 2010 o museu realizou o projeto “Joinville: primeiros habitantes” é um dos resultados do projeto Geoprocessamento Aplicado à Preservação dos Sambaquis de Joinville (SC), executado pelo Museu de Sambaqui com recursos do Governo Federal e Prefeitura de Joinville por intermédio da extinta Fundação Cultural.
O projeto atualizou as informações geográficas sobre os sítios arqueológicos da região e integrou-as em um banco de dados , instalou placas informativas em todos os sambaquis do município e adquiriu equipamentos que aumentaram o aparelhamento do MASJ, como uma estação total para levantamentos topográficos, um GPS de alta precisão, um barco para acessar os sítios arqueológicos da Baía da Babitonga, estereoscópios (equipamento para ver fotografias aéreas em três dimensões), um computador e cerca de 30 livros para a biblioteca do Museu.

Capa do livro “Joinville – Primeiros Habitantes”

Filme
“A ideia do documentário surgiu a partir de uma visita da nossa equipe ao Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. Começamos a questionar se sabíamos o que eram os sambaquis, quem era esse povo e não sabíamos ao certo”, conta o cineasta e produtor do documentário, Juliano Luerdes. Leia mais a respeito do documentário clicando AQUI.

Documentário “Sambaqui – Sociedade Redescoberta”

Acervo em 3D
Pensando na conservação e desgaste dos artefatos emprestados as escolas, em 2018 o museu iniciou a reprodução das peças por meio da impressão 3D. O projeto foi contemplado pelo edital do Sistema Municipal de desenvolvimento pela Cultura (Simdec) e teve início a partir da pesquisadora Fernanda Borba, que doou ao museu as réplicas feitas a partir de fotografias em alta resolução e projeções das peças.

Reportagem do SBT Meio Dia.


O Museu durante a pandemia COVID-19

Em virtude da pandemia, o MASJ está fechado para visitação, mas continua realizando atendimentos virtuais a escolas e pesquisadores, sempre com agendamento prévio. Ainda no mês de maio, o museu inaugura uma nova exposição ao ar livre.

Contato do MASJ: (47) 3433-0114. Endereço: Estr, R. Dona Francisca, 600 – Centro, Joinville – SC.
Horário de Funcionamento: Terça à domingo. 10h às 16h.

Referências Bibliográficas

Site PMJ. Acesso em > 04/05/21 https://www.joinville.sc.gov.br/institucional/secult/upm/mas/
SOUZA. Giane Maria. Museus, espaços de memórias e coleções: diálogos e interfaces. Acesso em > 04/05/21.
Blog Museu de Sambaqui de Joinville. Acesso em > 04/05/21 http://museusambaqui.blogspot.com/p/historia.html
Blog Escola de Ensino Fundamental Padre Bruno Linden. Acesso em > 04/05/21. http://escolabrunolinden.blogspot.com/2014/07/kit-didatico-do-museu-arqueologico-do_7.html
Jornal O Mirante. Acesso em > 03/05/21 https://omirantejoinville.com.br/2017/10/16/museu-do-sambaqui-comemora-45-anos-com-musica-e-conversa-sobre-patrimonio/
TAMANINI, Elizabete. Museu e Educação: Reflexões acerca da experiência no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. Acesso em > 03/05/21
https://www.researchgate.net/publication/26479283_Museu_e_Educacao_Reflexoes_acerca_da_experiencia_no_Museu_Arqueologico_de_Sambaqui_de_Joinville
Portal Joinville. Acesso em > 02/05/21 https://portaljoinville.com.br/conteudo/museu-de-sambaqui-apresenta-documentario-sobre-povos-sambaquianos/
Site Fundação Catarinense de Cultura. Acesso em > 02/05/21 https://cultura.sc.gov.br/noticias/8975-8975-joinville-primeiros-habitantes
MACHADO, Gerson. SOUZA, Flávia Cristina Antunes. Exposição itinerante “Afinal, o que é Arqueologia?”: Experimentando a inclusão social. Acesso em > 02/05/21.

Doses de história: Museu Casa Fritz Alt

Foto da capa: Aquarela da artista Asta dos Reis.

O Museu Casa Fritz Alt, está localizado no bairro Boa Vista, e é uma instituição subordinada a Secretaria de Cultura e Turismo da prefeitura municipal de Joinville/SC. A casa que abriga o museu pertenceu a Friedrich Alt, nascido na Alemanha em 17 de Setembro de 1902 e sua residência foi construída por ele mesmo no ano de 1946. Além de moradia da família, o local também abrigava seu ateliê. Alt tinha a escultura como paixão e profissão, desenvolvendo diversos trabalhos na cidade, muitos deles, obras instaladas em locais públicos, encomendadas pela alta sociedade da época, sendo considerado pioneiro das artes plásticas joinvilense.

O artista Fritz Alt em sua oficina/ateliê

Após a morte do artista em 1968, o imóvel foi adquirido pela prefeitura municipal de Joinville na década de 70 (Decreto 1.053/1970), fato que ocorreu na gestão do prefeito Harald Karmann, e conforme consta no documento: Fica o Executivo Municipal autorizado a adquirir dos Herdeiros Fritz Alt, um imóvel nesta cidade, com as seguintes confrontações e dimensões: “Um terreno situado aos fundos da Rua Aubé, com acesso por um caminho com 5m de largura que parte da Rua Aubé até a residência do finado Fritz Alt, fazendo frente, a Oeste, no referido caminho com 246,96m em linha sinuosa, até encontrar terras de Carlos F. A. Scheineider, seguindo para o Sul com três linhas quebradas de 30,00, 20,000 e 15,00m e seguindo a Leste, com 78,60m até encontrar a divisa do terreno de Dr. Hans Dieter Schmidt, tornando ao Sul com 86,90m até terras de Adolfo Sell, quebrando para Oeste, com 86,00m e retornando ao Norte com 12,50m até o ponto de partida no referido caminho perfazendo a área de 14.922,49m² com as seguintes benfeitorias: uma casa de moradia, de alvenaria, e uma oficina de escultura, também de alvenaria, do finado Fritz Alt(1970, web).

No ano de 1972 a casa passa a ser chamada de “Casa Fritz Alt” e fica estabelecida como museu, porém, sua inauguração oficial ocorreu apenas no ano de 1975, como nos apresenta a pesquisa desenvolvida por Rossi (2014, p.30), O Museu Casa Fritz Alt foi inaugurado oficialmente, em 1975. O acervo do Museu conta com móveis e objetos de uso pessoal do artista, ferramentas, fotos, obras de arte produzidas por Fritz Alt e também um grande número de moldes.

Museu Casa Fritz Alt. Foto: Redes Sociais.

Apesar de o museu estar localizado no Morro do Boa Vista, local que dificulta o acesso, é importante destacar que conforme consta nas pesquisas, sempre foi uma instituição receptiva a projetos acadêmicos e propostas educativas, além das equipes responsáveis pelo museu, estarem sempre elaborando diferentes propostas para fortalecer as relações entre a o espaço de memórias, obras do artista e a comunidade.

Alguns dos projetos já desenvolvidos pelo MCFA foram:
Em 2009, palestras, vídeos, leituras de obras, aplicação de jogos didáticos, oficinas de desenho, oficinas de argila, contação de histórias e passeios pelos jardins. Segundo consta no blog da instituição, essas ações eram realizadas no antigo setor de restauro, espaço construído por Fritz Alt por volta dos anos 50 para produção de obras de grande porte, já que seu ateliê situava-se no porão da residência. O setor não era aberto à visitação, mas como a casa principal foi fechada para restauro em março de 2010 (e ainda encontra-se neste processo), o educativo criou atividades que pudessem contribuir de forma positiva com aqueles que se dispunham a visitar o local, mesmo sem poderem conferir o acervo.

Ainda segundo o blog (2008, web) “o diálogo é construído tematizando a proposta museográfica atual do Museu estruturado a partir dos conceitos no que se refere ao patrimônio cultural da cidade, o conjunto escultórico do artista Fritz Alt e as
propostas educativas”

Visita de escolas. Ano: Sem data.

Outro projeto educativo da instituição que ganhou bastante destaque foi o programa de educação patrimonial, iniciando em 2010 sua trajetória nas escolas. A proposta consistia em uma exposição itinerante em que as imagens utilizadas apresentavam uma diversidade de temas e das linguagens que o artista utilizava para produzir suas obras em gesso, barro e bronze, além do processo das esculturas.
A metodologia da exposição nas escolas consistia em […] uma pequena palestra sobre o museu, sobre o artista a estética escultórica de Fritz Alt. O contato com os alunos é feito de uma forma interativa tanto ao mostrar o vídeo quanto ao falarmos do artista e do museu. […] incentivar a fruição do objeto escultórico e enfatizamos as características modernistas presentes na obra do escultor como um dos poucos artistas desse período no norte catarinense. (2010, web).

Encontro de professores. Ano: 2010.


Em ações mais recentes, destacam-se as realizadas durante a gestão de 2014 a 2016, época em que o museu encontrava-se quase que desativado e havia pouca visitação. Nessa coordenação iniciou-se um trabalho de reativação do que antes era a área de restauro, chamando-a de sala de cultura, espaço em que foram oferecidas experiências interativas por meio de oficinas, exposições, intervenções artísticas, palestras e projetos culturais promovendo o pensamento de transformação, conhecimento e comunidade.


Entre os projetos realizados, destacam-se:
“Coletivo Gramatura”: Exposição realizada no ano de 2016, que contou com a participação de artistas iniciantes e outros já conhecidos, em que o objetivo da mostra era divulgar trabalhos produzidos em e com papel, sempre dialogando com o
pensamento artístico do artista Fritz Alt. Um dos pontos mais interessantes do projeto foi à participação de alunos do curso de artes visuais da Uniasselvi, tanto como artistas expositores quanto oficineiros em dias específicos da mostra. Este contato com a arte desde a graduação, possibilitando participações e experiências em campo são fundamentais para aliar teoria e prática, gerando assim aprendizado e conhecimento.

Acadêmicas de Artes Visuais (Uniasselvi). Exposição Coletivo Gramatura. Ano: 2016 Foto: Luciane Klemm

Outro projeto de impacto e aceitação do público, foi à exposição “O artista e a criança”, realizada também no ano de 2016, em que a proposta era criar o diálogo entre a criança no espaço de arte, as obras da artista Sônia Rosa e o artista Fritz Alt. A exposição contou com a participação das crianças e foi pensada para as crianças, com obras de arte produzidas a partir de brinquedos e representações que fazem parte do universo lúdico infantil.


Durante a gestão de 2014 a 2016, houve uma evolução significativa no número de visitas e projetos com escolas, o que foi um marco na história da instituição, que atualmente encontra-se apenas com a exposição de obras do acervo no antigo setor educativo, e a casa, residência de um dos artistas ícones da cidade, espaço de memória e patrimônio cultural, encontra-se ainda em restauro e fechada à
visitação.

*Este texto não aborda ações recentes do museu, mas aproveita para divulgar uma de suas ações de 2021:

O Museu Casa Fritz Alt integra a programação da 19º Semana Nacional de Museus (Ibram) com a Exposição – Revoadas de Outono.
Quando? 16/05/2021 a 16/06/2021 Horário? Terça a domingo – 10h às 16h
Quanto? Gratuito.
Onde? Nos Jardins do Museu Casa Fritz Alt – Rua Aubé, s/n – Boa Vista. Joinville/SC.

Referências Bibliográficas
Blog Asta dos Reis. Disponível em: https://www.astadosreis.com/2018/08/
Ações Educativas. Disponível em: https://sites.google.com/site/museucasafritzalt/
Fritz Alt parte II. Disponível em: http://artejlle.blogspot.com.br/2013/06/fritz-alt-parte-ii.html
Lei ordinária nº 1053/1970.
Museu Casa Fritz Alt. Disponível em:https://sites.google.com/site/museucasafritza
Guia da Programação 19º Semana Nacional dos Museus. Ano: 2021, p. 422.

“Teatro em Comunidades Periféricas” Entrevista com ator e diretor Cristóvão Petry

Por Celiane Neitsch

No dia 23 de abril é comemorado o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Pensando nisso, e considerando que, um dos melhores livros que eu tive a oportunidade de ler nos últimos tempos foi “O Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC)” do ator e diretor de teatro Cristóvão Petry, publicado pela editora Areia, compartilho com os leitores a entrevista que Petry concedeu ao site “Arte na Cuca”.

Por que escolhi este livro em meio a tantos outros? Porque depois de sair do conforto da casa de minha avó e vir morar no bairro Itinga (Joinville/SC), aos poucos fui construindo minha relação com o bairro e com as pessoas desta comunidade. Foram e são muitos os momentos de dificuldade, pois cada lugar tem sua dinâmica, sua cultura, suas pessoas. O livro de Petry, me ajudou a entender um pouco mais sobre este lugar. Este lugar que não é feito somente de dificuldades, de distâncias e vizinhos barulhentos… É um lugar feito de lutas, conquistas, união, cultura e muita arte.
Agora convido você leitor(a) a conhecer um pouco mais sobre as histórias e memórias do Itinga.

Céu do bairro Itinga. (Redes sociais Amorabi).

Arte na Cuca: O livro “Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC)” é resultado da sua pesquisa de mestrado, realizado no PPGT – Ceart/Udesc). Por que, mesmo não trabalhando exclusivamente como produtor cultural e ator, você optou em fazer o mestrado em teatro?

Cristóvão Petry: Eu faço teatro há quase 30 anos. Na época que fiz minha graduação em História, era muito difícil você fazer uma faculdade de Artes Cênicas e se manter em Florianópolis. Como não havia uma graduação de teatro em Joinville, grande parte das pessoas que fazem teatro na cidade, se formaram em História. Eu sou uma delas. Quando decidi fazer um Mestrado, não tive dúvidas de fazer teatro. Mesmo não trabalhando exclusivamente com arte, o teatro faz parte da minha história e é impossível abandoná-lo.

Arte na Cuca: Se tivesse que definir quais as principais dificuldades de fazer teatro NA e PARA a periferia da cidade de Joinville, quais seriam elas e por quê?

Cristóvão Petry: Primeiro falta apoio público e privado para a cultura e arte na periferia. Infelizmente a arte ainda é vista como um produto de “elite”. Os bairros afastados do centro da cidade, tem pouco acesso. A maioria dos projetos desenvolvidos é de curto prazo. Se as pessoas não tem acesso, como teremos jovens interessados em fazer, por exemplo, uma faculdade de artes cênicas? O Itinga é um exemplo de que o acesso a arte e a cultura, possibilita novos horizontes para a juventude. Alguns jovens, que começaram a ver e fazer teatro no bairro, decidiram seguir em frente nesse caminho. Não é um caminho fácil, mas é bonito ver como a arte é importante para nossas crianças e adolescentes. Toda escola deveria ter um grupo de teatro, de dança, de música. Tenho certeza que isso mudaria a realidade cultural de nossa cidade.

Arte na Cuca: Em seu livro (página 91), você menciona que “Inscrevíamos nossos espetáculos em festivais e editais e nunca éramos selecionados. Nunca seríamos selecionados. Nossa história era outra”. Em sua opinião, existe ou existia certo preconceito das comissões avaliadoras, na seleção de projetos propostos e realizados por pessoas sem formação acadêmica? Ou talvez o fato se dava pelos projetos terem partido de uma comunidade localizada na periferia da cidade?

Cristóvão Petry: São as duas coisas. Hoje já existe uma abertura maior para a cultura popular. Na Udesc, em Florianópolis, existia a disciplina Teatro-Comunidade. Essa disciplina que possibilitou que eu entrasse no Mestrado. Percebi que o teatro que eu fazia no Itinga, reverberava também em outras comunidades. Fazia sentido. O resultado final foi a publicação do livro. Mas sinto que ainda é pouco valorizado o trabalho das periferias.

Livro “O Teatro em Comunidades Periféricas – Uma trajetória desenvolvida no bairro Itinga (Joinville/SC). Editora: Areia. Ano: 2020.

Arte na Cuca: Na página 93, quando escreve sobre o apoio aos grupos de teatro , o preço dos ingressos e o discurso de muitos administradores e vereadores que falam em “levar a cultura para os bairros”, você propõe algumas reflexões sobre para que tipo de público a cultura de Joinville se destina.  Como percebe esta questão na última e na atual gestão da cidade? Alguma coisa mudou?

Cristóvão Petry: O Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – SIMDEC, é um importante mecanismo para o fortalecimento da arte e da cultura. A última gestão engessou esse Sistema, modificando a forma e os produtores e produtoras culturais tiveram muitas dificuldades de acessar os recursos. Espero que esta nova gestão que entrou, modifique esse modelo e tenha como meta o cumprimento do Plano Municipal de Cultura. Esse Plano precisa ser revisto, mas ele aponta alguns caminhos. Um deles é a democratização do acesso a cultura nas periferias da cidade.

Arte na Cuca: Segundo seu livro, desde o ano 2000 a Amorabi – Associação dos Moradores do Bairro Itinga, já é um ponto de cultura, independente da participação em editais específicos ou reconhecimento. Em seus projetos a  associação sempre visou a autonomia, protagonismo e o empoderamento.  Contando com toda a sua experiência dentro da Amorabi, qual seria o caminho para que outras associações se tornem referência em cultura, educação e cidadania?

Cristóvão Petry: A Amorabi é um exemplo que pode ser seguido. Durante 20 anos tocou um Centro Comunitário de Educação Infantil, pois no Itinga não havia um CEI público. Também é protagonista na área da cultura com diversas apresentações artísticas e formações. Tudo isso só foi possível, por causa de sua comunidade. Imagine se todas as Associações de Moradores também desenvolvessem projetos como a Amorabi. Os artistas da cidade teriam vários espaços para mostrar sua arte, e com um público cativo. O caminho é o da persistência, da autonomia e do empoderamento.  As entidades precisam saber que elas podem e devem acessar esses recursos públicos. É um direito de todos e de todas.

Comunidade do bairro Itinga, em frente a Associação de Moradores. (Amorabi).

Arte na Cuca: Em 2018, você decide se afastar da presidência da Amorabi, pois havia sido eleito Conselheiro Tutelar da cidade de Joinville. Mesmo atuando como voluntário na associação, um dos motivos para sua decisão foi às mudanças de regras no edital do Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura). Como estas mudanças impactaram os projetos realizados pela Amorabi ao longo dos anos?

Cristóvão Petry: A Amorabi vinha ao longo dos anos, desenvolvendo alguns projetos de formação e fruição. No começo, não havia recursos públicos, mas com o tempo a Associação foi conseguindo acessar o Simdec. O recurso era fundamental, principalmente para a contratação dos profissionais. A mudança do Edital, que foi transformado praticamente numa “licitação”, dificultou o acesso ao recurso, não só para a Amorabi, mas para diversos produtores culturais. Hoje sobram recursos e faltam projetos. O que é um absurdo. E há um impacto na periferia. A Amorabi não deixou de desenvolver projetos, mas alguns tiveram que parar por falta de um aporte financeiro.

Espetáculo “É O TREN!”

Arte na Cuca: A terceira parte do livro é dedicada a criação e projetos desenvolvidos pelo Abismo Teatro de Grupo, que nasceu dentro da Amorabi. Qual a importância de um grupo que faz teatro DA e PARA  a comunidade?

Cristóvão Petry: O Abismo é fruto da Amorabi. A Amorabi é fruto da sua Comunidade. Logo, o Abismo é da Comunidade. A persistência e os cursos continuados de teatro, permitiram que o Itinga tivesse um grupo de teatro que nasceu do desejo de seus participantes. Isso é muito lindo. Porque os espetáculos do Abismo, levam sempre o vigor comunitário do Itinga. As vezes até se confunde Abismo com Amorabi. A coisa é meio junto mesmo. Uma trama unida que faz bem para o bairro.

Arte na Cuca: Nos anos de 2018 e 2019 o Abismo Teatro de Grupo, realizou quatorze apresentações dos textos “Os Palhaços” e “A Litorina”, de Miraci Deretti. A peça “Os Palhaços” foi censurada na cidade, e em seu livro você descreve que “’Os Palhaços’ incomodou o regime vigente e também a classe mais conservadora de Joinville, por mostrar a situação do país”. Desde a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, a imprensa, a ciência e a cultura vem sofrendo com a censura. Como você entende a relação entre a censura – que as vezes mesmo velada – aplicada pelo atual governo e o desenvolvimento do pensamento crítico na sociedade brasileira contemporânea?

Cristóvão Petry: A arte não pode existir com a censura. A arte e a cultura nos fazem pensar criticamente. Um governo que pretende calar a arte e a cultura não poderia ser legitimado. É lamentável ver em pleno 2021, notícias sobre a censura. Sobre pessoas querendo a volta do “regime militar”. Porém, fazer arte no Brasil hoje é resistência. A gente resiste, mas além da censura moral há também a censura financeira. O governo não publica os editais públicos, não abre concurso para a área cultural, diminui os investimentos. Isso é muito grave. O movimento cultural no Brasil estava crescendo. Existe um Plano Nacional de Cultura. Um Conselho de Cultura. Mas isso vem sendo deixado de lado. Um descaso total. Lamento muito que tenhamos chegado neste ponto. Mas isso vai passar e teremos uma retomada. A arte e a cultura resistem sempre.

Espetáculo “Os Palhaços” UFSC – Florianópolis.

Arte na Cuca: Com a pandemia causada pelo Covid – 19, o setor cultural foi um dos mais atingidos, assim como a população mais atingida tem sido os moradores das favelas e periferias. Em sua opinião, que ações podem ser tomadas pelos governos (Municipal, Estadual e Federal) a fim de minimizar os impactos da doença entre os mais fragilizados?

Cristóvão Petry: O auxílio emergencial é fundamental, para tentar minimizar esse impacto. Demorou muito para ser aprovada a Lei Aldir Blanc. Agora foi aprovada sua prorrogação. No Estado poderia ser lançado novamente o Edital Elisabete Anderle, e em Joinville pensar nos recursos do Simdec. Os recursos do Simdec, poderiam auxiliar muito os produtores culturais a desenvolverem seus projetos de forma on-line. Já aprendemos a fazer isso. Mas é preciso reformular o Simdec, facilitando o acesso dos artistas aos recursos.

Arte na Cuca: Em maio a Amorabi faz 40 anos. São 40 anos de uma trajetória de muita luta e resistência. Você (assim como tantas outras pessoas que contribuíram) se dedicou e trabalhou incansavelmente para que a associação se tornasse o que ela é hoje. O que você deseja e espera da Amorabi para os próximos 40 anos?

Cristóvão Petry: Espero que a Amorabi continue nesta luta, resistindo e mostrando que é possível desenvolver projetos na periferia que façam bem para a comunidade. Projetos permanentes de educação não formal, onde a cultura e a cidadania, sejam pontes para a formação de pessoas críticas que buscam uma sociedade mais humana e igualitária. 

Livros organizados e publicadas por Cristóvão Petry